O Dia Nacional do Voluntariado comemorado em 28 de agosto foi criado para incentivar e homenagear quem trabalha em prol das mais diversas causas, famílias carentes, no cuidado com os animais, com o meio ambiente e tantas outras lutas.
A data internacional, instituída pela ONU, é celebrada em 5 de dezembro.
O dado oficial mais recente (Pnad Contínua 2019) aponta que só 4% da população brasileira (aproximadamente 8 milhões, considerando que a população do Brasil é estimada em 212 milhões) se dedica a atividades do gênero – número baixo em comparação a outros países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, esse contingente supera a marca de 30% (aproximadamente 98 milhões, considerando que a população dos EUA é estimada em 329 milhões).
Para lembrar e agradecer as pessoas que dedicam seu tempo à causas voluntárias, o Página 3 conversou com alguns moradores de Balneário Camboriú, que têm muitas histórias para contar.
Acompanhe:
Pela causa animal
Beatriz Machado presidente da ONG Viva Bicho e voluntária há 26 anos

“Desde 1996 eu já recolhia cachorros abandonados na areia da praia, doentes e cobertos de sarna, mesmo morando em apartamento não tendo onde recolhê-los. Cansei de pular muros de casas de veraneio fechadas para acolhê-los na varanda da casa ou embaixo de porões e assim foi até 2001, quando resolvemos eu e mais três amigas alugar uma casa na Barra para acolher, na época, 30 animais.
Foi uma época muito difícil, pois não tinha ajuda de ninguém, era tudo do nosso bolso, mas sempre tudo feito com muito amor e carinho, é o que eles [os animais] mais precisam.
Sou de Curitiba, morando aqui há 40 anos, parentes e amigos sempre falam ‘você vivendo nesta cidade espetacular’, mas já respondi que não piso na praia há 20 anos, só vejo pela televisão.
Para mim, mais vale o amor incondicional que existe com esses seres maravilhosos que Deus nos dá todos os dias do que qualquer outra coisa.
Nesses anos todos pela minha casa já passaram 178 cachorros de todos os tamanhos e cores, morreram de velhos tratados como bebês. Hoje tenho 20 cachorros em casa e ajudo na ONG também”.
Escola de Cães-Guias Helen Keller
Elis Busanello é presidente da Escola de Cães-Guias Helen Keller

“O trabalho voluntário é para mim uma oportunidade de conexão entre pessoas que compartilham do propósito de contribuir efetivamente para uma sociedade melhor. No Brasil, somos solidários e nos sensibilizamos com as necessidades dos outros, mas ainda temos um grande desafio a vencer no voluntariado, que é persistir numa contribuição recorrente, seja ela de serviço prático empregado e/ou investimento financeiro.
Em geral, as contribuições ainda são esporádicas, aqui e ali, uma cesta básica ou um PIX, mas, empreender esforços pessoais continuados, superando junto com outros voluntários, as dificuldades do dia a dia, é a grande chave para desenvolver o terceiro setor da economia.
Hoje estou presidente da Escola de Cães-Guias Helen Keller. É o meu terceiro ano de trabalho voluntário nesta instituição. Estamos superando grandes dificuldades e crescendo, apoiando cada vez mais as pessoas que se beneficiam dos cães de assistência.
E como estamos conseguindo isso?
Com a vontade de muitos voluntários, socializadores, tutores, empresários, membros da diretoria, do conselho, e outras pessoas que oferecem seus serviços, talentos e recursos financeiros voluntariamente.
E pelos esforços dos voluntários vemos a escola pioneira no Brasil e na América Latina, seguindo na sua missão de servir e orgulhando os catarinenses sensíveis às causas da inclusão das pessoas com deficiência visual, dos autistas, das pessoas que estão em hospitais, casas de repouso e outras instituições. Se alguém tiver interesse em contribuir com a Escola de Cães-Guias encontrará no site www.caoguia.org.br, nas páginas Doações e Voluntariado, formas de fazer parte desta obra social.
Ser voluntário é estar à disposição e (parafraseando Mahatma Gandhi), assumir a responsabilidade pela mudança que queremos ver no mundo”.
Balneário Camboriú é sede da Associação Brasileira dos Voluntários
Beatriz Rodrigues Campos, presidente da Associação Brasileira dos Voluntários, fundada em Balneário Camboriú

“Sou mineira de nascimento, porém vivi 62 anos no Rio de Janeiro e moro em Balneário Camboriú há seis anos. Trabalhei como professora por 15 anos, exerci a profissão de advogada por 35 anos, especializada em Direito Imobiliário, quando recebi a Comenda Ulisses Guimarães. Sempre pautei minha vida em dedicar à ajuda de ações sociais, procurando focar nas pessoas que, por diversos motivos, sejam eles físicos, sociais e econômicos necessitam de amparo.
Quando cheguei em Balneário, não conhecia ninguém e vi que precisava fazer alguma coisa para não cair na apatia ou na depressão.
Por sorte, conheci a secretária Christina Barichello, mulher extraordinária e de grande visão, e hoje desenvolvo junto com ela um trabalho de grande relevância social.
Sou presidente do Grupo Apoio, composto de 40 pessoas em que atuamos voluntariamente em festas, eventos e recepções, tendo sempre o foco em trazer alegria, descontração e amor à vida.
Também sou presidente da Associação Brasileira dos Voluntários, uma entidade nova, recém-formada, porém visando reunir pessoas que gostam de ajudar e serem úteis às pessoas, usando suas qualidades, aptidões e conhecimento a quem queira aprender ou ter uma nova oportunidade na vida tudo graciosamente.
Ser voluntário é um trabalho de doação com muito amor. Hoje, na Casa da Família, trabalhamos com 152 voluntários em mais de 92 oficinas nas mais variadas modalidades de atividades, atendendo todas as faixas etárias.
Porém, o mais importante do trabalho voluntário não é só a abnegação, é a reciprocidade, pois quanto mais se doa ao próximo em ação social, mais se recebe em reconhecimento, carinho, alegria e gratidão.
Verdadeiramente trabalho voluntário é a síntese do amor ao próximo, como nos ensinou Jesus”.
CVV: voluntários em prol da vida

As voluntárias Elizabeth e Roberta, explicam que o CVV é um serviço de apoio emocional voluntário criado em 1962 e há sete anos atua com um posto físico em Balneário.
O serviço criado para atender com a prevenção do suicídio e apoio emocional hoje atua além do telefone 188 e presencial (postos) também nos espaços virtuais com chat e e-mail, através do cvv.org.br.
“O amor à causa vem da valorização da vida, frase que denomina a instituição criada em 1962 e hoje possui mais de 4 mil voluntários espalhados em todo território brasileiro.
Ouvir as pessoas com sigilo e anonimato num clima de acolhimento e não julgamento nos coloca em uma posição de amor à vida e a experiência que cada pessoa em si em tem em lidar com suas experiências, dores, alegrias e dilemas. Acreditamos que a valorização da vida vem num gesto de aproximação uns dos outros trabalhando para um clima que possamos ser e expressar quem realmente somos em essência, possibilitando uma sociedade mais fraterna, compreensiva e solidária, consequentemente prevenindo o suicídio”.
Voluntariado em prol do autismo
Márcio Abimael da Costa, consultor de negócios, é voluntário na AMA Litoral SC

“Quando o meu filho, Benjamim, hoje com 8 anos, teve o Diagnóstico de Autismo, aos dois anos e meio de idade, conhecemos a AMA Litoral e desde então ele tem atendimento multidisciplinar na instituição de forma gratuita.
Portanto, nos envolvemos como podemos para ajudar na arrecadação para manutenção da associação, que sobrevive de convênios públicos e doações. Sendo assim, participamos dos pedágios, venda de rifas e demais demandas que a associação necessitar.
Nos dedicamos, pois vimos a importância e a diferença que faz um acompanhamento de qualidade, pois nosso Benjamim que tinha muitas dificuldades na fala, interação e coordenação, hoje é uma criança com essas características bem atenuadas, portanto, o que vivenciamos em nossa casa, iremos fazer o que for possível para que mais famílias tenham esse mesmo privilégio.
Além do voluntariado na AMA, a nossa família contribui mensalmente co
Fazemos tudo com sentimento de gratidão, pois como falei acima, fez a diferença na nossa família e para que isso fosse possível pessoas fizeram grandes esforços no passado”.
Amor Pra Down também é dirigida por voluntários
Wilson Reginatto Junior, coordenador administrativo da Associação Amor Pra Down

“A associação é uma entidade sem fins lucrativos e depende, para suas atividades, de recurso público ou doações de pessoas; ou então também do trabalho voluntário.
O primeiro trabalho voluntário mais relevante que existe na Amor Pra Down é o da diretoria, formado por seis membros, mais três membros do conselho fiscal.
São pais e mães de pessoas com síndrome de down e pessoas com síndrome de down também, que dedicam parte do seu tempo para a gestão e administração da entidade.
Esse trabalho é todo feito de forma voluntária.
Outro tipo de trabalho voluntário que temos é da comunidade, quando chamamos para eventos como pedágios ou para colaborar em vendas de rifas ou de eventos gastronômicos e Dia das Crianças.
As mães também fazem voluntariado no bazar, com venda de peças de roupas usadas, que servem para ajudar na instituição. Temos uma série de trabalho voluntário e parcerias através de universidades, seja no Direito, na área da Administração Pública, que se envolvem em nossa causa quando precisamos. Sem o trabalho voluntário, certamente não sobreviveríamos”.
Voluntariado no escotismo
Lizia Cristina Klan Pereira, voluntária no Grupo Escoteiro Leão do Mar

“Faço trabalho voluntário há mais de 10 anos no Grupo Escoteiro Leão do Mar.
Penso que só fazemos voluntariado se acreditamos que o resultado do nosso trabalho contribui para um projeto que precisa existir. É uma forma de se sentir comprometido concretamente com seus ideais de mundo melhor. No nosso caso, fazemos como voluntários o papel de estimular e difundir os ideais de construção de um mundo melhor, baseado nas premissas do escotismo. Acreditamos que contribuímos para a formação de jovens responsáveis e plenos de cidadania”.
José Manoel Pereira Neto é voluntário no Grupo Escoteiro Leão do Mar há 15 anos

“O movimento escoteiro nacional funciona como uma grande associação, onde os adultos voluntários, chefes e pais, trabalham juntos para prover aos jovens todo o necessário para a sua educação não formal.
Isso faz com que a dedicação voluntária do adulto seja de suma importância para a existência do grupo.
Os chefes são uma parte bem atuante destes adultos, que assumem sob promessa a responsabilidade de cuidar destes jovens.
E os pais não ficam fora disso: sempre engajados em fazer seu “Melhor Possível”, estando “Sempre Alerta” a cada detalhe, esses adultos voluntários dedicam-se intensamente em “Servir” ao propósito da educação não formal dos membros juvenis.
Qualquer pessoa pode ser um adulto voluntário. Pode auxiliar em alguma atividade, compartilhando seus conhecimentos, ajudando o jovem a aprimorar alguma habilidade, aconselhando-os em suas fragilidades ou ajudando o próprio grupo a viabilizar projetos, eventos e ações.
O colaborativo torna-se a essência de existência do grupo nesse ponto.
A troca de ajuda, de ideias, sempre buscando melhorar é o que motiva não apenas os chefes a realizarem seus trabalhos, mas aos próprios jovens que enxergam seu exemplo espelhado naqueles que lhe são mais queridos.” – Livro – Grupo Escoteiro Leão do Mar – desde 1980 em Balneário Camboriú – pgs 23 e 24.
Gostaria de aproveitar essa oportunidade para cumprimentar e agradecer a todos os voluntários que como eu, se envolveram e acreditam de alguma forma em um mundo um pouquinho melhor, e sem interesse num retorno financeiro buscaram ajudar e apoiar uma boa causa ou uma boa instituição em algum momento de suas vidas.
No começo temos vários medos, se vamos saber fazer, se vamos conseguir ajudar como as pessoas esperam e instituições necessitam.
E o que eu aprendi com o meu tempo de voluntariado?
1) Não devemos esperar nada em troca;
2) Não é porque é um serviço voluntário que pode ser feito de qualquer jeito;
3) E o feito sempre vai ser melhor do que o perfeito”.
Grupo Solidariedade e Amor apoia diversas famílias de BC e região
Juliana Ferreira de Deus, presidente do Grupo Solidariedade e Amor, que ajuda diversas famílias de Balneário Camboriú e região

“Atuamos há sete anos, em Balneário Camboriú e região, desde Floripa até Joinville, ajudando não apenas famílias carentes como hospitais, ONGs de animais e até orfanatos e crianças com doenças raras, fazemos eventos para arrecadar dinheiro para o tratamento dessas crianças.
A única coisa que resume tudo o que a gente faz é a transformação de dentro para fora.
Deus age muito mais em nós do que nas pessoas que estamos ajudando.
Ser voluntário é dar valor para as mínimas coisas, é ver o mundo de uma maneira diferente. É lindo, eu amo. Solidariedade é uma das coisas que está crescendo cada vez mais”.
Valdir de Andrade é voluntário em três entidades
Valdir de Andrade, advogado, presidente do Conselho Comunitário de Segurança e da Associação de Moradores da Praia dos Amores, e membro do Lions Clube BC Centro

“Hoje tenho voluntariado como hobby, uns pescam, outros jogam, e eu sou voluntário. Comecei no CONSEG em março/2003 e três meses depois no Lions BC Clube Centro, mas sou um dos fundadores da Associação de Moradores do Bairro das Nações, em 1984.
No Conseg, tentamos ser catalisador, mais gente que se engaje nesse movimento, tivemos grandes conquistas como discussão da segurança da cidade que se tornou o Plano Municipal de Segurança, compra do terreno e mudança para CPVI, abaixo-assinado para mostrar primeira leva de câmeras, que acabamos perdendo para Criciúma; em 2007 fizemos o 1º Congresso Nacional de Segurança para o Turista e Cidadão, onde participaram representantes dos mais diversos estados e fundamos a FECONSEG, chegamos a ter mais de 30 conselhos pelo Estado. Seguimos firmes no Conseg até hoje, inclusive com viés da criação da Federação Nacional dos Consegs.
O Lions tem comissões, sempre fui assessor de Segurança e Trânsito, fazemos campanhas voltadas para esse tema, sempre com parcerias também com o Conseg. O Lions integra os Conselhos também, de Segurança, Trânsito, da Cidade não sendo somente um clube de serviços. No Lions também temos visão social, com o banco ortopédico, banco de óculos. Em 19 de outubro vamos ter o Café Beneficente, onde os fundos são voltados para essas ações sociais tão importantes, como ainda o mutirão da saúde, o Lions Quest que trabalha nas escolas…
Também sou presidente da Associação de Moradores da Praia dos Amores, tentamos conseguir melhorias, como saneamento, mais segurança, pavimentação, iluminação pública… a questão da drenagem é muito precária, tivemos até que judicializar para refazerem galerias. A questão da nossa praça e academia de ginástica ao ar livre que estamos buscando, reestruturação da nossa sede, que será um Centro de Abraço à Família, com espaço para integração, pista de skate, campo de futebol… queremos salas para prática de dança e artes marciais, levar programas para os 60+ para a nossa sede, dentre outras ações”.
Luciene, na luta por diversas causas
Luciene Cristine Vieira é atuante na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Balneário Camboriú e no Rotary Club Satélite, de Balneário

“Para mim, o voluntário é uma forma de exercer a minha cidadania, que é um conjunto de direitos e deveres, que faz com que todo cidadão se sinta compromissado com os seus direitos e com os direitos dos outros.
Então, por isso, desde o início da minha vida, eu exerço a cidadania através do voluntariado. Eu vejo que tudo o que está ao meu redor depende do que eu faço e do meu olhar.
Como mulher, vejo que é meu dever representar outras mulheres que, infelizmente, não tiveram as oportunidades que eu tive de poder acessar, de ter a voz ouvida, de ter representatividade. Eu sou voluntária na CDL, que reúne empresários do comércio e serviços, onde sou Diretora de Relações Institucionais; também através da CDL eu participo do Conselho do Comitê do Rio Camboriú, como representante dos empresários, onde discutimos a questão dos recursos hídricos, a finitude, a qualidade e segurança de nosso rio. Também atuo no BC Criativo, que é um hub de economia criativa, atuo no Rotary, onde já fui presidente, e através dele estou no Conselho Municipal de Educação. Também estou como voluntária no Movimento ODS SC, como coordenadora estadual de mobilização.
O trabalho voluntário é muito diferente de estar em uma empresa privada ou recebendo um salário – todas as pessoas que você encontra em uma organização ou em uma instituição, que trabalham voluntariamente estão ali porque querem, porque têm uma causa em comum.
Isso me mobiliza e me comove até, que eu encontre no mundo tantas pessoas que lutem e tenham o mesmo sonho que o meu, e eu não me sinto sozinha, para juntos fazermos a diferença. Estamos ali de fato com a alma, trabalhando por uma causa só”.