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Texto: Robson Ramos

São inesquecíveis as lembranças da primeira vez que fui a um circo, ainda menino. O número que seria apresentado pelos trapezistas era o mais esperado. A plateia olhando para cima em silêncio, ao som imponente e amedrontador dos tambores rufando enquanto o primeiro deles subia resoluto, pisando e segurando a escada de cordas, até chegar no ponto mais alto, numa pequena plataforma. Braços levantados para uma pausa, cumprimentando a todos. A qualquer momento ele teria que saltar e pegar o trapézio ou a mão de um companheiro para poder chegar ao outro lado. O timing dessa decisão, de quando e como saltar, é a linha que separa o aplauso da vaia, o sucesso do fracasso, ou até mesmo, a vida da morte.

Um número cada vez maior de pessoas está vivendo a mesma ansiedade do trapezista. Mesmo estando em pé na segurança de uma base, podemos ficar parados, nervosos, com as mãos transpirando, olhando lá para baixo ou, permitir que a vida nos empurre, de tempos em tempos, para que sejamos compelidos a encontrar novas saídas.  Assim, temos a possibilidade de saltar e alçar voos em busca de novos caminhos e descobertas.  Uns se lançam ao desconhecido e outros preferem não se arriscar.

Não existem respostas fáceis quando o assunto é encarar o envelhecimento, especialmente o nosso. Por isso vale a pena refletir sobre como os trapezistas se preparam para fazer sua parte no espetáculo circense. Eles começam ainda bem jovens, treinando e sabendo que as redes de proteção estão lá embaixo, ensaiando com segurança e contando com a ajuda de profissionais mais experientes. Para termos uma boa velhice é preciso começar a nos prepararmos cedo, ao invés de querer retardá-la.

É preciso haver uma mobilização de todos os setores da sociedade civil organizada, universidades, terceiro setor, assim como do Poder Público, atuando de maneira coordenada. Essa mobilização tem que resultar em ações concretas que possam atenuar de alguma forma o sofrimento das pessoas idosas.

Não se trata apenas de criar atividades para entreter idosos que ou simplesmente abandoná-los numa Instituição de Longa Permanência.

Mais cedo ou mais tarde deveremos cuidar dos nossos pais. Evitar o assunto de nada adianta. Os pais, por sua vez, devem também pensar que um dia irão precisar da ajuda dos filhos. É preciso pensar em como essas situações serão enfrentadas. Quanto mais cedo iniciar esse processo de planejamento e aceitação, melhor será para todos. Dessa forma é possível olhar para o ambiente familiar como o espaço no qual as pessoas adoecem e também são curadas.

Ao mesmo tempo devemos fazer um diagnóstico do nosso tempo e da sociedade da qual fazemos parte. Fazemos parte da “sociedade líquida”, marcada pelo individualismo e superficialidade das relações, conforme o pensamento do sociólogo polonês, Zygmunt Bauman. Nesse contexto os vínculos entre as pessoas podem ser rompidos a qualquer momento. Um desdobramento disso é o sucateamento dos indivíduos que não nos são mais úteis e, assim, vão se tornando descartáveis. Nesse quadro cruel os mais velhos acabam sendo os mais vulneráveis. Não é de se estranhar que muita gente acabe optando pelo isolamento. Cada vez mais, vemos menos sensibilidade em relação às dificuldades do outro. E, especialmente no que diz respeito à pessoa idosa, é preciso observar que a vida ao redor dela vai passando com muita rapidez, de modo que todos estão tendo que se reinventar para não se tornarem obsoletos. Mas como encontrar sentido na vida sendo uma pessoa idosa e não necessariamente incapacitada sem conseguir se reinventar?

É muito comum, por exemplo, o filho ou a filha vivendo com os pais ou só com a mãe e tratando-a como uma empregada. Chega em casa, se irrita se ela pergunta alguma coisa, joga a roupa suja em qualquer lugar, vai tomar banho e reclama se a comida não está pronta. Come sem dar atenção à pessoa que preparou tudo com carinho e esmero. Sai, em seguida, sem dizer para onde vai. Volta mais tarde, abre a geladeira, come mais alguma coisa e deixa tudo aberto sobre a mesa da cozinha. Entra no quarto, fecha a porta e, no dia seguinte, tudo se repete. Nenhum momento sobra para os pais.

Assim, somos produto de uma sociedade que não sabe mais o que seja comunidade, mas que sabe perfeitamente navegar nas redes. As pessoas estão sempre aptas a se conectarem e se desconectarem de acordo com seus interesses do momento. Compromissos a longo prazo estão fora de cogitação. Uma das características da sociedade líquida é a facilidade com que se conecta e se desconecta tão logo surja o menor sinal de descontentamento. Diferentemente do que uma senhorinha respondeu quando lhe perguntaram como ela conseguira ficar tantos anos casada: É que, antigamente, a gente não jogava fora as coisas quebradas. A gente pegava e consertava.

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Precisamos reaprender a valorizar a vida em família, as longas refeições com a presença dos avós, tios, tias, de conversas e abraços afetuosos, dos momentos de convívio e troca de informações, ouvindo os mais velhos, ajudando-os também a entender o que está acontecendo nas ruas, na mídia. Inclusive lendo notícias de jornais e revistas para eles. É uma forma de auxiliá-los a se sentirem atualizados para poderem participar das conversas em família, fazendo-os saber que são importantes para a família, ao invés de ficarem num canto se sentindo um estorvo.

Muitos idosos se sentem excluídos e isolados. A solidão é a provação mais comum e mais grave que afeta os idosos, justamente quando muitos deles vivem a frustração de terem perdido a possibilidade de brilhar.

Precisamos criar mecanismos por meio dos quais o conhecimento e a experiência de pessoas idosas pudessem ser aproveitados.

Famílias poderiam se organizar e criar estruturas de apoio e reciclagem profissional para idosos em seus círculos de relacionamento. Tais estruturas poderiam muito bem ser de grande utilidade na ressignificação do papel e aproveitamento dessas pessoas. Para que haja uma integração dos idosos no mundo atual, é preciso uma mudança de postura tanto pessoal como social. Todo idoso precisa ter condições de, na medida do possível, levar uma vida feliz, interessante e útil no seio da sociedade e, dessa forma, reencontrar nela seu lugar. E, para que isso possa acontecer devemos criar formas de convivência com eles e conceder o lugar devido àqueles que “no outono da existência, conquistaram o verão da sabedoria”.

Da mesma forma, empresas podem preparar idosos que precisem e queiram se reinserir no mercado de trabalho para complementar sua renda.

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Não me parece que isso seja tão difícil. Basta colocarmos nossas competências e criatividade sobre a mesa e partirmos em busca de soluções. Devemos ir além da mentalidade que preconiza o lazer dos idosos como sendo a única coisa a ser feita. Precisamos todos entender que não podemos prescindir dos serviços que as pessoas com maior experiência de vida têm condições de oferecer.

Um dos meus objetivos é inspirar pessoas a se tornarem protagonistas na criação de projetos humanizadores que mobilizem a família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público.

É preciso haver uma tomada de consciência: por um lado, as pessoas de idade devem se conscientizar de que precisam buscar algo para ocupar o seu tempo livre, e, por outro lado, a sociedade deve criar formas para estimular esse processo. Assim poderemos falar de uma velhice saudável, produtiva e mais feliz.

Há muita experiência e conhecimento disponíveis capazes de promover mudanças significativas na economia de um município como Balneário Camboriú. Mas, para tanto é preciso que haja mudanças de paradigmas na sociedade sobre a contribuição que pode ser feita pelas pessoas idosas. Para que isso aconteça, precisamos unir forças e promover ações solidárias de modo a possibilitar aos idosos que brilharam uma vez a chance de voltar a brilhar.

Sobre o Autor: 

Robson Ramos é advogado, consultor e mediador visando a solução de conflitos familiares. Membro da Academia de Letras de Balneário Camboriú e autor da obra: O Idoso do Plaza: crônicas para saber envelhecer! Foi residente do Conselho Municipal em nossa cidade, de 2009 a 2011. Reside em Balneário Camboriú, SC.

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