Um cachorro foi resgatado, após ser vítima de maus tratos por parte do caseiro de uma obra onde ele vivia, na noite de terça-feira (12), no Bairro Nova Esperança. Ele chegou a ser encaminhado ao abrigo da ONG Viva Bicho, porém, no dia seguinte (13), com suposta autorização via telefone da Guarda Municipal, que havia atendido o caso na noite anterior, ele foi devolvido ao dono. O Página 3 ouviu moradores e o secretário de Segurança, Antônio Gabriel Castanheira Junior, que opinaram sobre a situação.
Moradores explicam a situação
Moradores do bairro, que presenciaram a cena, procuraram o jornal para explicar o ocorrido. Uma residente da localidade disse que um rapaz (o caseiro da obra onde o cachorro morava – um depósito de materiais de construção; eles moravam em terrenos diferentes) teria passado por ela contando que seu cachorro havia fugido, e questionado se ela havia o visto.
Após cerca de 20 minutos, gritos do animal teriam sido ouvidos e os moradores então flagraram o homem arrastando o cão.
“E bateu nele, na rua, com a corrente, na frente de todo mundo”, contou a moradora. Foi então que a Guarda Municipal e a Polícia Militar foram acionadas.
O homem que teria agredido o cachorro teria se negado a sair para conversar com os órgãos da segurança e, como não houve flagrante, os guardas e policiais teriam ido embora. “Quase uma hora depois, a Guarda voltou e falou que iam entrar e tirar o cachorro, entregaram para a Viva Bicho e foram embora. O marginal ficou, gritou contra os vizinhos, acionamos a Guarda pela manhã (já na quarta-feira) falando que ele estava lá, mas não foram atender”, acrescentou a leitora.
Viva Bicho teve que devolver
O Página 3 foi informado que, na manhã de quarta-feira, o dono do cachorro foi até o abrigo da ONG, que também fica no Bairro Nova Esperança, e pediu para a Viva Bicho entregar o cão para ele (quem agrediu o animal foi o caseiro e não o dono da propriedade).
A diretoria da instituição teria se negado, pedindo uma autorização oficial de alguma autoridade. O homem teria conseguido uma com a Guarda Municipal. A ONG ligou para a Central 153 e a coordenadora teria dito, via telefone, que era para entregarem o cachorro para o homem, e assim foi feito. O caseiro teria sido demitido e o cachorro voltou para a obra.
O que diz o secretário de Segurança
O secretário de segurança, Antônio Gabriel Castanheira Junior, disse que a Guarda Municipal não tem poder para autorizar ou não a liberação do cão, e que a ‘custódia’ dele havia sido passada para a Viva Bicho, que poderia ter se negado a entregá-lo ao dono.
“O problema é que o COMPA (Conselho Municipal de Proteção Animal) e a Viva Bicho não têm protocolo de atendimento. Eles não têm que ligar num telefone e perguntar para alguém que nem está a par e vivenciou o problema se é para devolver ou não. Nada existe ‘de boca’. Eu não sei o que o COMPA e a Viva Bicho fazem que não criaram um protocolo ainda e que as coisas sejam feitas de maneira documental, e não ligar questionando se é para devolver”, explica.
Castanheira salienta que a Guarda recolheu o cachorro porque ele [o secretário] mandou o supervisor do dia retornar no endereço e resgatar o animal, mesmo sem ter acontecido o flagrante.
“O dono precisa dar assistência para o cachorro, e as pessoas da Viva Bicho poderiam ter ido à delegacia. O trabalho da Guarda foi recolher o cachorro”, comenta, acrescentando que na segunda vez que voltaram o caseiro, que teria agredido o cão, não estava mais no local.
“Na primeira vez ele [o caseiro] se recusou a sair, e como não houve flagrante não podíamos entrar no terreno. Quando retornamos, o homem não estava mais lá, havia fugido, por isso não prendemos ele. Mesmo assim, eu assumi a responsabilidade e pedi para os guardas voltarem e retirarem o cachorro, que estava deitado no terreno”, afirma.
Guarda Ambiental
O secretário pontua que, há duas semanas, foi criada dentro da Guarda Ambiental uma guarnição específica para atender ocorrências envolvendo animais domésticos (cães e gatos), mas nesta situação foram guardas municipais que atenderam, pois os ambientais trabalharam durante o dia.
“A Guarda pode retornar ao local e verificar se as condições estão adequadas, se não estiverem podemos pegar de novo o cão e reencaminhar para a ONG. Estou muito empenhado com a causa animal, atendemos muitas ocorrências do tipo, por isso que criamos a guarnição específica para animais domésticos, com um olhar diferenciado quando acontecerem casos de maus tratos”, completa.