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Balneário Camboriú
Céres Fabiana Felski
Céres Fabiana Felskihttp://www.ceresfelski.com.br
Médica formada pela Universidade Federal de Santa Catarina em 1991, atuando na rede pública de Balneário Camboriú há 21 anos. Escritora, apaixonada por educação em saúde e literatura. Lançou romances educativos sobre insuficiência renal crônica, hemodialise, diabetes tipo 1 (insulinodependente), diabetes 2 (não insulinodependente), além de livros de poesia. Blogueira
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“Você tem noção do que você está fazendo?”

Eu sempre fui péssima desenhista. Sabe aqueles trabalhinhos de escola que tem que fazer desenho? Eu sempre tirei notas baixas porque definitivamente este nunca foi o meu talento. Nem desenhar, nem pintar. Chegava a me dar câimbra nos braços tentando fazer os detalhes, tentando pintar com a perfeição que meus colegas conseguiam. O meu desenho sempre ficava riscado, por mais que eu me esforçasse, e olha que não foram poucas as tentativas de fazer algo ao menos decente.

Lógico que, como criança, sempre fui teimosa (não que não seja mais -nem criança, nem teimosa- rsrsrs). E continuei tentando copiar desenhos que me parecessem mais fáceis, afinal eu tinha que ser capaz de fazer algo minimamente aceitável. E um dia, depois de uma aula de história, fiquei em casa tentando desenhar aquele ventilador estranho que tinha sido mostrado na aula como símbolo de regime de governo.

Para minha infelicidade, este foi o único desenho que consegui reproduzir. Não vou dizer que a contento, porque exatamente neste dia meu avô estava em nossa casa e quase apanhei dele por isso. Naquele dia tive a melhor aula de história de minha vida, quando meu avô, ex-combatente, contou sobre sua ida para a segunda guerra mundial, onde lutou na Itália junto com os demais pracinhas brasileiros, contra o regime totalitário de Adolf Hitler. Nunca vou esquecer tudo o que ouvi dele. Sobre os dias de tristeza, em que perdiam combatentes brasileiros, sobre as agruras de viver em tempos de guerra.

Tenho vívida em minha memória a imagem dos olhos cansados e tristes de meu avô rememorando os fatos. Lembro do semblante marejado, do pulso firme, da postura tensa de alguém que revivia um filme de terror.

Depois disso, várias vezes ouvi histórias dele da guerra, mas nenhuma me marcou tanto quanto a daquele dia. Ainda hoje consigo ouvir a voz dele quando me surpreendeu desenhando a suástica: “Você tem noção do que você está fazendo?”. E eu não tinha a menor noção. Eu não conhecia a história.

Hoje, mais de 40 anos depois, ele não está mais aqui entre nós, mas ainda ouço a voz dele e, ultimamente, com muito mais frequência. Queria que todos pudessem ouvir o mesmo grito: “Vocês tem noção do que estão fazendo?”.

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