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As palavras também guardam segredos

Aqueles que estudaram no Colégio Salesiano de Itajaí entre 1965 e 1975 certamente não esquecem do impagável padre Zeno Schweitzer. Era natural de nossa simpática e anestesiante vizinha Luiz Alves. À minha turma ele ministrou durante vários anos a disciplina de Geografia.

Logo que entrava na sala de aula era costume mandar abrir todas as janelas, fizesse sol ou chuva, frio ou calor. – Que cheiro de gambá é este, escancarem todas as janelas!!, dizia com ar sério e ao mesmo tempo de autêntica galhofa. Este era um ritual sagrado e cotidiano para ele. Naturalmente obedecíamos, diante da autoridade que representava.

O silêncio nas suas aulas era algo ensurdecedor. E ninguém ousava dar um pio sequer. Não que ele impusesse medo a nós, alunos em plena adolescência e por natureza um tanto quanto rebeldes. Mas o respeito que inspirava não nos dava margem a contrariar suas regras, que eram absolutamente cumpridas à risca.

Mas o que mais me intimidava – e acredito que à maioria – eram suas provas, todas com apresentação oral. E falar em público era algo que apavorava, principalmente àqueles mais tímidos, o que era o meu caso. Mesmo assim, dificilmente alguém reprovava em Geografia.

A sisudez característica do venerável prelado e professor, no entanto, contrastava com uma atividade extracurricular que padre Zeno exercia com maestria: era ele o responsável pela assiduamente frequentada sala de jogos do colégio.

O futebol de mesa – ou pebolim -, o tênis de mesa e os jogos de sinuca eram disputados arduamente e por vezes com enorme alarido entre nós estudantes, o que exigia a intervenção severa de padre Zeno para restabelecer a disciplina. Deliciosos eram estes momentos que desfrutávamos antes do início das aulas!

Uma ladainha que padre Zeno costumava repetir em suas aulas era a de que, na Austrália, havia cangurus que saltavam mais alto do que o Colégio Salesiano. Todos ficávamos impressionados com a informação e nossa imaginação corria solta. Como é que um canguru poderia pular tamanha altura?

Pois então! E o mistério ele manteve em segredo sempre, apesar das indagações frequentes que todos nós, curiosos com o inusitado fato, lhe fazíamos.

Somente no último ano de aulas a nossa turma finalmente obteve dele a resposta para tal façanha. – É claro que os cangurus pulam mais alto que o Colégio Salesiano, porque o Colégio não pula, afirmou irônico, dando em seguida uma saborosa gargalhada na apatetada cara de todos nós.

Mas aquilo que na época parecia ser uma simples piada, mais tarde mostrou ser mais um ensinamento do saudoso mestre padre Zeno Schweitzer, que na verdade queria nos revelar que não devemos apenas ler as palavras, mas interpretá-las no seu mais amplo sentido, pois também elas guardam os seus segredos!

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