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Balneário Camboriú
Marisa Zanoni Fernandes
Marisa Zanoni Fernandes
Ex-vereadora em Balneário Camboriú, é doutora em educação e professora universitária.
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Um menino e uma escuta

É noite de segunda-feira, 05 de dezembro de 2022. O tempo está nublado e quente após intensas chuvas que castigaram o povo catarinense nesses últimos dias. São 21h18 minutos. Estou sentada na minha mesa de trabalho fechando a última aula do semestre que acontecerá amanhã.

Final de ano – um ano de intensos desafios e emoções. Eleições e Copa do Mundo de futebol. Hoje o Brasil jogou – ganhou de 4 a 1 da Coreia do Sul. Mais uma vitória – e eu tentando usar nossa bandeira – nunca imaginei que teria esse preconceito, mas é fato que nestes estranhos tempos, as cores verde amarelas remetem a uma sensação nada boa.

Mas, não é disso que minha mente e meus ouvidos se ocupam nesse momento. Há uma sonoridade na rua que soa como música aos meus ouvidos. O que será? De onde veem?

A porta aberta da sacada próxima à minha mesa de trabalho, é perfeita para captar essa sonoridade – nestas noites quentes também ouço risos, falas, brincadeiras de rua … Não são de muitos – apenas um. Ele, um menino que tenho reparado há poucos dias. Morador de uma das tantas quitinetes em frente à minha casa. De pele clara e cabelos pretos, aparentando 3 a 4 anos de idade, sempre que o vejo está de bermuda, regata e chinelos de dedo. Ele brinca com seus carrinhos pela calçada e hoje o vi com uma bicicleta.

Acompanhado por seus pais –aparentemente jovens– ele é a única criança que vejo e ouço nesta hora e por essas bandas. Confesso que ouvi-lo brincar me causa uma nostalgia profunda. Talvez por ser raro – pois essa rua já foi tomada e ocupada por muitas crianças. Há 30 anos o movimento de crianças era intenso e alegre. Isso, vocês não fazem ideia, como me faz uma falta imensa.

Sou movida por uma crença de que as crianças jogando e brincando, ocupando as ruas e praças, promovem vida e sentidos. Desafiam o acaso, o inusitado, o inesperado e enchem de magia qualquer canto. Sinto falta desse agito de vida e desse sopro de paz que circula entre os pequenos. A inteligência que rege suas ações e convicções sobre o contexto e a realidade.

Olho, também para os pais e vejo jovens como eu outrora, que a seu modo, constroem o papel de maternagem e paternagem, que buscam nessa “Dubai” realizar os sonhos de prosperar, ter emprego, casa e condições melhores para seus filhos. Eles vêm de longe e ficam perto da dura realidade –que distante dos familiares, muitas das vezes não encontram vaga nas escolas públicas, pagam aluguel caro e com precárias condições– mas, são embalados pelas ondas do mar da esperança.

Torço por eles, e sei na pele como isso funciona ou não funciona. Continuo a anunciar para meus alunos –futuros professores de crianças– que só haverá um caminho –entrarmos na sintonia das vozes das crianças que enfeitam a vida como magia de Natal– que brilham e saltitam como luzes e acenam um pedido de espaço, de chão e afeto.

É tempo de olhar para elas e para nós. De ouvir as sonoridades que invadem nossa mente e, quem sabe, deixar que se enraízem no nosso corpo inteiro.

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