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Balneário Camboriú

“Balneário atrai, temos que manter esse status quo e a resposta é tecnologia”

Valdir de Andrade, sobre futuro da segurança em Balneário Camboriú

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Renata Rutes

O advogado Valdir de Andrade, 57, paranaense de Curitiba, é figura conhecida no meio político de Balneário Camboriú, porque é bastante atuante junto da sociedade civil organizada. Foi o fundador e até hoje preside o Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG/BC). Atualmente é também Diretor de Marketing do Lions Clube Balneário Camboriú Centro (o qual também já presidiu). Gosta de política, foi peemedebista de carteirinha, em 2005 filiou-se ao PL, mas não é militante, foi Procurador Municipal e concorreu duas vezes a uma cadeira legislativa. Depois desistiu da política partidária e partiu para a política participativa, que pratica até os dias atuais.

É casado com Marinês Baruffi de Andrade, e pai de André Luís e Bruno.

Em família – Valdir com a esposa, Marinês, e os filhos Bruno (o mais novo) e André Luís Foto Arquivo pessoal

Valdir é o entrevistado desta semana do Página 3, e contou sobre o começo de sua trajetória em Balneário, cidade que é sua casa desde a década de 80. Também falou sobre o trabalho voluntário, o futuro do município e a necessidade de se investir forte em segurança. Confira.

JP3: Como começou a sua história com Balneário Camboriú?

Valdir: Desde a década de 70 minha família veraneava em Balneário Camboriú, tínhamos uma casa na Avenida do Estado, na frente de onde é o Itaú hoje. Meus pais são catarinenses, mas morávamos em Curitiba. Eu tinha 17 anos quando me mudei para Balneário, em março de 1982. Vim para cursar Direito na Univali.

JP3: Logo iniciou sua participação em movimentos comunitários?

Valdir: Sim, ainda em 82, a convite de Olímpio de Moraes me envolvi em campanha política, militando na juventude do PMDB. Fizemos comício pelo Diretas Já – o primeiro de Santa Catarina. Trouxemos lideranças como Dante de Oliveira, Fafá de Belém, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães… Com o Luiz Henrique da Silveira, assim que me formei, montamos um escritório de advocacia. Cheguei à presidência do PMDB de Balneário, mas houve um movimento de apoio ao Leonel Pavan, fizemos uma intervenção no partido e saí junto de vários, como o Mazoca também saiu… foram 101 que saíram, brincávamos que eram os 101 dálmatas… (risos).

Participação no Lions é uma das paixões do advogado, que defende o trabalho voluntário (Foto Lions BC Centro)

JP3: Atuou no governo do Pavan e chegou a concorrer a vereador?

Valdir: Sim, fui Procurador Geral de 2001 a 2002. Foi o único cargo comissionado municipal que ocupei. Na época fizemos o 1º Leilão de Imóveis de Balneário, ajudamos a agilizar e muito o executivo fiscal. Hoje tem Procurador no Fórum, mas na época não tinha. A cidade possuía uma dívida ativa bem considerável. Eu concorri a vereador duas vezes, em 1988 e 1996. Em 96 fiquei como segundo suplente, mas não tentei mais, comecei a me envolver com a política participativa, saí da procuradoria também. Até então eu fazia advocacia criminal, mas vi que o crime não compensa nem para o advogado, só se for de alto escalão, se envolvendo com Moisés, Lula, Palocci… (risos).

Valdir com a esposa Marinês (Foto Arquivo pessoal)

“Temos três cadeiras no Conselho da Cidade, no Conselho Municipal de Trânsito (COMTRAN), somos uma grande representatividade na cidade”.

JP3: Quais cargos mais você ocupou? Como surgiu o seu envolvimento com a área da segurança?

Valdir: Através de um contato com o Esperidião Amin conseguimos trazer o primeiro posto do SINE para Balneário, em 1984. Fui coordenador do SINE. Já no governo do Casildo Maldaner fui convidado para assumir a coordenação estadual do SINE, iniciamos na época a informatização porque já pensávamos em fazer um sistema de emprego pela internet. Isso foi em 1990! A internet era discada, mas conseguíamos saber vagas de emprego em Florianópolis, Balneário Camboriú. Fui assessor jurídico da AMPE (Associação de Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Balneário Camboriú) com o Nivaldo Ávila. Assumi a presidência da AMPE em 2002, porque o presidente foi candidato a vereador. Havia na época uma grande incidência de assaltos a farmácias na cidade e decidimos fundar, dentro da AMPE, uma comissão e então ficamos sabendo sobre o CONSEG. O primeiro foi fundado em 1999, o CONSEG do Bairro dos Municípios, pela família Padilha. Na época tinha um homicídio por dia no Municípios, era difícil. Cada rua do bairro tinha um dono, o tráfico lá era tipo hereditário… muitos roubos, prostituição… E então fundamos o CONSEG Centro, que hoje é o CONSEG BC. E junto com o então delegado Maurício Eskudlark (atualmente deputado estadual) fundamos oito CONSEGs pela cidade.

JP3: Os CONSEGs deram certo, seguem firmes na cidade até hoje…

Valdir: Sim, temos três cadeiras no Conselho da Cidade, no Conselho Municipal de Trânsito (COMTRAN), somos uma grande representatividade na cidade! Contribuímos com o Plano Diretor, propusemos 123 emendas, foram mais de 500 horas de participações em reuniões e audiências públicas, e todo esse trabalho é voluntário. Às vezes nem sobra tempo para trabalhar (risos). Em 2008 fizemos um protocolo pedindo pela mudança do presídio, que era na Rua Inglaterra, auxiliamos no processo que tornou realidade o Complexo da Canhanduba, fizemos um abaixo-assinado em 2007 pedindo por videomonitoramento em nossa cidade. A central ia ser embaixo da Tamandaré, naquele espaço mais alto, o secretário de Segurança da época havia se comprometido, mas o que veio depois dele não deu continuidade e levou a nossa ideia para Criciúma. Política, né… isso infelizmente acontece muito. Até hoje levamos rasteiras, como quando acontecem distribuições de armamento e viaturas, mesmo Balneário precisando nem sempre nos enviam o número necessário e que merecemos.

Valdir fazendo uso da tribuna na Câmara de Vereadores (Foto Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú)
Em evento na Câmara, com o então delegado regional, Fábio Osório (Foto Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú)

“Contribuímos com o Plano Diretor, propusemos 123 emendas, foram mais de 500 horas de reuniões e audiências e todo esse trabalho é voluntário. Às vezes nem sobra tempo para trabalhar”. 

JP3: Acredita que a segurança de Balneário está em um bom caminho? Números recentes da PM indicam redução nos números de roubos e homicídios…

Valdir: Pesquisas apontam que sim. Uma feita pelo Sinduscon em 2020 mostra que 74% das pessoas que compram imóvel em Balneário é pela segurança e 85% dos turistas vêm para a nossa cidade por esse motivo também. Claro que temos muito a fazer ainda, mas somos uma das melhores cidades nesse sentido. Os criminosos não costumam agir no lugar onde moram, tanto que aqui foram presos grandes bandidos de outros locais, como do PGC, PCC, Comando Vermelho, até narcotraficantes internacionais. Balneário transparece uma sensação de segurança, mas temos que fazer uma manutenção de forma regionalizada, temos que ajudar Camboriú, o Conde Vila Verde, o Monte Alegre. Itapema e Tijucas também. Balneário atrai, mas temos que manter esse status quo, e a resposta é tecnologia, equipamentos de ponta.

JP3: Muito se fala em videomonitoramento com inteligência artificial, necessidade de melhorar armamento… os comandos das forças de segurança defendem ambos também.

Valdir: Sim, fizemos um diagnóstico e vimos que Balneário precisa investir mais em segurança pública. Conseguimos uma parceria com o Balneário Shopping, através de um Termo de Cooperação Técnica, e vamos adquirir 10 fuzis, quatro para a PM, quatro para a Guarda e dois para a Polícia Civil. Iremos treinar 10 operadores também, com curso teórico e prático. Há outros equipamentos importantes, como drone de visão noturna de última geração. Queremos comprar também. É para prevenção. Queremos ter um plano de contingência para saber como atuar em casos de emergência, a exemplo do que aconteceu em Criciúma. A nossa cidade precisa estar pronta. A GM queria fazer uma licitação internacional para comprar armas, mas ainda não andou. Acredito que o caminho é através de emenda parlamentar. A Glock (marca de arma) é cara, há algumas mais baratas, como Masada e Jericó, que são israelenses, armas de exército que fica no deserto, que não travam, não entopem. Tecnologia de ponta e mais baratas.

“A PM precisa de um efetivo maior, a GM, temos a melhor do Estado e uma das melhores do Brasil, mas hoje eles estão com condições estruturais muito complicadas”. 

Valdir com cuia personalizada da PM – advogado é muito atuante pela segurança da cidade (foto Arquivo Pessoal)

JP3: Quais melhorias precisam ser feitas, além de armamento, para as nossas forças de segurança?

Valdir: A PM precisa de um efetivo maior, é algo que pedimos há tempos. Já a GM, temos a melhor do Estado e uma das melhores do Brasil, mas hoje eles estão com condições estruturais muito complicadas. A base deles não é um quartel, é onde eles ficam. Só. Precisamos fazer a sede, construir ela, é algo que o secretário Castanheira também está buscando. Já temos o local perfeito onde ela pode ser construída, onde pode ser feito também o Centro de Ensino, estande de tiro, heliponto, etc. Temos que nivelar por cima, o prefeito Fabrício Oliveira também defende isso. Outro ponto é a reformulação do Plano Municipal de Segurança Pública. O investimento em tecnologia é primordial, se queremos ter um polo de tecnologia, por que não incentivar que empresas da área da segurança venham para a nossa cidade? Há startups de aplicativos, de câmeras de reconhecimento facial e análise crítica comportamental. Não adianta pensar de forma isolada, temos que atuar de forma integrada, CONSEG, PM, GM, se não é trabalho dobrado.

“Até hoje levamos rasteiras, como quando acontecem distribuições de armamento e viaturas, mesmo Balneário precisando nem sempre nos enviam o número necessário”.

JP3: Mas houve uma melhora significativa na integração das forças…

Valdir: Sim, muito! Já tivemos muitos problemas nesse sentido, aquela divisão foi muito prejudicial. Graças a Deus hoje existe união e integração. Assinamos o termo de cooperação em 2019 que foi um divisor de águas. Cerca de 70% do plano ainda precisa ser colocado em prática, como a criação da central únic

a de emergências e de despacho, a aprovação dos Agentes de Trânsito poderem registrar ocorrências (acidentes), integração de um sistema único (aplicativo de celular, como o PM Mobile). Coisas que iriam otimizar o trabalho de todos. O Fundo Municipal de Segurança seria primordial também. Poderia ser criada uma taxa de hospedagem ou de desembarque de transatlânticos, conseguiríamos de R$ 3 a R$ 5 milhões/ano se fizéssemos. O prefeito pode ser o grande ‘maestro’ desse projeto.

JP3: Qual é o principal problema na área da segurança hoje?

Valdir: Um deles é a situação dos moradores de rua. É pior que o tráfico, um problema crônico que precisa ser resolvido. Temos que aprender com Gramado/RS, eles conseguiram solucionar isso, nós também podemos. É complicado porque a comunidade ajuda, muita gente acha que está sendo benevolente ao dar esmola, acha que está fazendo caridade. E não estão! Quem ajuda pessoa em situação de rua é a Inclusão Social, a equipe da Abordagem Social. A prefeitura tem a Casa de Passagem, dá passagem rodoviária, ajuda com reabilitação, dá comida, arranja trabalho. Tem verba para isso. Então não faz sentido as pessoas darem mais dinheiro. Se eles ganham dinheiro no sinal, não vão querer mudar de vida. E eles usam a esmola para comprar droga… e aí o ciclo se repete. Faça caridade na igreja, em clube de serviço. Esmola alimenta esse problema de segurança.

“A situação dos moradores de rua é pior que o tráfico, um problema crônico que precisa ser resolvido”.

JP3: Como vê o futuro da segurança de Balneário? Em 10, 20 anos?

Valdir: Acredito que teremos avançado muito tecnologicamente. Temos que avançar. Se trouxermos essas funcionalidades para Balneário, conseguiremos manter os nossos índices positivos. Temos que investir também na economia de nossa cidade, porque a construção civil tem um limite. Acredito que é possível a comunidade se envolver mais, ajudar, contribuir. Não adianta ficar nas redes reclamando, é preciso arregaçar as mangas e fazer. É preciso um trabalho completo, não só por cargo e status.

Valdir: Sim, temos três cadeiras no Conselho da Cidade, no Conselho Municipal de Trânsito (COMTRAN), somos uma grande representatividade na cidade! Contribuímos com o Plano Diretor, propusemos 123 emendas, foram mais de 500 horas de participações em reuniões e audiências públicas, e todo esse trabalho é voluntário. Às vezes nem sobra tempo para trabalhar (risos). Em 2008 fizemos um protocolo pedindo pela mudança do presídio, que era na Rua Inglaterra, auxiliamos no processo que tornou realidade o Complexo da Canhanduba, fizemos um abaixo-assinado em 2007 pedindo por videomonitoramento em nossa cidade. A central ia ser embaixo da Tamandaré, naquele espaço mais alto, o secretário de Segurança da época havia se comprometido, mas o que veio depois dele não deu continuidade e levou a nossa ideia para Criciúma. Política, né… isso infelizmente acontece muito. Até hoje levamos rasteiras, como quando acontecem distribuições de armamento e viaturas, mesmo Balneário precisando nem sempre nos enviam o número necessário e que merecemos.

Valdir junto do prefeito e autoridades no início da Operação Veraneio, em dezembro de 2020 (Foto PMBC)

Valdir recebendo homenagem na Câmara de Vereadores (Foto Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú)

JP3: Um canal poderiam ser as associações de moradores. O Sr. participou da fundação de algumas?

Valdir: Sim, da Associação de Moradores do Bairro das Nações, a AMOBAN. Fui um dos fundadores, ainda em 82 também. Foi a primeira da cidade. Não continuei ativo, porque acabei me envolvendo politicamente e não achava correto. Hoje tem muita politicagem nas associações, mas eu nunca achei isso certo. Voltei a atuar através da UNIBAC (União das Associações de Moradores de Balneário Camboriú), em 2017, para regularizar as associações e estou até hoje. Há confusões de processo de continuidade, têm pessoas que assumem e não sabem das responsabilidades que o cargo exige, não se ligam que se movimentam dinheiro precisam fazer documentação. Tudo precisa ser documentado. Estamos fazendo análise jurídica de todas as associações de moradores da cidade. Hoje são 18 ao total, oito são regularizadas e 10 irregulares, por falta de registro de ata, etc. Tem presidente que saiu há quatro anos e o nome continua vinculado na Receita Federal. Para regularizar isso tudo demanda trabalho, tempo e dinheiro.

“Poderíamos criar uma taxa de hospedagem ou de desembarque de transatlânticos, conseguiríamos de R$ 3 a R$ 5 milhões/ano. O prefeito pode ser o grande ‘maestro’ desse projeto”.

Valdir em ação de limpeza do Rio Camboriú, a qual ele organizou junto ao Lions e CONSEGMar, em abril deste ano. (Foto Renata Rutes)

JP3: O seu trabalho junto da sociedade é totalmente voluntário… como vê a importância de se dedicar dessa forma?

Valdir: Vejo que tem muita gente que quer se envolver e não sabe como. Muitos ativistas virtuais. Não adianta só reclamar do prefeito e de vereadores, vá participar! Eu sempre defendi que o processo é sentar na mesa, discutir com autoridades, seja em associação de moradores, tem eleição esse ano, em clubes de serviço como o Lions. No caso do Lions, tem muita gente que fala besteira, que acham que somos burgueses que se unem para jantar e olha quanta coisa a gente faz pela cidade! Coordenamos a recente limpeza do Rio Camboriú, fizemos em Balneário mais de 10 mil exames oftalmológicos, vamos investir agora em uma campanha de banco de doação de sangue em parceria com o Hemosc. Vamos lançar agora em maio e queremos fazer a primeira coleta em julho, na Igreja Santa Inês. A ideia é fazer uma coleta a cada 60 dias em Balneário Camboriú.


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