Por Ciro Campos
A internação do técnico Vanderlei Luxemburgo por causa do novo coronavírus cinco meses depois de ter testado positivo pela primeira vez serve como alerta ao futebol. Assim como o ex-treinador do Palmeiras, vários outros jogadores têm apresentado diagnósticos confirmados da doença pela segunda ocasião. A situação deixa médicos e equipes com a certeza de que mesmo elencos que atravessaram surtos numerosos de covid-19 não estão livres de terem novamente o problema.
Luxemburgo, de 68 anos, está internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, em estado estável e sem previsão de alta. Em julho, o treinador teve um quadro assintomático da doença e se recuperou em casa, sem atravessar grandes dificuldades. Os sintomas foram fracos. Recentemente, o Palmeiras detectou que o meia Gustavo Scarpa testou positivo para covid-19 pela segunda vez também. O Athletico-PR viveu situação semelhante com o zagueiro Thiago Heleno e ainda o Vasco enfrentou o problema envolvendo o atacante Talles Magno.
Cada vez mais comum no futebol brasileiro, a repetição de testes positivos nas mesmas pessoas ainda não pode ser confirmada como uma reinfecção, embora exista essa possibilidade. O diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Estêvão Urbano, explicou ao Estadão que para ter certeza de que se trata, de fato, de uma reinfecção, seria preciso realizar um exame detalhado para cada um desses casos e nem sempre esse trabalho pode ser feito.
“Para comprovar a reinfecção, teria de guardar o vírus da primeira infecção e comparar com o novo vírus. É preciso ter um banco de vírus, até para saber se é o mesmo tipo de coronavírus que atingiu a pessoa na segunda vez. É um trabalho bastante sofisticado”, comentou. “O diagnóstico exato de reinfecção exige critérios mais rigorosos. Há poucos casos publicados e reportados”, completou o médico.
Pela previsão do especialista, deverá ser mais comum nas próximas semanas os jogadores apresentarem testes positivos para covid-19 pela segunda vez e virarem desfalques novamente por causa dos protocolos de segurança. A repetição se explica pelos atletas terem em geral quadros muito leves da doença. “Se o indivíduo teve um caso muito leve da doença, os anticorpos que ele desenvolveu podem durar muito pouco e logo ele está suscetível de novo à doença. Por outro lado, quem teve a doença grave e sobreviveu, a tendência é os anticorpos durarem mais tempo no organismo”, comparou.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) registrou até o fim do mês de novembro 689 casos positivos do novo coronavírus entre jogadores dos times da Série A, B, C e D do Campeonato Brasileiro. Todos os jogadores tiveram somente sintomas leves, sem a necessidade de internação. O monitoramento dos médicos apontou que não houve transmissão da doença de um time para o outro durante as partidas.
Além de estarem possivelmente sujeitos ao novo contágio, os jogadores têm testado positivo pela segunda vez em algumas ocasiões por portarem ainda fragmentos da doença. “Às vezes são as partículas virais que ficaram no nariz da pessoa e são pegas pelo exame do PCR. São resquícios da covid-19. Não necessariamente é uma reativação do vírus. Possivelmente é um fragmento que ficou no corpo. O exame de PCR é tão sensível, tão efetivo, que mesmo se encontrar um pedaço do vírus que não causa a doença, o resultado será positivo”, disse o infectologista.
O médico explicou ainda que esses possíveis resquícios dos vírus podem permanecer por meses dentro do nariz de quem se recuperou, mas são incapazes de causar o adoecimento da pessoa. A literatura médica tem pouco a pouco registrado casos de reinfecção. Porém, enquanto o vírus ainda é estudado, o melhor a se fazer no Campeonato Brasileiro é manter os testes rotineiros de todos, inclusive de quem já teve a doença. “Todos os jogadores têm de continuar sendo testados continuamente, porque pode ter esse risco, sim, de testar positivo novamente”, alertou