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Balneário Camboriú
Raul Tartarotti
Raul Tartarotti
Engenheiro Biomédico e cronista.
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A máquina do tempo

Através dos olhos do artista posso ver a natureza e a existência dos homens em quadros e esculturas, mas com a máquina do tempo a experiência se torna inigualável. Com ela me transporto para onde eu quiser, e posso permanecer o tempo que me apetecer.

Escolhi o ano de 1380, estou na Irlanda do Norte, mais precisamente perto da Calçada do Gigante. Uma família muito pobre me acolhe em sua casa, e estamos jantando à luz de velas. A mesa de refeições é feita de tábuas longas e grossas, as cadeiras de madeira não têm encostos, eles me oferecem para jantar pão com sopa de batata. Lá fora faz -10 graus, e nas janelas de madeira cheias de frestas, correm ventos gelados.

Todas as épocas têm suas dificuldades e facilidades, desenvolvidas dentro das possibilidades e ideias de cada uma, o que não falta é aconchego, calor humano e atenção a um estranho viajante.

Num breve fechar de olhos, salto para 9 de janeiro de 1822, mais precisamente para dentro do salão principal do Paço Imperial, localizado na Praça Marechal Deodoro, no centro do Rio de Janeiro. Ali, Dom Pedro I está lendo uma carta que contém 8.000 assinaturas, pedindo que ele permaneça no Brasil. Logo após a leitura, ele se desloca à sacada e diz para o povo: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico”.

Por vezes estar presente ao evento, se torna a única forma de conhecer a história real, e assim entender melhor como se construíram novos caminhos.

Nesse instante a máquina me leva a 1505, exatamente no ateliê de Leonardo da Vinci. Ele está me explicando como irá pintar a Batalha de Anghiari, pelo Estandarte: “Primeiro você pinta a fumaça da artilharia, mescla no ar com a poeira levantada pela agitação dos cavalos. Deixe o ar repleto de setas, algumas atiradas para cima, outras caindo, e outras voando em linha reta. As balas da artilharia deixarão para trás uma trilha de fumaça. Pinte um cavalo arrastando o cadáver de seu cavaleiro. Faça os subjugados e derrotados pálidos, com as sobrancelhas levantadas e enrugadas, e represente alguns chorando com suas bocas escancaradas e em fuga”.

Daqui não penso sair tão cedo, mas ele ficará 18 meses pintando, deixo registrado meu lamento em perder essa aula.

Recordar é regar a memória, pois construímos um passado que ficou guardado em algum lugar de nossas almas, talvez lentas e rasgadas, porém vivas e fortes para transbordar de emoção e valor, ao desenhar novamente um passo onde sentimos uma singela presença de pertencer à força que nos leva ao próximo amanhecer.

Todos somos guardiões de nosso tempo, e o reservamos na mente junto às experiências sentidas e vividas a cada curva de nossa caminhada.

Estou cansado, já são 3h da manhã, vou fechar minha máquina do tempo.
Meu livro. Amanhã acordo cedo, tenho novas viagens para fazer.

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