Um perfil no Instagram, um vídeo que viralizou e o desejo de resgatar a identidade de um dos bairros mais tradicionais de Balneário Camboriú. Foi assim que nasceu o Noix é da Barra, movimento cultural criado por Jefferson Pyerre Stein (Je do Fole), morador da região sul da cidade, que hoje mobiliza artistas locais, promove encontros entre antigos colegas, fortalece o comércio comunitário e anima quem passa pela Praça do Pescador.
O evento “Música na Feira com Noix é da Barra” aconteceu no último final de semana e a edição do próximo ano já está sendo pensada.
Como tudo começou

Segundo Jefferson, o projeto teve início de forma espontânea – ele tinha um Instagram pessoal e postou um vídeo de um dos moradores do Bairro da Barra que bombou na internet.
“E aí pensei: por que não criar um Instagram só sobre a Barra? Eu já tinha esse nome, ‘Noix é da Barra’, na cabeça há muito tempo, desde os tempos do Orkut”, relembra.
A página passou a reunir registros do bairro: moradores, paisagens, fotos antigas e momentos atuais.
“Comecei a movimentar o Instagram e o engajamento foi muito bacana. Foi ali que tudo começou”, disse.

Muita música e cultura
Apaixonado por música e cercado de amigos e primos músicos, Jefferson viu a oportunidade de dar um passo além: transformar o perfil em uma plataforma real, com eventos culturais.
“Sempre estive junto de bandas formadas por nativos daqui, como a Maria do Caes e o Maissom Freitas. A ideia era criar um evento que unisse esses músicos, valorizasse a cultura da Barra e desse visibilidade a quem tem talento e história aqui”, acrescentou.
A primeira edição do evento Noix é da Barra aconteceu de forma simples, mas significativa: uma festa na hamburgueria Jungle, com apresentação de músicos do bairro e participação de moradores.
Desde então, o projeto não parou de crescer — e recentemente realizou o evento “Música na Feira com Noix é da Barra”, na Praça do Pescador.
“Ser da Barra é motivo de muita gratificação. Aqui a gente valoriza a família, os nossos ancestrais, os trabalhadores da pesca, os que cortavam pedra nas antigas pedreiras. A cultura da Barra é feita de suor, de amizade e de raízes profundas. E a gente quer que tudo isso continue vivo”, afirmou.

A escolha da Praça do Pescador como cenário para os eventos não é por acaso. Jefferson disse que o local é um dos mais lindos da cidade – de frente para a Casa Linhares, para a Igreja Católica e ‘representa muito’
“É símbolo do bairro e de nossa história”, pontuou.
Rendeu frutos e já caiu no gosto da comunidade
A ideia de reunir cultura, gastronomia e comunidade num só espaço rendeu frutos: o evento atraiu tanto moradores quanto turistas que passavam pela Passarela da Barra.
“Teve gente que parou para ouvir música, comer, encontrar amigos. Um morador me disse que fazia muitos anos que não via um colega de escola — e eles se reencontraram na festa. Isso é o que mais me emociona”, disse.
Mais do que apresentações musicais, o Noix é da Barra promove reconexões. Jefferson destaca com orgulho o envolvimento das bandas locais.
“Todos os músicos têm uma ligação com o bairro. Ou nasceram aqui, ou têm a família enraizada na Barra. É isso que importa pra gente”, comentou.
Além da música, o evento movimenta o comércio comunitário e incentiva ações sociais. A festa conta com barracas de alimentos típicos — camarão, isca de peixe, risoto, crepe — produzidos com ingredientes frescos e frutos do mar pescados por moradores da própria região. Também há espaço para arrecadações: a escola Francisca Alves Gevaerd (FAG), que fica no bairro, por exemplo, participou com uma barraca para angariar fundos para obras de reforma, contando com apoio de alunos, professores e da direção. A associação 1 Bairro Melhor também esteve presente, oferecendo espetinhos e reforçando sua atuação social com crianças do bairro.
Valorização da cultura da Barra
Outro diferencial do projeto é o respeito e a valorização dos feirantes que atuam todos os domingos na Praça da Barra.
“Quando comecei o diálogo com a prefeitura, deixei claro que o Noix é da Barra e quer valorizar o que já existe. Queremos destacar o trabalho de quem está ali vendendo caldo de cana, pastel, artesanato. Por isso o nome ‘Música na Feira com Noix é da Barra’. É uma festa pensada em cada detalhe, com identidade local”, afirmou.

A valorização da cultura vai além das barracas e dos palcos. O evento também inclui apresentações tradicionais como o boi de mamão, além de contar com a participação da igreja local. E não para por aí: o coletivo também criou um podcast, onde Jefferson entrevista moradores da Barra que construíram trajetórias inspiradoras.
“Já entrevistei pescadores, médicos, engenheiros, todos com histórias ligadas ao colégio FAG e ao bairro. A ideia é mostrar que daqui saem pessoas incríveis, com orgulho da sua origem”, disse.

Esse orgulho, aliás, já se espalhou pelas ruas da cidade. “Mandei fazer adesivos do Noix é da Barra e vejo eles colados em carros, motos, bicicletas… Crianças com as bikes adesivadas, pessoas que vêm me cumprimentar e dizem: ‘Sou Noix é da Barra!’ Isso mostra que a autoestima do bairro está crescendo”, completou.