Por Angelo Sfair e Fábio Bispo, especiais para o Estadão*
Segunda área em número médio de casos hoje, atrás apenas do Sudeste, a Região Sul apresentou nas últimas duas semanas os maiores registros desde o início da pandemia. Até ontem, a média nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná era de 188, conforme os dados do consórcio da imprensa. No geral do mês, os números até meados de dezembro só são superados pelo total anterior de agosto.
O governo do Paraná decidiu prorrogar até o dia 28 o decreto que estabelece toque de recolher noturno, lei seca e proibição de aglomerações com mais de dez adultos. As medidas têm como objetivo frear o contágio pelo coronavírus, que matou mais de 7 mil pessoas no estado desde março. O novo decreto, divulgado nesta quinta-feira pode ser prorrogado até janeiro.
O secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto, defende que o toque de recolher noturno, aliado à lei seca, enfrenta dois dos principais problemas: a transmissão do coronavírus e a superlotação dos hospitais públicos e privados. “Tivemos uma redução de 30% a 35% nos atendimentos de alta complexidade ligados a bebidas alcoólicas, como acidentes de trânsito, traumas, ferimentos por armas de fogo ou armas brancas”, disse.
Para o médico José Rocha Faria Neto, do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da PUC-PR, as medidas são necessárias para frear o atual estágio da pandemia. Segundo ele, se analisados os casos novos pela data de diagnóstico, excluindo os registros retroativos, as restrições explicam parcialmente o recuo de 12% na média móvel do indicador.
Nesta quarta-feira, a média móvel de mortes em 24 horas no Paraná alcançou o maior número desde o início da pandemia: 73. Entre as vidas perdidas está a do estudante Janel Labes, de 24 anos, que morreu na segunda. Morador de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Janel era conhecido pela influência positiva na comunidade e havia trabalhado nas últimas eleições. “Ele era amigo de todos, se comunicava muito bem, e usava esse talento para ajudar”, conta o irmão mais velho, Ciro Labes.
Em Santa Catarina, porém, o governador Carlos Moisés (PSL) deve oficializar hoje o afrouxamento das medidas de isolamento em diversos setores que sofriam restrições desde março. Além de liberar ocupação total em hotéis e pousadas a partir de 21 de dezembro, o novo decreto também vai autorizar “eventos sociais”, acesso às praias e o funcionamento de parques aquáticos, cinemas, teatros e museus. Nas praias, a limitação deverá ser a distância entre os guarda-sóis.
Santa Catarina está com 90% dos leitos de UTIs adultos ocupados. Nesta quinta-feira, dos 56 hospitais com leitos públicos, em 33 praticamente não havia mais vagas. Em 11 hospitais, a lotação está em 100%. No Estado, a pandemia já infectou mais de 440 mil pessoas e matou 4.517. O professor epidemiologista do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lúcio Botelho, diz que o Brasil vive uma crise pior do que viveu a Europa no momento mais crítico e diz que Santa Catarina enfrentará um colapso “de forma dramática” na saúde.