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UMIBOZU – O MONSTRO MARINHO JAPONÊS

Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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O mar é um repositório infinito de mitos e lendas. Através dos tempos, a fúria dos mares, aparições de animais inexplicáveis e o mistério das profundezas alimentou a imaginação dos marinheiros ao longo dos séculos. Histórias foram contadas e registradas; e sobre elas, versões recriadas atravessaram os oceanos alimentando a mitologia e o folclore de países distantes.

Desta forma, monstros marinhos não são incomuns nos ditos populares dos povos que vivem à beira mar: o Kraken, Cetus, as Sereias, Leviatã, Jormungandr (a Serpente de Midgard), Caríbdis, Cila, Ipubiara, a Hidra de Lerna… Todos em suas devidas épocas, apresentam algumas semelhanças que nos remetem as mais remotas lembranças das civilizações. Mas dentre todas as histórias contadas, algumas são verdadeiramente estranhas. É o caso do monstro japonês conhecido como UMIBOZU (Umi-Bôzu, Umi-Nyudo ou Umi-Hoshi), um ser marinho em forma humanoide, que emerge das profundezas para afundar os navios e inquirir os humanos.

Existem diversas variantes para a descrição deste ser e os motivos de sua existência. Muitas vezes descrito com um humanoide de cor negra, careca, sem boca e com olhos enormes, chegando a atingir 30 metros de altura ou mais. Em outras ocasiões, ele é descrito como um espectro negro de tamanho normal, que surge no convés dos navios e que as vezes assume a aparência de um parente de alguns dos marinheiros. Muitos navegantes dizem que seu único objetivo é destruir as embarcações, tragando-as para a profundeza dos mares através de redemoinhos. Outras versões o descrevem com olhos de fogo e uma enorme boca. Seja como for, seus relatos no Japão já ocorrem a pelo menos três séculos.

A referência mais antiga que temos de um Umibozu vem do Período Edo (1603-1868). Um dos contos mais conhecidos deste período narra a viagem do marinheiro Kuwana, que ignorou a regra de não navegar sozinho e avançou mar adentro em seu barco de pesca. Longe da costa, o mar tornou-se agitado e uma tempestade surgiu muito rapidamente. Em poucos instantes, uma enorme careca negra emergiu das águas e o ficou observando estático. Existe um ditado japonês que diz: caso se depare com um nyudo (monstro careca), mantenha a calma e responda suas perguntas sem medo. E foi o que Kuwana fez. Ficou de pé em seu convés olhando sem medo a criatura, quando escutou-a indagar: Você vê algo de assustador em minha forma? Kuwana olhou despretensiosamente e respondeu: Não! Não encontro nada de assustador em sua aparência. E assim a turbulência do mar diminuiu e o marinheiro seguiu sua viagem. Ao olhar para trás, pode ainda observar Umibozu submergir lentamente para as profundezas.

Existem registros de várias épocas em cartórios no Japão, de marinheiro que dizem ter visto a criatura. Alguns deles o descrevem com enormes tentáculos enquanto outros acrescentam longos braços com os quais destroem as embarcações. Alguns marinheiros dizem que, ao invés de fazer uma pergunta, a criatura simplesmente solicita comida ou saquê ao seu capitão. Seja como for, todos são unânimes em apontar sua careca negra e reluzente, e a ausência de qualquer tipo de roupa. 

Também existem relatos que o aproximam da aparência de um monge budista, por surgir como um espectro negro no navio, de cabeça baixa e proferindo uma fala em tom baixo que mais se assemelha a um mantra budista. Por este motivo, muitas vezes são chamados de “monges marinhos”. Alguns acreditam que os Umibozu surgiram em decorrência de um naufrágio onde diversos monges morreram afogados. Devido a sua morte terrível, os espíritos desses monges tornaram-se seres errantes. 

Comunidades pesqueiras do Japão costumam acrescentar detalhes curiosos nos contos folclóricos desta estranha criatura. Dizem que a oferta de tabaco acalma os Umibozu, e que muitos marinheiros já conseguiram escapar com vida por carregarem fumo consigo. Outros dizem que a criatura pode pedir um barril a tripulação com o intuito de recolher água do mar para despeja-la dentro do navio até que este afunde; e que entregar um barril sem fundo seria uma chance de escapar com vida. Em algumas comunidades, ainda hoje costuma-se sacrificar alguns peixes da pesca como oferenda aos deuses do mar, com medo que este lhes envie um Umibozu. Seja como for, o Umibozu é parte permanente do folclore japonês, e continua vivo na mentalidade das populações litorâneas e ribeirinhas.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e editor da revista Gilgamesh. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a página: (https://www.revistagilgamesh.com.br)  

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