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Aventura na selva amazônica

Quando vejo a situação de muitas rodovias no Brasil – se é que assim podem elas ser chamadas – lembro da viagem mais traumática que vivenciei. Era início dos anos 80 e eu resolvi botar uma mochila nas costas e sair por esse mundão em busca de aventura, conhecimento e luz. De carona, a pé, de trem, de carro, de ônibus e até pequenos aeroplanos atravessei a Cordilheira dos Andes e percorri durante seis meses de viagem nove países sul-americanos.

Vi muitas barbaridades em termos de estradas, mas nada se igualava à inacreditável realidade brasileira. Para se ter uma ideia, a Rodovia Transamazônica, obra faraônica projetada pela ditadura militar para integrar o Norte brasileiro com o resto do País, possui mais de 4 mil quilômetros e corta sete estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Grande parte não era pavimentada e em épocas chuvosas ficava intransitável. A situação hoje é praticamente a mesma; o desleixo e a incompetência de sucessivos governos selaram o monumento ao desperdício, lá, bem no meio da selva amazônica.

Mesmo assim consegui chegar aos destinos planejados, entre eles Belém do Pará. Naquela fantástica capital, o que mais apreciei foi a culinária, baseada nas culturas indígena, portuguesa e africana. Imagine os ingredientes vindos da exuberante natureza da Amazônia, como camarão, caranguejo, marisco, peixe, aves, caça – pato no tucupi é algo divino -, todos temperados com folhas, pimentas de cheiro e ervas. Delícia, mas já estou fugindo do tema central que são as rodovias.

Pois então, o pesadelo ainda estava por vir. Continuando a viagem, acabei em Porto Velho, capital de Rondônia. Como desejava entrar na Bolívia e subir pelos países sul-americanos até a América Central, peguei um ônibus de Porto Velho a Guajará-Mirim, divisa com a Bolívia. Pouco mais de 300 quilômetros margeando a epopeica estrada de ferro Madeira-Mamoré, mais conhecida como a Ferrovia do Diabo. Milhares de trabalhadores morreram durante a sua construção no início do século passado, a maioria por doenças e alguns atacados por onças e outros bichos da floresta amazônica.

Adentrei no ônibus em Porto Velho e lá fomos, carro lotado, em direção a Guajará-Mirim. Era época das chuvas. Estrada de barro, muita lama, atoleiros, enfim, um fim de mundo para alguém vindo do Sul maravilha. Para seguir em frente diante da situação extrema um caminhão era amarrado ao outro, que se amarravam ao ônibus para, juntos, tentarem atravessar o imenso lodaçal. Carros de passeio, nem pensar. Meu Deus, onde fui me meter! E os mosquitos não davam trégua.

Eram apenas 300 e tantos quilômetros de viagem, mas 14 horas já haviam se passado. Um padeiro que pretendia levar um saco de pães a uma cidadezinha no meio do caminho não teve outro remédio senão distribui-los aos passageiros famintos. Anoiteceu e o pior aconteceu: ficamos irremediavelmente atolados. A única salvação era chamar um trator em uma localidade a cerca de cinco quilômetros. O motorista avisou: não saiam porque no meio dessa selva tem muita onça, cobras e sabe-se lá que animais perigosos.

E eu lá vou ficar parado, no meio da selva, sendo comido por mosquitos, com fome, sede, suando até a sola dos pés!!! Resolvi bancar o herói e avisei: quem tiver coragem, siga-me. E saí do ônibus, acompanhado por dois outros corajosos passageiros. A lama chegava ao joelho. A escuridão era total, tínhamos apenas uma pequena lanterna com as pilhas no limite. O rosnar de onças e o sibilar de cobras, entre outras manifestações animalescas foram ouvidos no caminho.

Medo? Imaginação nossa? No fundo estávamos apavorados, mas fomos adiante, olhos arregalados tentando vislumbrar tudo ao redor. Tenebroso. Em frente!! Temos que seguir senão acabaremos comidos por onças do mato. Já amanhecendo, até que enfim, chegamos à tal localidade e conseguimos o trator. Que alívio, já mal me aguentava em pé com o cansaço que tomava conta do corpo e até da alma. O pesadelo havia terminado. Depois de 33 horas de viagem, chegávamos enfim a Guajará-mirim, sãos e salvos.

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