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Escândalo do mensalão faz 20 anos e segue como tabu no PT, que oscila do pedido de desculpa à negação

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(FOLHAPRESS) – Vinte anos separam o terceiro mandato de Lula na Presidência da República e o escândalo político conhecido como mensalão, ocorrido no primeiro governo do PT e até hoje usado por adversários para atacar o partido.

Se na ocasião houve alegações de traição interna e pedidos de desculpas à população, o sentimento que impera no partido, atualmente, é o de que a sigla foi injustiçada, apesar de as condenações terem sido definidas com os votos da maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). O episódio, mesmo passada a sua maioridade, ainda é tratado internamente no PT como tabu.

A acusação surgiu de um deputado associado ao centrão, Roberto Jefferson, do PTB, quando uma denúncia de corrupção nos Correios recaiu sobre seus indicados e passou a implicar a sua participação. Acuado, Jefferson contra-atacou em entrevista à Folha publicada em 6 de junho de 2005, afirmando que o governo Lula pagava mesada a deputados do PL e do PP, então na base do governo, pela sua fidelidade.

Roberto Jefferson.

Descrito como um esquema de compra de apoio político no Congresso, o mensalão atingiu a nata petista, implodiu a cúpula partidária e obrigou Lula a recalcular a rota para escapar de um processo de impeachment em seu primeiro mandato.

Entre os 40 denunciados, figuravam peças-chave na engrenagem do PT, como o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, o presidente do partido, José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral, Silvio Pereira, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. Todos foram afastados, condenados e presos, à exceção de Pereira, que fez um acordo para prestar serviços comunitários em troca da suspensão do processo.

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Genoino deixou a presidência do partido em julho daquele ano, após um assessor do então deputado estadual José Guimarães (CE), irmão dele, ser preso em flagrante no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com dólares na cueca. O episódio foi um dos mais emblemáticos da crise política. Então ministro da Educação, Tarso Genro deixou o comando da pasta para assumir a presidência do PT.

O presidente do PT na época, José Genoino,

“A minha função era rejuntar os pedaços”, afirmou Tarso à Folha.

Um dos quadros petistas mais críticos sobre o mensalão, ele descartou a necessidade de o PT, enquanto instituição, fazer qualquer autocrítica pelo escândalo. “A mea-culpa já foi feita pela Justiça. As pessoas foram condenadas”, disse.

Para o ex-ministro, “naquela época não havia uma linha de separação clara e determinada entre financiamentos ilegais de campanha e extorsão do Estado para vantagens políticas”.

Delúbio Soares, encarregado de gerenciar os cofres petistas, admitiu publicamente o financiamento de campanhas do partido e de aliados por meio do que chamou de “recursos não contabilizados”.

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Pressionado, Lula lamentou o episódio ao fazer um pronunciamento à nação, em 12 de agosto de 2005: “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, que eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”.

Ele acrescentou: “O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, tem de pedir desculpas”.

As declarações ocorreram após o marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha de 2002, admitir recebimentos do partido no exterior. As investigações apontaram, mais tarde, que uma das formas de financiamento do esquema era dinheiro desviado do Banco do Brasil. Dezoito deputados chegaram a ter a cassação pedida.

O caso ainda demoraria anos para gerar punições na Justiça.

Em 2012, com o julgamento do escândalo pelo STF e a condenação de 24 pessoas, a percepção interna do PT sobre o mensalão mudou. No partido, sobraram críticas à atuação do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo e hoje aposentado, que dizia ter havido um “vasto esquema de distribuição de propina”, do qual “metade do Congresso sabia”.

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Mas o tom no PT não era de enfrentamento direto às autoridades do caso, como ocorreria anos depois na Operação Lava Jato. A investigação deflagrada em Curitiba e a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, posteriormente, contribuíram para que o partido revertesse o discurso e passasse a alegar perseguição.

José Dirceu, em nota à Folha, disse ter sido transformado em bandido e corrupto “de um dia para o outro”. No mensalão, ele foi condenado com base na chamada teoria do domínio do fato, aplicada contra o líder de uma organização pela ciência de crimes cometidos -o conceito, debatido por juristas, é criticado pelos petistas.

José Dirceu em foto de Fabio Rodrigues Pozzebom.

“Tinham um único objetivo: atingir o governo e o presidente Lula e desconstruir o PT. Tanto é verdade que os núcleos dirigentes do PT no governo, na Câmara e no próprio partido foram envolvidos no chamado mensalão e deixaram seus cargos. O tempo provou que o objetivo final era derrotar nosso projeto político e o presidente Lula”, disse Dirceu.

O afastamento de Dirceu, Delúbio e Genoino reconfigurou toda a estrutura partidária. Enquanto chefe da Casa Civil, o próprio Dirceu era cotado para suceder Lula na Presidência. Foi substituído na pasta pela então desconhecida ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, que se elegeria presidente em 2010.

Para o cientista político Bruno Wanderley Reis, entendimentos judiciais controversos no mensalão pavimentaram o caminho para a Lava Jato e reduziram a credibilidade de ações de combate à corrupção, alimentando o discurso antissistema.

“Existia uma sem-cerimônia e uma naturalidade com que, naquele momento, não só o governo, mas partidos estavam firmando acordos, passando cheques sem amparo legal. Agora, para enquadrar isso como corrupção ativa dentro do governo e corrupção passiva no Congresso, precisou de muita inovação jurisprudencial”, disse.

Valdemas Costa Neto, hoje líder bolsonarista, foi condenado e preso no Mensação (Foto: EBC)

Tarso Genro diz que, apesar de as denúncias terem sido corretas, a espetacularização do escândalo mudou o rumo das investigações. “A partir de um certo momento, as investigações se desprenderam de toda a legalidade.”

Para a cientista política Juliana Fratini, o fato de o mensalão ser associado ao PT, e não a outros partidos, também contribuiu com o sentimento de injustiça. “Se o mensalão ocorria, muitos parlamentares tinham conhecimento e se beneficiavam dos recursos que o partido destinava”, afirmou.

Os próprios petistas têm reforçado hoje que a denúncia partiu de Roberto Jefferson, preso sob acusação de incitar atos contra o STF e resistir a tiros à prisão, em 2022. Dirceu o chamou, na nota, de “figura patética e desacreditada”.

Os mensaleiros, como são chamados os envolvidos no escândalo, foram retornando, aos poucos, à vida partidária. Dirceu e Delúbio, inclusive, já preparam candidaturas à Câmara dos Deputados em 2026.

Petistas procurados pela reportagem se recusaram a falar abertamente sobre o tema e pediram para serem ouvidos sob reserva. Apesar da defesa aos condenados, o assunto ainda é tabu. Um membro da direção nacional disse que há constrangimento, entre eles, do uso da palavra “mensalão” e do peso que ela carrega -o termo é evitado até por Lula.

“O Zé Dirceu sabe o que é ser vítima de mentira. Está aqui o companheiro Delúbio, que sabe o que é ser vítima da mentira”, disse Lula na cerimônia de aniversário de 45 anos do PT, em fevereiro deste ano.

O presidente, mesmo com acenos aos seus antigos homens de confiança, optou por deixar subentendido o contexto de sua fala.

O PT foi procurado pela Folha, por meio de sua assessoria, para um posicionamento institucional sobre o assunto. O retorno via mensagem (“o PT não vai se manifestar”) expôs a chaga que ainda aflige o partido mesmo passados 20 anos.

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