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Balneário Camboriú

Vacinação da população de Balneário Camboriú não tem datas definidas

Até o momento apenas um terço dos profissionais de saúde foram vacinados

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A vacinação contra a Covid-19 começou oficialmente em Balneário Camboriú na terça-feira (19). A cidade recebeu 1.460 doses, que estão sendo aplicadas nos profissionais da saúde que atuam diretamente no combate ao coronavírus, principalmente nas UTIs, como é o caso do Centro Covid, localizado anexo ao Hospital Municipal Ruth Cardoso, e os particulares Unimed e Hospital do Coração.

Junto com a vacina veio uma nova preocupação, alimentada pelas doses limitadas e escassas que estão chegando e sem informações seguras sobre o futuro desse cenário. A expectativa é que ‘em breve’, mas ninguém sabe o ‘quanto breve’, o município receba mais doses, para então começar a imunização dos idosos – partindo dos residentes em asilos e acima de 75 anos. Posteriormente serão vacinadas as pessoas com comorbidades, professores e profissionais das forças de segurança e salvamento

Nesta semana, o Página 3 ouviu a secretária de Saúde, Leila Crócomo, dois dos primeiros vacinados no município, e mais moradores da cidade que já tiveram Covid-19 ou integram os grupos prioritários, que comemoram a chegada da vacina, vista por todos como a esperança para que dias melhores surjam.

Secretária diz que expectativa é receber doses semanais

A secretária de Saúde, Leila Crócomo, opina que o momento é ‘histórico’, salientando que havia uma grande expectativa quanto à chegada da vacina em Balneário Camboriú. Ela confessou que não imaginava que isso já seria agora, em janeiro.

A secretária Leila imunizando a agente de serviços gerais, Darlene Justino Marques Rosário

“A vacina vem trazer a esperança de dias melhores, significa que estamos mais perto do ‘novo normal’. Até então era algo tão distante, e agora já é realidade”, diz Leila.

Porém, Leila lembra que o município recebeu apenas um terço de doses para o número total de profissionais da saúde [1.460 para 3.054 profissionais] e que agora estão focando em vacinar ‘a prioridade da prioridade’ – como médicos, enfermeiros e demais colaboradores que trabalham nas UTIs de Covid-19, por exemplo.

• Não é possível precisar data de cada etapa

A ideia é que, com o passar dos dias, a prefeitura comece a imunizar profissionais que atuam nas clínicas de atendimento aos casos suspeitos de Covid e então demais colaboradores ligados à saúde, asilados (idosos e equipes), e então idosos acima de 75 anos e depois dos 60 aos 74 anos.

“Esperamos receber doses semanalmente, mas não podemos precisar data de quando irá iniciar cada etapa da vacinação. Mesmo assim, já estamos nos preparando com estrutura. A imunização dos idosos ocorrerá nas unidades de saúde de todos os bairros, para que a população possa ir em locais perto de casa. Será de forma organizada e sem aglomeração”, explica.

• Cuidados devem continuar

A secretária aproveita para lembrar que os cuidados, como uso de máscara e álcool gel, distanciamento e isolamento social e evitar aglomerações devem continuar, inclusive para quem for vacinado. 

“Cada pessoa precisa de duas doses, e é muito importante frisar que até mesmo quem foi imunizado deve continuar se cuidando. Só quando 70% da população tiver sido vacinada poderemos anunciar a liberação do uso de máscaras, por exemplo. Aglomerações como as que vêm acontecendo não podem acontecer, é preciso conscientização por parte da população, respeitando quem está ao seu lado. As fiscalizações seguem ativas, ainda é momento para nos cuidarmos e protegeremos, não é porque começou a vacinação que vamos nos descuidar”, afirma.

“Antes era um sonho e agora é realidade”

Leila citou ainda que é difícil precisar quando toda a população de Balneário terá sido vacinada, mas ela acredita que isso pode acontecer até o final deste ano – ‘pelo menos boa parte da população’, mas que isso depende do Governo Federal e principalmente dos laboratórios. 

“O importante neste momento é termos confiança na vacina, não é momento de ficar escolhendo laboratório, ela [a vacina] passou por especialistas e cientistas, é efetiva para esse momento. Temos que nos vacinar para nos liberarmos dessa pandemia, para voltarmos para um ‘novo normal’. Espero também que a gente tire disso tudo a importância da higiene, seguindo com a etiqueta da tosse, que são fundamentais para uma boa saúde. O que importa é que começou a vacinação, que antes era um sonho e agora é realidade”, acrescenta.

Médico e técnica de enfermagem já foram vacinados

“A vacina é a nossa maior esperança”

Três colaboradores da UTI do Centro Municipal de Acolhimento e Tratamento Covid-19 foram os primeiros vacinados, na manhã de terça-feira (19): a técnica de enfermagem Patrícia Junges Casagrande, o médico intensivista e coordenador da UTI e clínica médica Covid-19 e do Centro Municipal, Pedro Salomão Dias, e a agente de serviços gerais Darlene Justino Marques Rosário. O Página 3 conversou com dois deles, Patrícia e Pedro, que salientaram a importância do momento.

O médico Pedro Salomão Dias

“Sempre soubemos que somente com a vacina retornaríamos ao ‘normal’”.

O médico Pedro Salomão Dias teve Covid-19 em agosto, ele é o diretor da UTI e conta que desde março/2020 internaram cerca de 490 pacientes na UTI. “Vimos diariamente muitas coisas tristes, famílias internadas, pais e filhos. Quase todos os dias há falecimentos”, relembra.

Pedro é grande defensor da vacina, e afirma que ela era a ‘maior esperança’.  “Sempre soubemos que somente com ela retornaríamos ao ‘normal’, ainda bem que deu certo e que a imunização começou. Acredito que levará meses para conseguirmos sair do caos, mas já é um alento e esperança”, analisa. O coordenador do Centro Covid lamenta que diversos governantes negaram a gravidade do vírus e isso acabou influenciando no aumento do número de casos e até mesmo nos óbitos, já que, em sua opinião, a população acabou sendo influenciada e não tomou os devidos cuidados.

“Hoje as únicas providências que podemos tomar é o isolamento social, o uso de máscara e álcool gel. não há tratamento precoce, isso não é preconizado pela anvisa e nem pela classe médica. recomendamos que o isolamento social seja mantido, até porque está havendo aumento dos casos”, diz, citando que as aglomeração que acontecem em balneário são ‘uma falta de respeito’.

“Só quem está próximo, como nós que trabalhamos 12, até 24h, e vivenciamos histórias tristes o tempo todo sabemos o que é a covid. talvez se essas pessoas sentissem na pele ou com alguém próximo entenderiam”, acrescenta, afirmando que fica ‘muito triste’ quando vê notícias de aglomerações, já que os profissionais da saúde há quase um ano se dedicam muito pela pandemia e se afastaram da família e amigos para cuidar de quem precisa. “Eu não pretendo pisar nesses locais que estão tendo aglomerações nunca mais”, pontua.

Pedro diz que ‘é difícil’ ter uma previsão de quando todos os moradores de Balneário serão imunizados, já que não se sabe quantas doses serão produzidas e distribuídas para cada cidade. 

“Mas acredito que toda a população de risco será vacinada até o final do ano e, otimista que sou, vejo que teremos iniciado a imunização de parte da população adulta. Dependemos da organização e boa vontade do governo federal, mas devemos continuar com os cuidados [uso de máscara e álcool gel, isolamento e distanciamento social] até fim de 2022, inclusive por parte de quem foi vacinado e de quem já teve Covid, porque inclusive já tivemos caso de recontaminação em Balneário”, completa.

A primeira vacinada

“Foi muito emblemático”

A técnica de enfermagem Patrícia Junges Ferreira, que trabalha na área da saúde há 30 anos – no Ruth Cardoso ela está há um ano, foi a primeira a ser vacinada em Balneário Camboriú. Gaúcha, ela mora na cidade há seis anos, e antes de trabalhar no Hospital Municipal atuou na Maternidade Santa Luiza e no Hospital da Unimed. 

O prefeito Fabrício Oliveira, a secretária de saúde Leila Crocómo e a enfermeira Patrícia Junges Ferreira

“Não tive Covid e nem ninguém da minha família, graças a Deus. Eu sempre digo que é mais fácil você se contaminar fora da UTI Covid do que lá dentro, porque sempre estamos muito bem equipados e protegidos”, conta. Porém, ela confessa que a tensão na hora de voltar para casa sempre está presente. “Por conta da exposição já que por mais que a gente se cuide, podemos pegar, pois tratamos de pacientes extremamente graves, e infelizmente todos os dias vivenciamos a morte”, explica.

Patrícia foi convidada a ser vacinada e aceitou na hora, já que assim como todos os colegas esperava ansiosamente, mas ela não sabia que seria a primeira a receber a dose. “Foi muito emblemático! Não sabia que teria cerimônia e nem essa repercussão toda (risos), mas me senti muito honrada e grata. Eu não esperava que a vacina chegasse já, mas ainda bem que chegou, pois é muito importante a vacinação, vejo que é a esperança para termos um futuro melhor, sem máscara. Por mais que demore, acredito que as coisas vão melhorar”, afirma.

Triste ver pessoas brincando de Deus

A profissional salienta que só quem vive a rotina da UTI Covid realmente entende o impacto da doença, e afirma que é ‘revoltante e triste’ ver pessoas ‘brincando de Deus, achando que a pandemia não existe’. 

“Infelizmente ela é real e ela mata. Em Balneário foram mais de 160 mortes, como alguém pode dizer que não existe pandemia? Eu procuro não sair, adoro praia, mas não vou mais, porque preservo a vida do outro. Os cuidados precisam seguir, a pandemia não acabou, até todos serem imunizados precisamos continuar com o uso da máscara. Quem aglomera não sabe a dor que é perder alguém que ama, eu diria para essas pessoas que é muito triste perder pais e avós, vivenciamos histórias assim todos os dias. Por favor, fiquem em casa e se vacinem”, finaliza...

Cuidando de Quem Cuida e Abraço ao Servidor

Pensando no bem estar dos trabalhadores da área da Saúde, a prefeitura conta com dois projetos: o Cuidando de Quem Cuida, que oferece atendimentos individuais e em grupo para colaboradores do Hospital Municipal Ruth Cardoso, onde são oferecidos, gratuitamente, aulas de alongamento, exercícios medicinais, pilates, ginásticas laborais e técnicas de auriculoterapia, ventosaterapia, acupuntura, shiatsu, osteopatia, entre outras técnicas manuais.

Há também o Abraço ao Servidor, uma das vertentes do programa Abraço à Vida, focado na saúde emocional e psicológica dos colaboradores do governo municipal, sendo aberto para todos os funcionários da prefeitura e não somente para os da área da saúde.

Os agendamentos podem ser feitos na secretaria da administração do HMRC ou pelo WhatsApp (47) 98472-9132.

Com plantão 24h, psicólogos atendem via WhatsApp e/ou ligação, além de presencial em casos de emergência. Trabalhadores municipais que precisam de ajuda podem procurar o programa através do (47) 9.9982-2104. Já para o Abraço à Vida, programa focado em todos os moradores de Balneário, o contato é (47) 9.9982-2322 – também WhatsApp e ligação.

Sequelas do Covid

Há pacientes que precisam até de fisioterapia..

O morador do Bairro Ariribá, Adair Campanha da Silva, 55 anos, autônomo, é ciclista, sempre cuidou da alimentação e nunca deixou de usar máscara e álcool gel. Os amigos diziam que ele ‘jamais pegaria Covid’, porque se preocupava muito com o vírus. Mesmo assim, no dia 2 de dezembro, ele começou a ter febre e dor de garganta.

Inicialmente, ele pensou que poderia ser sinusite – porque veio junto um incômodo nos olhos. Em 4 de dezembro, se sentiu pior e resolveu consultar na Unidade Básica de Saúde do bairro onde mora, e já começou a fazer uso de Azitromicina e Paracetamol.

“Dia 7 fui fazer o exame, fiz particular, e deu positivo para Covid-19. Segui tratando em casa, mas segui com bastante dor. Dia 9 a minha medicação terminava e a minha oxigenação começou a baixar, chegou em 85, o que é considerado bem baixo. Minha nora é médica e disse que meu pulmão estava bastante fechado. Dia 14 fui internado no Centro Covid”, relembra.

Nos quatro primeiros dias de internação, Adair ficou no oxigênio e relata que sentiu ‘todos os sintomas juntos’. “O atendimento foi muito bom, eles estão muito bem equipados, só tenho a agradecer o que fizeram por mim. Foi bastante intenso, eu sentia muita falta de ar, mas dia 20 recebi alta e consegui até passar o Natal em casa”, conta.

Segundo ele, o fator psicológico influencia muito, já que normalmente quando uma pessoa fica nervosa acaba afetando a respiração. O paciente saiu do Centro Covid com a requisição para a fisioterapia e procurou o CEFIR (Centro de Fisioterapia e Reabilitação de Balneário Camboriú). “É perto de casa e o atendimento é um espetáculo. Eu já havia sido atendido lá antes, quando tive um problema no joelho”, diz. 

Nesta semana Adair fez a terceira sessão do tratamento e agora seu nível de oxigenação está bom e inclusive não baixou mais com os exercícios que faz com a fisioterapeuta. “Já estou sentindo muita diferença! Os profissionais têm muito conhecimento, são muito dedicados. Minha recuperação está acontecendo”, comenta. 

O morador aproveita para lembrar que ‘só quem viveu ou tem um parente próximo que pegou Covid’ sabe o quanto a doença é grave. “Você fica impotente. Eu sempre me cuidei, não tinha comorbidades, pedalava, tinha boa alimentação e peguei. As pessoas que pegaram precisam tirar da cabeça que estão imunes, eu estou me cuidando o dobro. Quem está aglomerando é insano, vive uma roleta russa, os jovens parecem que esquecem que tem família. É muito triste. Mas finalmente temos essa notícia boa, a vacina! Pode não ser a solução 100%, mas é o primeiro passo, a esperança”, pontua.

“Não há um perfil específico”

O coordenador do CEFIR é Cristiano Coelho de Souza, ele conta que no local realizam dois tipos de tratamentos com pacientes que possuem sequelas do Covid-19: os que ficam acamados e com muita debilidade, precisando de atendimento domiciliar, e aqueles que conseguem ir até o CEFIR, mesmo com sequelas respiratórias – como foi o caso de Adair.

“Estamos atendendo muitos casos. Não há um perfil específico de paciente, há também idades variadas. Muitos pacientes têm alteração motora, perda de massa muscular. Em cima de casa caso decidimos como será o tratamento, que pode ser com exercícios respiratórios, funcionais, às vezes ambos, e até mesmo aeróbicos, que auxiliam no físico e no respiratório”, salienta.

O tempo de tratamento também pode variar, assim como o número de sessões por semana, que podem variar de uma até três vezes por semana, dependendo da gravidade de cada caso. “Pode ser rápido e pode levar mais tempo. Quando o paciente recebe alta continuamos o acompanhando por um tempo para saber como ele está, se está fazendo os exercícios em casa também”, acrescenta.

Cristiano aproveita para opinar sobre a falta de cuidado que algumas pessoas estão tendo, já que os jovens costumam ser assintomáticos, mas podem levar o vírus para dentro de casa e contaminar os pais e avós. “Acabamos vendo casos sérios e tristes, de pessoas que estavam se cuidando e foram contaminadas por outras que saíram e não usaram máscara. Temos que pensar no próximo, na família, em nossos amigos. Por isso a vacinação é tão importante. Estou muito ansioso para ser vacinado logo também, já que nós do CEFIR estamos na linha de frente. Mesmo usando máscara e demais EPIs (equipamento de proteção individual) o receio segue presente. Até todo mundo ser vacinado precisamos seguir com os cuidados”, completa.

Fiscalização e cuidados continuam

“Precisamos do apoio da população”.

As equipes da Fiscalização de Posturas e Vigilância Sanitária vêm trabalhando intensamente em Balneário Camboriú desde o início da pandemia, porém, os fiscais enfrentam um inimigo que atrapalha o trabalho: o próprio público, já que aglomerações vêm sendo frequentes na cidade, principalmente aos finais de semana, com casas noturnas disfarçadas de restaurantes fazendo festas ilegais.

O diretor da Fiscalização, Wagner Basso, salienta que através do prefeito Fabrício Oliveira foi criado ainda em dezembro o Comitê de Gerenciamento de Crise, e que por mais que as vacinas estejam sendo aplicadas entendem que as ações de fiscalização precisam continuar, já que o público segue insistindo em desrespeitar as normas de prevenção.

Wagner Basso

“Não estamos em época normal, a fiscalização atua 24h, com intensificação aos finais de semana. atendemos denúncias e também vamos direto nos estabelecimentos, assim como no calçadão, onde tem ocorrido reclamações acerca do uso indevido de espaço [mesas e cadeiras na calçada, por exemplo]. alguns comércios foram autuados, na rua 11 (que fica nas imediações do calçadão) também. a vizinhança reclama que ali é ponto de drogas. constatamos no local aglomerações, pessoas sem máscara e sem distanciamento”, conta.

Muitas pessoas reclamam que as interdições da prefeitura não têm surtido efeito, e Wagner aproveita para explicar que todas as ações que fazem são repassadas à Promotoria, que toma as medidas cabíveis, como o encaminhamento à Justiça e ao Ministério Público, que inclusive multou recentemente quatro casas noturnas da cidade que vinham descumprindo as regras.

“Vejo que parte da população cansou da pandemia, já ‘não suportam mais’, só que a pandemia continua, o vírus não foi embora por isso. São pessoas que utilizam máscara só para entrar em estabelecimentos, por exemplo. Já paramos de entregar máscara, porque entregávamos para essas pessoas colocarem no bolso. Não adianta o município colocar decretos, regras, normas, aumentar o número de leitos, se a população não colaborar. Precisamos do apoio da população, e mesmo com a vacina levará um certo tempo até todos serem vacinados, por isso precisamos seguir nos cuidando”, explica.

Wagner e sua equipe deverão ser vacinados na quarta fase da imunização, junto com as forças da segurança. 

“Isso é até engraçado, as pessoas que questionam a vacina e a ciência são as mesmas que estão aglomerando, usando drogas e bebendo. Não faz sentido. Vejo que a vacina pode ser o primeiro passo para tudo voltar ao ‘normal’. Mas a população precisa colaborar conosco. Há até mesmo quem debocha do nosso trabalho, já nos chamaram de ‘gados do estado’. É uma situação triste. Os moradores de Balneário parecem estar colaborando mais, mas nos bares e restaurantes e na praia é difícil”, completa.

Idosos, o principal grupo de risco esperam com muita ansiedade o início da vacinação

Associação São Vicente de Paula precisou se adaptar

Os idosos ficaram conhecidos como o principal grupo de risco da pandemia de Covid-19, por isso a maioria ficou isolada socialmente. Balneário é famosa pela boa qualidade de vida ofertada aos 60+ através da Secretaria da Pessoa Idosa, que disponibilizou diariamente, de forma online, aulas de dança, oficinas e até conversas com psicólogos, tudo para ajudar esse público a se sentir melhor em tempos tão difíceis. 

A Associação São Vicente de Paula, o Lar dos Idosos, também precisou se adaptar, já que as visitas presenciais ficaram suspensas por meses, retornando apenas com cuidados e restrições (através de uma ‘cortina’ do abraço, por exemplo). Lá, alguns residentes foram contaminados. Os idosos são prioritários na imunização, e estão ansiosos para a vacinação, que deve começar em breve, conforme a secretária de Saúde, Leila Crócomo.

• O isolamento social é a maior dificuldade

O secretário da Pessoa Idosa de Balneário, Paulo César Senk Júnior, lembra que a maior dificuldade que os idosos enfrentam é o isolamento social e seus efeitos, como a depressão e ansiedade.

Paulo César Senk Júnior

“Isso tudo foi muito mais sentido pelos idosos justamente por pertencerem ao grupo de risco, onde até mesmo seus próprios familiares a fim de resguardá-los precisaram se afastar. para ajudar a Secretaria da Pessoa Idosa (SPI) desenvolveu atividades virtuais com a finalidade de os entreter, aumentar sua autoestima, manter sua saúde, e graças a deus tivemos uma ótima aderência nos projetos propostos”, conta, citando que entre os frequentadores da SPI houve um índice ‘muito baixo’ de contaminação pelo vírus. 

Porém, a situação no Lar dos Idosos foi diferente, lá houve alguns casos de contaminação, ainda no início da pandemia. Por isso, os cuidados foram redobrados. 

“De imediato foram acolhidos no Centro da Covid do município, durante todo o período permaneceram assintomáticos e após o prazo de observação todos retornaram ao Lar”, diz.

O secretário explica que, desde que a mídia vem noticiando sobre o início da vacinação, a SPI vem recebendo muitas ligações de idosos buscando informações a respeito. Porém, até o momento não há uma data definida para as imunizações começarem. 

“A vacina aos idosos representa uma esperança de que as coisas aos poucos devem voltar ao seu novo normal, temos uma população idosa muito ativa que não vê a hora de poder voltar a frequentar suas atividades rotineiras”, afirma. 

Sobre as aglomerações que vêm acontecendo em Balneário, principalmente pelo público jovem, Paulo vê que é ‘uma falta de amor ao próximo, uma irresponsabilidade’.  “Todos devemos nos vacinar, proteger a si e o próximo. Penso que é algo muito aguardado pelos idosos, muitos mesmo com toda sua experiência de vida não haviam passado por tamanho desafio”, acrescenta.

• A salvação é a vacina

Liliane Boratti, a dirigente organizacional da Associação São Vicente de Paula, o Lar dos Idosos de Balneário Camboriú, localizado na Quinta Avenida, conta que no início da pandemia a situação foi muito preocupante, já que alguns residentes acabaram contaminados com o vírus, mesmo que em sua maioria foram assintomáticos. 

“Foram levados para o Centro da Covid, onde ficaram em quarentena, e os demais idosos e funcionários com muito medo e psicologicamente abalados”, relembra.  Ela diz que a única salvação é a vacina, salientando que estão todos ansiosos e ‘contando as horas’ para a chegada do dia da imunização. 

“Estamos em festa aguardando esse tão sonhado dia. A vacina tem uma importância social muito grande, além da proteção personalizada, quem se vacina contribui para a imunidade coletiva e indivíduos que não podem ser vacinados são diretamente protegidos”, afirma, salientando que é preciso deixar de lado ‘ideologias e partidos políticos’ e confiar na ciência.

A dirigente também vê com preocupação a falta de conscientização do público que vêm aglomerando em festas ilegais, e diz acreditar que a omissão e falta de responsabilidade do governo federal ‘incentivou’ isso. 

“A vida dos brasileiros foi conduzida por um governo sem a mínima empatia. A Covid-19 foi comparada com uma ‘gripezinha’ que atingiu 200 mil mortes. A incompetência no trato com ela incentivou as pessoas também a negarem a pandemia e não pensarem no próximo, não terem empatia. Mas, felizmente, temos alguns governos estaduais e municipais, como na nossa cidade, que fizeram ações de proteção e vêm atuando de forma a cuidar principalmente das condições dos idosos aqui do Lar”, aponta.

Professores,
socorristas do SAMU,
profissionais que atuam
na UPA/P.A e forças
da segurança também
devem ser vacinados em breve.

..

Aline Leal

Diretora do IMAS (Instituto Maria Schmitt), gestora da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro das Nações e enfermeira

“Acho que foi muito importante, em primeiro lugar Deus e em segundo a ciência, já que foi em tempo recorde que saiu a vacina, com o trabalho de investidores, cientistas. Fico muito feliz que Balneário Camboriú está recebendo as doses e que em breve todos os profissionais [da área da saúde] poderão ser vacinados. Acho que a secretária [da Saúde, Leila Crócomo] teve uma importante visão de não vacinar apenas só os da enfermagem e sim todos os colaboradores que trabalham dentro das instituições de Balneário Camboriú.

Só quem viveu realmente a pandemia na pele sabe o que é, só quem perdeu pessoas sabe a dor que é, perder uma pessoa que você ama, não poder abraçar o pai e a mãe, tem que estar longe, ter que trabalhar deixando o filho em casa. A pandemia não acabou, quem acha que não existe é quem não tem empatia. Não consigo entender como você chega em casa e acha que a vida está normal. Isso me deixa muito preocupada. Passe as 4h30 pela Avenida Atlântica porque eu queria ver o sol nascer no Pico da Teta e fiquei chocada, não sei se essas pessoas não têm cultura ou não têm discernimento porque estamos passando dias de luta.

A vacinação estará trazendo dias mais tranquilos. Eu não tive Covid e nem ninguém da minha família, mesmo trabalhando 16h, sou enfermeira e estive na linha de frente com a minha equipe, mesmo sendo a gestora. Estive junto, estamos juntos na batalha. Os cuidados precisam continuar, são os mesmos. 2020 foi um ano muito desafiador, complexo, e eu tenho certeza que 2021 será melhor, mesmo com desafios.

A ciência é maravilhosa, me emocionei, quem está criticando é politização, pois fiz uma análise, comecei a pensar que morreram muitas pessoas por tuberculose, e a ciência demorou muito tempo para ter a vacina, e hoje em oito meses tivemos a vacina. Isso é maravilhoso, e não faz sentido as pessoas estarem politizando algo que está sendo tão bom”.

Renaldo Marquato

Socorrista do SAMU de Balneário Camboriú

“Tenho receio, mas vou tomar a vacina, é complicado porque há a questão de não ter sido muito testada, mas prefiro tomar do que pegar Covid e não estar imunizado, tanto que quando tomei a vacina do H1N1 me senti melhor, não tive quadro gripal tão forte depois disso. A vacina é uma esperança, estamos apostando nela, porque diariamente atendemos casos de suspeita, vivemos esse medo. É ignorância negar a pandemia, mesmo com as pessoas dizendo que a porcentagem de óbitos não é tão grande e que há acidentes e doenças que matam mais, o número de contágio é alto e é uma doença triste, há pessoas que são contaminadas e que sofrem muito. Os sintomas são diferentes para cada um, pode matar e existe pandemia, sim. Não é momento para festa, se cada um tivesse um pouco de consciência, se tivessem ideia da tristeza que é a UTI e o Centro Covid, talvez o número de casos seria menor. É impactante ver todas aquelas pessoas. Nosso trabalho diário é intenso, 80% dos socorristas pegaram Covid, 2020 foi um caos. A cada caso suspeito que atendemos são pelo menos duas horas para descontaminar a ambulância, por isso pedimos também a colaboração da comunidade e que só chamem o SAMU se for caso de urgência e emergência. Infelizmente ainda há muitas chamadas que não precisavam de nós, pessoas que tinham condições de ir até o hospital, e quando pessoas que realmente precisam não há ambulância disponível e o serviço demora mais”.

Douglas Ferraz

Comandante da Guarda Municipal de Balneário Camboriú

“A expectativa é positiva. Esperamos que a situação volte à normalidade em breve. É fundamental que a sociedade saiba qual o seu grupo de vacinação e qual o calendário de atendimento a este para tornar o processo vigente mais organizado e célere. A Guarda Municipal estará presente nesta nova etapa do enfrentamento ao Covid para garantir a segurança das pessoas”.

..

Susinei Helena Moreira Neves

É professora da Educação Infantil de Balneário Camboriú, Suzi tem 27 anos de sala de aula

“Perdi para o Covid dois membros da minha família, meu marido e minha irmã. Acreditei até o último momento que eles iam sair dessa condição. Ninguém pode imaginar a dor deixada por quem se foi, nada de abraços, nada de despedidas, de velório e homenagens. Foi muito triste, apenas podíamos olhar de longe nossos familiares sendo cremados. No momento eu não sabia realmente o que estava acontecendo e por fim descobri que eu havia pego o Covid-19 também.

Felizmente não precisei ir para o hospital, me curei em casa mesmo. Creio que Deus me deu uma nova chance de vida, sobrevivi e estou aqui para contar essa história. Como professora posso afirmar que nunca mais seremos os mesmos. A pandemia fez o ensino mudar e nós professores também. Tivemos que trocar o quadro de sala de aula, pelas telas do computador. Mudamos tudo, nos reinventamos, fizemos alguns vídeos, criamos canais próprios em redes sociais, assim tivemos mais contato com familiares e alunos. Foi até emocionante, professores de todos os lugares e países trocando experiências no ensino remoto.

Fizemos o possível e o impossível, descobrindo novos talentos tudo para manter a aprendizagem e o contato com cada aluno. A pandemia antecipou tudo que íamos fazer daqui a 15 anos, com os alunos em sala de aula. Tive que rapidamente aprender novas técnicas digitais, esse foi um grande desafio. Ensinamos os familiares a usar as plataformas e fazer as atividades online.

Pra mim foi muito importante dar conta do recado em meio a tantos conflitos, obstáculos, incertezas e perdas. Eu vejo com bastante otimismo a volta às aulas presenciais. Nesse momento a volta às aulas vai ser mais um acolhimento, e o professor vai identificar o que precisa ser revisto e retomado. Vejo que nos Núcleos os pais são favoráveis ao retorno das aulas presenciais, pois precisam trabalhar e não tem onde deixar seus filhos. Nós em toda pandemia mantivemos o vínculo com os alunos e pais através de plataforma, grupos WhatsApp. Mantivemos também o contato pessoal, ajudando as famílias quando necessário, dando cestas básicas e orientações.

É importante a chegada da vacina, há muitos anos se evitaram muitas mortes através da vacina. Como inúmeras doenças que eram consideradas fatais e que foram erradicadas através de uma vacina, penso que a Covid-19 também vai ser erradicada com a vacina, salvando muitas vidas e reduzindo os números de casos. As vacinas são testadas em milhares de pessoas e seus efeitos são monitorados mesmo depois de aprovada, então eu me sinto muito segura em tomar a vacina. Penso que a vacina tem menos efeitos colaterais do que alguns remédios tomados.

Por fim quero dizer que tudo foi pensado para volta às aulas presenciais com segurança para os funcionários, professores e alunos. O retorno das aulas presenciais será dia 18 de fevereiro em Balneário Camboriú. Os pais dos alunos podem decidir se querem que seus filhos voltem ou que eles permaneçam no sistema online que vai continuar. Vamos trabalhar com 50% dos alunos de cada escola ou Núcleo de forma escalonada. Vai ser considerado as diferentes realidades e estrutura de cada escola e todas vão ser trabalhadas diferentes, dentro das suas necessidades. A prefeitura estará disponibilizando um canal 0800 onde as escolas e comunidades podem solicitar serviços, dar sugestões e fazer qualquer tipo de reclamação ou observação. E sobre a vacina, espero que toda a comunidade seja vacinada, para que possamos acabar com esse vírus logo e salvar muitas vidas”.

Bruno Figueredo Arceno

Vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de Balneário Camboriú, é professor de Matemática do Colégio José Arantes, de Camboriú, e atua no departamento técnico-pedagógico da Secretaria de Educação de Balneário Camboriú

“Principalmente por eu ser professor de Matemática sei que há muita dificuldade por parte dos alunos com o ensino online, é uma disciplina que exige ser presencial. Por vezes é difícil chamar para as atividades, exigiu uma grande mudança estratégica de ensino. Na rede municipal de Balneário eram postadas as atividades e os professores tiravam as dúvidas por WhatsApp, e-mail. Acaba sendo uma situação distante. Pessoalmente, durante a explicação, você consegue ver que o aluno está com dúvida pelas expressões dele. Há conteúdos que são muito complexos para ensinar online, imagina para os alunos do Ensino Médio.

As videoconferências auxiliaram um pouco, deram um ‘up’ e auxiliaram no rendimento, mas não é a mesma coisa que a sala de aula. No José Arantes, que é um colégio estadual, tivemos que ter muito cuidado com a questão da reprovação e do reforço de conteúdo, muitos alunos justificavam que não conseguiam acessar as atividades, teve uma certa quantidade de evasão por conta disso também. No município teve pouco, os pais ficavam mais em cima, mas com os adolescentes acaba sendo um pouco mais complicado.

Em conversa com meus colegas professores vejo que todos estão cansados dessa rotina, porque há muita dificuldade no online. Sou pai de uma menina de um ano e sete meses e vejo por ela, que longe do núcleo de educação infantil também regrediu. Todas as escolas tiveram seus Plancons aprovados, estão preparadas para esse retorno, os professores também querem retornar. Mesmo que os alunos não estejam 100% presencial vamos ter contato pelo menos a cada 15 dias, vai dar para tirar dúvidas. Já sabemos que o reforço será essencial, principalmente nas disciplinas de Português e Matemática, que são as bases do conhecimento, além da revisão do conteúdo de 2020 para então começar o de 2021.

Acredito que a vacina será um grande benefício, penso que até meio do ano grande parte das pessoas já estarão vacinadas. Sou extremamente favorável a ela, a população precisa ser imunizada, principalmente para a educação. Será um ganho para todos, desde a linha de frentes, idosos, como os pais que saem trabalhar. A vacina irá tranquilizar a todos, será um grande ganho”.

Fotos: Divulgação/PMBC e Arquivo Pessoal
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