A Quaresma iniciou nesta Quarta-feira de Cinzas (17) e junto com ela começou a Campanha da Fraternidade, que neste ano tem como tema ‘Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor’, uma reflexão que apoia a ciência em tempos de pandemia e busca combater a violência contra minorias – mulheres, negros, indígenas e comunidade LGBTQIA+.
A Campanha é realizada anualmente, durante os 40 dias que antecedem a Páscoa, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e endossada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). É portanto uma campanha ecumênica, criada pela igreja católica que convida Igrejas e instituições a colaborarem na definição do tema e na elaboração de materiais. O tema para reflexão é sempre atual, relacionado a saúde, meio ambiente, família, questões sociais etc.
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) participa ativamente deste processo, porque é igreja ecumênica e entende que a campanha é testemunho de unidade em Cristo.
“O tema deste ano nos chama para dialogar e agir como irmãs e irmãos”, escreveu Sílvia Beatrice Genz, Pastora Presidente da IECLB, em Carta Pastoral, publicada na véspera da campanha.
Polêmica
Antes mesmo de ser lançada, a Campanha 2021 já vem gerando polêmica com versões ‘agressivas’, misturando política e opiniões que fogem completamente da proposta do tema central.
“Não confundamos propostas de fraternidade com contextos políticos! Estamos em 2021! E apesar de serem realidades que fazem fronteira, vivemos uma incrível eclesiologia de construção e de partilha. Aliás, é importante separarmos bem as coisas: a fraternidade proposta pela Campanha da Fraternidade é a do Evangelho, a partir das palavras de Cristo, e não a da boca pra fora, dos revolucionários medievais conclamando às Cruzadas via internet”, escreveu Ana Beatriz Dias Pinto, professora de Teologia no Studium Theologicum e membro da Comissão de Comunicação da Arquidiocese de Curitiba, em artigo publicado originalmente em www.bemparana.com.br)
No mesmo texto, a professora destacou os objetivos da Campanha deste ano:
- Denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as que usam o nome de Jesus;
- Encorajar a justiça para a restauração da dignidade das pessoas, para a superação de conflitos e para alcançar a reconciliação social;
- Animar o engajamento em ações concretas de amor à pessoa próxima;
- Promover a conversão para a cultura do amor em lugar da cultura do ódio
- Fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa.
Em Balneário
A reportagem buscou a opinião do pároco da Igreja Matriz Santa Inês, Frei Daniel Dellandrea e do Pastor Eloir Carlos Ponath, da Igreja Luterana Martin Luther sobre a Campanha da Fraternidade deste ano.
‘A Igreja e Cristo sempre defenderam a acolhida’
O Frei Dellandrea disse que não haverá um ‘lançamento’, mas que o início será citado nas missas, assim como os temas que ela defende serão lembrados nas celebrações.
“Os temas deste ano estão caminhando junto com a atualidade. A Igreja e Cristo sempre defenderam a acolhida, que gera misericórdia, diante da realidade vivida pelas minorias há sempre a questão da valorização da vida do outro, o olhar misericordioso de Cristo, a Igreja estendendo a mão. Assim como a ciência, com quem a Igreja sempre buscou dialogar. Muitos cientistas trabalham para o Vaticano, e se há possibilidade de vida a Igreja incentiva a ciência, como em tempos de pandemia com a vacina”.
“A pandemia só veio revelar o quanto a sociedade precisa de diálogo e amor”
O Pastor Eloir Carlos Ponath disse que o tema deste ano vem ao encontro das necessidades do país, da sociedade, nos mais diversos âmbitos.
“Vivemos tempos difíceis, onde tudo é polarizado de forma extremista. A pandemia que nos acomete só veio revelar o quanto a sociedade precisa de diálogo e amor. Neste mundo polarizado e extremista no qual estamos vivendo, encorajadas pela facilidade de se expressar em redes sociais, as pessoas “esbravejam” sua opinião, sem querer ouvir o outro lado. Creio que as mídias nos trazem o risco de vivermos não em diálogo, mas em “monólogo”: uma vez colocada uma opinião, não se quer mudar seu modo de pensar e enxergar as coisas.
Neste sentido, nada tem sido mais importante do que o diálogo carregado de amor – amor a Deus sobre tudo, amor ao próximo como a si mesmo.
Há muitas situações que causam desânimo, revolta, tristeza, desmotivação e angústia. De fato, como sociedade e como pessoas, temos muito a crescer e muito a aprender no que diz respeito à convivência, ao compromisso de amor ao próximo, à vida.
Olhar para Cristo, neste momento, é ainda mais importante. “Cristo é a nossa paz. Do que era divino, fez uma unidade.” (Efésios 2.14) – Esse é o lema bíblico da Campanha. Devemos sempre buscar ser, como pessoas de fé, instrumentos de paz e de união, e não o contrário. O diálogo é o caminho para a paz e a união. Mas, para isso, há que se olhar para Cristo, aprender de Cristo a resiliência, a humildade, a mansidão, o domínio próprio, o amor, a bondade, enfim, ter Cristo como nosso mestre e guia, de fato. Como igrejas cristãs, é de grande importância a caminhada conjunta e a unidade no testemunho do evangelho. Creio que é tempo de procurarmos, todos juntos, pela paz de Cristo; é tempo de nos esforçarmos para promovermos a paz e para sermos instrumentos do amor de Deus.
Um bom diálogo precisa dar espaço para falar e, sobretudo, para escutar. Já diziam nossos avós: “Temos dois ouvidos para ouvir e uma boca para falar!” – Ou seja, precisamos ouvir mais do que falar! Assim se constrói um bom diálogo. É preciso ouvir, conhecer, entender, compreender, para daí falar e opinar.
Não é fácil esse desafio, mas é preciso.
Também é preciso agir com amor, agir com mansidão, agir com bondade. O caminho da paz traz crescimento e conhecimento; o caminho do ódio traz escuridão e endurece o coração.
Que Deus nos ajude nestes tempos difíceis”.