- Publicidade -
17.9 C
Balneário Camboriú

As amizades e os terríveis mosquitos de Cochabamba

- Publicidade -
- Publicidade -

Amigo é como pedra preciosa, algo valioso que não se encontra assim, em qualquer esquina da vida. Esse é exatamente o ponto fundamental para quem se propõe a aventurar-se pelo mundo: fazer amizades. Nas condições em que eu viajava, de mochila, à base de carona e eventuais abrigos, é muito importante praticar ao máximo a cordialidade e a capacidade de aproximação com as pessoas.

E foi com o exercício diuturno desse dom que me dei bem em minha longa caminhada pela América do Sul. Conheci durante as minhas andanças dezenas de pessoas e várias delas acabaram me convidando para ficar em suas casas. Até na monumental residência do cônsul do Brasil em Georgetown, capital da Guiana Inglesa, eu fui convidado a ficar, permanecendo lá como hóspede durante 12 dias. Armei a barraca apenas algumas vezes.

E em outras oportunidades dormi em estações de trem, rodoviárias, em banco de praça…Eu levava na mochila, além da barraca, um saco de dormir, o que facilitava as coisas nas horas em que estava muito fatigado e sem disposição para o extenuante trabalho de armar a barraca.

E conheci gente de dezenas de nacionalidades, que como eu andarilhava pelo mundo em busca de aventura e conhecimento. Um deles me mostrou o passaporte: já havia passado por mais de 100 países e estava há 10 anos na estrada.

Alguns outros que conheci na estrada também deram-me guarida, como o então estudante de arquitetura na Universidad del Chile, na fascinante capital Santiago, o amável César Garcia, e o introvertido argentino Jorge Racciatti, cujo pai insistia para que ficasse morando em sua casa, em Buenos Aires. Até emprego queria me arranjar na sua empreitada para convencer-me a não ir embora.

São pessoas que guardo com carinho na memória e no coração, por raras que são. Somente na Guiana Francesa – onde enfrentei uma tempestade que quase levou a barraca comigo dentro – e na Bolívia, não consegui abrigo em lugar algum.

É notável, entretanto, a cordialidade do sofrido povo boliviano, que só não me deu guarida em suas casas por absoluta incapacidade física nas insalubres palhoças onde moram. A maioria dos 10 milhões de habitantes do país é composta de indígenas, mestiços, asiáticos e africanos, que sobrevivem em extrema pobreza, mas não esmorecem e lutam bravamente pelo pão de cada dia. Rostos marcados pelo sacrifício e pela dor, peles morenas abrasadas pelo sol escaldante que penetra até à alma.

Em Cochabamba, uma das maiores cidades bolivianas, enfiei-me no saco de dormir nas proximidades de uma praça, mas como sempre o inusitado era meu companheiro de viagem. Simplesmente não consegui dormir. Uns malditos e minúsculos mosquitos conseguiam atravessar o saco de dormir e me picavam insistentemente.

Para levar a cabo essa proeza, os terríveis mosquitinhos faziam antes uma articulada manobra aérea, cujos zunidos eram sonora e doloridamente audíveis no interior do saco de dormir, e arremetiam em bando, sem dó nem piedade, penetrando o reforçado material no qual me abrigava. Eles venceram! Não me restou outra alternativa senão, na escuridão da noite alta, seguir minha caminhada de aventura pelas tortuosas mas intrigantes estradas bolivianas.

Clique aqui para seguir o Página 3 no Instagram

Últimas do mesmo autor

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -