BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A maioria dos brasileiros atribui responsabilidade nas fraudes do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) tanto ao governo Lula (PT) quanto ao governo Bolsonaro (PL), embora a percepção negativa em relação à gestão petista seja maior, mostra pesquisa do Datafolha.
A crise de descontos associativos indevidos nas aposentadorias e pensões pelo INSS travou a recuperação da popularidade do presidente Lula, que se manteve em junho no pior patamar de reprovação já registrado em seus três mandatos: 40% dos brasileiros consideram o atual governo ruim ou péssimo.
A pesquisa, realizada entre os dias 10 (terça) e 11 (quarta-feira), ajuda a explicar os motivos disso, mas revela também que parcela expressiva da população culpa os governos em geral e o INSS pelos desvios. Mostra também que as notícias chegaram à quase totalidade da população, principalmente aos idosos.
O Datafolha ouviu 2.004 eleitores em 136 municípios do país, e a margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou menos.
Mais de 70% dos brasileiros dizem acreditar que os governos Bolsonaro e Lula tiveram pelo menos alguma responsabilidade nas fraudes investigadas pela Polícia Federal junto com a CGU (Controladoria-Geral da União). As irregularidades começaram ainda no governo Temer (MDB), tiveram regras afrouxadas na gestão Bolsonaro e explodiram na atual administração.
Há mais brasileiros, no entanto, que atribuem maior falha de Lula nessa crise: 50% da população considera que o governo do PT tem muita responsabilidade pelos descontos indevidos em aposentadorias e pensões e 28%, um pouco de responsabilidade. Apenas 16% disseram que o petista não tem nenhuma culpa.
Já no caso de Bolsonaro, os números são ligeiramente melhores, embora a maioria da população também aponte erros da sua gestão: 41% atribuem ao governo dele muita responsabilidade pelas fraudes e 29% afirmam crer em um pouco de culpa. Outros 22% isentam o governo anterior pelos problemas.
Mesmo entre simpatizantes, há a percepção de alguma responsabilidade pelos desvios -porém, com uma atribuição maior de culpa ao adversário.
Quem votou em Lula no segundo turno considera que Bolsonaro foi muito (61%) ou um pouco (18%) responsável pelo que ocorreu, e só 14% isentam o ex-presidente. Mas esse eleitor também vê falhas do petista, em maior (32%) ou menor grau (36%) -e 24% não o implicam como parte do problema.
Já quem votou em Bolsonaro tende a isentá-lo mais (32%), mas parte expressiva de seus eleitores também vê um pouco (40%) ou muita (21%) responsabilidade do seu governo. São, contudo, mais incisivos e quase unânimes sobre a culpa do petista, seja muita (71%) ou pouca (17%). Só 8% não responsabilizam Lula.
A atuação do governo Lula para solucionar a crise divide opiniões. Para 38%, o desempenho é ruim ou péssimo. Já 26% afirmam que as respostas foram ótimas ou boas, e 31% dizem que a performance é regular.
Essa avaliação melhora ligeiramente entre aqueles que se dizem bem informados sobre o assunto. Neste caso, a aprovação às ações do governo sobe para 33%. Por outro lado, o apoio cai a 22% entre aqueles que dizem estar mal informados.
O governo prometeu ressarcir os aposentados e pensionistas pelos descontos indevidos, e abriu um prazo para contestação, além de recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que paralise as ações judiciais que cobram a devolução e autorize o pagamento por fora das regras fiscais.
O Datafolha revela que a maioria dos brasileiros (59%) confia que os aposentados e pensionistas receberão o dinheiro de volta, mas a expectativa é de que o processo seja lento. A cada 10 pessoas que disseram acreditar na devolução, 8 acham que vai demorar e apenas duas que será rápido. Outros 36% dizem que os prejudicados com descontos ilegais não serão restituídos.
A pesquisa mostra ainda que as informações sobre os desvios no INSS chegaram à quase totalidade dos brasileiros e que há apoio expressivo à criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigá-los, com 87% da população a favor da apuração pelo Congresso e apenas 8% contra.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já segurou a leitura do requerimento de instalação da CPI, mas prometeu fazê-la nesta terça-feira (17). O governo trabalha para que a investigação só comece no segundo semestre, o que, no entanto, tende a manter o assunto em debate por mais tempo.
Ao todo, 84% dos entrevistados disseram que já ouviram falar nos descontos ilegais. Desses, 35% estão bem informados, 37% mais ou menos informados e 13% mal informados. Entre a população idosa, 94% tomou conhecimento do assunto. Já entre os jovens de 16 e 24 anos, distantes da aposentadoria, o número cai a 60%.
A pesquisa mostra ainda uma percepção bastante negativa da população sobre o INSS. Numa escala de 1 a 5, 37% atribuem nota mínima para a instituição. Somados aos 14% que dão nota 2, a imagem é ruim para a maioria dos brasileiros. Apenas 13% dão nota 5 para o instituto -número que sobe a 20% quando o recorte é apenas entre aqueles que estão aposentados.