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As amizades e os terríveis mosquitos de Cochabamba

Amigo é como pedra preciosa, algo valioso que não se encontra assim, em qualquer esquina da vida. Esse é exatamente o ponto fundamental para quem se propõe a aventurar-se pelo mundo: fazer amizades. Nas condições em que eu viajava, de mochila, à base de carona e eventuais abrigos, é muito importante praticar ao máximo a cordialidade e a capacidade de aproximação com as pessoas.

E foi com o exercício diuturno desse dom que me dei bem em minha longa caminhada pela América do Sul. Conheci durante as minhas andanças dezenas de pessoas e várias delas acabaram me convidando para ficar em suas casas. Até na monumental residência do cônsul do Brasil em Georgetown, capital da Guiana Inglesa, eu fui convidado a ficar, permanecendo lá como hóspede durante 12 dias. Armei a barraca apenas algumas vezes.

E em outras oportunidades dormi em estações de trem, rodoviárias, em banco de praça…Eu levava na mochila, além da barraca, um saco de dormir, o que facilitava as coisas nas horas em que estava muito fatigado e sem disposição para o extenuante trabalho de armar a barraca.

E conheci gente de dezenas de nacionalidades, que como eu andarilhava pelo mundo em busca de aventura e conhecimento. Um deles me mostrou o passaporte: já havia passado por mais de 100 países e estava há 10 anos na estrada.

Alguns outros que conheci na estrada também deram-me guarida, como o então estudante de arquitetura na Universidad del Chile, na fascinante capital Santiago, o amável César Garcia, e o introvertido argentino Jorge Racciatti, cujo pai insistia para que ficasse morando em sua casa, em Buenos Aires. Até emprego queria me arranjar na sua empreitada para convencer-me a não ir embora.

São pessoas que guardo com carinho na memória e no coração, por raras que são. Somente na Guiana Francesa – onde enfrentei uma tempestade que quase levou a barraca comigo dentro – e na Bolívia, não consegui abrigo em lugar algum.

É notável, entretanto, a cordialidade do sofrido povo boliviano, que só não me deu guarida em suas casas por absoluta incapacidade física nas insalubres palhoças onde moram. A maioria dos 10 milhões de habitantes do país é composta de indígenas, mestiços, asiáticos e africanos, que sobrevivem em extrema pobreza, mas não esmorecem e lutam bravamente pelo pão de cada dia. Rostos marcados pelo sacrifício e pela dor, peles morenas abrasadas pelo sol escaldante que penetra até à alma.

Em Cochabamba, uma das maiores cidades bolivianas, enfiei-me no saco de dormir nas proximidades de uma praça, mas como sempre o inusitado era meu companheiro de viagem. Simplesmente não consegui dormir. Uns malditos e minúsculos mosquitos conseguiam atravessar o saco de dormir e me picavam insistentemente.

Para levar a cabo essa proeza, os terríveis mosquitinhos faziam antes uma articulada manobra aérea, cujos zunidos eram sonora e doloridamente audíveis no interior do saco de dormir, e arremetiam em bando, sem dó nem piedade, penetrando o reforçado material no qual me abrigava. Eles venceram! Não me restou outra alternativa senão, na escuridão da noite alta, seguir minha caminhada de aventura pelas tortuosas mas intrigantes estradas bolivianas.

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