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Balneário Camboriú
Raul Tartarotti
Raul Tartarotti
Engenheiro Biomédico e cronista.
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Um breve estímulo

Quando ouvimos falar sobre a morte, nossos olhos eventualmente ficam pasmos ou marejados.

Porém quando são mortas 52 milhões de aves devido à gripe aviária, muitos olhos ficam indignados, porque perderam dinheiro. 

Uma nova onda de coronavírus causada pela BQ.1, a”neta” da Ômicron não deve atingir os humanos, no mesmo patamar de mortes das galinhas, mas os alertas nos deixam novamente mascarados nas ruas.

Comoção e ironia são palavras em itálico nos últimos tempos que expressam nossos limites no caminhar diário, e dão um colorido ao mundo em que nos movemos no giro do planeta azul, onde raramente utilizamos regras novas para substituir as antigas.

Similar à guerra, nessa pandemia ficamos escassos de muito: companhia, amor, dinheiro, e de negócios que fecharam suas portas. 

Podemos nos considerar filhos de uma pandemia, porque renascemos, ao escapar quase ilesos da morte, que abraçou os mais frágeis.

Em 1945, após o término da guerra, as famílias procuravam o que comer, se locomovendo por 30 km para pegar algumas sacolas e servir a outros que mal podiam andar. 

Muitos moravam em uma mesma casa, porque sobraram poucos telhados para chamar de lar. O racionamento era frequente e os alimentos sofriam com a umidade, como café, açúcar e sal. 

E as perdas de familiares, amigos e vizinhos não se desfaziam da memória tão facilmente, porque essa é muito mais resistente que as balas e o vírus.

Buscamos a figura de amigos e familiares, nas salas de espera, calçadas, na mesa de nosso jantar, onde estão somente os pensamentos para fazer companhia, ao olharmos a realidade que desejamos esquecer. 

Contamos as estações do ano como à espera de alguém, que pode vir com a chuva, o sol ou o vento, para nos distrair de nossas ausências.

Por momentos adiamos certos instantes ao abrirmos um livro e um conversar com o personagem, distraído dos eventos no entorno da janela, quase cega conosco, na busca de distração das dores presentes na alma. 

A empatia nos dá a oportunidade de respirar com mais alívio, quando aquela mão solitária pede um olhar e abraço ausentes, todos estamos no mesmo evento humano, um caminho aos últimos dias de nosso respirar. 

Basta a compaixão soprar no ouvido para que um breve estímulo mostre outro sentido às nossas vidas, precárias de eternidade. 

Hoje a noite está chuvosa, mas, amanhã, ceda um abraço na hora que estiverem te esperando acordados. 

Eles não dormem enquanto você não chega.

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