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Balneário Camboriú
Marisa Zanoni Fernandes
Marisa Zanoni Fernandes
Ex-vereadora em Balneário Camboriú, é doutora em educação e professora universitária.
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Desobediências

Escrever me tranquiliza.

Antes mesmo de ser estudante, eu rabiscava paredes. Marcava territórios com carvão e com eles corava as sombras do não saber. Lição que não esqueci.

Rabiscar a vida tem lá suas dores. Mexe nas profundezas. As palavras em mim são desobedientes, brotam livres.  Vingam como ervas daninhas junto às sementes do bem escrito.

Ouço a mim mesma quando escrevo. E quando as coisas não fazem sentido, receosa, reinvento o escrito — será que acharão esquisito? Como em uma batalha, então, resisto. Escrevo como gesto de desobediência subversiva, continuo a rabiscar, a invadir os espaços buscando centelhar vida. Deixo marcas como processo de não me perder. Um encontrar-se no jogo mágico de letras e sentidos, que, confesso, às vezes só fazem sentido em mim.

Me aventuro nesse nascedouro de abecedários como menina sem rótulos. Rabisco o pensamento e deixo-me seduzir pelos traços que se enlaçam em uma tessitura de pele. Um todo sedutor que compõe uma variação de posições e misturas que alternam substancialmente aquilo que eu acreditava saber. Aquilo que eu acreditava ser. Aquilo que eu acreditava escrever.

E você — acaso escreve? Já rabiscou alguma parede? Pois me parece um exercício interessante. A cada traço podemos encontrar uma identidade, esconder um segredo — como naquele velho diário de chaves e códigos secretos. Uma particularidade. Um jeito de espiar a vida, uma aventura um tanto atrevida. Afinal, esse é um terreno só de feras?

Não sei você, a mim parece que escrever pode ser um caminho de descoberta de si e do outro, das paisagens, do contexto, do amor, da raiva, do saber e do desconhecer. Ouço muito que escrever é difícil — e é! Mas como tudo começa de um rabisco — me arisco.

Acertar e errar, como contingência da vida, não é trágico. Mantenho o exercício e, às vezes em segredo, o meu modo errado de dar vida às palavras. Outras vezes, coloco-as ao sol para que livres rasurem antigos caminhos.

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