O arquiteto e urbanista Gabriel Gallarza é o responsável pelo projeto que está catalogando as casas de madeira de Balneário Camboriú. Ele comandou a conversa que ocorreu no Arquivo Histórico de Balneário Camboriú, durante uma edição especial do Café com História, na semana passada.

A catalogação foi apresentada aos moradores da cidade, em sua maioria idosos, que auxiliaram com informações sobre as casas e plantas arquitetônicas dos anos 60 – de residências à comércios e hotéis.
Gallarza explicou que o projeto faz parte do Observatório de Interações no Ambiente (OiA) e que atuam em Balneário e outras cidades com o movimento.

“O foco foi o resgate da paisagem, de uma arquitetura que ainda existe, principalmente no Centro de Balneário Camboriú, e que são muito emblemáticas, datadas dos anos 60. Consegui catalogar aproximadamente 60. Será feito um site onde o público poderá ver as casas e também faremos um roteiro a pé pelo Centro, onde fica a maioria dessas casas”, disse.
Gallarza também já catalogou praças de Balneário, estudou o mangue do Rio Camboriú e fez um levantamento sobre as árvores do município.
A reportagem do Página 3 acompanhou o Café com História e participou de algumas discussões sobre fotografias das casas catalogadas pelo arquiteto – há casas tanto no centro como também nos bairros, a exemplo do Pioneiros e Ariribá.
Há inclusive imóveis já adquiridos por construtoras de Balneário, que devem deixar de existir em breve.

Gallarza e os participantes do Café, em sua maioria moradores antigos da cidade que viram a história acontecer, discutiram sobre a variedade das casas – coloridas ou claras e construídas de formas diferentes.
“Há singelas e outras suntuosas, mas que representam a época – a casa de madeira da praia, que eram mais baratas propositalmente, pois eram para veranear”, analisou o arquiteto.
Uma das participantes destacou até mesmo que haviam casas de madeira que precisavam ser ‘lavadas’ porque juntavam fungos.
Uma das participantes foi Erotides Campos, que vivenciou a história de Balneário Camboriú e conhecia muitas das casas apresentadas por Gallarza, que eram de seus amigos ou até colegas de escola. Ela citou a casa que era de Erineu Bittencourt, com quem conviveu, e que ficava na Avenida Central.
“Eu moro na Rua 1.601 e eram só casas, muitas casas! É o progresso, foi o avanço, gera empregos na construção civil, mas é bacana rever e que as pessoas saibam como era. Mudou muito, hoje é outra cidade. Me orgulho em ter visto tudo isso acontecer, amo essa cidade”, comentou.
“Esse grande quebra-cabeças que é a história de uma cidade”
A diretora de Artes da Fundação Cultural de Balneário Camboriú, Lilian Martins, opinou que o projeto de Gallarza é importante para haver uma compreensão do desenvolvimento da cidade e o ‘contraste’ que há no Centro – com muitas casas de madeira e os prédios ao redor.

“Essa troca de experiência entre os moradores e a nova geração é muito frutífera. A memória funciona como um gatilho, às vezes um lembra um fragmento e isso desencadeia uma série de informações, e vamos montando esse grande quebra-cabeças que é a história de uma cidade”, disse.
Lilian acrescentou que a comunidade poderá ver o roteiro no site que será feito, perceber onde ficam as casas.
“Às vezes até passam na frente, mas não veem de fato, não percebem a diversidade cultural que Balneário Camboriú tem! Casas até com pé de fruta no quintal, no Centro de Balneário”, afirmou.
Vereadores opinam sobre a importância do projeto
Dois vereadores também participaram do Café, Eduardo Zanatta e André Meirinho.
Zanatta parabenizou o trabalho de Gallarza pelo levantamento e memória histórica que é muito importante em uma cidade como Balneário.
“Nossa cidade é muito dinâmica e tem como uma de suas matrizes a construção civil, isso acaba causando uma pressão imobiliária que tira do mapa pequenas residências, casas históricas e é uma política pública da Lei de Incentivo à Cultura, então parabenizo também a Fundação Cultural por apoiar esse tipo de iniciativa e, por falar em política pública, fica cada vez mais claro que a gente precisa de uma política de manutenção e conservação do nosso patrimônio histórico”, disse, citando a ex-casa de veraneio do presidente João Goulart, opinando que o local poderia se tornar um museu, mas que vai virar um prédio.
Meirinho opinou que o resgate é ‘muito importante’, assim como a participação dos moradores por irem ao Café com História e ajudarem no resgate da história de Balneário Camboriú através dessas casas antigas, que integram a cultura do município.
“Minha avó morou mais de 40 anos no Pioneiros, desde minha infância frequentei o local e é importante também conseguirmos preservar pelo menos alguma delas. O município deveria criar incentivos que compense economicamente aos proprietários, pois são imóveis importantes, que podem se tornar museus. Há o projeto de Patrimônio Cultural na Câmara e é importante que no futuro tenhamos esse diferencial, além da pujança econômica, dos prédios mais altos…”, pontuou.