O Vereador Mirim está completando 18 anos e na quinta-feira (15) aconteceu uma sessão solene para lembrar a criação do programa, através da então vereadora Christina Barichello, em 2005.

Desde então, mais de 190 estudantes já foram vereadores mirins na cidade, participando de 195 sessões e apresentando cerca de 2.200 proposições.
Para lembrar como tudo começou e também destacar a importância do programa, o Página3 preparou uma reportagem especial. Acompanhe:
“Tenho orgulho desse projeto, que deu certo”
Christina Barichello, criadora do programa e atual secretária de Inclusão Social de Balneário Camboriú

“É a maior idade do programa, na época quando criei, por trabalhar sempre com crianças, fui uma das fundadoras da Casa da Criança, eu percebia que a criança e o adolescente também tem percepção política, das necessidades, e também tem opinião… e eu via que a criança não era consultada sobre políticas públicas, necessidades do bairro, da escola… e a Câmara Mirim deu voz às crianças e adolescentes, na escola escolhem o representante… é um início dessa voz que é dada para a criança, de entender o que é democracia, trazendo demandas da escola, do bairro, com percepção de várias regiões da cidade. Elas [as crianças e adolescentes] percebem e começam a entender o processo político, o que é fundamental inclusive para criar novos líderes, e saberem a importância das leis – que influencia no preço nos mercados, criação de parques etc, mostrando que a política muda a vida de todos.
Eu sempre achei fantásticas as discussões, servem de modelo para ver que a criança tem voz. Tenho orgulho desse projeto, que deu certo e segue até hoje.
Na época já era importante, mas não teve uma expressividade tão grande como foi tendo depois, ao longo dos anos. Fico feliz que teve continuidade nas outras legislações. Hoje é um setor dentro da Câmara, tem direção, assessoria jurídica.
Pode ser uma sementinha para serem no futuro políticos. Tem vereador mirim advogado, concorrendo a ser juiz, jornalistas, dentre outras importantes profissões. É extremamente importante essa visibilidade, dar acesso e visão para uma faixa etária que não tinha isso”.
“O projeto teve um ‘boom’ grande, hoje somos referência nacional”
Márcio Gonçalves, coordenador do programa Vereador Mirim

“Trabalho na Câmara há 10 anos, e atuando na Câmara Mirim estou há seis. Por gostar do projeto, pedi para ir para ele. Antes, os vereadores mirins tinham somente um encontro/mês, quando aconteciam atividades legislativas, mas eu via que faltava formação e participação efetiva em conhecer o governo, secretarias, órgãos do município.
Por isso, aumentamos as atividades, começou com a cada 15 dias e hoje temos três encontros mensais. Fazemos palestras, games e dinâmicas educativas, visitas a órgãos públicos, ações ambientais e sociais, diversas funções para eles conhecerem como funciona todo o sistema público e também ações que vão fazer se engajarem na sociedade.
Tudo isso fez o programa crescer, assim como as eleições que dão muita visibilidade – desde 2020 é com urnas eletrônicas, com os estudantes vivenciando como funciona o processo eleitoral, com apoio do TRE.
Em 2021 levamos um grupo para Brasília pela primeira vez, conseguimos emendas parlamentares na ocasião.
O projeto teve um ‘boom’ grande, hoje somos referência nacional, temos um forte trabalho de formação utilizando a gamificação na educação, que sabemos que é importante, assim os mirins assimilam o conteúdo de forma divertida. Santa Catarina se destaca por ser o estado que tem o maior número de Câmaras Mirins, na última contagem o total era 75, e a de Balneário é uma das pioneiras de SC.
A primeira foi a de Blumenau, primeira do Brasil, inclusive. Buscamos fazer um trabalho de formação de líderes, com um olhar diferenciado para a comunidade.
Muitos dos vereadores mirins falam que querem ser políticos, alguns saem bem engajados, querendo fazer a diferença através da política, tem vários que já passaram no projeto e trilharam o caminho.
O projeto tem 18 anos e nos últimos anos ganhou força, vejo que a Câmara Mirim pode render muitos frutos pela frente, percebo uma transformação neles [nos vereadores mirins], que querem contribuir. É muito importante despertarmos esse interesse, ainda mais em um país onde estão desacreditados na política. Vemos uma luz. Temos vereadores mirins que hoje são assessores parlamentares, outros atuando na prefeitura, há até figuras famosas, como o Chef Dudu Poerner e o youtuber Maicon Kuster”.
“O projeto foi um divisor de águas na minha vida”
Larissa Mozzatto Risério foi a primeira presidente do programa Vereador Mirim, da primeira legislatura, em 2005; na época ela era estudante do Colégio Ápice. Hoje é advogada

“Eu não recordo como conheci o programa, porque já faz bastante tempo, mas lembro que enviavam para as escolas informações sobre ele, e eu era presidente do grêmio estudantil, então a diretoria deve ter repassado em primeira mão para nós, e eu fui uma das candidatas, contra uma moça e um rapaz, e eu ganhei. Disso me recordo.
Na época era um projeto piloto e, embora a então vereadora Christina tivesse se dedicado muito para implementá-lo, talvez nem ela soubesse que iria dar tão certo, sendo inclusive referência para outros municípios, e eu fico muito feliz dele ainda existir e estar se modernizando cada vez mais, formando e impactando a vida de tantos jovens. Embora eu tenha crescido em um ambiente político, porque meu pai era marqueteiro político, eu acredito que é bem diferente você ir e participar, conviver, visitar os Poderes e de fato compreender o poder que o Legislativo e o que pode contribuir.
Eu já gostava de estar engajada, era muito comunicativa, e o projeto foi um divisor de águas na minha vida, e acredito que isso se aplica na vida de todos que participam, você sendo um meio transformador da sua comunidade, de forma engajada. Para a sociedade é um benefício ainda maior, porque entrega uma visão única do jovem, e foi isso que também impactou na minha vida, porque o jovem tem uma visão do coletivo, independente de classe social, etnia, credo… e eu como jovem eu tinha muito essa visão, muita vontade de opinar, me comunicar… além de todo o aprendizado de cidadania, regras, como funciona os processos, isso agregou muito na minha maturidade, inclusive quando eu depois fui para a faculdade e fui fazer estágio, eu tinha uma visão e postura diferente porque tive toda essa experiência na Câmara, pois você aprende uma visão de dignidade e cidadania que muitas vezes a escola não consegue passar”.
“Tudo foi um grande aprendizado e nunca vou esquecer”
Mariana da Conceição é a atual presidente do programa, tem 16 anos e é estudante do CEM Taquaras

“Esses 18 anos de Câmara Mirim com certeza foram muito bons para todos os mirins que passaram pelo programa e com certeza é um grande aprendizado.
Eu estou há um ano e meio e já conheci tanta coisa que antes eu não fazia ideia ou só sabia uma parte.
Geralmente todo mundo, no começo, odeia política, mas é algo que é interessante todos entenderem porque é a gente que ‘manda’ nisso, é a gente que vota, é a gente que faz as pessoas que estão lá estarem; tanto que até eu como vereadora mirim fui eleita.
Tudo foi um grande aprendizado e nunca vou esquecer, vou levar para a minha vida. Eu não vou seguir na política no meu futuro, quero ser engenheira civil, mas quem têm interesse e jeito deve seguir, e quem quer isso precisa participar desse projeto, porque é um grande aprendizado, você irá saber o que vai fazer quando for maior. Quem da minha legislatura seguir, eu vou apoiar e vou ficar orgulhosa daqueles que forem políticos”.