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Milionários da poupança têm R$ 58 bilhões; veja vantagens e desvantagens

O Brasil tem 245,5 milhões de clientes da poupança, que somam um saldo de R$ 966 bilhões, segundo dados do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Do total, 26.544 clientes têm contas com mais de R$ 1 milhão investido.

Juntos, esses “milionários da poupança” têm quase R$ 58 bilhões na caderneta. Eles representam apenas 0,01% do total de poupadores, mas concentram 6% do total investido na poupança.

Apesar de a caderneta de poupança ser considerado um investimento seguro, sua baixa rentabilidade pode resultar em perdas reais do poder de compra, especialmente em períodos de inflação alta.

Isso ocorre porque seu rendimento nem sempre acompanha a inflação, trazendo um resultado real negativo em momentos de aumento de preços, desvalorizando o dinheiro investido.

Embora seja importante ter uma reserva em opções seguras, como a caderneta, existem alternativas de baixo risco que oferecem rentabilidades muito superiores.

Ainda que a poupança continue sendo uma opção popular devido à sua simplicidade e segurança, e por não ter cobrança do Imposto de Renda, a diversificação e a busca por investimentos com melhor retorno podem garantir uma maior proteção contra a inflação e um crescimento mais robusto do patrimônio.

Títulos públicos, como Tesouro Prefixado, Tesouro Selic e Tesouro IPCA+, são opções seguras e rentáveis. Esses títulos são garantidos pelo governo federal e oferecem uma rentabilidade próxima à Selic, taxa básica de juros da economia.

Outras opções incluem CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), que também oferecem maior rentabilidade e segurança, além de contarem com a garantia do FGC de até R$ 250 mil por pessoa em cada instituição.

Em 2023, a rentabilidade real da poupança (descontando a inflação do período) em 2023 foi de 3,43%, enquanto um título do Tesouro IPCA+ 2029 possui rentabilidade real de 6,43% ao ano, além de ser totalmente protegido contra uma disparada da inflação, algo que não ocorre com a poupança.

A comparação é ainda pior se analisado um período maior, visto que 2023 foi um ano em que o IPCA (inflação oficial) foi relativamente baixo. Nos últimos dez anos (entre 2014 e 2023), a poupança teve rentabilidade anual média de 1,19%, com rendimento real negativo em 2015 e 2021.

O rendimento da poupança varia conforme a Selic. Quando a taxa Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial), o que dá 6,17% ao ano mais TR.

Quando a Selic está igual ou abaixo de 8,5%, a poupança rende 70% da Selic mais a TR. Nos últimos 12 meses, a rentabilidade da poupança foi de 7,25%, com ganho real de 2,89%.

Enquanto R$ 1 milhão investido na poupança teria rendido R$ 72,5 mil no últimos 12 meses, a mesma quantia renderia R$ 118 mil caso aplicada por um ano em um título Tesouro Prefixado 2027, uma diferença de R$ 45,5 mil, que representa uma rentabilidade 62% maior.

Mesmo investidores com quantias menores podem se beneficiar de opções mais rentáveis. O investimento mínimo em títulos prefixados parte de R$ 30,81, e nos títulos IPCA+, de R$ 32,11. Já o Tesouro Selic sai a partir de R$ 153,56.

Praticidade atrai jovens para poupança e renda fixa, diz levantamento

A analista de marketing Thálita Manso, 26, tem o dinheiro guardado na poupança. Ela escolheu a caderneta por segurança e comodidade. “Não conheço muito bem outros perfis de investimentos e tenho medo de arriscar e perder”, diz.

Ela faz parte dos jovens brasileiros que investem e preferem ativos de renda fixa. Metade dos entrevistados em levantamento da Rico, plataforma do grupo XP Inc., tem investimentos na poupança, enquanto 41% preferem outras aplicações em renda fixa, os líderes do levantamento.

Foram entrevistadas 1.008 pessoas de 24 a 35 anos que já fizeram algum investimento, via painel online. Os resultados não podem ser generalizados para os brasileiros dessa faixa etária, mas dão indicativos dos motivos para jovens ainda aplicarem na caderneta.

No levantamento, outros investimentos que também se destacam entre jovens investidores são ações (37,2%), criptomoedas (34,6%) e fundos de investimento (33,1%).

Segundo Antônio Sanches, analista de pesquisa da Rico, um dos motivos pela preferência da poupança é a acessibilidade do investimento. “É um produto consolidado na vida do brasileiro há muito tempo e forte nos bancos, no qual o investidor precisa ter uma conta para movimentar dinheiro no dia a dia.”

Além disso, ele diz que o ativo é, muitas vezes, escolhido no automático. “É possível atribuir a falta de conhecimento do investidor. Existem produtos financeiros que não agregam tanto risco à carteira e possibilitam os benefícios da poupança, mas com maior rentabilidade, como Tesouro Selic e CDB”, diz.

Antônio Sanches, da Rico, diz que foi possível mapear que os investidores entre 24 e 35 anos participantes do levantamento estão iniciando a carreira, ganhando um pouco mais de dinheiro, que varia entre R$ 3.000 e R$ 7.000, e começam a ter mais de contato com o mundo dos investimentos.

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“Eles estão em busca de novas conquistas profissionais, tomando decisões importantes, como comprar uma casa ou um carro, e sabem que é importante investir”, afirma.

A assessora de imprensa Luana Lopes, 27, tem Tesouro Selic, FIIs (fundos imobiliários) e criptomoedas e considera ter um perfil conservador. Ela começou a investir durante a pandemia, por ter insegurança quanto ao mercado de trabalho.

“É muito importante ter a sensação de que está tudo bem e que, caso eu perca o emprego, tenho como sobreviver, ou se minha família precisar, tenho o que oferecer”, diz.

Ela destaca que pensa em ter filhos no futuro e deseja ter tranquilidade financeira quando este momento chegar. “É algo a médio prazo, mas às vezes olho o preço da fralda no mercado e penso, ‘é muito caro ter filho’. Tenho esse sonho e invisto também pensando nisso”, diz.

O analista financeiro Leandro Gomes, 28, começou a investir em 2023, para se livrar de dívidas e viajar para o exterior. Após realizar o sonho, continuou investindo e tem a ambição de, no futuro, viver apenas com os rendimentos. Em sua carteira, 75% dos investimentos vão para a renda fixa, e 25% para a renda variável.

Leandro Gomes investe em Tesouro Selic, Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado. Em renda variável, aposta em ETFs no exterior (chamados de fundos de índices, atrelados a um índice de referência).

Para 66,1% dos entrevistados pela Rico, independência financeira é a maior meta a ser atingida com os ativos. Para 59,1% e 46,2% da amostra, respectivamente, os objetivos buscados são estabilidade e segurança para enfrentar crises econômicas.

Tanto Leandro quanto Luana afirmam ter abdicado de pedir comida em casa ou ir a restaurantes para economizar e investir. O levantamento da Rico aponta que 48% dos entrevistados afirmam que deixaram de sair aos finais de semana, 45% de comprar itens não essenciais e 37% de pedir comida por meio de aplicativos.

“Comecei a usar transporte público, cozinhar e levar marmita para o trabalho. Em dois meses, notei a diferença. Hoje já estou acostumado, mas no começo foi difícil”, diz Leandro.

As bets também são um desafio do público jovem. Em janeiro de 2024, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 15% dos brasileiros dizem fazer ou já ter feito apostas esportivas online. Entre os brasileiros de 16 e 24 anos, o percentual é de 30%. Segundo estimativas do Itaú, divulgadas em agosto deste ano, o investidor brasileiro perdeu R$ 23,9 bilhões com apostas em 12 meses.

Antônio Sanches afirma que há uma percepção equivocada de que bets são investimentos. “É necessário que o investidor estude e conheça os produtos financeiros. É importante que ele saiba qual é a rentabilidade, a liquidez e o risco que o ativo oferece, algo que não existe no mercado de apostas.”

Segundo ele, além desses três fatores, os investimentos exigem regularidade e permitem planejar a longo prazo. “O investidor, geralmente, vai seguir o ciclo de quitar suas dúvidas, organizar sua vida financeira, ter uma reserva e, por fim, buscar objetivos para o futuro”, diz.


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