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20.3 C
Balneário Camboriú
Raul Tartarotti
Raul Tartarotti
Engenheiro Biomédico e cronista.
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Sociabilidade Contemporânea

Reconstruir uma história familiar pode levar décadas, ou milênios como alguns povos estão tentando em regiões nem tão inóspitas como imaginamos.

Nossos povos latinos sequelados e sofridos durante longos genocídios, devido a propósitos unicamente econômicos, se desfizeram por medo e morte, e caso não se omitissem da violência opressora, correriam o risco de extermínio.

Ficamos intimamente ligados às pessoas e aos lugares, ao país, à língua que adotamos, e desejamos ficar ali para sempre, por isso o mal é intenso quando nos tiram os laços construídos em nossa comunidade.

É lamentável a dor sofrida pelas famílias pertencentes à comunidade Selk’nam, que tentam viver, após um século, na Terra do Fogo, como povo indígena, com seus poucos sobreviventes, sem que o genocídio fosse abordado na Argentina e no Chile, o que facilitaria o seu reconhecimento como descendentes dessa raça indígena.

A história desse povo remonta a 10 mil anos, desde que se estabeleceram na “finis terrae”, chamada Terra do Fogo pelo navegador português, Fernão de Magalhães, em homenagem às chamas e fumaças feitas pelos Selk’nam, avistadas na passagem marítima que ganhou seu nome, Estreito de Magalhães.

Não muito distante de lá, no Brasil, nossos índios são lembrados no palco do teatro do Schauspielhaus Zurich, em Zurique na Suíça, onde a peça Macbeth de Shakespeare foi adaptada com requintes modernos, e apresenta que justamente a Suíça é um dos países que mais compra ouro no Brasil.

A peça é uma mistura de tempos, onde o tirano Macbeth faz parte de uma camarilha de homens ébrios por poder e ouro, metal nobre proveniente dos garimpos ilícitos, e no Brasil misturado ao sangue dos Yanomamis.

Conforme relatório do Instituto Escolhas, 17% do minério extraído no Brasil é ilegal, sobretudo na região amazônica, ocasionando grandes faixas de desmatamento, poluição de águas e conflitos violentos com os povos indígenas.

Nesse banquete sem fim, protagonizado pelos colonizadores e investidores gananciosos, tudo a sua volta é devorado de forma monstruosa diante de nossos olhos.

É quase uma queda do céu, desses povos que perderam sua identidade durante essa empreitada comercial, ou se preferir um similar lamentável, ficaram sem chão.

Essa forma de ganhos unilaterais aparece silenciosamente como manifestação de um fascismo introduzido nas formas de sociabilidade contemporânea.

Como reparar essa bagunça lá fora, onde a vida é igual a um teatro, por vezes de horrores, outras tantas multifacetada com figurinos marcando nosso caráter como um espetáculo a céu aberto, onde você não precisa pagar ingresso, as portas estão sempre abertas e as cenas são únicas.

Há sempre uma chance de rever as necessidades de um desconhecido íntimo em reerguer-se de sua selva de solidão e ausências, desde que deixemos de ser aquela legião de escravos de seus próprios ressentimentos e ganância.

Você sempre precisa ter um pouco de medo do que está fazendo senão tudo fica muito encaixado, inerte, como pó que cheira a nada, igual cinza de cremação.

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