A prefeitura de Balneário Camboriú está realizando há um mês o projeto Consultório Social, através de três secretarias, Saúde, Segurança e Inclusão Social. A iniciativa surgiu em dezembro (relembre aqui) e leva médicos para as ruas da cidade, para atender a população em situação de rua.
A secretária de Inclusão Social de Balneário Camboriú, Christina Barichello, explica que o projeto é desenvolvido pela Secretaria de Saúde e está regulamentado pelo Governo Federal – portaria 122 de 2011, como Consultório Social.
“129 pessoas já foram internadas, entre internações voluntárias e também compulsórias – houve algumas que foram analisadas pelo médico e foram internadas, outras conseguimos autorização da família para internação, e ainda 76 pessoas receberam subsídio de passagem rodoviária para voltar para suas cidades de origem, após acompanhamento social – esses números são desde que existe o projeto, que iniciou em dezembro, há menos de um mês”, diz, citando que o investimento da prefeitura gira em torno de R$ 2.300 a R$ 3.000/pessoa (por internação) – ou seja, no mínimo R$ 296 mil.
População de rua teria diminuído em 40%
Christina aponta que foi percebida uma diminuição de mais de 40% da população de rua de Balneário Camboriú, lembrando que é uma oportunidade que o município está dando no acesso ao tratamento da dependência química.
“É um recomeço de vida. A população de rua de Balneário Camboriú tem uma característica específica – não se trata de um morador que não teve dinheiro para pagar aluguel. 99% são pessoas com dependência em crack e/ou álcool, e não conseguiriam sair por si só, porque Balneário é uma cidade com quase mil empregos sendo ofertados, não tem só questão social por estar na rua. A maioria são pessoas de fora, que vem pra cá”, acrescenta.
“Segunda chance de vida”
A secretária disse que, quando o prefeito Fabrício Oliveira teve a ideia de desenvolver o projeto, não imaginavam que seria ‘um sucesso tão grande’, no sentido de ‘ajuda humanitária’. Todas as vagas que a prefeitura possui em clínicas estão ocupadas, mas o governo municipal está tentando comprar outras, além de possuírem vagas em comunidades terapêuticas.
“Está fazendo total diferença o médico estar na rua – gera uma confiança muito maior, a pessoa em situação de rua vê que é questão de saúde. Na terça-feira (9), internamos nove pessoas e foram elas que vieram nos procurar, viram o carro do Consultório Social e vieram até nós. É muito difícil deixar a dependência química, e eles [pessoas em situação de rua] têm medo de não conseguir, porque é uma questão física. Há uma grande preocupação nossa – nós estamos oferecendo ajuda, mas as pessoas [moradores e turistas] precisam entender que não podem dar esmola, porque não vai transformar a vida da pessoa, e está indiretamente favorecendo o tráfico de drogas. Dar oportunidade, como estamos dando, é uma segunda chance de vida”, completa.
Foco é na saúde
O secretário de Saúde de Balneário Camboriú, Omar Tomalih, aponta que o trabalho principal feito no Consultório Social é voltado para a saúde, já que estão fazendo o acolhimento de pessoas em situação de rua, onde possuem uma relação daqueles que são usuários de drogas e buscam contato com familiares, para tentar tirá-los da vida de drogadição’.
“A maioria deles [pessoas em situação de rua] estão indo por vontade própria. Os médicos conversam com eles, explicam o processo, como é a forma do tratamento, fazemos a triagem e os encaminhamos para clínicas de reabilitação. Melhorou bastante a aceitação ao tratamento porque a conversa agora é na rua, antes [com o projeto da Clínica Social] levavam as pessoas em situação de rua para a clínica e o convencimento era lá, mas agora os médicos e técnicos de enfermagem estão direto na rua, o que dá uma segurança para a população de rua, não sentem que estão sendo obrigados e sim sendo acolhidos”, explica.
Omar salienta que a prefeitura vem recebendo muitas ligações de agradecimento por parte de familiares de pessoas que estavam em situação de rua, que gostariam que eles tratassem a dependência química e até agora não haviam conseguido isso.
“Claro que há casos em que a pessoa não quer de jeito nenhum ir para o tratamento, então buscamos contato com as famílias, o médico faz avaliação e se de fato precisa de internação compulsória, ela é feita, mas a maioria até agora foi por vontade própria, e é reabilitação mesmo, em locais muito bem estruturados”, informa.
Guarda Municipal está atuando na parte da segurança
Como o contato dos profissionais de saúde é diretamente com a população de rua, situações de insegurança podem acontecer, já que é comum que por conta do efeito das drogas e/ou álcool essas pessoas se tornarem violentas.
Além de que também há, entre os moradores de rua, foragidos da Justiça – inclusive muitos nessa situação já foram presos em Balneário Camboriú. Por isso, a Guarda Municipal integra o projeto.
O secretário de Segurança, Antônio Gabriel Castanheira Junior, diz que estão atuando apenas na ‘cobertura’, protegendo os médicos e agentes da Abordagem Social.
“Antes desse projeto, tivemos muitos fatos em Balneário Camboriú envolvendo pessoas em situação de rua, como homicídio, lesão corporal, arrombamentos e furtos. São pessoas que estão muito doentes, que perderam totalmente o limite, e fazem de tudo para sustentar a dependência química, inclusive atentar contra a vida de outras pessoas. Não fazemos a abordagem deles, somente quando há alguma situação que possa colocar em risco a vida da pessoa ou do agente público, aí precisamos intervir. O guarda municipal fica em um perímetro de proteção, nem muito perto e nem muito longe da abordagem, fazendo a segurança, para que não falem que estamos intervindo e assim gere narrativa ideológica”, destaca.