O vereador Guilherme Cardoso vem cobrando ações a respeito da população de rua em Balneário Camboriú e foi um dos idealizadores da audiência pública, no final de abril, quando o plenário da Câmara da cidade lotou (relembre aqui).
Guilherme concedeu entrevista sobre o tema ao Página 3, onde apontou falhas na integração entre as secretarias, falta de vagas para internações compulsórias e também destacou indicações que fez sobre o tema.
Segundo o vereador, o cenário é visível a qualquer morador da cidade e o que é possível presenciar na cidade é algo que ‘não precisa nem ser fiscalizado’, que é o aumento da população de rua e também o ‘caos’ que acontece por conta disso – ele relatou uma cena que viu próximo ao Balneário Shopping, quando uma moradora de rua espalhou lixo e ele precisou ligar para a Ambiental ir limpar, pois mais moradores de rua tomaram conta do local.

“É algo que é óbvio e está claro que tem um aumento, sim, e que tem falta de integração na área da inclusão social, da saúde e da segurança pública. Entendo que é começo de governo, por isso estamos tentando ajudar a prefeitura nesse sentido”, afirmou.
Falta de vagas e de estrutura para internações
Um dos principais pontos levantados pelo vereador é que o município não possui hoje nenhuma vaga para internação compulsória. Guilherme relatou ao jornal que esteve nesta semana no Ministério Público e que recebeu um documento onde consta que é possível internar compulsoriamente em casos específicos, mas que hoje a cidade não tem vaga para internação compulsória, por isso não podem internar.
“Em momento algum, o promotor diz que não pode ser feito, e inclusive o MP recomendou a aquisição de ao menos 20 vagas em hospitais conveniados para esse tipo de atendimento. Hoje há zero vagas”, disse.
Campanha “Não dê esmola” não está acontecendo
A campanha de conscientização “Não dê esmola”, que é realizada em Balneário Camboriú desde gestões anteriores, no momento, não está acontecendo, disse o vereador.
“Eu desafiei na tribuna qualquer vereador a me mostrar um vídeo, uma foto, desde janeiro até hoje, de qualquer ação da campanha. A única coisa que tem são placas antigas, sujas, das campanhas passadas”, afirmou.
O vereador defende que a população seja orientada sobre a forma correta de ajudar, destacando que doar alimentos diretamente nas ruas contribui para que essas pessoas permaneçam em situação de rua e não busquem atendimento nos serviços oficiais.
“O local adequado para fazer doações é ou para as equipes que trabalham com estas pessoas, o Resgate Social, na Casa de Passagem (espécie de albergue municipal) ou para as comunidades terapêuticas”, pontuou.
Problemas estruturais nas ações de abordagem social
O vereador elogiou o trabalho dos servidores da abordagem social, mas destacou a falta de estrutura e de profissionais.
“Hoje, em muitos plantões, tem oito mulheres e apenas dois homens para cuidar de cerca de 30 homens na casa de passagem. É rezar para não acontecer um surto ou uma situação grave”, afirmou.
Além disso, ele criticou a falta de integração entre as secretarias municipais.
“A gestão precisa unir essas pessoas e pastas Saúde, Segurança e Assistência Social. Já fiz cobranças diretas à prefeita Juliana, ela sempre me atende quando entro em contato”, acrescentou.
Risco nas marginais da BR-101 e passarelas abandonadas
Outro problema apontado por Guilherme é a falta de manutenção das marginais da BR-101 e das passarelas, que viraram pontos de uso de drogas.
“Na quarta-feira (7) eu fui até a Casa de Passagem e, na passarela que fica ao lado, na BR-101 tinha duas pessoas utilizando drogas em plena luz do dia. Uma delas, segundo informações, era traficante”, relatou.
Ele lembrou que já apresentou uma moção de apelo à Arteris, concessionária responsável pela BR-101, para que a prefeitura assuma a manutenção dessas áreas, mas a situação segue a mesma.
“A prefeitura diz que não pode mexer porque é da Arteris. A Arteris não faz nada. E a população segue exposta”, criticou.
Reunião de forças e plano de ação do Ministério Público
O vereador destacou como positiva a realização da audiência pública recente, que reuniu diversas secretarias e representantes da sociedade civil. Ele mostrou para a reportagem uma cópia do plano proposto pelo Ministério Público, que inclui: Criação de uma força-tarefa integrada entre Saúde, Assistência Social e Segurança Pública; Investimento em vagas para internações compulsórias; Reforço na capacitação das equipes de abordagem social; Criação de planos individuais de atendimento para cada pessoa que está nas ruas (com início, meio e fim no tratamento – algo que a prefeitura já está buscando fazer, saiba mais aqui).
Por fim, Guilherme reiterou que continuará cobrando ações do Executivo, mesmo que isso desagrade algumas lideranças políticas.
“O que eu estou fazendo é a minha função de vereador. Se a prefeitura fizer, eu vou para a rua parabenizar. Mas enquanto não fizer, eu vou continuar cobrando”, disse.
Ele ainda lembrou que promoveu uma consulta popular antes da audiência pública, além de abaixo-assinados físicos e online.
“Esses são mecanismos que um mandato tem que ter, para oportunizar que as pessoas participem do dia a dia da cidade”, concluiu.