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Senadores pedem isenção de castanhas, açaí, pamonha e bacalhau na cesta básica da reforma tributária

Os senadores que discutem a regulamentação da reforma tributária já protocolaram ao menos 14 emendas que pedem a inclusão de novos alimentos na cesta básica isenta de impostos.

Dentre os pedidos mais recentes está uma emenda do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) enviada na última quarta-feira (6) pedindo a isenção de itens como açaí, pamonha, curau, melado, rapadura, açúcar mascavo, doce de leite, vinagre e até água mineral.

Outras emendas solicitam que produtos como bacalhau, óleo de algodão, sucos sem adição de açúcar e conservantes, fungos, castanhas, mate, alimentos hipoproteicos (com baixo teor de proteína) e mel sejam 100% isentos.

Se aprovadas, as emendas que pedem a inclusão de itens na cesta básica fariam a lista dobrar de tamanho, saltando de 26 para ao menos 52 produtos.

Dentre as 1.642 emendas à reforma tributária propostas no Senado, ao menos 16 tratam especificamente da cesta básica nacional. Duas tentam impedir que a lista de alimentos que compõem a cesta seja avaliada de tempos em tempos.

Os senadores argumentam que a isenção desses itens adicionais seria importante devido ao valor nutricional dos alimentos e à importância regional e cultural dos produtos —casos do açaí, típico no Norte brasileiro, e do bacalhau, consumido em festividades cristãs.

Traçada como uma medida favorável às classes mais vulneráveis, algumas das emendas fariam a cesta básica ficar menos voltada a itens tidos como essenciais. Produtos como a castanha-de-caju e o bacalhau, por exemplo, custam hoje mais de R$ 100/kg em algumas redes de supermercado.

A reforma tributária está em análise pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. Só nesta semana, ao menos quatro audiências públicas serão realizadas.

As emendas são analisadas pelo relator do projeto na Casa, o senador Eduardo Braga (MDB-AM). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), estima que o projeto seja votado em 4 de dezembro.

*

ENTENDA A CESTA BÁSICA PROPOSTA PELA REFORMA TRIBUTÁRIA

A cesta básica da reforma tributária tornará seus produtos 100% isentos da cobrança do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).

A lista aprovada na Câmara dos Deputados em julho prevê a isenção de 26 categorias, incluindo as carnes, incluídas no projeto de última hora:

1 – Arroz

2 – Leite fluido pasteurizado ou industrializado, na forma de ultrapasteurizado, leite em pó, integral, semidesnatado ou desnatado; e fórmulas infantis definidas por previsão legal específica

3 – Manteiga

4 – Margarina

5 – Feijões

6 – Raízes e tubérculos

7 – Cocos

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8 – Café

9 – Óleo de soja e óleos de babaçu

10 – Farinha de mandioca

11 – Farinha, grumos e sêmolas de milho; e grãos esmagados ou em flocos de milho

12 – Farinha de trigo

13 – Açúcar

14 – Massas alimentícias

15 – Pão do tipo comum (contendo apenas farinha de cereais, fermento biológico, água e sal)

16 – Óleos de milho

17 – Aveia

18 – Farinhas

19 – Carnes bovina, suína, ovina, caprina e de aves e produtos de origem animal (exceto foies gras)

20 – Peixes e carnes de peixes (exceto salmonídeos, atuns, bacalhaus, hadoque, saithe e ovas e outros subprodutos)

21 – Queijos

22 – Sal

23 – Ovos*

24 – Produtos hortícolas (exceto cogumelos e trufas)*

25 – Frutas frescas ou refrigeradas e frutas congeladas sem adição de açúcar ou de outros edulcorantes*

26 – Plantas e produtos de floricultura relativos à horticultura e cultivados para fins alimentares, ornamentais ou medicinais*

*Itens que não estão na cesta básica de 22 itens, mas que também teriam isenção de 100% de impostos

Uma segunda lista propõe que outras 12 categorias de produtos tenham a incidência de imposto, mas com alíquotas 60% menores.

ISENÇÃO DE IMPOSTO DA CESTA BÁSICA PODE NÃO CHEGAR AO CONSUMIDOR FINAL, DIZEM TRIBUTARISTAS

Embora a cesta básica tenha sido elaborada sob o argumento de favorecer os mais pobres, a isenção de imposto pode não chegar no consumidor final e aos mais vulneráveis, e ainda elevar a alíquota geral do IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

“O preço do alimento ao consumidor tem diversos fatores. Claro que a tributação é relevante, mas custos com inflação, transporte e produção são mais impactantes”, diz Eduardo Lourenço, do escritório Maneira Advogados.

“Os efeitos dessa desoneração podem ser limitados, ou até contraproducentes, devido à forma como os benefícios fiscais são distribuídos ao longo da cadeia produtiva e comercial”, diz Rafael Ujvari, especialista em direito tributário do escritório Briganti Advogados.

“O benefício fiscal muitas vezes não chega diretamente ao consumidor final. Em vez de repassar os descontos para o preço de venda, intermediários como produtores, distribuidores e varejistas frequentemente absorvem os benefícios, mantendo os preços elevados e se aproveitando da isenção para aumentar suas margens de lucro”, afirma.

Ujvari entende que outras soluções devem ser pensadas pelos parlamentares a fim de reduzir os custos repassados às classes mais pobres. Além disso, alerta que a isenção proposta pela cesta básica pode comprometer o caixa de estados e municípios, a depender do tamanho da renúncia fiscal.

FRANGO, LEITE, CAFÉ E ÓLEO FICARAM MAIS CAROS EM CAPITAIS EM OUTUBRO

O frango, o leite em pó e o pasteurizado, o café em pó e em grãos e o óleo de soja ficaram mais caros em oito capitais brasileiras em outubro na comparação com o mês anterior, aponta a plataforma Cesta de Consumo, pesquisa da FGV Ibre e da Neogrid.

O levantamento mensal monitora os preços de até 50 produtos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Salvador, Fortaleza e Manaus. Os resultados contemplam 19 dos 26 itens que constam da cesta aprovada pelos deputados em julho.

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Outros itens que aumentaram de preço no mesmo período nas oito capitais do estudo foram manteiga, margarina, farinha de trigo e batata congelada —sendo a última a única a não integrar a lista em análise no Senado.

O óleo teve a maior alta no Rio, com seu preço subindo 3,3% na mesma base de comparação. A capital carioca, inclusive, tem a cesta básica mais cara dentre as cidades pesquisadas —R$ 1.009,11, a única acima de R$ 1.000.

A farinha de mandioca, outro produto da cesta básica da tributária, subiu 5,3% no Rio, e as carnes suínas, 5,6% em Manaus. Itens como arroz, massas e queijos sofreram alta em 7 das 8 cidades da pesquisa.


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