BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) mudou seu entendimento sobre o alcance do surto de influenza aviária no Brasil e passou a reconhecer oficialmente que o caso está restrito à região do município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, em vez de se tratar de um problema nacional.
A mudança de entendimento foi registrada na última sexta-feira (23), no sistema internacional da entidade, usado para registrar casos de informação zoossanitária. Com essa alteração, o critério recomendado pela OMSA passa a ser o de não adquirir produtos da área localizada em um raio de 10 km no entorno da granja onde o caso foi identificado.
A decisão foi tomada após análise de medidas técnicas tomadas pelo governo brasileiro para controlar os riscos do surto. “A indicação geográfica deste evento foi modificada de “evento ocorre no país” para “evento ocorre em zona”, após o envio de informações adicionais pelo Brasil”, afirma a OMSA, em seu relatório.
O Brasil tem buscado formas de regionalizar os embargos à exportação do frango nacional, que ainda está em vigor em dezenas de países. A mudança de avaliação técnica da Organização Mundial de Saúde Animal não tem peso vinculante nas decisões dos países sobre embargos sanitários. Na prática, ela orienta tecnicamente, mas não impõe obrigações comerciais. Quem decide sobre o embargo é o país importador.
A nova postura, porém, ajuda a acelerar essas decisões, porque a posição técnica da OMSA é usada como referência por diversos países para definir se aplicam ou não restrições comerciais.
“Nenhuma mutação relevante de resistência antiviral foi identificada. A genotipagem revelou que as amostras possuem genótipos semelhantes aos previamente identificados em aves silvestres no Brasil”, afirmou a organização, acrescendo que “o sequenciamento do genoma completo detectou alta identidade com cepas previamente isoladas na América do Sul, com semelhança entre 98,21% e 99,79% em comparação com as sequências de aves silvestres notificadas” em outro evento.
Dados desta segunda-feira (26) mostram que, no momento, há 12 investigações em andamento no país, para verificar a presença ou não do vírus da gripe aviária. Um caso que estava em análise em Santa Catarina foi descartado.
A atividade de saneamento do foco em Montenegro foi iniciada no dia 16 de maio e concluída na quarta-feira (21). Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Agropecuária), todo o material de risco foi manejado adequadamente, com remoção e destruição sob supervisão do serviço veterinário oficial, conforme determina o Plano Nacional de Contingência.
Até sexta-feira (23), 8.747 aves tinham sido eliminadas na região do foco, em Montenegro (RS). Dessas aves, 7.389 tinham sintomas da doença. Outras 1.358 foram eliminadas posteriormente, como medida de precaução.
Há, ainda, eliminação de aves que estavam em unidades rurais localizadas no raio de 10 km do foco. As medidas para conter os riscos de disseminação da gripe aviária já resultaram, também, na destruição de 20 milhões de ovos férteis. Em menos de uma semana, foi destruído um volume equivalente a cerca de 5% da exportação anual.
Até quinta-feira (22), 46 países ainda seguiam com bloqueio das importações de frango de todo o território nacional, conforme informações da pasta. Além dos 27 países da União Europeia, o embargo nacional é aplicado por China, México, Iraque, Coreia do Sul, Chile, Filipinas, África do Sul, Jordânia, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Timor-Leste, Marrocos, Bolívia, Sri Lanka e Paquistão.
A suspensão restrita ao estado do Rio Grande do Sul tem sido aplicada por Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão e Ucrânia.
Segundo o Mapa, Rússia, Bielorrússia, Armênia e Quirguistão decidiram retirar a suspensão do país todo e reduziram a restrição geográfica para o estado gaúcho.
Já a suspensão para o município de Montenegro (RS) está em vigor para os Emirados Árabes Unidos e Japão.
Os países que estão com embargo total às compras da carne brasileira de frango, são responsáveis por 45% do volume dessa proteína exportada pelo Brasil. No mês passado, eles compraram 210 mil toneladas, de um total de 463 mil enviadas ao exterior, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).