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Balneário Camboriú

Balneário Camboriú abre espaço para arte a céu aberto em murais gigantes

Artes em grandes muros, espaços públicos e até lateral de prédio vem ganhando espaço na cidade

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Muitos muros de Balneário Camboriú vem ganhando cores em artes urbanas há anos, com o grafitti tendo um espaço importante na cidade. Mais recentemente, outra arte urbana vem despontando e ganhando cada vez mais ‘voz e vez’ no município: o muralismo. 

Os painéis gigantes ocupam espaços públicos – como o Teatro Municipal Bruno Nitz e a Passarela da Barra, além de ruas famosas (Estrada da Rainha e a Avenida Panorâmica) e, mais recentemente, há duas semanas, a empena de arte urbana na Praça da Cultura, na Avenida da Lagoa: a lateral inteira de um prédio de oito andares – 30 metros de altura por 9 metros de largura. 

Balneário tem hoje muitas ‘telas’ a céu aberto e que renderiam galerias urbanas – que inclusive é o grande objetivo dos artistas envolvidos no Open Street Gallery.

30 metros de arte: Eduardo Vaso deu o ‘primeiro passo’

O Mural do Conhecimento, apreciado pelo autor desta arte, Eduardo Vaso: ‘é a realização de um sonho’ (foto Arquivo pessoal)

O artista por trás do mural na lateral do prédio residencial visível através da Praça da Cultura é Eduardo Vaso. Junto de uma equipe, Eduardo, que é do Rio de Janeiro, mas reside no litoral de SC desde 1995, pintou o Mural do Conhecimento – que foi oficialmente inaugurado em 1º de maio [foram 13 dias até ele ficar pronto]. 

O artista de 33 anos tem uma trajetória de 16 anos com a arte: em 2005, em Florianópolis, ele se encantou pelo grafitti, e acabou cursando Design Gráfico na Univali. Hoje, ele se considera um artista multidisciplinar, tendo experiência ainda na área da moda e em agências de publicidade. 

“Há um ano e meio estou atuando de forma mais autoral. Os painéis gigantes são o ‘caminho natural’ do artista de rua, já que eles trazem um grande impacto para a cidade. Balneário deu muito suporte, e é uma coisa mundial esse conceito de ressignificar os prédios. No Brasil ainda está começando a despertar, em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Floripa já está bem avançado”, diz.

Eduardo diz que Balneário é uma cidade bastante verticalizada e mesmo tendo belezas naturais, se vê ‘muitos paredões’, e que essa mistura de parede, concreto e pastilha, precisa ser ressignificada. 

“O grafitti ressignifica espaços, são janelas dos sonhos, traz o lúdico de volta, e foi isso que objetivei com o meu painel. É uma experiência artística que te tira da rotina normal. Pintar esse painel foi a realização de um sonho, que consegui através do projeto Open Street Gallery”, conta.

(Arquivo pessoal)

O painel foi uma iniciativa do Open Street Gallery, com apoio do síndico do prédio que liberou a empena (o paredão lateral do edifício e o muro de baixo). 

“A partir disso fomos atrás de patrocínio para fazer acontecer, porque é um valor alto, e a KNN Idiomas, uma empresa que nasceu em Balneário, abraçou a ideia e financiaram 100%. Eles nos ajudaram a presentear a cidade com essa obra de arte. Outros prédios já nos procuraram e, apesar de ser tudo muito novo, já estamos analisando. Balneário tem um potencial grande para esse tipo de trabalho. Há muitos paredões vazios que podem ser utilizados para fomento artístico, que também fomenta o turismo, pois muitas pessoas viajam para conhecer a arte das cidades”, completa.


Primeira empena urbana na Passarela da Barra: artista também pintou o Teatro Bruno Nitz

(Arquivo pessoal)

A primeira empena urbana é a arte da Passarela da Barra, assinada por Tom Veiga, que também é autor da pintura do Teatro Municipal Bruno Nitz.

“Meu primeiro painel grande em Balneário foi o Teatro, na época fui convidado pelo George Varela. Eu amo Balneário, passei a lua de mel aí, a primeira exposição que fiz foi no Atlântico Shopping, ocasião em que sorteei um quadro com o Página 3. Para pintar o Teatro montei uma equipe e passamos dois meses fazendo a pintura. Tivemos acesso a todo o prédio, as pessoas que passavam ali elogiavam, porque realmente deu cor e vida para a estrutura. Fizemos uma grande arte e logo no coração de Balneário, colorimos o ‘miolo’ da cidade”, contou o artista. 

(Arquivo pessoal)

A obra nas paredes do Teatro Municipal abriram a porta para Tom Veiga ser convidado para fazer a pintura da Passarela da Barra, que foi a primeira empena urbana de Balneário. Foram quase quatro meses de trabalho. 

“A Passarela não estava somente feia de pintura, a estrutura também estava abandonada. Pintamos, consertamos infiltrações… o papel da arte não é só colorir e sim arrumar o que é possível. A Passarela foi até hoje o maior painel que eu pintei, com ajuda do Nando Cardoso, que foi meu braço direito e também ajudou o Vaso a pintar o painel da Praça da Cultura”, segue Veiga. 

Ele disse que sente-se honrado em fazer parte desse movimento do muralismo de Balneário e acalentava um sonho: ver outros artistas estampando murais de Balneário, uma cidade que pode ser polo dessa arte muralista para o Brasil e para o mundo. 

“Essa cidade é especial, respira cultura e turismo, e pode ter um potencial único e ímpar de proporcionar essa arte diferenciada. Com esses painéis você enxerga vida. Em São Paulo já acontecem há muito tempo, mas nenhuma cidade é compacta como BC, onde é possível fazer uma galeria a céu aberto. Os projetos de empena são, em sua maioria, privados e por isso demoram para acontecer, mas já temos espaços mapeados e acredito sim que, no futuro, cada artista poderá estar pintando um mural em prédio. A cena de Balneário tem muita gente boa”.

Fernando Cardoso, Tom Veiga e Alexandre Chamba fazendo arte na Passarela da Barra (Arquivo pessoal)

Processo de pintura do Teatro Bruno Nitz (Arquivo pessoal)


Avenida Panorâmica também recebeu mural especial

(Arquivo pessoal)

A mais nova avenida de Balneário, a Panorâmica, recebeu um mural pintado pelo artista Marcelo Urizar, que realizou o projeto através da Lei Emergencial Aldir Blanc.

“Comecei com a arte em Balneário Camboriú em 1998, há 23 anos. Pinto quadros, sou desenhista, arquiteto formado em Buenos Aires. Comecei a pintura em muros em 2016, quando fui convidado para pintar as paredes do Instituto de Design de Interiores, em Blumenau, Joinville e Balneário. Foi o meu primeiro projeto. Vejo que mural é uma tela gigante, minhas telas sempre foram grandes, eu tenho esse estilo de pinturas maiores, mas claro que são coisas muito diferentes – pintar em um ateliê e em um mural na rua”, afirmou. 

(Arquivo pessoal)

O projeto da Panorâmica foi realizado através da Lei Aldir Blanc. O autor conta que apresentou a proposta, havia outros muros mapeados, mas surgiu aquele e foi o lugar ideal. 

“Eles [a prefeitura] colocaram paisagismo, vai ter bancos, luminárias, vai virar praticamente uma praça. E dá muita visibilidade para o mural, é um local maravilhoso. Balneário precisa de mais locais públicos ao invés de prédios. O Open Street Gallery é uma proposta muito boa por esse motivo, porque leva arte para o morador de nossa cidade, que não vai mais ver só janelas e paredes”, disse Urizar. 

Ele é o criador do mural ‘Isadora e o Caracol’, feito para a CasaCor em 2018 e que está até hoje no Plaza Itapema. 

“Já teve sessão de fotos lá, com a modelo Carol Trentini, e muitas pessoas param para fotografar, virou um cartão postal – assim como a Panorâmica vai ser também. Gostei muito da proposta do Eduardo Vaso, é fantástico não só pelo fato da expressividade, mas por essa arte diferenciada. A Fundação Cultural, empresários e representantes dos prédios precisam apoiar mais, e também precisamos de orçamento para manutenção para que essas obras perdurem”.


Expertise na criação de painéis gigantes

Fernando tem expertise na pintura de painéis gigantes pela cidade (Arquivo pessoal)

O artista Fernando dos Santos Cardoso, diretor criativo do Open Street Gallery, é o ‘braço direito’ de Tom Veiga e Eduardo Vaso, tendo apoiado os dois no desenvolvimento dos painéis gigantes.

“Eu tenho buscado cada vez mais trabalhar dentro dessa linha. Muitas vezes os artistas não têm essa expertise [de pintar painéis gigantes] e chegam até mim. Sou envolvido com arte desde os meus 14 anos, hoje tenho 39. Já faz ‘uma cara’ (risos). Comecei pintando pista de skate, focado em um grupo específico, com quem eu me relacionava. Comecei no grafitti e hoje migrei, uso de outras técnicas, defendo mais o muralismo, dentro da arte conceitual moderna, utilizando rolos, pincéis”, destacou. 

Ele segue dizendo que o movimento da arte está entrando mais nos espaços públicos, a sociedade está dando mais valor.

“As cores podem despertar sentidos e emoções, influenciam no humor. Grandes painéis contam histórias, a nossa cidade vai ter páginas que estarão ilustrando um momento, como a pandemia. É desafiador fazer um grande painel como esse, exige muito da equipe, verba para material… é um trabalho que começa muito tempo antes. O do Vaso levou um ano para conseguirmos planejar e fazer acontecer”, enfatizou. 

O artista disse que a intenção com o Open Street Gallery é fazer uma galeria a céu aberto em Balneário, conectando a cidade pela arte, com pontos ligados, contando a história da cidade e de sua cultura. 

“Na Praça da Cultura há o incentivo à leitura, já na Passarela da Barra um teor histórico. Os painéis acabam sendo um ‘respiro’, muitas pessoas nunca estiveram em um museu, e com os murais a arte estará ao alcance de todos. Sou professor de Artes Visuais e Design e vejo uma carência muito grande por parte da sociedade que não tem informação de estética e, por conta disso, não criam vínculo com a arte. A ideia dos painéis é aproximar, ainda mais com a pandemia que nos distanciou tanto; com isso as pessoas estão mais sensíveis, e as cores têm esse poder de atração. Balneário é uma cidade cheia de prédios, e o mural do Vaso foi o primeiro passo para construirmos a história desse recomeço, que será uma nova etapa da arte em BC. Acredito que os murais serão cada vez mais presentes, pois temos muitas telas a céu aberto só esperando. Mesmo que o artista não tenha expertise de desenhar no prédio, o Open Street quer realizar esse sonho, como fizemos com o Vaso”.


Berejuk: muralismo é ‘transformar concreto em galerias’

Berejuk e seu painel de girassóis (Arquivo pessoal)

O grafiteiro Luís Felipe Berejuk possui uma longa caminhada colorindo as ruas de Balneário: são mais de 10 anos de grafitti, e para ele, ver o muralismo conquistando cada vez mais espaço, é a realização de um sonho

“Sempre almejamos isso, fomos ‘desencadeando’ portas, o jornalismo do Página 3 foi fundamental para esse desenvolvimento também, nos ajudou a desmistificar o grafitti. Eu pintei o mural dos girassóis, na Estrada da Rainha, que envolveu uma conscientização muito grande [homenageou a campanha Setembro Amarelo] e é através desse contexto que vamos transformar e desmarginalizar a arte. Ainda demanda muito trabalho, esforço e correr atrás de patrocínio e apoio, mas vale a pena porque estamos transformando a cidade. Ainda não há condições totalmente favoráveis para os artistas, mas as coisas estão acontecendo e em Balneário há grandes oportunidades – enormes paredes, prédios… o objetivo é transformar esse concreto em galerias a céu aberto”, ressaltou. 

(Dieter Klaus Bubeck)
Painel de girassóis de Berejuk homenageia o Setembro Amarelo ( Arquivo pessoal)

Berejuk diz que alimenta há muitos anos o sonho de  transformar Balneário em um polo de arte, e aos poucos essa cadeia vai crescendo. 

“Estamos tentando dar o máximo de conforto e possibilidade de locais para os artistas pintarem. O governo municipal e a Fundação Cultural nos apoiam bastante, conhecem nosso trabalho, mas ainda não conseguimos resgatar verba financeira, apesar de nossa atividade ser reconhecida como legal e idônea. Queremos fazer muitas coisas, seria bacana algo que incentivasse, como abono fiscal, leis que beneficiassem o muralismo. Hoje poucas empresas nos apoiam, as pessoas ainda têm receio por ser algo novo, mas estamos no caminho certo e o prédio pintado pelo Vaso foi uma grande vitória”.


Open Street Gallery: projeto quer ‘colorir’ toda a cidade

O arquiteto e curador de arte Murilo Trevisol idealizou o Open Street Gallery em 2018, começando com o objetivo de fazer uma galeria a céu aberto no Bairro da Barra, mas agora o projeto se espalhou por toda a cidade

“Em 2020 concentramos 100% de nossa atividade, com a pandemia pensamos em parar, mas foi quando recebemos a doação de 1.008 litros de tinta da Coral. Já usamos uns 300l, e temos também a campanha de arrecadação de tinta [já arrecadaram cerca de 2.000l]. No último ano também recebemos cerca de 40 artistas em nossa cidade, quadriplicamos o número de pessoas pintando muros por aqui. Estamos conseguindo dar passos importantes na busca de Balneário como uma cidade mais humana e criativa, o objetivo é contribuir com o ambiente de rua e colocar Balneário na rede criativa da Unesco – com o lema ‘agir local e pensar global’, enfatizou Murilo. 

(Arquivo pessoal)
(Arquivo pessoal)

Ele contou que o Beco do Brooklyn, um local emblemático da cidade, que já foi pintado várias vezes, agora está com um nível de produção diferenciado, respeitando a história do lugar. 

“Vamos receber artistas que são grandes referências como Original Caps, Soberana Ziza, Onesto Diesel, Calu Botânica e Mateus Bailon. O objetivo é não apenas pintar paredes e sim transformar espaços, criar roteiros artísticos, contar histórias e assim criando um modelo de economia. Queremos remunerar os artistas e aproximar pessoas. A pintura do Vaso é um avanço, mostra que estamos tendo resultados. A prefeitura está apoiando o nosso movimento, que é independente. Nós que buscamos as paredes. Temos apoio institucional, como da Univali, e de empresas, a exemplo da KNN, que bateu no peito e nos ajudou com a pintura do prédio do Vaso. Já temos mais possibilidades, três ou quatro, que estão se desdobrando, além do Beco do Brooklyn. A LIC (Lei de Incentivo à Cultura) só acontece uma vez por ano, por isso é tão importante termos apoio de empresas, de pessoas, da sociedade como um todo. A arte muda a vida das pessoas de verdade! Agora quem vê o prédio da Praça da Cultura tem contato direto com a arte, de forma democrática e acessível. Balneário é uma cidade inovadora e receptiva com a inovação. Estamos bem felizes com tudo que vem acontecendo, é muito bacana ver os artistas empolgados, se desenvolvendo, buscando se profissionalizarem. O muralismo vai crescer cada vez mais, queremos colorir a cidade toda, contando histórias… parede é o que não falta!”

Texto: Renata Rutes

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