“A vida é pra ser vivida e vivida nas suas mais diferentes formas. É neste sentido que nós temos que romper com os preconceitos sociais. Nós somos preconceituosos, a sociedade é preconceituosa. Que essa Semana da Diversidade possa mostrar para essa linda cidade que nós temos espaço para todos. Uma cidade como a nossa não pode viver como no passado. Precisamos reconhecer o direito de todos, independente da opinião do outro”.
Com esta abertura, em maio de 2013, levei à tribuna da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú a importância da Semana Municipal de Combate à LGBTFobia. Foi a primeira vez que a bandeira com as cores do arco-íris esteve presente em uma sessão legislativa.
Militantes pela diversidade acompanharam a sessão e, também pela primeira vez, dois representantes do coletivo tiveram a oportunidade de participar do “Tema Livre”, ocupando a tribuna pública para explanarem sobre a homofobia, lesbofobia e transfobia.
O mandato de vereadora que exerci (2013-2016) contava com um Fórum pela Diversidade, reunindo o grupo, periodicamente, no Legislativo, para discutir e planejar ações contra o preconceito em âmbito local. A realização da “Semana” foi uma das principais atividades definidas coletivamente.
Por muitas vezes retornei com o tema na tribuna. Infelizmente, em muitos destes momentos para falar sobre a violência explícita aos LGBTQIA+. O movimento, que nasceu com a sigla GLS, busca justamente lutar pelos direitos e inclusão de pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero. Ao longo dos anos, o movimento passou por transformações e passou a incluir pessoas não heterossexuais e não cisgênero. Por conta disso, novas letras foram incluídas em sua sigla e dúvidas surgiram quanto ao significado de cada uma delas.
Mas o grande momento, e palco para manifestações, sempre foi a Parada da Diversidade, nos moldes do que acontece em muitos outros municípios brasileiros com capilaridade turística. Aliás, Balneário Camboriú age na contramão de Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo ao não oferecer à Parada o destaque merecido no Calendário de Eventos e em seus meios de comunicação social.
Através do nosso mandato, em 2013, articulamos um debate amplo entre os organizadores com o Poder Público. Foram diversas audiências com Secretaria de Turismo, Segurança Pública, entre outras pastas. Ressalto aqui a atenção que setores do turismo, sindicatos, artistas e também a OAB concediam aos debates, fortalecendo a causa. E um agradecimento especial à imprensa (local, estadual e nacional) que pautou estes enfrentamentos, cobrindo o evento.
De 2013 aos dias atuais, foram intensos desafios. A organização acionou o Ministério Público para garantir a realização. A decisão teve por base o princípio da igualdade e foi dada em resposta a um mandado de segurança. O grupo inovou com a Associação da Parada da Diversidade atuando de maneira cada vez mais integrada, e tivemos rodas de conversa e exibição de filmes em parceria com o CINERAMA BC.
Chegamos à oitava edição do evento. Neste ano a concentração acontece na altura da rua 2000, nas areias da Praia Central, a partir das 14h. A caminhada inicia na Av. Atlântica as 16h rumo a Roda Gigante. Diferente de anos anteriores, as 2 pistas da avenida serão liberadas para os participantes, sendo bloqueadas e liberadas conforme a caminhada for passando.
O ato é festivo mas cheio de significados. O legado da Parada é a reflexão constante que deve ser feita no dia a dia da cidade. A discriminação baseada na orientação sexual existe nos ambientes de trabalho, na convivência familiar, nas ruas e nas redes sociais. A realidade catarinense nos impõe responsabilidade: Santa Catarina é o quarto Estado brasileiro com mais registros de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis, intersexuais e assexuais, mostra o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2021. O levantamento conta com dados referentes ao ano de 2020.
A LGBTFobia tem que ser combatida e prevenida. Faz sempre falta e muito o apoio tão prometido à comunidade LGBT de Balneário Camboriú por parte dos órgãos governamentais. As promessas foram feitas diversas vezes durante a conferência LGBT, ainda em 2012 no legislativo municipal, mas não foram cumpridas .
A falta de incentivo deixou a Parada com pouca estrutura. Mas é preciso homenagear aqui os apoios espontâneos da sociedade civil, o exemplo de força das “Mães da Diversidade”, conselheiros da saúde, cultura, assistência social e educação que, também de forma independente somam à luta por direitos humanos, e tantas guerreiras e guerreiros persistentes. Nem com a falta de apoio deixaram de acreditar no sonho!
DJs, bailarinos, produtores, drags, travestis e transexuais apresentam ao público o universo colorido e resistente do movimento. Há no município diversas casas noturnas e bares que recebem e incluem os LGBTs: Dled, Duo, Lit, entre outras que historicamente marcaram a cena eletrônica de Balneário Camboriú.Enfrentamos uma pauta que para muitos conservadores é vista como “pauta difícil ou ruim”. Assumi este compromisso não como uma “bandeira ou causa política” mas muito mais do que isso, é uma missão de vida! Seguirei lutando para incluir e defender aqueles que são marginalizados ou/e excluídos. Compartilho aqui a essência do meu aprendizado com todos vocês: mães, filhos, simpatizantes, curiosos, seres que aprendem com o movimento que não pede “nem mais, nem menos”: apenas respeito! Já dizia Paulo Freire: “Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente.” E o que afeta, incomoda ou exclui gente, tem e terá meu olhar mais atento e sensível.