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Balneário Camboriú
Raul Tartarotti
Raul Tartarotti
Engenheiro Biomédico e cronista.
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A teoria do Iceberg

Na cama que me deito, o conforto é a base da atração, por vezes está desarrumada, outras tantas, não arrumo.

Certo dia me peguei pensando como seria possível um pequeno avião, somente com uma asa, voar depois de uma reta na pista de decolagem, talvez com uma nobre ajuda.

A força da pequena atriz japonesa cadeirante, de apenas 13 anos, que abriu os jogos paralímpicos Tokyo 2020, conseguiu a façanha de voar com uma asa, por meio dos ventos, e de seus amigos no entorno.

Com o tema Ventos de Mudança, o espetáculo de abertura contou com dançarinos que representaram aviões – cada um com uma determinada deficiência e dificuldade, mas todos com a possibilidade de alçar voos.

Somente porque não temos toda habilidade dos mais preparados, dos que tem capacidades acima das médias, não temos o direito de ganhar um beijo roubado, ou desfrutar dos prazeres da felicidade a que todos desfrutam?

Ninguém tem problema, tem uma condição de vida, cabe a nós fazermos todas as criaturas, serem as mais felizes do mundo, e nunca nos envergonharmos do que somos e queremos. 

O que sempre deixamos aparente, serviu como analogia ao que o cineasta Ernest Hemingway escreveu, “A teoria do Iceberg”, onde destacou as implicações simbólicas da literatura e fez uso da ação física para fornecer uma interpretação da natureza da existência humana.

A beleza do movimento de um iceberg é devido a apenas um oitavo do que está acima da água. Somente esta parte brilha ao sol: há sete oitavos submersos, que robustecem o iceberg.

Buscar em sua essência, habilidades na qualidade de estar vivo, e mostrar através da rotina, o que seu 1/8 pode ser seu melhor, são os segredos do que corre nas veias. 

Se apenas nosso cotidiano passar a ser a única forma de nos acordar pela amanhã, não teremos mais o sonho de viver uma vida, atrás e na frente de tudo que se passa ao lado, na pressa do desejo de viver mais um momento que valha a pena externar, e repetir o que me construiu, através das mãos secas pelo tempo, calejadas por histórias que ouvimos, lamentosas pelas duras batalhas que vencemos.

Talvez possamos buscar sentido em nossa construção de gente com exemplos nobres como de Jakob Fugger, que fundou o “Fuggerei”, em 1521, um complexo residencial, dedicado aos necessitados da cidade Alemã de Augsburg.

O local abriga 150 pessoas em casas pitorescas, cujo aluguel é o mesmo desde o século 16, cerca de R$3,20 ao ano.

Nesse templo da fraternidade, com direito a museu e um bunker construídos na segunda Guerra Mundial, Hemingway não poderia descrever como a um célebre conto de uma linha, que diz “Vende-se: sapatos de bebê nunca usados”. 

Lá não se perdeu os que ali foram gerados, não se deixou abandonar suas almas mais gêmeas do que um par de olhos, marejados pelo clamor de um teto e um lugar aquecido para dormir.

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