Uma mulher de 42 anos, Mabel Laisi Orso, foi morta pelo namorado, de 24 anos, no último dia 21 de outubro, no Bairro Nova Esperança. O assassino foi preso dois dias depois, na segunda-feira, 23 de outubro. Este caso de Balneário Camboriú é um dos mais de 40 registrados em Santa Catarina somente neste ano. A situação alerta e o foco da Polícia Civil e da rede de apoio às vítimas é a prevenção e incentivo às vítimas denunciarem. Mabel, por exemplo, nunca havia denunciado o homem que tirou a sua vida.
Fortalecimento da rede de apoio para que mais mulheres denunciem
A vereadora Juliethe Nitz, de Balneário Camboriú, opina que apesar de nos dias atuais o feminicídio ser bastante divulgado, ainda é preciso fortalecer e intensificar o combate a este crime que está levando Santa Catarina a alcançar o seu maior patamar de vítimas nos últimos quatro anos (39 em 2020, 31 em 2021, 40 em 2022 e 43 em 2023 – números registrados de janeiro a setembro de cada ano).
“Nos primeiros nove meses deste ano, 43 mulheres foram vítimas de feminicídio em Santa Catarina e esse número vem aumentando cada vez mais devido a intolerância que as pessoas vêm tendo uma com as outras. Como vereadora, tenho me engajado no combate, amparo e assistência das mulheres vítimas de violência, atuando desde 2017 na intensificação e fortalecimento da rede de apoio para conscientizar cada vez mais as mulheres a se libertarem da violência e não entrarem para essa estatística”, diz.
Juliethe aponta ainda que capacitar a rede de apoio para receber a mulher que está passando por uma situação de violência é o primeiro passo para incentivar que a vítima busque ajuda.
“A violência, na maioria dos casos, não começa já na agressão, mas nas ameaças e violações de direitos. Se a mulher que está passando por isso souber e confiar que ela será recebida sem julgamentos e com a humanidade que se espera, será uma barreira a menos a ser quebrada para pôr um fim neste ciclo e interromper que ela venha a se tornar uma vítima de feminicídio”, afirma.
DPCAMI também defende a importância da prevenção
A delegada Ruth Henn, que atua na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de Balneário Camboriú, conta que procuram atuar na prevenção para que feminicídios não cheguem a ocorrer, buscando incentivar que nos primeiros sinais as mulheres já procurem a delegacia e façam denúncia.
“Não que vá prevenir que o feminicídio aconteça, mas vai fazer diminuir. A moça que faleceu [Mabel] não tinha registrado um único B.O. contra o agressor e nem havia solicitado medida protetiva. Houve também um feminicídio recente em Itajaí, onde também a vítima nunca tinha feito registro ou medida protetiva. A medida protetiva é uma prevenção para a mulher”, diz.
Ruth salienta que é raro acontecer um caso onde o homem imediatamente mata a mulher, e que normalmente a situação começa com xingamento, com a questão de humilhar, pode vir um tapa e culminar -ou não- no feminicídio.
“Tem que cortar esse mal no começo. Na DPCAMI de Balneário todas as mulheres que vão, independente da gravidade do caso que estão sendo vítimas, já oferecemos medida protetiva, que é uma prevenção porque o agressor vai receber intimação do oficial de Justiça, uma medida deferida por Juiz. Vai se sentir com temor de fazer algo grave porque já está sendo monitorado. Lembrando que o descumprimento da medida protetiva permite prisão em flagrante e pode ser emitida prisão preventiva”, acrescenta.
Muitos canais de denúncia
A delegada salienta que é essencial que as mulheres denunciem, assim como familiares e vizinhos, e que há canais anônimos para denúncia como o 180 e o disk 100 e há também o site da Polícia Civil de SC, onde é inclusive possível pedir a medida protetiva.
“Há várias maneiras de fazer a denúncia. É só procurar, sempre vai ter uma delegacia aberta e todas as forças de segurança têm cuidado especial com a questão da violência doméstica. Na DPCAMI já fizemos neste ano quase 700 inquéritos e quase 80% são de violência doméstica, buscando prevenir que o pior aconteça”, informa, lembrando que a Polícia Militar (190) e a Guarda Municipal (199) também recebem denúncias.
Sala Lilás
Balneário Camboriú também possui a Sala Lilás, que foi instalada recentemente na Central de Plantão Policial (CPP) da Rua Inglaterra, no Bairro das Nações.
No local vão mulheres que precisam de suporte quando a DPCAMI está fechada.
A Sala foi especialmente criada para vítimas, com roupas limpas, cosméticos, apoio policial, internet e até espaço kids para que as mulheres possam levar seus filhos.
“A Sala Lilás busca proporcionar conforto e dignidade para a mulher nessa hora. A mulher já está sendo vítima, chega muito abalada, e ter esse espaço para oferecer dignidade nesse momento faz toda a diferença”, completa a delegada Ruth.