Céia Maravilha foi criada pelo ator Maurício Bento e tem muito o que contar. Ícone da noite alternativa em Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis, a personagem saiu dos guetos com seu estilo escrachado e irreverente.
Seu criador, peixeiro da gema, nasceu no Bairro São João e cresceu no São Judas, onde também concebeu e desenvolveu a personagem.
Parte dessa trajetória marcante poderá ser conferida na exposição “Noites de Bafons: 30 anos de Céia Maravilha”, com abertura marcada para o dia 27 de junho, às 19h30, no Museu Histórico de Itajaí.
A mostra permanece aberta ao público até 16 de agosto.
Estarão em exposição alguns dos figurinos que representam a pluralidade de estilos da personagem, muitos pensados e produzidos pelo próprio Maurício, além de fotografias, convites e recortes de jornais que registram a história e sua relação com a cidade.
Os destaques vão para os bares, boates e pessoas que fizeram parte dessa caminhada.

A curadoria é assinada pela museóloga Tayná Mariane Monteiro de Castro e pela técnica em conservação e restauro Yasmin Sayegh Al Kas, que mergulharam nas vivências da personagem ao longo dessas três décadas, reconhecendo-a e legitimando-a como um ícone da cultura peixeira.
A exposição integra a programação de aniversário dos 165 anos de Itajaí.
Inspirada nas personagens Anthony (Hugo Weaving) e Adam (Guy Pearce), e na transexual Bernadette (Terence Stamp), do clássico “Priscilla, a Rainha do Deserto”, Céia sempre trouxe aos palcos temas polêmicos com leveza, humor e profundo conhecimento. Sexualidade, política, inclusão e igualdade social sempre estiveram em pauta em suas performances.
Militância com arte e humor
A abertura da exposição antecede o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ e coincide com a semana da realização da 29ª Parada de São Paulo, cujo tema será a velhice LGBT+, discutindo memória, resistência e futuro.
Nesse contexto entra Céia e Maurício, hoje com 59 anos. Há mais de três décadas, Maurício tirou a figura da drag queen dos guetos da conservadora Santa Catarina. Em pouco tempo, a personagem conquistou espaço e passou a ser contratada para festas particulares, aniversários, casamentos de socialites, eventos corporativos, restaurantes sofisticados e casas noturnas da badalada Barra Sul. Desde então, Céia nunca mais saiu de cena.
A mostra faz parte do projeto “Montação de Memória com Céia Maravilha”, que tem caráter transdisciplinar e contempla produção de acervo audiovisual e arquivístico, oficinas de arte drag, sessões de cineclube e ações de fortalecimento comunitário.
O projeto resultará em um documentário curta-metragem.
Com financiamento do Programa Nacional Aldir Blanc, via edital da Fundação Cultural de Itajaí, a iniciativa é uma produção do Centro de Direitos Humanos de Itajaí (CDHI) em parceria com a Coletiva Epicena.