- Publicidade -
- Publicidade -
21.3 C
Balneário Camboriú
- Publicidade -

Leia também

- Publicidade -

Como acabar com a cultura de “enxugar gelo”? por Robson Ramos

A incidência de crimes em nossa região é cada vez maior. Pouco a pouco vamos nos acostumando com isso e aí é que está o perigo. Em qualquer cidade da região é sabido que há bairros conhecidos como “pontos de droga”. Lembremos que esses pontos de venda de droga só existem porque há consumidores, que também aumentam. São lugares normalmente mais empobrecidos, com infraestrutura deficitária, com famílias desestruturadas e de difícil acesso das forças de Segurança. Obviamente há também pessoas sérias e trabalhadores nesses bairros. É um quadro conhecido de todos. Balneário Camboriú não foge à regra.

Há 11 anos quando vim para BC não havia problemas de criminalidade da forma como vemos hoje. A percepção de outros moradores parece não ser diferente. É inegável que os índices de criminalidade seguem aumentando significativamente. Alguns podem alegar que isso é geral, ocorre no país inteiro. Mas esse argumento é evasivo, se considerarmos as dimensões do município – comparativamente falando – e com todas as condições para coibir o avanço da criminalidade e a prática de delitos, grandes ou pequenos. O aumento da ocorrência de crimes é sintomático e remete a outros fatores tais como desemprego, desajustes familiares, ausência de boas referências dentro de casa e falta de perspectiva, especialmente entre os jovens. 

É o ambiente ideal para a criminalidade seguir crescendo. À medida em que nos omitimos em relação à solução dos problemas que afligem essas camadas menos favorecidas, os mais jovens são presas fáceis e acabam fazendo escolhas das quais dificilmente conseguirão se libertar. 

Enganam-se aqueles que pensam que os órgãos públicos e seus funcionários, ainda que desempenhem suas atribuições com seriedade, consigam dar conta do recado. Longe disso. Eles próprios são os primeiros a dizer que só estão enxugando gelo. Proponho aqui, uma mudança nesse quadro, desenvolvendo e incorporando uma cultura de responsabilidade social resultante da sinergia organizada entre o poder público, o setor privado e a sociedade civil organizada. 

Para isso precisamos forjar líderes socialmente engajados na busca e implementação de soluções que tragam melhor qualidade de vida – profissionalização, empregabilidade e educação – para comunidades menos favorecidas. Isso se aplica também à formação adequada para os cargos de confiança. Aqueles que são eleitos como nossos representantes devem escolher auxiliares com a qualificação necessária para tirar do papel as propostas apresentadas durante uma campanha eleitoral, e que demandam o engajamento da comunidade no debate e no processo decisório.

Conforme preceituam os cursos de administração pública, isso é entendido como a “coprodução de serviços e bens públicos”, devendo ser trabalhada em um contexto de igualdade, em que o poder público se envolve por meio de servidores e funcionários aptos à construção colaborativa do bem público, e em que as empresas de mercado se envolvem somente naquilo em que possam efetivamente servir às necessidades e interesses de uma coletividade.

Necessitamos de líderes mais sensíveis, altruístas e éticos, que coloquem suas competências e habilidades em prol do bem comum, e com capacidade para conciliar resultados econômicos e sociais. 

Profissionais com coragem para influenciar comportamentos, romper paradigmas e promover mudanças no modo das pessoas fazerem negócios. Em suma, líderes dispostos a evitar que o “gelo” se forme, ao contrário daqueles que se veem apenas “enxugando gelo”. 

Instituições de ensino, assim como gestores dos setores público e privado deveriam estar formando esse tipo de líder, com maior consciência da sua responsabilidade social e que não se preocupe apenas em garantir seu lugar no mercado de trabalho. Pessoas que exerçam um protagonismo cidadão no engajamento solidário às pessoas e comunidades menos favorecidas. 

Um dos paradigmas a serem vencidos é o da mentalidade de silo, já mencionado em artigos anteriores neste mesmo jornal. Tal conceito vem da observação dos silos para armazenamento de grãos facilmente vistos em fazendas e usinas, nas áreas rurais. Estão lá, cheios de grãos, relativamente próximos uns aos outros, no entanto, isolados, sem qualquer comunicação entre si. Do ponto de vista organizacional isso acontece quando gestores deixam de compartilhar conhecimento ou informações que poderiam ser úteis para a obtenção de melhores resultados. A mentalidade de silo afeta a eficiência, gera duplicação de esforços e recursos. Um grupo com esse perfil jamais será um time pois não consegue trabalhar de forma coesa. 

Nosso município, em parceria com os outros municípios da AMFRI – Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí – tem uma oportunidade única para desenvolver uma gestão visando ao combate dos problemas comuns aos municípios associados. Dessa forma o impacto dos resultados positivos seria ainda maior. 

As autoridades competentes e líderes da sociedade civil poderiam criar uma plataforma de trabalho com essa finalidade. Com o apoio de universidades públicas e privadas, pesquisadores poderiam ser designados para fazer pesquisas e gerar informações de suma importância para o estabelecimento de ações coordenadas e políticas públicas preventivas efetivas a médio e longo prazo. O caminho a ser construído pode não ser dos mais simples, porém, se quisermos preservar os interesses e o bem-estar das gerações futuras, devemos pensar que as questões aqui apontadas não serão resolvidas com medidas paliativas. É condição sine qua non juntar forças, experiência, conhecimento e competências com o objetivo de melhorar as condições de vida das comunidades menos favorecidas para que as desigualdades sejam minimizadas e alcancemos um equilíbrio que seja benéfico para todos. 

As consequências da falta de ações preventivas e de compromisso com a coletividade, em benefício das gerações futuras serão inevitáveis: aumento das ocorrências de roubos, furtos, homicídios, tráfico e perda de vidas para a marginalidade, somados aos custos sociais inerentes às áreas da Saúde e da Educação. 

Concluindo: é preciso formar líderes inovadores e comprometidos com a busca e a implementação de soluções, como condição para o desenvolvimento de uma cultura de responsabilidade social e mudar a cultura irresponsável de ficar “enxugando gelo”. Do contrário devemos esperar novos e maiores males.

Sobre o autor: Robson Ramos, advogado mediador com foco na solução de conflitos e Compliance. Atuou por mais de 20 anos em multinacionais americanas, nas áreas de gestão de pessoas e desenvolvimento estratégico. Membro da Academia de Letras de BC e autor de vários livros.


Para receber notícias do Página 3 por whatsapp, acesse este link, clique aqui




- publicidade -
- publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -