Por Marcelo Batista de Sousa
“Por que ignorar a prioridade da educação?
Abrir parcialmente com apenas 30%? Por que não 29,7%?
As escolas particulares desaprovam o anunciado “Plano Estadual de Contingência para a Educação de Santa Catarina” (PlanCon), que prevê o retorno das aulas presenciais somente para meados de outubro, por se revelar um documento sem praticidade e anacrônico, embora produzido por mentes brilhantes.
É inútil porque foi elaborado a partir da ótica histérica da Organização Mundial da Saúde (OMS), entidade sob suspeição por parte de renomados cientistas, os quais se contrapõem à ideia do isolamento social.
É inútil porque ignora o desejo manifestado pelas famílias para o imediato retorno das escolas, prioritariamente dos estabelecimentos de Educação Infantil (creches) – o que agregaria ao serviço de ensino, que vem sendo prestado na sua plenitude pelo modo online, o acolhimento presencial de seus filhos em ambiente seguro e protegido enquanto os pais estiverem no trabalho.
É difícil entender o que leva nossos governantes a proibirem o funcionamento da escola, sabe-se lá até quando, com tantos casos de livre trânsito de passageiros em aviões, de consumidores nos supermercados, dos frequentadores de shows em hotéis etc.
Não teria sido mais correto abrir as escolas antes do comércio, como outros países? Por que as pessoas podem ir para o bar, mas não podem mandar os filhos para escola? Isso é uma hipocrisia! Ora, já se sabe que o mercado – produção, distribuição e consumo de bens e serviços – só vai deslanchar a partir da reabertura das escolas.
A bandeira “só volta depois da vacina” é injustificável. Isso porque as crianças não serão prioridade na campanha de vacinação por conta da baixa letalidade vista até o momento nesse grupo. Entre os infectados, apenas 2% são crianças.
Segundo artigo publicado na renomada revista científica “The Lancet Child & Adolescent Health”, a maior parte das escolas na Austrália ficou aberta no período de pico da doença, e o número de casos de contaminação em crianças foi baixo.
Como demonstra a população que sai às ruas, frequenta shows, invade praias e lota hotéis – muitos dos quais com lotação máxima nas seletivas “colônias de férias” para as crianças – as tentativas de convencimento para o isolamento social obrigatório são um mico.
Inútil
A inutilidade desse “Plano Estadual de Contingência para a Educação de Santa Catarina” se revela flagrante ao estabelecer metas inexequíveis. Como, por exemplo, fazer com que aquela criança, que teve a temperatura aferida na entrada da escola, e estará utilizando máscara e álcool gel, tenha que permanecer afastada 1,5 a 2 metros do colega durante o recreio no pátio? Ou que não se faça recreio! Que só possam comparecer às aulas apenas 30% dos alunos daquela turma? Como é possível, em uma sala, manter as crianças que estão engatinhando afastadas entre si? A escola vai ter que manter um funcionário para cada 2 bebês? Por favor, permitam que a escola possa trabalhar, mas não tornem essa tarefa impossível de ser bem feita.
Ao enaltecer a inteligência e a preocupação dos seus autores, o referido “Plano Estadual de Contingência para a Educação de Santa Catarina”, como todo o lockdown, deixa a desejar porque contém excessivas exigências inúteis, que vão quase todas no sentido contrário aos fundamentos da boa educação. A criança não deve usar máscara? Deve! Deve usar álcool gel? Deve! Obrigatoriamente têm que frequentar a escola neste período excepcional? Não! Deve ser respeitado o livre arbítrio, permitindo àquelas famílias que desejarem retornar à escola com seus filhos assim o façam? Sim!
Recordam que, lá atrás, “o uso das máscaras era só para os infectados e para os profissionais da saúde”?
Recordam que deveríamos parar tudo e ficar em casa apenas para “achatar a curva”, já que mais que 70% da população seriam infectados e o propósito era não sobrecarregar os já congestionados hospitais? Chegamos a qual percentual de infectados?
Pois é, mudaram de ideia, não sabiam o que fazer…
Hoje, depois de comprovada a inutilidade das restrições de isolamento social obrigatório, pior que isso, revelada a fragilidade dos argumentos que deram origem ao fechamento da escola, é possível que muitos já tenham formado uma opinião de que foram lesados.
Escola fechada virou símbolo de um Brasil ultrapassado.
Seria bom se a experiência pelo menos servisse para melhorar nossas próximas escolhas.
Marcelo Batista de Sousa é professor e presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina – SINEPE/SC.