Além de Donald Trump, tarifas, inteligência artificial e tudo o que viemos falando por aqui sobre os Estados Unidos, o país passa por um outro fenômeno curioso na economia: uma escassez de ovos.
O quê? A gripe aviária está matando milhões de galinhas no país e, com isso, os preços dos ovos subiram mais de 15% em janeiro em relação ao mês anterior -o maior aumento desde 2015.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 55%, de acordo com um relatório do Bureau of Labor Statistics.
A gripe aviária é causada pelo vírus Influenza A (H5N1) e pode ser transmitida entre aves e mamíferos -humanos inclusos, apesar de ser mais raro. A transmissão se dá pelo contato direto ou por superfícies contaminadas por uma ave infectada.
A epidemia, que começou em 2022, já levou à morte de mais de 100 milhões de galinhas poedeiras, entre infectadas e abatidas, segundo o grupo de agricultores United Egg Producers.
Risco baixo. O CDC (Centro de Controle de Prevenção e Doenças dos EUA) afirma que o risco de transmissão para pessoas ainda é baixo.
Entretanto, foi confirmada a primeira transmissão de gado leiteiro para um humano na terça-feira (11).
Tudo acaba em inflação. Essa era fácil de adivinhar.
Os preços estão em um patamar alto demais na opinião de boa parte dos americanos (e a eleição de Trump tem tudo a ver com isso). Acrescente à receita um produto básico com preços exorbitantes e a situação piora.
Grandes redes de supermercados americanas, como a Costco e a Trader Joe´s, estão limitando a compra de ovos a uma, duas ou três cartelas por cliente.
A rede de lanchonetes Waffle House está cobrando um acréscimo de US$ 0,50 (R$ 2,88) por unidade nos pratos.
100 mil ovos orgânicos foram roubados no estado da Pensilvânia. A carga foi avaliada em US$ 40 mil (R$ 230 mil).
Quebrando recordes. O preço de uma dúzia atingiu a média nacional de US$ 7,34 (R$ 42,27) em 7 de fevereiro, em análise do Departamento de Agricultura dos EUA.
Isso representa um aumento de 10% em relação à semana anterior e mais um recorde.
*A HORA E A VEZ DO BRASIL NA LISTA DE TRUMP*
O presidente americano oficializou ontem o que vem chamando de tarifas recíprocas. A ideia é taxar proporcionalmente países que ele considera que taxam demais os Estados Unidos.
O Brasil está no topo da lista. O texto de divulgação cita a disparidade nos encargos do etanol. Enquanto o produto brasileiro mal enfrenta tarifas para entrar nos EUA (apenas 2,5%), o etanol americano é taxado em 18% para ser comercializado aqui.
Em números:
Mais de US$ 200 milhões (R$ 1,15 bilhão) é quanto os EUA importaram de etanol brasileiro em 2024;
Enquanto isso, exportaram apenas US$ 53 bilhões (R$ 305 milhões) para o Brasil.
Por que a diferença? O Brasil produz muito etanol e pretende que o produto seja consumido domesticamente, reduzindo o custo de abastecer automóveis e outras operações no país.
↳ Para isso, criou barreiras tarifárias altas para desestimular a entrada de etanol importado.
🌽 Uma curiosidade: a maior parte do etanol produzido pelos americanos é feito a partir do milho, enquanto o brasileiro, da cana-de-açúcar.
As novas taxas serão executadas país por país após estudos conduzidos por órgãos do governo. As primeiras nações atingidas serão aquelas com quem os EUA têm o maior déficit comercial.
A pretensão do secretário de Comércio, Howard Lutnick, é que tudo esteja pronto até o dia 1º de abril.
🗨️ Possíveis respostas. A Folha publicou na quarta-feira que o governo brasileiro estava se preparando para a chegada das restrições.
↳ Até o momento, só dá para cravar que o etanol será taxado, mas podem entrar outros produtos no balaio.
A princípio, a ordem de Lula é negociar e não responder na mesma moeda.
O impacto não deve ser estrondoso. O Brasil exporta apenas 6% da produção de etanol (uns 35 bilhões de litros por ano), e destes, 1% vai para os EUA (cerca de 300 milhões de litros), segundo um relatório do BTG Pactual.
O Brasil importou 109 milhões de litros de etanol de milho americano em 2024, e a importação não é vantajosa, segundo o levantamento. O combustível é mais caro do que o que é produzido aqui.
*SHEIN ACIONA O PLANO B NO BRASIL*
Dólar caro, novas tarifas internacionais e a taxa das blusinhas são alguns dos fatores que, somados, levaram a varejista chinesa Shein a repensar seu modelo de negócio no Brasil.
O plano 🅰️. Em abril de 2023, o e-commerce anunciou que havia começado a produção no país, com o objetivo de, aos poucos, depender menos da importação para vender por aqui.
2.000 confecções seriam contratadas até 2026, com um investimento de R$ 750 milhões.
A empresa firmou um compromisso com o governo para a nacionalização dos produtos, sob pressão das varejistas nacionais que alegavam competição desleal com a chinesa.
E agora 22 meses depois do anúncio, apenas pouco mais de 300 confecções estão operando como parceiras.
↳ A Shein não produz nada diretamente. Ela trabalha com fábricas na Ásia que fornecem para ela com exclusividade. Aqui, tentava replicar o modelo.
Entenda o modelo de produção: a companhia encomenda um lote de 100 a 200 peças para novos produtos. Em seguida, usa o algoritmo para avaliar o interesse dos consumidores em tempo real.
Com o feedback quase imediato, ele dá um retorno para os fornecedores, que adaptam os modelos, volumes e prazos de produção à demanda.
↳ Isso reduz os estoques e o desperdício de matéria-prima, além de acelerar a chegada ao consumidor final.
O plano 🅱️. O Brasil foi o primeiro lugar do mundo onde a Shein começou a funcionar como um marketplace, ou seja, a permitir que revendedores usem a plataforma para vender suas próprias peças.
Com o encarecimento da produção, a varejista acelera o projeto de atrair comerciantes para o site. Hoje, tem 30 mil revendedores brasileiros.
A modalidade responde por 60% da venda da Shein aqui;
Os outros 40% são produtos que vêm da China ou são fabricados com exclusividade por parceiros no país.
Hoje, ela trabalha com parceiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná e quer ao menos um em cada estado. Quando mais adensada a logística, menor o custo, lembra Felipe Feistler, principal executivo da Shein no Brasil.
*PARA VER*
A Lavanderia (2019)
Netflix. 96 minutos.
Uma senhora perde o marido em um acidente de barco, e ao procurar a indenização da empresa que o causou, começa a investigar um esquema global de lavagem de dinheiro.
Este é o enredo do filme que traz rostos que você já deve ter visto por aí, como Meryl Streep (a protagonista), Antonio Banderas, Gary Oldman, David Schwimmer e Sharon Stone.
O longa conta ficcionaliza uma história real: a investigação jornalística dos Panamá Papers.
↳ O caso aconteceu em 2017, quando o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos descobriu que uma firma encabeçada por dois advogados escondia o desvio de dinheiro feito por milionários, empresários e famosos em empresas off-shore.