Recentemente assistimos atônitos a situação dos povos Yanomamis.
Destruição do território, fome, doenças e mortes.
As crianças são, neste cenário , as mais vulneráveis.
Então, o que significa a morte destas crianças?
Além de total ausência de humanidade, a morte das crianças Yanomamis, representa o extermínio de um povo, um ataque brutal à sua identidade. Um ataque no presente, que atinge o futuro e a nossa ancestralidade.
Falo a partir deste recorte étnico identitário, no entanto, as crianças e suas infâncias são cotidianamente afetadas pelo modo como os adultos as veem e as conceitualizam. Afetadas pelo sistema que as tem empurrado para o abismo.
Vivemos um período de negligência e desmonte da imagem de criança e dos seus direitos e, portanto, das responsabilidades que temos mediante elas.
O retrocesso na cobertura das vacinas, o aumento da violência doméstica, a precarização dos espaços e tempos educativos e a fome, são alguns exemplos dos problemas que têm afetado diretamente as crianças e as suas infâncias em todos recantos brasileiros.
Sim, em todos! Inclusive em Santa Catarina e nas cidades que se orgulham dos processos de desenvolvimento, da valorização do metro quadrado, dos “arranha céus”.
Nestes contextos, não é a falta de dinheiro que reduz o tempo de escola, do brincar, a qualidade da infraestrutura – é a negligência.
A falta de entendimento do que o processo de cuidado e educação podem assegurar às crianças, às suas famílias e a sociedade como um todo.
Aquilombar as crianças e as suas infâncias é urgente, sobretudo no sentido e no processo de aprendizagem com os nossos ancestrais.
Aquilombar para proteger, para assegurar que vivam livres. Aquilombar para assegurar uma comunidade de pertencimento múltiplos e identitários.
Um local de afeto para que os pequenos convivam num ambiente de fortes relações com a natureza, com a diversidade cultural e étnica de nosso povo. Para que experiências em um clima de brincos, acalantos e encantos.
O momento nos convoca a resistir, mas também a criar novos percursos e espaços de reconexão com a nossa ancestralidade – aprendendo a enxergar as crianças e suas infâncias como a nossa mais profunda responsabilidade.
