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Balneário Camboriú

Mathias inicia em Balneário Camboriú caminhada de dois anos e meio limpando praias da América Latina

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Por Renata Rutes

O uruguaio Mathias Ferreira Alvez, 23 anos, de Montevideo, mora em Balneário Camboriú há cinco anos. Ele veio para o Brasil a pé, após sofrer um acidente de motocicleta em 2016 que o deixou em coma por 30 dias. Inicialmente morou em Florianópolis, mas um mês depois decidiu se mudar para Balneário Camboriú – o que era seu sonho, como ele mesmo define. Aqui viveu um tempo na rua e contou com o auxílio de moradores de Balneário, até que encontrou oportunidade para trabalhar como segurança privado, garçom e recepcionista na Praia do Pinho.

No Pinho, ele começou a ter mais contato e se preocupar com os cuidados com o meio-ambiente, o que o motivou a voltar para o Uruguai caminhando – em agosto de 2020 [relembre aqui], e então retornar para Balneário, ambos os trajetos feitos a pé pelo litoral, limpando as praias por onde passa. Na segunda-feira (22) Mathias começou a sua terceira caminhada, esta que terá a duração de dois anos e meio e será por todo o litoral da América Latina, indo até o Uruguai e então retornando para Balneário. Nesta quarta-feira (24) O Página3 encontrou Mathias em Itapoá e conversou com ele por telefone. Confira a entrevista abaixo.

(foto Divulgação/Arquivo pessoal)

“Há muitas revoluções que mudaram a história da humanidade, e eu acredito muito nessa”.

JP3: Como surgiu esse amor pela natureza?

Mathias: Eu via animais mortos, lixo na praia e decidi que precisava mudar isso. É a missão de vida que eu tenho. Precisamos respeitar mais a natureza, a nossa vida vem dela. Em Balneário a Praia Central está muito maltratada, com o esgoto de Camboriú indo para o rio e consequentemente para o mar. O governo promove uma cidade bonita e na realidade é outra coisa. E aí acaba com as algas [os briozoários] na praia. Mas as outras [praias agrestes] são muito limpas e lindas. Quero fazer essa revolução para ‘startar’ o mundo.

JP3: Como tem sido o impacto dessas caminhadas? Qual é a reação das pessoas ao te verem paramentado e recolhendo o lixo na praia?

Mathias: Inicialmente é mais de medo (risos). Olham assombradas por causa da máscara que uso, mas quero mesmo causar esse impacto, chamar as pessoas para pensar duas vezes sobre o lixo que simplesmente jogam na rua, na praia. Eu tenho criado uma rede de contatos muito boa por conta das caminhadas, consigo conversar com muitas pessoas.

(foto Divulgação/Arquivo pessoal)

“A praia mais suja que já vi foi Atlántida, no Uruguai. Achei lixo que estava lá há 50 anos”.

JP3: Quais situações mais te marcaram? Qual foi o lixo mais ‘diferente’ que você já encontrou?

Mathias: A praia mais suja que já vi foi Atlántida, no Uruguai. Achei lixo que estava lá há 50 anos, encontrei muitos lixos também deixados por barcos na areia. É triste porque você vê o tempo passar e ninguém fazer nada, e está na hora de atuarmos, a poluição é um grande problema e é a nossa casa que está sendo afetada por ela, nós temos que fazer algo sobre. Depende de cada um, esse é o passo para mudar.

(foto Divulgação/Arquivo pessoal)

“Nas minhas duas primeiras caminhadas [ida e volta Balneário-Uruguai, Uruguai-Balneário] recolhi meia tonelada de lixo, deu 125 sacolas”.

JP3: Você planeja cada caminhada? Como decide fazer uma nova?

Mathias: Levanto e saio sem destino, praia por praia, sem dinheiro, comendo o que consigo, normalmente frutas ou o que ganho. Dependo do apoio das pessoas, estou indo sozinho, consegui um valor com os meus amigos e tenho um PIX (600.627.440-03), onde quem quiser me ajudar pode depositar direto pra mim. Não estou fazendo isso por dinheiro, estou fazendo porque quero ver um mundo limpo, nós todos temos que mudar. É muito triste a situação das nossas praias. Nas minhas duas primeiras caminhadas [ida e volta Balneário-Uruguai, Uruguai-Balneário] recolhi meia tonelada de lixo, deu 125 sacolas. No começo eu separava os recicláveis e levava para cooperativas, mas hoje não consigo mais fazer isso, porque não sei os pontos de reciclagem de cada cidade; por isso eu junto na praia e jogo nas lixeiras que há perto.

“A Praia Central está muito maltratada. O governo promove uma cidade bonita e na realidade é outra coisa. E aí acaba com as algas [os briozoários] na praia”.

(foto Divulgação/Arquivo pessoal)

JP3: Quanto custa cada caminhada sua? E de que forma as pessoas podem te ajudar?

Mathias: O que eu mais preciso é comida. Consegui comprar tênis e mochila. Hospedagem também ajuda muito, porque é ruim dormir na praia. Vou rodar a América Latina e conto com o apoio de quem crê nessa causa, de empresas ou pessoas que queiram ajudar de coração. Não sou materialista, faço por amor à causa, pensando na harmonia e na paz, essa é a verdadeira revolução. Há muitas revoluções que mudaram a história da humanidade, e eu acredito muito nessa. Essa minha caminhada será por todo o litoral da América Latina, acredito que vai levar dois anos e meio, pretendo ir até o Uruguai, o ponto zero onde tudo começou, e depois voltar para Balneário Camboriú.

JP3: O que você pretende fazer com essas experiências? Deve ter muita história para contar!

Mathias: Sim! Eu estava trabalhando em um documentário, mas ficou parado. Tenho uma amiga que é jornalista [Greici Siezemel, repórter do SBT] e está documentando dia a dia da minha caminhada. Já pensei em escrever um livro, mas atualmente não tenho verba para isso. Eu escrevo bastante. Já pensei em fazer uma minissérie também, mas precisaria de materiais, tipo uma câmera GoPro. 

“Nós jovens temos que repensar nossas atitudes, senão, não vamos conseguir mudar nada”.

(fotos Divulgação/Arquivo pessoal)

JP3: Como você vê o futuro quanto a preocupação com a preservação da natureza? Acredita que o mundo pode mudar?

Mathias: Vejo uma situação muito complicada, as pessoas precisam mudar interiormente. Eu nasci em 1997, vejo que a geração de 1993 para cima precisa mudar os costumes para estimular as próximas gerações a mudar também. Nós jovens temos que repensar nossas atitudes, se não, não vamos conseguir mudar nada. As queimadas do ano passado [na Amazônia e no Pantanal] mostram a ignorância do ser humano. Estamos intoxicados pelo consumismo, que é implantado na mente desde cedo.

“Temos que melhorar muito como pessoas,
só assim o mundo vai melhorar também”.

  • Quem quiser ajudar Mathias nessa jornada pode doar diretamente para o PIX dele (600.627.440-03). Acompanhe-o através das redes sociais (Instagram @a_revolucao.br).

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