Não acontece nada; pelo menos nada que me interesse, que me faça exultar o coração. Espero, espero sempre. Minha vida tem sido uma eterna expectativa de algum acontecimento grandioso – uma catástrofe, uma alegria extraordinária, qualquer coisa de sublime e de maravilhosamente belo.
Censuram-me ultimamente por ser pouco sociável. Realmente, foi-se o tempo em que me sentia à vontade na vida social. Como jornalista, os convites para os mais variados eventos chegavam quase que diariamente. E eu não os perdia. Participava deles com a alma repleta de inquietude e prazer.
Os anos passaram e com eles veio o recolhimento, quase um enclausuramento voluntário. Já não me seduz o mundo das fugazes aparências a que chamamos de vida social. A ambição de ocupar um lugar importante no que se designa por sociedade é-me completamente estranha.
Minha existência tem outra finalidade, que sou incapaz de definir com justeza; apenas sinto vagamente que vivo à espera de algo de inefavelmente belo, que um dia chegará quem sabe a concretizar-se. Essa maravilhosa e estranha sensação, foi de meu saudoso pai que a recebi; e, fato curioso, ela vive em mim com cada vez mais intensidade depois que, em 2013, o meu querido pai e mestre nos ensinamentos que me alargaram a visão de mundo, professor Pedro Ghislandi, partiu para outra dimensão. Será que ele vive tão profundamente em mim?
Encontro com diversas pessoas interessantes. Porém, encontros sem encanto, porque pouco ou nada têm a me dar. Meu espírito busca o essencial, e todas essas criaturas parecem aceitar tranquilamente a vida, ignorando o espanto e o terror que representam o sentir-se rodeado de um mundo desconhecido.
A existência me aparece como um caos de dor infinita. Como explicar esse fato estranho de que, sobre uma criatura feliz segundo o conceito terreno, como é o meu caso, venha ecoar de forma tão atroz a dor universal?
Perpetuamente, por sobre a face da terra, há criaturas sofrendo cruelmente, seja no corpo ou na alma. E esses padecimentos, essa penosa e ininterrupta tortura, carecem totalmente de sentido. Mas é esse o pensamento e a visão que teimam em me atormentar! E eu aqui, letárgico, a decorar o calabouço que me cabe com livros e almofadas…