(Waldemar Cezar Neto) -Através do candidato a prefeito Edson Piriquito, o BC Port, uma insanidade urbanística, econômica e ambiental “participou” da campanha eleitoral; constituindo um fato escandaloso, nunca ocorrido na história de Balneário Camboriú, de uma empresa privada tentar influenciar de forma ostensiva a vontade dos eleitores.
A reeleição de Fabrício Oliveira, que já disse repetidas vezes que não permitirá o BC Port em Balneário Camboriú, é também uma vitória contra a predação econômica, o interesse do lucro acima da sociedade e por isso estou republicando este artigo.
REPUBLICAÇÃO
O BC Port, um porto para navios de cruzeiros na praia central de Balneário Camboriú, não traria mais prosperidade, pelo contrário, seria um desastre urbanístico, ambiental e econômico para a cidade que não poderia nunca mais se livrar dessa excrescência.
O BC Port entrou na campanha eleitoral como promessa de redenção econômica, repetindo a tentativa de engambelar a sociedade com informações irreais, visando a esperteza imobiliária de criar, no mar, um dos “terrenos” mais valorizados do Brasil.
É a isca para atrair incautos dispostos a investir mais de R$ 350 milhões na tentativa de construir um hotel e um shopping center onde isso é proibido.
O “terreno” necessário para a atracação dos navios, construção do shopping e do hotel, segundo corretores especializados, vale cerca de R$ 1,5 bilhão, portanto se não encostar navio algum, continuará sendo um ótimo negócio, mas apenas para o idealizador.
A tendência é que os investidores sofram pesados prejuízos, pois a história de Balneário Camboriú mostra que a Barra Sul tem poucos negócios fora da temporada, portanto a expectativa realista é que o hotel e o shopping teriam baixo movimento na maior parte do ano.
Essa realidade é bem conhecida por empresários e corretores de imóveis e quem pensar em investir nessa miragem, deveria antes consultá-los.
LEIS NÃO PERMITEM
O Plano Diretor de Balneário Camboriú, resultado da vontade dos moradores, expressa em dezenas de audiências públicas, é taxativo em seu artigo 218 – § 5º ao não permitir shoppings e outras atividades de grande porte ao longo das avenidas Atlântica e Brasil.
Exatamente porque são grandes geradoras de trânsito e de impacto à vizinhança que, no caso do BC Port, agrega também nefastos efeitos no mar e no rio Camboriú.
Tentar passar por cima de todo o regramento construído para preservar a qualidade de vida da cidade, quarta colocada no Brasil nesta avaliação, é inaceitável, deveria ser repelido pela sociedade, pois constitui em verdade crime contra leis fundamentais como as ambientais, o Plano Diretor e a Ocupação e Uso do Solo.
A lei do Plano Diretor, por exemplo, exige que o hotel e o shopping tenham estacionamento para centenas de veículos, contemplando também idosos e portadores de necessidades especiais, mas o empreendimento não possui uma única vaga, nem mesmo para carga e descarga, além de não possibilitar acesso a ambulância e Bombeiros
Confrontado com essa realidade, o idealizador inicialmente apresentou declarações inverídicas acerca de um terreno alugado, para estacionamento, na Barra Sul e, quando a inverdade veio à tona, a localização da área de apoio mudou para a vizinha cidade de Camboriú.
Uma área de apoio em Camboriú não altera o fato do empreendimento não ter vagas de estacionamento no local ou próximo a ele, como exige a lei, além de agregar outro complicador dos mais relevantes, a pressão ambiental sobre o exaurido rio Camboriú.
Uma das premissas do empreendedor é que o BC Port poderia movimentar até 16.000 passageiros por dia, projeção sem base na realidade, mas se fosse concretizada resultaria em dezenas de viagens diárias, no rio Camboriú, de grandes balsas carregando turistas, bagagens e suprimentos, com impacto imediato no meio ambiente.
NÚMEROS IRREAIS
A ideia que o BC Port se transformaria no maior centro para navios de cruzeiros da América do Sul é estúpida, um delírio no qual qualquer investidor não gastaria cinco minutos do seu tempo após conhecer a realidade do mercado.
Segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, integrante da Cruise Lines Internacional Association (Abremar/Clia), na temporada 2018/2019, os navios de cruzeiro que operaram no Brasil transportaram 462.384 passageiros.
Porém, só 19,7% vieram para cá e os números do Atracadouro Barra Sul, mostram que dos 91.199 passageiros que escalaram em Balneário Camboriú, apenas 56.101 desembarcaram para conhecer a cidade, com baixo impacto econômico além dos limites da Barra Sul.
As estatísticas da Abremar/Clia apontam que 71% dos cruzeiristas no Brasil são de São Paulo ou do Rio de Janeiro, portanto é risível acreditar que uma pessoa deixaria de preferir o porto de Santos ou o Pier Mauá para pegar um avião e vir embarcar em Balneário Camboriú.
ESTRUTURA JÁ EXISTE
Se as companhias de cruzeiros quisessem, poderiam ter implantado pacotes de turismo saindo de Santa Catarina para Buenos Aires, Montevidéu, Punta del Este, Ushuaia etc. porque os recursos para isso estão disponíveis, mas nunca o fizeram por falta de interesse econômico.
Se houvesse este interesse, a infra-estrutura está pronta, todos os 25 navios de turismo que atracaram no porto de Buenos Aires, na temporada 2018/2019, poderiam ter atracado também no porto de Itajaí que é alfandegado e suporta cruzeiros de grandes dimensões.
Itajaí tem ainda um píer turístico com cais de 245m e capacidade para navios menores que costumam ser os mais luxuosos e exclusivos.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Clia Brasil, mostra que na temporada 2018/2019, os 22 navios de passagem pela costa brasileira transportaram 229.238 passageiros e nenhum deles parou em Itajaí porque não existe interesse econômico e não serão os números do BC Port que mudarão as regras de mercado.
MEIO AMBIENTE
Os resultados dos dados coletados até o momento, no estudo denominado Programa Rio Camboriú, conduzido por 30 pesquisadores das áreas de Oceanografia, Geografia, Turismo, Comunicação e Engenharias, executado pela Escola do Mar, Ciência e Tecnologia da Universidade do Vale do Itajaí, Univali, lançam um alerta dramático à sociedade: uma obra como o BC Port -ou qualquer outra semelhante- é inviável na foz do rio Camboriú.
Esse estudo visa avaliar as principais pressões e impactos no rio, propondo um sistema de gestão ambiental para o Comitê do Rio Camboriú e as prefeituras de Balneário Camboriú e Camboriú.
Alguns trechos do trabalho científico que ainda está sendo elaborado são claros:
– Fica evidente que não é possível haver qualquer tipo de empreendimento na boca do estuário, visto que o efeito da maré funciona como um bombeamento natural para melhorar a qualidade da água;
-A inserção de um empreendimento na boca do estuário, irá gerar um passivo ambiental com sérias consequências para a economia de Balneário Camboriú.
-A dragagem, em função de um grande empreendimento a ser ali implementado, poderá comprometer seriamente toda a região.
-Qualquer empreendimento da saída do rio Camboriú irá fortemente contribuir para o crescente abandono da pesca artesanal e futura extinção de uma atividade fundamental para o turismo de qualidade de Balneário Camboriú, especialmente no que se refere ao setor de hotelaria e restaurantes, além da sua importância na continuidade da cultura e tradição locais.
GROSSEIRA E RUDIMENTAR
No último sábado, dia 7 de novembro, o juiz Adilor Danieli, da 56a Zona Eleitoral em Balneário Camboriú multou em R$ 53.205,00 o idealizador do BC Port por contratar e divulgar pesquisa eleitoral “com produção grosseira e rudimentar.”
A pesquisa, adjetivada dessa forma pelo juiz, dava conta que a população apoia o BC Port, mas seu resultado é imprestável porque há fortes indícios que foi forjada, manipulada para atender aos interesses de quem a encomendou, fato que será apurado pela Polícia Federal.
A única pesquisa com valor legal a respeito do BC Port é a que resultou das dezenas de reuniões do Plano Diretor que ao final proibiram empreendimentos desta natureza naquela área de Balneário Camboriú.
* Waldemar Cezar Neto é jornalista em Balneário Camboriu.