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Balneário Camboriú
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Por outra dessa nunca mais quero passar

A década de 70 agonizava quando eu e o então inseparável amigo Magru Floriano embarcamos para Curitiba. Extenuados da peregrinação pelos mais variados recantos de Itajaí e região, a ideia era aventurar em outras plagas. A paradisíaca Ilha do Mel foi o destino escolhido. Localizada no litoral paranaense, a 15 milhas do Porto de Paranaguá, ela é amplamente visitada por turistas ávidos em explorar suas belezas naturais, sua fauna e a deslumbrante flora composta de sistemas de restinga e floresta atlântica. Não há ruas ou estradas, só trilhas.

Magru já havia desbravado a Ilha durante os anos em que morou na capital paranaense para cursar biblioteconomia. Ficamos hospedados na casa de um ex-companheiro dele da faculdade e precisaríamos acordar bem cedo no dia seguinte. Só havia na época uma única linha diária de ônibus para Paranaguá, que partia religiosamente às 7 horas da manhã. De Paranaguá tomaríamos então um barco que nos levaria até a Ilha do Mel.

Mas quem disse que a viagem se concretizaria. Não acordamos a tempo e acabamos por perder o ônibus. Frustrados, saímos dali e passamos a perambular pelas ruas e avenidas de Curitiba. Não, nossa aventura não poderia se perder assim, em vão.

De repente, surgiu a alternativa salvadora. Vamos conhecer o Parque Estadual de Vila Velha, um sítio geológico a 100 Km de Curitiba. Genial! E lá fomos nós, já conformados com a mudança de itinerário e até felizes com a oportunidade de flanar pelos quilômetros de formações rochosas, crateras e verificar de perto as impressionantes esculturas naturais esculpidas ao longo do tempo pelas erosões pluviais e pelo vento.

Movidos pela insaciável curiosidade, nem bem chegamos a Vila Velha, sem contar tempo nos embrenhamos pelos intermináveis caminhos rochosos que descortinavam-se no horizonte. Não tínhamos limites nem bússola. Fomos em frente, encantados pelas variadas figuras esculpidas nas pedras e pelo desconhecido.

O final da tarde se anunciava e resolvemos regressar. Aí nos demos conta do imprevisível que nos aguardava. Não mais sabíamos o caminho de volta. Andávamos, andávamos e nada de achar a saída. Estávamos literalmente perdidos. Caía a noite e nós, já assustados diante da situação, no meio dos rochedos e de suas figuras já agora assombrosas, caminhávamos a esmo. E com a noite avançando, o frio foi chegando.

Éramos como náufragos à deriva. Um sinalizador, era disto que precisávamos. E não deu outra. Subimos em um alto rochedo, tiramos ambos as camisetas e colocamos fogo nelas. Um clarão se abriu no meio da noite escura. Algum tempo depois, o alívio. Dois guardas que cuidavam de Vila Velha finalmente surgiram e acabaram com o desespero que assomava nossas almas. Estávamos salvos!

Mas a aventura não terminaria aí. Já fora do Parque, não tínhamos como voltar a Curitiba. Pegamos o asfalto e seguimos em direção às luzes que, ao longe, tomavam conta da paisagem. Era a cidade de Ponta Grossa que vislumbrávamos. Mas, tudo bem, o pior já tinha passado.

Às margens da rodovia fomos caminhando, o asfalto formava subidas e descidas, e lá íamos nós a passos largos. Quando parecia que a cidade se aproximava, vinha mais uma subida, e mais uma descida. Que maldição! Essa cidade não chega nunca! E sem camisa, parecíamos andarilhos maltrapilhos a vagar pela noite escura.

E não é que a sorte estava do nosso lado! Extremamente cansados de tanto caminhar, de repente nos aparece, à beira da estrada, um ônibus estacionado e, ao lado dele, o motorista trocando o pneu que havia furado. Os passageiros já tinham sido embarcados em outro veículo e aquele iria retornar a Curitiba.

Contamos a nossa história ao motorista e, de carona, como únicos e privilegiados passageiros, viajamos felizes da vida. Passava da meia noite quando chegávamos, aliviados e descamisados, à capital paranaense. Ufa!

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