O asfaltamento de vias internas do Parque Natural Raimundo Malta, o Parque Ecológico de Balneário Camboriú, contraria o Plano de Manejo daquela unidade de conservação, produzido em 2018 pela Univali, e vigente desde então, já na gestão Fabrício Oliveira.
A secretária do Meio Ambiente, Maria Heloísa Lenzi, alegou que o objetivo foi dar acessibilidade aos prédios públicos que estão na área do parque, incluindo a Secretaria do Meio Ambiente.
“Foi feita em 350m, no acesso ao Parque. Era necessária para dar acessibilidade aos prédios públicos, inclusive pela quantidade de pessoas idosas que recebemos no setor de Fitoterapia. Se fosse uma agressão ao meio ambiente, nenhuma rua da cidade deveria receber pavimentação. O parque possui mais de 17 hectares de área, sendo 100% permeável e apenas o acesso a área técnica foi pavimentada o que não representa 1% da sua área total, portanto a permeabilidade continua garantida, inclusive reduzindo a poeira que pode prejudicar a saúde das plantas, bloqueando a incidência solar e obstruindo os estômatos por onde as plantas fazem as trocas gasosas”, explicou.
Ao comparar uma unidade de conservação com ruas e avenidas a secretária comete um disparate, e sua alegação é frontalmente contra o Plano de Manejo, que recomenda limitar ao máximo a circulação de veículos e remover do Parque os prédios administrativos como a sede da Secretaria do Meio Ambiente, paisagismo, fitoterapia etc.
Ai contrário que afirma a secretária, não foram asfaltados acessos e sim áreas dentro da unidade de conservação.
Desde que foi idealizado, ainda no governo Leonel Pavan, as vias internas do parque eram naturais, de areia, sem qualquer problema de acessibilidade.
Heloísa alegou, sem apresentar comprovação, que o asfaltamento vai “reduzir as despesas de manutenção com a via, uma vez que o fluxo de carros e caminhões é intenso e com as chuvas a estrada precisava sempre de colocação de brita e areia”.
O Plano de Manejo recomenda expressamente que “o estacionamento de veículos nas áreas internas do Parque será permitido apenas para funcionários e com fins de segurança e de proteção (bombeiro, ambulância, manutenção do Parque, portadores necessidades, idosos e carros oficiais), com limite de 25 vagas.
Heloísa disse que “o Conselho Gestor foi consultado e aprovou a pavimentação. A ideia sempre existiu, faltava colocar em prática”.
O Página 3 não conseguiu, até o fechamento desta edição, a lista de presença e cópia da ata da reunião que aprovou a ideia, que teria partido da própria Heloísa.
O objetivo do Jornal é ver quais conselheiros aprovaram o asfaltamento e quantos deles são nomeados e controlados direta ou indiretamente pela administração municipal.
Se os documentos forem fornecidos, essa reportagem será atualizada.
O jornal também tentou contato com a presidência do Conselho Gestor, trocada há pouco tempo, mas não obteve êxito até o fechamento desta matéria. Se o responsável quiser se pronunciar, o espaço está aberto.




Vereadores opinam
Os vereadores Juliana Pavan e André Meirinho ficaram surpresos com a decisão, veja o que eles disseram:
“Faltam palavras para definir o que senti quando vi as imagens”
Juliana Pavan – “Tomei conhecimento da situação ontem (quarta-feira, 1) à noite, com pessoas questionando o motivo. Quando eu vi as fotos, eu não quis acreditar. Tentei contato com a secretária Heloísa e não consegui. Quero ir com a minha equipe in loco e buscar informações. O Parque é um refúgio natural, para estar em meio à natureza; o objetivo quando vamos ao Parque é estarmos envolvidos com esse ecossistema, nos aproximarmos desse meio.
Fiquei impactada de verdade quando vi as fotos. O Parque tem muitos anos, desde a época que meu pai [Leonel Pavan] era prefeito… por que agora precisaram pavimentar? Faltam palavras para definir o que senti quando vi as imagens. Quero ir ao Parque e verificar o que aconteceu, a dimensão disso e o real motivo. Precisamos colocar na balança até que ponto pode prejudicar a questão do Parque”.
“Grande incoerência”
André Meirinho – “Vejo que a pavimentação foi uma grande incoerência. A principal secretaria que deveria defender a sustentabilidade em Balneário Camboriú, pensar no quanto a pavimentação impacta na cidade, justamente Balneário que tanto sofre problemas com alagamentos. Se querem melhorar a acessibilidade, façam um piso diferente, urbanisticamente sustentável… há muitas opções nesse sentido! Teriam muitas alternativas e inclusive para estimular e dar exemplo para outros locais da cidade. Poderiam fazer de outra forma, com um modelo mais sustentável. O asfalto não era o modelo que se imaginava, bem longe disso. Balneário é uma cidade impermeável, estamos nos consolidando nisso. Estão indo por linha inadequada… é realmente uma grande incoerência”.