A Parada da Diversidade de Balneário Camboriú chega neste ano em sua nona edição. Em 2022, teve o seu maior público, levando para a Avenida Atlântica cerca de 20 mil pessoas. Neste ano, o evento causou divergências entre a organização original, liderada por Ney Laurentino, pioneiro no segmento na cidade e atualmente vice-presidente da Associação da Parada da Diversidade de Balneário Camboriú, e os novos organizadores, a Afam Diversa (Associação das Famílias da Diversidade).
Hoje há dois eventos marcados para novembro – a Marcha pela Diversidade, organizada pela Afam e que deve acontecer no dia 5, e a Parada da Diversidade, organizada pela Associação da Parada, agendada para o dia 12.
O que diz o criador da Parada da Diversidade
O atual vice-presidente da Associação da Parada da Diversidade de Balneário Camboriú, Ney Laurentino, procurou o Página 3 para relatar que entrou com uma medida judicial que impede que a Afam Diversa utilize o nome ‘Parada da Diversidade’ (por esse motivo o grupo mudou para Marcha Pela Diversidade).
Ele disse que nesta manhã de sexta-feira (15) teve uma reunião com seu advogado e que está otimista.
“Sou pioneiro em Balneário, desde 2013 faço a Parada. No ano passado convidei o Gustavo Ribeiro e o Pedro Leoni para nos ajudar, mas o olho cresceu, a ambição veio. A mãe do Gustavo (Jocinéia de Jesus, a Neia, militante no Mães pela Diversidade, coordenadora do movimento em SC), é esposa do secretário da Fazenda de Balneário e ela chegou a me dizer que ele manda mais que o prefeito e que ela (Neia) iria tomar a Parada. Eu disse que isso não aconteceria, mas como o marido dela está dentro da prefeitura, estão tentando pegar o nosso evento”, disse.
Ney disse que, por ele, estariam todos juntos, mas que lamenta a ambição de Neia e os demais organizadores, pontuando que na edição de 2022 houve membros de sua associação que foram impedidos de subir em um dos trios elétricos do evento.
“Não vamos aceitar. Eu abaixei a cabeça em 2022, porque estávamos no meio do evento, a Neia quis mandar na nossa Parada e isso jamais vamos aceitar – abaixar novamente a cabeça para eles. A nossa diretoria ficou muito triste de não poder subir no trio. Eles tomaram conta e não vamos passar novamente por essa humilhação”, acrescentou.
O idealizador da Parada citou que houve eleição em sua associação e que atualmente quem a preside é Damares Rodrigues Barreto, que também conversou com o jornal. Ambos destacaram que publicaram edital, fizeram eleições, prestações de contas e que são 100% legalizados e dentro da lei.
“Quem sempre financiou o evento fui eu, ano passado pela primeira vez o evento foi patrocinado pela The Grand, que colocou cerca de R$ 20 mil. Desde o início, já colocamos mais de R$ 150 mil para acontecer”, pontuou Ney.
Damares apontou que a Parada é um evento consolidado, que reúne 20 mil pessoas e que ganharam por várias vezes na Justiça o direito de fazer acontecer, já que houve prefeitos que a barraram.
A presidente comentou que a nova associação, por ter apoio dentro da prefeitura, antecipou a tramitação de documentação.
“Não poderiam, mas pediram alvará para fazer a Parada em 2022, e nós pedimos somente em 03/01/2023, então eles conseguiram antes. Mas nós já estamos pagando a taxa para ter o alvará e vamos fazer a Parada no dia 12/11. Eles não podem fazer nada dentro do próprio nicho, que é o nosso, seja marcha ou parada, dentro desse nicho da diversidade. Não digo que são proibidos de fazer eventos, mas no segmento de parada, a oficial é a nossa, não podem fazer porque está dentro do nosso segmento. Podem criar qualquer outro evento, mas não assim como o nosso”, afirmou.
Damares disse que, na visão dela e de Ney, está havendo abuso de autoridade por parte da prefeitura, que ‘está fazendo tudo pela nova associação’, e que confiaram no novo grupo em 2022, mas teriam sido feitas reuniões de organização escondidas, sem os chamarem.
“Fica difícil confiar novamente nessas pessoas que ultrapassaram limites ano passado. Fizeram coisas de caso pensado já ano passado. Como confiar que não vão fazer novamente? Lutamos pela mesma causa, mas as pessoas estão mais preocupadas com política, em aparecer. A Neia disse desde sempre que tem interesse de estar à frente, com o intuito não de brigar pela nossa causa e sim de estar à frente de uma associação, do evento. A nossa decepção é essa, a nossa briga é por quem está coordenando o evento”, completou.
Nova associação explica situação
O advogado Pedro Leoni, presidente da Afam Diversa, disse que desde 2015 ele e o primo, Gustavo (filho de Neia), estão organizando junto com Ney a Parada, tendo iniciado através do Mães Pela Diversidade e que chegaram até a marchar sem trio, fazendo o evento ‘no gogó’, porque em uma edição não houve a organização devida e não tinha trio elétrico, mesmo assim realizaram o evento.
“Estamos ‘brigando’ desde 2015 pela organização da parada. Em 2016 o Ney nos convidou para participarmos da associação, mas naquele ano eu não consegui participar, mas estava por dentro. Em 2022 foi a primeira vez que organizamos, participamos de reuniões, que eram bagunçadas, ajudei em minutas, nos projetos. De forma alguma deslegitimamos a importância do Ney, ele é uma figura importante do movimento, foi pioneiro. É triste que isso tudo esteja acontecendo. Estamos buscando uma audiência conciliatória. Nem queríamos que isso tudo estivesse sendo exposto e sim que a notícia fosse o evento e todas as coisas bacanas que estamos planejando”, explicou.
Pedro salientou que fundaram de fato a segunda associação e que houve eleição e ele foi legitimamente eleito presidente, com diretoria formada e engajada. Em 2022 ele disse que quem esteve comandando a Parada foi a entidade de Ney e Damares, mas que eles auxiliaram, e neste ano, por conflitos vivenciados optaram por, com a nova associação, organizar a Parada (agora Marcha Pela Diversidade, já que por decisão judicial não podem utilizar Parada).
“O objetivo é ser democrático e fazer mais do que só a Marcha. Na quinta-feira (14) o vereador Eduardo Zanatta assinou o projeto de lei que prevê a realização da Semana da Diversidade. Lembrando que durante todo o ano fazemos ações pela comunidade, com doações de alimentos, junto da Associação de Trans e Travestis de Balneário. Vejo que é triste e iríamos convidar o Ney a estar com a gente, não tem sentido dois eventos da mesma modalidade, mas o que importa para nós é que a festa vai acontecer, que estamos tendo acesso a secretarias e entidades, que o nosso evento é pelo amor, diversidade, contra o conservadorismo que quer acabar com famílias e toda forma de amor”, finalizou.
A empresária Neia, citada nesta matéria, também foi ouvida pela reportagem. Ela disse que parte do princípio que faz muitas coisas e é militante na causa e Ney, em sua opinião, não faz nada. Neia disse que Ney não mora mais em Balneário e que está na cidade só por conta da Parada.
“Na quinta-feira fizemos reunião com entidades na Câmara e ele não foi. A minha vida, o que eu faço pela causa LGBT e outros projetos que sou envolvida, como sou vista pela sociedade, é uma boa resposta de quem sou e quem é ele. Não é sobre dinheiro, nem por status ou reconhecimento. O Ney chegou em nós porque é tão queimado e não conseguia entrar em lugar nenhum. Ele tem um histórico bem complicado, todo mundo na reunião expressou apoio a nós”, pontuou.
Neia relatou que a associação de Ney é ‘100% irregular’ e que ele nunca prestou contas, não faz edital e que não tem trabalho em prol da sociedade ou público LGBT.
“Ainda por cima, ele comercializa a Parada. Quando a gente não faz as coisas que ele quer, não servimos mais. Quando ele pegou alvará (em 2022) enxotou a gente e tentou negociar (vender) a Parada. Ele é presidente vitalício dessa entidade, agora a Damares está presidente, mas foi ele por 10 anos. É triste essa exposição, mas tenho história de vida e na militância, não tenho nada que me desabone, ao contrário dele”, acrescentou.
A ‘mãe pela diversidade’, pontuou que a única coisa que não quer é que ‘os filhos pela diversidade’ não tenham essa festa. “Entramos com o pedido de alvará em 2022, mas por que não podemos fazer isso? Qual é a ilegalidade? Se existisse, a própria prefeitura diria que não poderia. De forma alguma o Sílvio (secretário da Fazenda e marido de Neia) se envolve nisso, sempre deixamos isso muito claro. Passa pela secretaria dele, mas passa por várias outras antes, como Meio Ambiente, Turismo e Segurança. Tentamos dialogar, buscamos ajudar, tentamos arrumar a associação dele, mas tudo tinha que ser do jeito dele. Se contraria ele, ele tira da associação”, comentou.
Neia acrescentou que Ney não tem registro da marca (Parada da Diversidade de Balneário Camboriú) e disse que gostariam de usar, para honrar a história do movimento na cidade.
“Nós também estamos pedindo que ele preste contas, que comprove que a associação está regular, agora nos 45 do segundo tempo ele está tentando regularizar. Mas nós estamos com alvará e a nossa Marcha está confirmada para o dia 5/11. Sempre buscamos ajudar, e ele sempre puxa o tapete. Ainda com tudo isso que aconteceu, queríamos chamar ele, pela figura pioneira que foi”, finalizou.