Uma das surpresas da festa ‘Raízes de Taquaras’, que movimentou Balneário Camboriú no feriado prolongado de Corpus Christi, foi o lançamento do documentário ‘Tainhada’, realizado pelo produtor audiovisual, Devian de Zutter, nativo da praia, que acompanha os movimentos da pesca desde criança, na Praia Central.
Ele cresceu sempre observando a movimentação na praia, mas nunca puxou rede com os pescadores, porque sempre estava com as mãos ocupadas, ou fotografando ou filmando.
Há alguns anos, Devian fixou residência na praia de Taquaras e por lá continua observando o movimento da safra bem de perto. Os pescadores são seus amigos e a comunidade de Taquaras é sua grande família.

Esse ambiente foi o cenário perfeito para produzir o documentário Tainhada, lançado no sábado à noite, na festa Raízes e apresentado nos demais dias.

Nesta reportagem, Devian conta sobre a produção do documentário, a motivação, os personagens, a importância do registro e diz que o vídeo é também uma forma de retribuir o acolhimento que sempre recebeu da comunidade de Taquaras.
Acompanhe:

JP3 – O que inspirou esse documentário?
Devian – O vídeo Tainhada é uma realização pessoal. A inspiração para o Tainhada se deu com as imagens que eu via na infância. Quando criança, no inverno, eu ia até a praia central observar os pescadores fazendo o cerco da tainha. Mas eu observava de longe, porque achava eles muito bravos durante a correria da pesca e eu tinha medo… rs. Então eu ficava sentado na areia admirando todo o processo do cerco da rede. E acho que consegui transmitir um pouco essas expressões deles no vídeo.
JP3 – Acompanha desde criança a pesca da tainha, sempre como observador, mas nunca atuou…
Devian – Acompanho a pesca da tainha desde criança, mas sempre observando ou registrando. Nunca trabalhei como camarada, pois estou sempre com a câmera nas mãos.
JP3 – Quantos dias esperou a chegada delas para fazer o documentário?
Devian – As imagens foram feitas na safra de 2022 de 1 de maio até 30 julho. Eu acordava todos os dias muito cedo, pegava minha câmera e ia até os ranchos de Taquaras e Taquarinhas. Claro que nem todos os dias tinha o cerco, mas enquanto a tainha não aparecia, eu gravava depoimentos, o dia a dia deles e tomava muito café.

JP3 – Como selecionou os personagens da pesca da tainha?
Devian – Os personagens do vídeo são moradores de Taquaras e da região. Não foi escolhido nenhuma pessoa em específico para aparecer no vídeo. Eu capturei as imagens de todos que estavam envolvidos na pesca, homens, mulheres, crianças. Por muitas vezes eles nem me percebiam gravando, o que resultou imagens bastante naturais e espontâneas, assim como eles são.

JP3 – O documentário resgata uma tradição daquelas comunidades. É uma contribuição histórica. Como ele será distribuído?
Devian – Não sei se resgate seria a palavra certa. A pesca da Tainha sempre esteve viva em toda Santa Catarina e também na nossa região aqui de Balneário Camboriú. Talvez sim, com a Festa das Raízes de Taquaras e dos registros feitos em nossas praias, tenha voltado a chamar a atenção das pessoas. Taquaras em particular é um centro cultural fortíssimo. Além da Pesca da Tainha, temos o engenho de Farinha da Dona Lala e do Sr. Raul e o nosso pescador Santinho, pescador artesanal muito conhecido em todo país.
JP3- Acredita que essa tradição será mantida, porque as gerações mais jovens têm tantas outras ‘ofertas’…de estudo, trabalho…

Devian – Sim, existe a preocupação de novas gerações darem sequência nessa atividade artesanal. Aqui em Taquaras, alguns filhos de pescadores ainda demonstram esse interesse. Mas está tudo diferente, os valores e interesses estão diferentes. Um dos motivos do vídeo Tainhada é justamente chamar a atenção para isso. Acredito que se a pesca da tainha continuar sendo apoiada e não perder o seu cenário em meio a tantas ofertas, ela seguirá acontecendo. O constante incentivo é a chave principal para a continuidade dessa atividade.
JP3 – Espaço aberto para o que mais considerar importante colocar…
Devian – Me considero uma pessoa abençoada por fazer parte da comunidade de Taquaras. Sempre fui muito bem recebido por todos e hoje tenho muitos amigos aqui. E minha forma de retribuir a eles é com o registro em vídeos e documentários das atividades dessas pessoas que considero minha família.