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Balneário Camboriú

Briozoários voltaram a Balneário Camboriú: 656 toneladas recolhidas desde janeiro

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Renata Rutes e Marlise Schneider Cezar

Neste feriado de Carnaval, a faixa de areia da Praia Central recebeu toneladas de microalgas e briozoários, o fenômeno ‘arribadas’, termo em espanhol que significa ‘a subida de qualquer organismo para a praia’.

Segundo a Ambiental, empresa responsável pela limpeza urbana da cidade, de sexta-feira (12) até terça-feira (16), foram recolhidas 162 toneladas de briozoários. No dia de maior pico, 10 de fevereiro, foram retiradas 124 toneladas.

Do início de janeiro até 16 de fevereiro, a Ambiental recolheu 656 toneladas dos organismos que, apesar do mau cheiro, não trazem risco à saúde.

No verão eles costumam aparecerem maior volume e foram objeto de uma pesquisa recente da Oceanografia da Univali para a prefeitura de Balneário Camboriú.

Arribadas acontecem ao longo de toda a orla…

Ambiental retira toneladas de algas da praia (foto Renata Rutes)
(foto Renata Rutes)

Nos últimos dias apareceram arribadas de algas em diversos pontos da Praia Central, como na Barra Sul, nas proximidades da Rua 4.800, perto da Rua 2.000 e também entre a Rua 51 e a Avenida Alvim Bauer, além do Pontal Norte, onde um vídeo de sábado (13) chamou a atenção por uma mancha escura que apareceu no mar.

Secretária Maria Heloisa Lenzi (foto Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú)

A secretária do Meio Ambiente de Balneário Camboriú, Maria Heloísa Lenzi Furtado disse que a Ambiental reforçou suas equipes, mesmo assim às vezes não dá conta porque tem muita alga, como aconteceu no dia 10 de fevereiro. 

“Além disso, quando há pessoas na areia não podemos passar com o caminhão, e então o trabalho acaba sendo feito manualmente”, informa Heloísa.

Arribadas na segunda-feira de Carnaval…(foto SEMAM)

Briozoários no feriado de terça-feira (foto Renata Rutes)

…mas estariam diminuindo 

As arribadas aumentam no verão por conta da alta temperatura e maior luminosidade e por isso aparecem mais na praia. Esses organismos, que formam colônias, vêm carregados pelas ondas e são registrados em Balneário pelo menos desde 1938 -quando a cidade era praticamente inabitada. 

A pesquisa feita pela Univali aponta que o fenômeno dificilmente deixará de acontecer, tendo uma possível ligação com o esgoto [o grande ‘alimentador’ de material orgânico para esses organismos].

Briozoários na Quarta-feira de Cinzas (foto SEMAM)

Apesar de Balneário ser quase 100% saneada, a vizinha Camboriú não possui coleta e tratamento de esgoto. 

Segundo a secretária do Meio Ambiente, foi possível perceber uma diminuição ao longo dos anos, tanto em volume quanto intensidade, já houveram verões mais intensos do que este, mas nesta temporada elas reapareceram com força.  Heloísa acrescenta que não houve até hoje um avanço na questão do saneamento de Camboriú, mas que o esgoto não seria o único problema. 

“Na Península de Iucatã, no Caribe, há muitas macroalgas (em Balneário são as micro e acompanhantes) e lá eles descobriram que o fenômeno acontece por conta de fertilizantes. Balneário não tem um estudo de fato para saber qual nutriente está contribuindo – pode ser matéria orgânica (esgoto), sedimento da cidade que chega com a chuva ou também fertilizantes. Há fotos da década de 80, quando não tinha essa grande quantidade de prédios e já existia briozoários na praia”, diz Heloísa.

SEMAM está distribuindo materiais informativos

Secretária aponta ‘melhor verão’ da balneabilidade (foto Prefeitura de Balneário Camboriú)

Considerando a intensidade do fenômeno, que acontece todos os anos em Balneário Camboriú, a Secretaria do Meio Ambiente preparou um folheto que está sendo distribuído pelos monitores do programa Praia Limpa. 

Os turistas sempre questionam e por isso estamos com esses materiais, que foram atualizados com os dados apontados pelo estudo da Univali. Destacamos sempre que eles não causam nenhum prejuízo para as pessoas, só é desagradável tomar banho porque exalam mau cheiro pela decomposição”, comenta Heloísa, destacando que o público deve evitar disseminar fake news – como as menções do esgoto no mar (a mancha escura formada pelas microalgas, por exemplo). 

“No Caribe tratam de forma séria esse assunto, e aqui as pessoas filmam depreciando. São arribadas e não esgoto. Esse foi o nosso melhor verão no quesito balneabilidade, a praia toda esteve própria para banho, com exceção da quinzena de janeiro, por conta das chuvas”, aponta.

Alargamento&Arribadas

Deve ser lançado em breve o edital para licitar a empresa que fará o Plano Básico Ambiental do Alargamento da Faixa de Areia, que irá monitorar a enseada por 36 meses, incluindo as arribadas. 

“Não sabemos qual empresa ganhará, mas seria muito bom se eles chamassem a Univali, que já tem essa expertise no assunto. O ideal é seguir monitorando, pois com o alargamento, as arribadas podem mudar, acreditamos que há chance de diminuir, aumentar é difícil. Estudos ambientais são complexos, não dá para ter certeza”, acrescenta.

Saneamento total em Balneário e Camboriú pode ajudar

Em setembro de 2020, o Página 3 publicou uma reportagem sobre a situação dos briozoários, onde foi levantado que o saneamento total de Balneário e da vizinha Camboriú poderia ajudar a diminuir a intensidade das arribadas – apesar de que não há uma confirmação se realmente seria a solução para o problema.

Balneário possui atualmente cerca de 98% de rede coletora de esgoto implantada, sendo a cidade mais saneada do Estado e uma das mais saneadas do país, enquanto Camboriú está no lado oposto dessa realidade, não possuindo sistema de coleta e tratamento de esgoto.

Balneário é referência em nível estadual e nacional

Emasa – projeto de ampliação da rede (fotos Emasa)

O diretor-geral da Empresa Municipal de Água e Saneamento (Emasa) de Balneário, Douglas Costa Beber, relembra que ele e sua equipe-técnica fizeram três rodadas de conversas com o município vizinho e foi oferecido um consórcio entre as cidades para que a Emasa pudesse executar a obra da rede coletora de lá. 

Douglas Costa (foto Emasa)

“Mas não obtivemos nenhuma resposta positiva. Ficamos sabendo pela imprensa que o prefeito de Camboriú fez uma reunião pública, onde foi aprovada a mudança no contrato com a concessionária responsável pela concessão da água de lá, passando a responsabilidade para que fizesse também a rede coletora de esgoto”, disse.

Balneário está entre as 98 cidades brasileiras perto de atingir a universalização do Saneamento Básico, conforme estudo divulgado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) em 2020. A meta é ter uma cidade 100% saneada, e em busca disso está em andamento, há mais de um ano, a obra de ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) do Município, incluindo trechos ou novas ruas que ainda não possuíam rede coletora de esgoto, cerca de 52 ruas em 12 bairros.

Até o momento, mais de 12.500 mil metros de rede foram implantados, com cerca de 77% do projeto executado em 50 ruas, com 42 concluídas; duas aguardando pavimentação; três com algumas pendências em trechos rochosos; e três em andamento. A previsão de conclusão é até abril deste ano. E está em processo de licitação – em fase de recurso de julgamento de qualificação técnica – o projeto para implantação de rede nas praias do Estaleiro e Estaleirinho, orçado em R$ 13 milhões, sendo os únicos bairros que ainda não possuem rede.

Águas de Camboriú espera retorno da prefeitura

Reforço de rede em Camboriú, cidade ainda não tem sistema de coleta e tratamento de esgoto (foto Águas de Camboriú)

Segundo a assessoria de Comunicação da Águas de Camboriú, a empresa depende de repactuação do contrato vigente com a prefeitura para iniciar as obras do sistema de coleta e tratamento de esgoto – que hoje não existe na cidade.

O contrato vigente prevê que o sistema de coleta e tratamento de esgoto seja implantado pela prefeitura e operado pela Águas de Camboriú. No entanto, diante do alto investimento necessário para implantar o sistema e atenta à histórica demanda em ter uma cidade saneada, a Águas de Camboriú se colocou à disposição para investir também na implantação do sistema de esgoto, incluindo a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), elevatórias e a rede de coletora, mediante a repactuação do contrato.

Em outubro de 2019, a Águas de Camboriú participou de uma audiência pública com o governo municipal, quando foi aprovada a proposição da concessionária em assumir também a implantação do sistema de esgoto. Para que isso ocorra, no entanto, é necessário repactuar o contrato vigente, que deve ser manifestado oficialmente pelo Executivo à agência reguladora.

A empresa apresentou um projeto de implantação do sistema de esgoto para a prefeitura de Camboriú e também ao Comitê de Bacia do Rio Camboriú, que prevê investimento de mais de R$ 100 milhões. São recursos próprios da concessionária, com o aporte dos acionistas. Importante ressaltar a capacidade financeira da concessionária, que tem a possibilidade de começar a investir imediatamente na implantação do sistema. A obra tende a demorar cerca de 18 meses, o que leva tempo é a instalação da rede pela cidade, saneando rua por rua, com as ligações diretamente em cada casa.

Documentário “Arribadas” mostra a evolução do problema ainda sem causas definidas e de difícil solução

(foto Divulgação/Univali)

Todo o conhecimento alcançado pelo estudo de quase um ano resultou na confecção do documentário ‘Arribadas’, lançado em agosto do ano passado. Ele foi preparado para facilitar a compreensão deste fenômeno. Um mês depois de lançado, o Página3 produziu e publicou reportagem especial sobre o assunto.

‘Arribada’ é um termo espanhol, que significa ‘a subida de qualquer organismo para a praia’. Existem arribadas de vários organismos, microalgas, macroalgas, briozoários e elas costumam acontecer em temperaturas mais quentes, não oferecem risco à saúde pública, mas ninguém quer ficar perto delas, por causa do mau cheiro.

O estudo revelou que entre 1938 e 1978 estes organismos foram vistos na praia central. Mas em 2003 tornaram-se mais frequentes nas temporadas de verão e atualmente fazem parte do cenário, aparecem quase todos os dias, até no inverno.

A pesquisa mostrou que a dragagem do Rio Itajaí-açu e o bota-fora (área de descarte) na costa foram descartadas como responsáveis pelas arribadas, assim como a ocorrência do fenômeno por meio dos navios transatlânticos de turismo, porque as amostragens não identificaram estes organismos nos locais de atracação.

ENTREVISTA

Professor Charrid: ‘a partir de 2018 a coisa ficou bem insustentável’.

(fotos Divulgação/Univali)

Os pesquisadores descobriram que as arribadas da praia central são formadas por duas microalgas. São próprias deste ambiente. Elas têm comportamento similar aos organismos do grupo das diatomáceas da zona de arrebentação. Com calor, muita luz e excesso dos nutrientes, se expandem no sistema de circulação da enseada, formando uma biomassa, que serve de substrato para briozoários e macroalgas. Através das ondas se aproximam da praia, aparecendo na areia em forma de manchas escuras.

O professor Charrid Resgalla Junior comandou a pesquisa e contou detalhes desse estudo, que começou em abril de 2019 e terminou em março de 2020. Releia a entrevista com o professor Charrid publicada em setembro de 2020:

“É um processo típico da região.
A quantidade e a frequência que é o problema”

JP3 – Estudos feitos pela própria Univali mostram que a renovação da água no interior da enseada de Balneário Camboriú é lenta. Os argentinos dizem que a cidade tem águas calientes por causa que a temperatura da água é amena. Esses dois fatores não favorecem a multiplicação desses organismos?

Charrid – A temperatura da água não é necessariamente só por causa do sistema de circulação. Ali tem um sistema de circulação praticamente fechado, em função das correntes que ocorrem do lado de fora da enseada, e isso favorece o que chamamos de maior tempo de residência da água dentro da enseada. Mas não é só por causa disso. Tem a questão de clima, o aumento da temperatura no verão, tem uma menor camada de água, a enseada é relativamente rasa, principalmente na região onde o pessoal costuma tomar banho, então ali existe essa tendência de ter uma temperatura mais elevada. Claro que ainda tem essa contribuição do rio Camboriú, que também favorece, porque a água que vem do rio geralmente é mais quente também. Então são vários fatores, não é só um fator que justificaria isso. É claro que o crescimento desses organismos é favorecido pelo aumento da temperatura e da intensidade de luz. São dois processos, dois fatores que aumentam no período de verão. Isso já está comprovado, é facilmente observável, as arribadas são mais frequentes no período do verão pelo maior aquecimento, tanto atmosférico, por questão de clima, e também pelas condições da enseada por estes vários fatores já citados.

“Agora elas (arribadas) deixarem de existir isso não vai acontecer nunca”.

JP3 – O trabalho cita que desde 1938, quando a cidade era praticamente inabitada já se registrava a ocorrência desses organismos, será possível reduzir a quantidade considerando que eles conseguem se multiplicar de forma rápida e a partir de poucos indivíduos?

Charrid – Sobre a ocorrência das arribadas desde 1938, que foi o registro mais antigo que temos em termos de foto aérea da região, de certa forma foi uma sorte, foi a oportunidade que a gente teve de observar esse tipo de coisa. Claro que isso é uma hipótese também, mesmo porque estamos ainda na linha de frente, apesar do contrato feito com a prefeitura de Balneário Camboriú já ter encerrado, ainda continuo com os estudos. Por interesse científico obviamente e por confirmação também das hipóteses levantadas e essa é uma delas, é um processo natural. De fato já temos observado com outros registros fotográficos mais próximos, de propaganda da época, em parceria com historiadores da cidade, estamos conseguindo registros bem interessantes. Isso leva a crer que de fato é um processo que já acontecia em Balneário Camboriú. O que acontece é que isso está aumentando em frequência e quantidade e isso não é boa coisa. Nos estudos comprovamos que de fato a arribada não são briozoários necessariamente, o organismo que está sempre presente em todas as arribadas, são as microalgas, são duas espécies delas, mas tem mais outras espécies, mas principalmente duas que têm uma morfologia bem similar, formam uma cadeia, são uma estrutura bem mais resistente e mais pesada, e tem outras características que envolvem estas duas espécies. E os outros organismos, no caso os briozoários até as macroalgas seriam mais acompanhantes. Uma segunda hipótese nossa, acreditamos por várias evidências, que esses organismos acompanhantes utilizam essas microalgas como substrato. Anteriormente acreditava que fosse o contrário. Que tínhamos um desenvolvimento de briozoários na enseada e aumentando de tamanho essas microalgas se enredariam nos briozoários e cresceriam lá, o que é uma característica comum nesse tipo de microalgas, mas isso não foi constatado. Tentamos observar esse tipo de formação de estrutura lá no fundo da enseada, em vários pontos fizemos um pente fino, e esse tipo de formação não foi observado. Então invertemos a ideia. Não é consenso, existem críticas sobre esse tipo de ideia no meio científico, mas são hipóteses e hipóteses são construídas e destruídas, isso faz parte da ciência. Na questão dessa pergunta propriamente dita é assim: como o principal causador das arribadas são microalgas e aí existe um consenso científico, mundial, é que toda vez que você tem uma proliferação exagerada de algas ou de vegetais, é porque tem um excesso de nutrientes que favorece esse desenvolvimento. A partir do momento que você corta esse fluxo, diminui essa entrada de nutrientes de dentro do sistema, a tendência é dessas arribadas diminuir, funcionaria mais ou menos dessa forma. Agora elas deixarem de existir isso não vai acontecer nunca. Primeiro porque já é uma característica do próprio ambiente de tê-las, o ideal é que voltasse nas condições iniciais, ou seja, ter uma biomassa pequena e menos frequente ocorrendo na praia central e não do jeito que acontece, que é praticamente todo o dia. Hoje tem ocorrência de arribada praticamente todo o dia. São raros os dias onde não tem arribada.

“As pessoas têm a tendência de botar a culpa, procurar um culpado para isso. Antes tem que ver se está fazendo a sua parte”

“Só a partir deste momento, em que você estiver realmente ligado à rede de esgoto, você pode cobrar da prefeitura, da Emasa”

JP3 – Parece que o grande alimentador de material orgânico hoje é Camboriú que não tem rede esgoto, são quase 100 mil habitantes contribuindo. Se Camboriú e Balneário fossem totalmente saneados seria possível eliminar os briozoários e seus associados ou teremos que conviver sempre com essa realidade?

Charrid – Essa pergunta toca no ponto mesmo, a questão do saneamento é muito importante na cidade de Balneário Camboriú e Camboriú. Os dois utilizam o rio Camboriú, como corpo receptor de todo esse material, que são os efluentes domésticos principalmente, tratados e não tratados. Recentemente teve um outro trabalho desenvolvido em parceria com a Emasa e Univali, onde foi constatado que de fato o rio Camboriú já chega inclusive no ponto onde recebe o efluente da Estação de Tratamento de Balneário Camboriú comprometido. Não necessariamente a responsabilidade é só de Camboriú, provavelmente de toda a bacia do rio Camboriú. Tem que ter uma gestão muito bem feita nessa bacia para diminuir esse tipo de carga de matéria orgânica e nutriente para dentro do rio que chega na enseada. Tem que trabalhar junto se realmente querem diminuir as arribadas. Não quer dizer que vai funcionar de primeira, é um trabalho a ser desenvolvido, sem prazo para finalizar. Como eu disse antes, as arribadas são um processo característico da enseada. Antes não chamava atenção, porque era menos frequente, mas a partir de 2018, porque também trabalhamos com dados da empresa Ambiental, que estão contribuindo e estão sendo um grande parceiro nesse tipo de estudo, tudo leva a crer que a partir de 2018 a coisa ficou bem insustentável. Até então o pessoal estava fazendo um pouco de vista grossa, mas a partir de 2018 já não dava mais pra fazer esse tipo de coisa, parece que houve um incremento significativo, então tem muito a ver com o desenvolvimento da cidade, da região e as questões de saneamento aí associadas.

“Com a engorda, o problema pode piorar ou pode melhorar…”

JP3 – Ao contrário do que muito se ouve falar, este não é um fenômeno local. Que outras praias o sr. conhece que sofrem com esses briozoários em suas temporadas de turismo?

(foto Divulgação/Univali)

Charrid – Vamos voltar à questão das arribadas, um termo espanhol que traduzindo seria a subida de qualquer organismo para a praia. É um termo muito utilizado para desova de tartaruga em praia e ocorrências de outros organismos (…). No caso de Balneário Camboriú temos arribada destas duas microalgas e a princípio, pelo esforço feito para tentar descobrir alguma coisa sobre elas, de fato elas só acontecem aqui. Tem um registro no Golfo da Califórnia, em uma das ilhas, acho que é o México, mas foi uma ocorrência que um pesquisador registrou e só. Fora isso não tem praia com estas espécies. Mas tem ocorrência de microalgas, outras espécies, que ocorrem no Brasil, aqui em Navegantes, ali são clássicos, já foi feito estudo (…). No Nordeste do Brasil temos ocorrências de macroalgas em grande quantidade. No Caribe recentemente saiu um estudo, parece que o rio Amazonas tem contribuído para o desenvolvimento destas macroalgas que vai dar no Caribe. Tudo são processos naturais. Temos exemplos de microalgas no Paraná, na praia gaúcha do Cassino, são vários exemplos.

JP3 – O estudo concluiu que teremos que conviver com esse fenômeno?

Charrid – Sim, porque é um processo típico da região. A quantidade e a frequência que é o problema. Tem que trabalhar justamente o saneamento. Como se resolve essa questão? O rio Camboriú é o principal corpo de água que está contribuindo com esse processo. O tempo de residência dessa água é bem alto em função do sistema de circulação. Com o processo de engorda da praia isso vai modificar, mas a gente não sabe o que vai acontecer. Por isso a exigência do órgão ambiental monitorar para ver o que está acontecendo. A visão que tenho disso, conversei muito com o pessoal da prefeitura e da Emasa sobre isso…o que acontece? As pessoas têm a tendência de botar a culpa, procurar um culpado para isso. Antes de transferir o problema, procurar um culpado, tem que ver se está fazendo a sua parte. A população de Balneário Camboriú em particular – Camboriú não ainda porque não tem sistema de coleta de esgoto, mas Balneário tem e faz tempo, inclusive bem antes de Itajaí. A porcentagem de cobertura da rede não quer dizer em relação à coleta, porque esta tem que ser efetiva também. A prefeitura está melhorando a rede, mas a população tem que fazer a sua parte, porque quem produz essa matéria orgânica é a população. Na sua casa, no seu apartamento, todos tem que ter certeza de estarem ligados à rede de esgoto. A população precisa entender que obrigatoriamente e para o próprio bem dela, e da sobrevivência da cidade, ela tem que estar ligada à rede de esgoto. Só a partir deste momento, em que você estiver realmente ligado à rede de esgoto, você pode cobrar da prefeitura, da Emasa. Até não ter certeza disso, não tem direito de reclamar de nada, porque não está fazendo sua obrigação primária. A partir disso tem tratamento, futuramente acredito que a melhor solução será um emissário submarino para mandar isso para fora. Mas isso requer muito recurso e também tem que resolver a questão de Camboriú. Todo mundo interligado numa rede única, Balneário e Camboriú, e resolvendo as questões do resto da bacia, se é que tem outros problemas associados, fazer um bom tratamento desse esgoto e depois mandar para um emissário submarino. Seria a maneira mais correta de resolver isso. Mas isso requer mais tempo e bem mais investimentos. Depois disso aguardar para ver como o ambiente responde (…). Tem vários fatores atuando, vai ter a engorda agora, não se sabe o que vai acontecer, porque esses processos que ocorrem na enseada eles são devidos principalmente ao tipo de morfologia da enseada…o contorno da enseada, a inclinação, são vários processos atuando que permitem o desenvolvimento desses organismos. Com a engorda, o problema pode piorar ou pode melhorar…pode resolver, mas vai depender do que vai acontecer e lembrando que o sistema é dinâmico, vai acontecer a engorda, mas o ambiente vai continuar trabalhando…tem um primeiro momento com a engorda concluída e depois tem uma hidrodinâmica modificada que vai trabalhar com toda aquela areia, todo aquele sedimento que for largado lá e sabe Deus o que vai acontecer…são previsões bem difíceis de serem feitas.

“Todo aquele sedimento que for largado lá e sabe Deus o que vai acontecer…são previsões bem difíceis de serem feitas”


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