O presidente Luiz Inácio Lula da Silva toma posse neste domingo, 1º de janeiro, para seu terceiro mandato com um esquema inédito de segurança. Diante do clima de tensão que marca a cerimônia, por causa de atos violentos e de vandalismo dos últimos dias, em Brasília, o petista recebeu a orientação da Polícia Federal de vestir colete à prova de bala e usar carro blindado – no lugar do tradicional Rolls-Royce – no desfile pela Esplanada dos Ministérios. Até o sábado, porém, até o fechamento da edição de domingo do jornal O Estado de S. Paulo, o petista resistia a essa ideia. Nos discursos que fará no Congresso e no parlatório do Palácio do Planalto, Lula vai defender a pacificação do País.
O tom do primeiro pronunciamento, no Congresso, será de união e reconstrução, palavras que constam do slogan do novo governo. Lula destacará, ainda, a importância de governar para todos, de pôr fim à disseminação do ódio entre brasileiros e de acabar com a fome, como fez quando foi eleito no segundo turno.
Apesar do clima festivo, há preocupação. Na tarde do sábado, por exemplo, o Esquadrão Antibomba da PF fez varredura nas imediações da Catedral. De lá, sairá o cortejo que levará Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin até o Congresso e, depois, ao Planalto.
A mobilização de segurança foi reforçada e poderá envolver até 8 mil agentes. Sem incluir o contingente da Polícia Militar e do Exército, o policiamento na Esplanada e na Praça dos Três Poderes terá 1.500 integrantes.
Haverá mil policiais federais, 300 civis e 150 homens e mulheres do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. A operação contará, ainda, com helicópteros da PM. O público estimado para a festa é de 300 mil pessoas.
Vigilância
O Centro Integrado de Operações de Brasília, uma base de alta tecnologia que realiza o monitoramento por câmeras de vídeos e drones, vai vigiar toda a área, em tempo real, para identificar qualquer movimentação suspeita.
A maior concentração é esperada na Esplanada, onde será realizado o Festival do Futuro, com shows que começam às 11 horas e seguem até a madrugada de segunda-feira.
Acompanhado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, Lula apareceu no sábado na sacada do hotel onde está hospedado e acenou para cerca de 200 apoiadores que se concentravam ali, de acordo com estimativas da PM. Eleitores cantavam “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” e “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
Além disso, repetiam a frase “Bom dia, presidente Lula”, dita na vigília montada na frente da PF, em Curitiba, nos 580 dias em que o petista ficou preso, de 2018 a 2019, após condenação na Lava Jato. O processo, posteriormente, foi anulado.
Faixa
Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro deixar o País rumo aos Estados Unidos, petistas também entoavam “Tá na hora do Jair já ir embora” diante do hotel. A ideia de Janja é que um grupo de pessoas representando a diversidade do Brasil, ao lado de crianças, passe a faixa para Lula. A cadela Resistência, adotada pela primeira-dama no acampamento da vigília, na capital paranaense, também estará presente.
Para evitar a superlotação na Praça dos Três Poderes, onde fica o parlatório do Planalto, local em que Lula deverá se pronunciar à Nação depois de receber a faixa presidencial, foi estabelecido um limite de 40 mil pessoas. Haverá forte esquema de revista.
A estimativa é de que cerca de 800 caravanas de ônibus estejam em Brasília. Estão proibidos o porte e uso de armas brancas, armas de fogo, objetos pontiagudos, garrafas de vidro e latas, hastes de bandeira, apontador a laser, armas de brinquedos, fogos de artifício, substâncias inflamáveis, dispositivos de choques elétricos ou sonoros e álcool líquido.
Quartel-General
Na manhã de sábado, dezenas de apoiadores do agora ex-presidente Jair Bolsonaro ainda continuavam na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, com algumas barracas, faixas com mensagens autoritárias e caixa de som. O número de manifestantes caiu nas últimas duas semanas, depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a prisão de apoiadores que participaram de atos violentos em Brasília.
A equipe do jornal O Estado de S. Paulo permaneceu no local por cerca de 15 minutos, quando foi cercada por seis apoiadores. “Se for esquerdista, a gente bota para correr”, disse um deles.
Em outro momento, um militante pediu ajuda divina. “Pai, ajuda”, disse. “Manda coragem do céu, se for da sua vontade.”
A avenida principal de acesso ao Exército havia sido fechada para a entrada de carros. Por volta das 11 horas, manifestantes cantavam o Hino Nacional, entoando gritos contra Lula.
Um homem foi ao microfone: “A gente espera uma atitude desse presidente em exercício que está aí.” Trata-se de uma referência ao vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que assumiu após Bolsonaro partir para os EUA.
(Por André Borges e Julia Affonso. Colaborou Iander Porcella/AE)