O escritor e professor Guilherme Queiroz de Macedo, funcionário técnico-administrativo da Universidade Federal de Minas Gerais, lançou em novembro, seu terceiro livro/opúsculo sobre o escritor catarinense Enéas Athanázio, residente em Balneário Camboriú e colunista do jornal Página 3 há mais de duas décadas.

‘O Articulismo Cultural de Enéas Athanázio’, apresenta três artigos sobre da série Livro sobre Livros, volume 1 (Artigos), volume 2 (Autores Catarinenses) e volume 3 (Ernest Hemingway), com resenhas do escritor catarinense para desta forma, apresentar uma significativa amostra da produção deste autor, em seus 50 anos de carreira literária.
“A obra mostra a presença constante do articulismo cultural em suas produções, um dinâmico, atualizado e profícuo jornalismo cultural, atividade semanal que o escritor desenvolve há vários anos nas colunas do periódico Blumenau em Cadernos (Coluna Autores Catarinenses), no jornal Página 3 (Balneário Camboriú) e no Rio Total Coojornal (Rio de Janeiro)”, disse o autor da obra.
Em 2002 ele lançou “Duas Vezes Enéas’ e em 2016 publicou “Enéas Athanázio: de Leitor a escritor”.
Nesta semana, o autor da terceira obra contou ao Página 3 um pouco mais sobre esta homenagem a Enéas Athanázio, de quem é grande admirador. Acompanhe:
JP3 – Qual foi a motivação para escrever o livro “O Articulismo Cultural de Enéas Athanázio”?
Guilherme de Macedo – O que me motivou a escrever o opúsculo “O articulismo cultural de Enéas Athanázio” foram a proximidade dos 50 anos de estreia literária, iniciada com o lançamento do livro de contos O Peão Negro (1973) e o objetivo de enfocar e analisar um dos aspectos inéditos, ainda não pesquisados e estudados em suas obras, que é o articulismo cultural e literário presente em seus ensaios, artigos, resenhas e reportagens, conforme fiz referência na apresentação e na introdução do livro, intitulada “O multifacetário e diverso articulismo literário e cultural de Enéas Athanázio”.
JP3 – Como conheceu Dr.Enéas?
Guilherme de Macedo – Tenho acompanhado a obra literária e a atuação lítero-cultural de Enéas Athanázio desde o segundo semestre de 1999, quando entrei em contato por correspondência com Enéas Athanázio, para solicitar o envio de suas obras sobre Monteiro Lobato para um trabalho de monografia histórica que estava elaborando na ocasião. Na época, foram enviados dez livros de ensaios e duas obras literárias do autor.
O meu interesse, durante a elaboração da monografia (1999 – 2001) estava voltado para a leitura das obras do autor que tinham relação com a pesquisa histórica, sobre a correspondência entre o escritor Monteiro Lobato e o educador Anísio Teixeira.
Durante o período de busca de livros para a elaboração da monografia histórica, o autor gentilmente enviou-me os livros: 3 Dimensões de Lobato (1975), O Mulato de todos os Santos (1982), Figuras e Lugares (1983), A Pátina do Tempo (1984), Meu amigo Hélio Bruma (1987), O Perto e o Longe Volume 1 (1991) e Volume 2 (1991), Monteiro Lobato abriu os caminhos (1993), Godofredo Rangel (1977), O Amigo Escrito (1988), que foram objeto de abordagem em resenhas publicadas posteriormente em “Duas Vezes Enéas” (2002). Somente depois de concluído o trabalho, é que li e reli as obras literárias então enviadas e percebi o quanto a leitura por prazer e fruição estética fazem falta após leituras feitas apenas por dever profissional e acadêmico, a maioria das quais áridas e sem nenhuma beleza estética.
A leitura dos contos enfeixados em A Gripe da Barreira: causos do ermo (1999) e O cavalo Inveja e a Mula Manca (2001) despertaram o interesse em conhecer as demais obras literárias de Enéas Athanázio e, a partir da troca de correspondências, fui solicitando as demais obras já lançadas e ainda com exemplares disponíveis, bem como as obras lançadas a partir de 2001.
JP3 – Quais as obras de Enéas Athanázio que considera as mais importantes?
Guilherme de Macedo – Diante de 75 livros já publicados por Athanázio (60 livros e 15 opúsculos), é impossível, dentro dos limites de espaço desta entrevista, citarmos todas as obras. Gostaria de destacar as seguintes obras: a novela literária ‘A Liberdade fica Longe’ (2001, 2007), uma das obras que sintetiza como se constitui o leitor e o escritor, através do gosto e do prazer estético pela leitura e escrita literárias. Dentre as obras enviadas pelo autor destaco ainda ‘Vida Confinada’, relato de autoficção do autor sobre a sua trajetória estudantil em um colégio interno católico no final das décadas de 1940 e início da década de 1950 do século XX, a qual foi objeto de abordagem em dois artigos posteriores, publicados no periódico “Escrituras Brasileiras” (2008).
Outra interessante obra literária do autor, enviada entre 1999 e 2001, foi o livro ‘Fazer o Piauí: crônicas do meio norte’ (2000), sobre o intercâmbio do autor com os autores e a vida cultural daquele estado, cujos frutos mereceram posteriormente outra obra, denominada ‘Meu Amigo, o Piauí’, lançada em 2008.
No conjunto das obras lançadas e enviadas pelo autor a partir de 2002, destacamos também ‘Mundo Índio’ (2003) que, além do conto ‘O batizado ou A história de Tipoti’, merece destaque a parte, por suas ‘Alegações Finais’ em defesa do líder indígena missioneiro Nheçu, uma autêntica peça ensaística histórica com fundamentações filosóficas e jurídicas, sobre um de nossos inúmeros personagens históricos “vencidos” e esquecidos propositadamente pela “história do vencedor”, dominante ou oficial.
No entanto, Nheçu é um vencedor, pois a História não é feita somente de um ponto de vista, pois existem várias outras abordagens, felizmente surgidas desde a década de 1980 do século XX, e que redimensionaram e valorizaram a participação dos chamados “vencidos” na História e, desta forma, valorizando as lutas do povo brasileiro ao longo da história que, mesmo não sendo vitoriosas em sua grande maioria, representaram possibilidades de mudança no tempo passado, mas que servem de motivação e estímulo para as lutas do tempo presente.
JP3 – Quando decidiu escrever o livro “O Articulismo Cultural de Enéas Athanázio”?
Guilherme de Macedo – Decidi a escrever o livro no início do ano de 2022, reunindo artigos e resenhas que já havia escrito sobre a série Livros sobre Livros, volume I – Artigos (2019), volume II – Autores Catarinenses (2020) e volume III – Ernest Hemingway (2020), nos quais realço o percurso e a trajetória de Enéas Athanázio na prática de um profícuo articulismo cultural, atividade semanal que vem desenvolvendo há mais de 50 anos, em colunas literárias como as do Jornal Página 3, Revista Rio Total e Revista Blumenau em Cadernos, para citarmos alguns exemplos, dentre outros suplementos literários e culturais de outros Estados brasileiros.
Gostaria de destacar também a grande importância do trabalho literário e cultural do autor, iniciado antes mesmo de sua estréia literária, na formação de novos leitores e o constante incentivo aos novos escritores, através de várias colunas literárias que manteve em jornais e suplementos lítero-culturais.
Outro aspecto do articulismo cultural e literário de Enéas Athanázio que vale ressaltar foi o importante trabalho desenvolvido pelo autor através do Jornal do Enéas, “Boletim Cultural Independente”, que durou 10 anos e editou 30 números entre 2002 e 2011. A importância do trabalho literário e cultural desenvolvido por Enéas Athanázio, nas trinta edições do Jornal do Enéas editadas durante dez anos ininterruptos, foi a de reunir escritores de perto e de longe, do Brasil e até mesmo de outros países, muitos dos quais estreantes e outros tantos veteranos, contribuindo sobremaneira para a divulgação e o debate de suas produções literárias.
JP3 – O que mais julga mais importante destacar nesta entrevista?
Guilherme de Macedo – Em homenagem aos 50 anos de estreia literária de Enéas Athanázio, reuni todas os artigos, ensaios e resenhas de 73 das 75 obras literárias de Enéas Athanázio, escritos entre 2003 e 2022, em dois volumes intitulados Ensaios Athanazianos – Volume I (179 páginas) e Volume II (238 páginas), perfazendo o total de 417 páginas, contendo textos, a maioria ainda inéditos, e outros já publicados em dois livros que escrevi a respeito da obra athanaziana – Duas Vezes Enéas (2002) e Enéas Athanázio: de leitor a escritor (2016) e em revistas, jornais e suplementos literários e culturais.
Outra ação relevante do autor foi a criação da Editora Minarete há 30 anos (1993), cuja contribuição literária e cultural é de grande importância ao mundo das letras, contribuindo para o engrandecimento do pioneiro e árduo trabalho realizado por pequenas editoras alternativas em divulgar as produções literárias dos escritores que não teriam oportunidades em um mercado dominado pelas grandes editoras e distribuidoras, que prestigiam um número bastante restrito de escritores. A editora do autor, além de publicar as obras de sua autoria, também publicou ensaios e coletâneas sobre a sua obra
O trabalho literário e cultural de Enéas Athanázio sempre foi muito significativo e tem contribuído de forma marcante no que os estudiosos denominam de a circulação do impresso, através de livros, informativos literários e culturais alternativos e de colunas literárias, que constituem uma das facetas do que denominamos de articulismo cultural e literário, as quais destacamos no terceiro livro publicado a respeito da obra athanaziana.