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Balneário Camboriú

Dia Mundial do Meio Ambiente: rios de Balneário Camboriú pedem atenção urgente

Pesquisa mostra Rio Camboriú entre os mil mais sujos do mundo

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Na Semana do Meio Ambiente, que culmina com o Dia Mundial neste sábado (5), uma pesquisa que analisa a origem do plástico nos oceanos, feita por instituições da Alemanha e da Holanda e publicada pela revista Science Advances, apresentou uma triste realidade, que afeta diretamente a população de Balneário Camboriú e Camboriú: o Rio Camboriú aparece na lista dos 1.000 rios mais sujos do mundo. 

Mesmo que o maior problema não seja o plástico em nossas águas, outro ponto também é citado na pesquisa: o esgoto e a poluição, e ambas afetam não só o Rio Camboriú como também os outros da cidade, Ariribá, Marambaia e Das Ostras. 

O Página 3 ouviu nesta semana autoridades e envolvidos com o tema, que opinaram sobre a situação e todos alertam sobre a necessidade dos moradores se conscientizarem, além ainda de políticos precisarem fazer mais em prol de nossos recursos hídricos. 


Vereador Meirinho pediu urgência no projeto da segurança hídrica de Balneário 

Vereador André Meirinho

O vereador André Meirinho, atuante nas causas ambientais, é o responsável pelo projeto que trata da segurança hídrica de Balneário Camboriú, que está tramitando na Câmara de Vereadores. Ele pediu nesta semana que o PL entre com regime de urgência para ser votado logo. 

“O Rio Camboriú é um dos principais patrimônios hídricos da nossa bacia, é a fonte que abastece nossa população e possibilita o desenvolvimento econômico de nossa cidade. Algumas medidas são fundamentais como despoluição, recuperação, conservação e monitoramento. Nosso mandato no Legislativo tem atuado neste sentido, com propostas para melhorar a saúde ambiental dos nossos rios e praias, dependemos de ainda mais comprometimento do Poder Executivo para colocá-las efetivamente em prática”, diz. 

Meirinho lembra que em 2016, indicou a realização do Programa Se Liga na Rede, atualmente em desenvolvimento pela Emasa, que tem o objetivo eliminar ligações irregulares de esgoto. 

“Apesar de estar em desenvolvimento, ainda há muito o que se fazer para despoluição dos corpos d’água que passam dentro do município de Balneário Camboriú, seja o Rio Camboriú, os afluentes Rio Peroba, Rio das Ostras e o próprio Rio Marambaia que corta a cidade e junto com a Praia Central serve de vitrine para a cidade”, analisa. 

O vereador explica que também já conseguiu contribuir com emenda nas leis orçamentárias, que garantiu a manutenção de recursos ao Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú, que desenvolve ações de conservação e recuperação de nascentes e áreas estratégicas para o abastecimento público. 

“Sabemos que Balneário Camboriú está bem próximo de atingir 100% de coleta e tratamento de esgoto, mas dependemos da implantação de coleta e tratamento de esgoto também no município de Camboriú. O que depende da tomada de decisão dos Poderes Executivos e acordo entre os municípios para avanço adequado. Além disso, garantir o tratamento adequado para a futura população, vai requerer ampliação e melhorias contínuas no sistema de tratamento de esgoto”, afirma. 

Meirinho também apoia o programa Estuário do Rio Camboriú 2030, que visa monitoramento e ações na zona estuarina, onde se localizam as embarcações náuticas.

“Também, na última semana, apresentamos em audiência pública o Projeto de Lei n.º 13/2021, que institui a Política Municipal de Segurança Hídrica e Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de melhorar a gestão e o planejamento integrado das águas no âmbito do município de Balneário Camboriú, envolvendo estratégias setoriais para disponibilidade hídrica; despoluição hídrica; águas pluviais urbanas e prevenção e mitigação de desastres. Estamos fazendo a nossa parte no legislativo e precisamos do comprometimento do Poder Executivo para implementar as ações com efetividade e responsabilidade, para que tenhamos um Rio Camboriú mais saudável!”, informa. 


“De que adianta praia alargada e a areia cheia de cocô?” 

Vereador Marcelo Achutti

O vereador Marcelo Achutti lembra que em 2015 foi feito um pedido para que Camboriú não construísse mais unidades familiares sem implantar rede de esgoto – o que até hoje não aconteceu e é considerado um dos principais problemas do Rio Camboriú, já que toda a ‘sujeirada’ cai diretamente no rio.

“Quando a Luzia Coppi ainda era prefeita o Governo Federal repassou mais de R$ 100 milhões para que a obra fosse feita, mas não deu em nada… e entregaram a galinha de ovos de ouro para Águas de Camboriú. O nosso rio está na UTI, precisa de auxílio. Já captamos água além da outorga, e o esgoto in natura de Camboriú… é complicado”, diz. 

O vereador diz que ‘falta sensibilidade’ por parte dos prefeitos de Balneário e Camboriú, Fabrício Oliveira e Elcio Kuhnen, respectivamente. 

“De que adianta praia alargada e a areia cheia de cocô? Não era momento para fazerem essa obra agora. Não sou contra ela, mas tínhamos que primeiro cuidar de nossos rios. Os briozoários, segundo estudos da Univali, se alimentam do esgoto, e por isso temos que nos voltar para Camboriú também”, pontua. 

Uma das opções para solucionar a problemática do Rio Camboriú é a criação do Parque Inundável, mas Achutti lembra que o projeto envolve muito dinheiro para desapropriações.

“R$ 150 milhões! E precisa ser do caixa da prefeitura de Camboriú. É mais caro que o alargamento da faixa de areia e do que a reurbanização da Avenida Atlântica. Se optassem por arrendamento seria menos de R$ 1,5 milhão/ano, com valores repassados em saca de arroz. É muito dinheiro em jogo, Balneário repassa R$ 2 milhões para a AMFRI/ano, e ali nada avança ou prospera”, comenta.  

Achutti acrescenta que a situação piora, citando o Rio Marambaia, que, segundo ele, também sofre com ligações clandestinas, além de que na temporada ‘o esgoto ali não dá conta’. 

“Quando chove o esgoto aparece, vem a mancha preta no mar. Já melhorou muito realmente, mas ainda temos muito mais para fazer”, afirma.


CONSEG e Lions na limpeza no Rio Camboriú: “Daria para fazer uma dessas por mês” 

Valdir de Andrade na última Limpeza do Rio Camboriú, em abril (Foto Renata Rutes)

O presidente do Conselho Municipal de Segurança de Balneário Camboriú e diretor de marketing do Lions Clube Balneário Camboriú Centro, Valdir de Andrade, foi um dos idealizadores da campanha de limpeza do Rio Camboriú, que aconteceu no final de abril. Foi a segunda edição do evento.

“Faremos só uma por ano porque demanda logística, organização e dinheiro, mas se quiséssemos, infelizmente, daria para fazer uma por mês. Não deveríamos precisar, mas seria possível porque tem muito lixo nas margens do nosso rio”, conta. 

Valdir, que é também advogado, vê que o esgotamento sanitário de Camboriú é uma obra urgente e que sem isso a problemática do rio não será resolvida. 

“Temos que saber também se os 98% saneados de Balneário são de fato efetivos, mas o grande ponto é Camboriú. É bem preocupante a falta de consciência dos cidadãos com o rio, é a nossa vida e sobrevivência em jogo, literalmente. Não podemos falar dos rios só na Semana do Meio Ambiente, é uma campanha que precisa ser permanente! Vamos ter um caos hídrico muito em breve, segundo pesquisas entre 2025 e 2027”, afirma.  

O presidente salienta ainda que há outros rios que demandam preocupação do poder público, como o Rio das Ostras, onde está sendo feito um trabalho pela prefeitura, assim como o Marambaia, ‘mas que continuam sujos’.

 “O Marambaia há a questão do assoreamento, a Estrada da Rainha vai assoreando cada vez que chove, e vem o lodo. A prefeitura se preocupa tanto com o turismo, com a construção civil, mas sem água de que adianta tudo isso? Não adianta ter apartamento de R$ 10 milhões e não ter água!”, acrescenta.

(Foto Renata Rutes)

(Foto Renata Rutes))

(Foto Renata Rutes)

(Foto Renata Rutes))

Parque Inundável: empurrão político  

Valdir diz que o Parque Inundável é a melhor solução para os dois municípios, e que apesar de ser um grande orçamento (R$ 150 milhões), é um investimento futuro que as cidades precisam. 

“E esse projeto só vai sair se Balneário enfrentar, se entrarmos junto. Se depender de Camboriú não vai dar certo, eles não têm orçamento. Qual é o empurrão político que precisa? Precisa de vontade e tirar do papel já! O que falta hoje é efetividade”, destaca.


Dois rios em um: qualidade x ‘vala a céu aberto’ 

Gilmar Pedro Capelari

O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, Gilmar Pedro Capelari diz que o rio Camboriú realmente está muito sujo e aponta uma situação peculiar.

“Temos dois rios dentro de um só, há o Rio Camboriú antes do ponto de captação da Emasa, na região do Instituto Federal Catarinense que tem qualidade muito superior a outros rios da região, e o outro lado, entre a foz e o ponto, que realmente é um rio que pode ser chamado de vala a céu aberto, porque recebe o esgoto direto de Camboriú. Nas proximidades do Rio Peroba e Rio Pequeno também, porque recebem toda a coleta de esgoto”, afirma. 

Gilmar aponta que o Comitê, que é formado por 30 entidades que atuam de forma voluntária, tem cobrado insistentemente do Poder Executivo de Camboriú soluções para esse caso, mas que vê que o governo municipal não tem condições para fazer a obra da rede coletora, que custaria mais de R$ 100 milhões aos cofres públicos. 

“Surgiu a possibilidade da Águas de Camboriú fazer a rede, a contrapartida seria um aumento no contrato, e a comunidade é favorável. Houveram duas audiências públicas e foi unânime a aprovação pela implantação da rede coletora. Não podemos mais conviver com essa situação, o Comitê não a aceita em hipótese alguma”, comenta. 

Capelari também citou o que os outros entrevistados destacaram, que Balneário e Camboriú são duas cidades em constante desenvolvimento, turísticas e que vivem o ‘boom’ da construção civil, e que por isso se preocupam muito com a questão hídrica x número de habitantes. 

“Camboriú hoje é subdesenvolvida no sentido de tratamento de esgoto, enquanto Balneário tem quase toda a cidade atendida, mas sem Camboriú ser saneada, as coisas não andam. Temos que cobrar do poder público porque não há outra solução a não ser a rede de esgoto”, diz. 

O Comitê também conta com ações de educação ambiental, já que a população também precisa aprender que não pode jogar lixo no rio.

“A EPAGRI também conta com um projeto de manejo das águas que é muito bacana, junto das lavouras de arroz, pois aplicam agrotóxico e pode ir para o rio, assim como a criação de porcos, pois os desejos dos suínos também são altamente poluidores. A situação toda é muito ampla”, aponta. 

Comitê do Rio Camboriú

Parque Inundável: a melhor solução 

A crise hídrica é um alerta que o Comitê faz frequentemente, pois se nada for feito Balneário e Camboriú sofrerão com ela muito em breve. 

“Não tem como colocar a conta só para Camboriú, precisa ser tratado de forma conjunta e precisa avançar logo. Hoje a nossa melhor opção é o Parque Inundável, pois ele vai armazenar água da chuva, nos ajudando a ter reserva. As outras opções, como dessalinização e transposição de outros rios são caros e difíceis. O projeto está no IMA para obtenção de licença ambiental. A obra toda deve ser finalizada em quatro anos, mas em dois anos já teríamos condição de estar utilizando o Parque, com a garantia de reserva de água. Não é terrorismo, é realidade: em 2027 não teremos água suficiente para atender a todos”, afirma. 

A ideia de ‘transpor’ água do Rio Tijucas para Balneário e Camboriú também é discutida, mas o rio já abriga 17 municípios (todos sem tratamento de esgoto) e tem ‘na fila’ Itapema e Porto Belo, além de haver comentários sobre auxiliar o lado norte da ilha de Florianópolis.

“E o Itajaí também não dá, já falta água em Navegantes e Itajaí, imagina se for assistir mais Balneário e Camboriú? O Parque Inundável é, sem dúvidas, a melhor opção que temos, não só do ponto de vista econômico, mas ambiental, acabando com dois problemas: a escassez de água e as enchentes, porque hoje a água em poucas horas passa direto pelo rio e desagua no mar, já que não temos onde armazená-la”, completa Gilmar.


“Camboriú deveria usar exemplos de Balneário”, diz o diretor da Emasa 

Douglas apresentando o Jacamasa no Parque Ecológico (Divulgação/Emasa)

O diretor geral da Empresa Municipal de Água e Saneamento (Emasa) Douglas Costa Beber disse que recebeu com tristeza a notícia de que o Rio Camboriú está entre os mil mais poluídos do mundo. Ele diz que Balneário Camboriú vive duas realidades. 

“Enquanto o meio ambiente é o carro chefe da administração, que avançou muito com relação a bandeira azul, a limpeza dos rios, a situação da rede coletora de esgotos e em contrapartida temos um município ao lado que nos traz zero investimento nessa área,  não tem qualquer ação que a gente tenha conhecimento que realmente vise a proteção do maior bem que a cidade tem hoje que é o rio Camboriú”, afirmou.

Ele segue dizendo que Balneário Camboriú deve servir de espelho para Camboriú começar a olhar para esse rio de maneira a trazer alternativas para que a gente deixe de figurar nesse cenário negativo. 

“Exemplos temos muitos, o Programa de Proteção das Encostas, o Programa Produtor de Águas, o Jacamasa, programa ambiental que trabalha essas questões dentro das escolas, as ações que fizemos dentro do rio. É importante que o município vizinho se espelhe e possa tomar uma atitude para que em conjunto com Balneário Camboriú, deixemos de figurar nesse cenário triste”, concluiu.


“Depende muito de Balneário e da iniciativa privada” 

Valmor Dalago, presidente da Fundação do Meio Ambiente de Camboriú

O presidente da Fundação do Meio Ambiente de Camboriú, Valmor Dalago, diz que a situação hídrica é uma preocupação que tem desde que assumiu um cargo público pela primeira vez – há 16 anos, e lamenta que até hoje ‘nada foi feito’.

“Camboriú é um dos municípios mais pobres da AMFRI, não temos condições de bancar o tratamento de esgoto. Para isso acontecer, depende muito de Balneário e da iniciativa privada. Temos que fazer as duas obras paralelamente: o esgoto de Camboriú e o Parque Inundável, para salvar o rio que está muito poluído e reservar água, respectivamente”, explica. 

Segundo Valmor, a Águas de Camboriú quer assumir a obra do esgoto, e que neste momento um documento tramita na Assembleia Legislativa para que Camboriú consiga um ‘aval’ para começar as negociações. 

“Eles têm know-how para fazer todo o processo e tem que fazer urgentemente, assim como também temos que mudar essa cultura do povo, muitas pessoas acham que ainda podem jogar lixo no rio, na rua. Exige um trabalho de conscientização muito forte, já temos um projeto ambiental nas escolas que parou por conta da pandemia, mas assim que possível vamos retomá-lo. As crianças são uma ferramenta importante para a conscientização”, diz. 

Outra preocupação que Camboriú também tem é, de acordo com o presidente, é a questão do parcelamento do solo rural: espaços em áreas como Caetés e Macacos que deveriam abrigar uma família, possuem de 10 a 15, e isso contamina o lençol freático. 

“Há um número enorme de borrachudos (mosquitos) em nossas cachoeiras porque estamos com um alto índice de coliformes fecais nessa região”, completa.


“O investimento em educação é a grande solução” 

Aline Antunes, consultora do Comitê Rio Camboriú

A consultora do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú e Bacias Contíguas, Aline Antunes, aponta que a Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú é bastante pequena, e que, apesar de teoricamente parecer ‘fácil’ de se gerenciar, envolvendo apenas a gestão de dois municípios, e que poderia servir como modelo para outras cidades, não é a realidade. 

“Mesmo com esta vantagem especial, possuímos um dos rios mais poluídos do mundo, o Rio Camboriú, que nasce na cidade de Camboriú, que não tem um metro de rede de esgoto, e desemboca em Balneário Camboriú, com uma densidade demográfica extremamente elevada. A implantação do saneamento básico em Camboriú, sem dúvida, poderia tirar o Rio Camboriú deste vergonhoso ranking, mas precisamos ir além, na raiz do problema”, explica. 

Aline diz que ‘o investimento em educação é a grande solução’. 

“Não basta apenas tratarmos adequadamente nossos efluentes, precisamos economizar água, preservar nossas matas ciliares e manter o equilíbrio ecológico do rio. Precisamos dispor adequadamente nossos resíduos, e mais do que isso, precisamos reduzir a geração dos mesmos, que é um dos maiores problemas mundiais. Porém, isso só será possível com uma educação ambiental efetiva nas escolas, com uma fiscalização ambiental incisiva e com políticas públicas inteligentes”, afirma, citando que hoje o Rio Camboriú é ‘extremamente poluído’ e que hoje tem sua capacidade de oferta de água no limite. 

“A ciência e seus números são claros, precisos e inquestionáveis, e apontam para uma situação hídrica insustentável em 2025. Se mantermos o mesmo ritmo, além da grave poluição hídrica, daqui quatro anos teremos que lidar com o problema da falta de água. Não há mais tempo para continuarmos com este atual modelo de gestão”, destaca. 

O saneamento em Camboriú e a construção do Parque Inundável Multiuso são ações que a consultora vê que deveriam ser ‘prioridades municipais’, já que sem água nenhum segmento social se mantém. 

“O Dia do Meio Ambiente é muito importante, pois nos faz refletir sobre a importância da manutenção dos recursos naturais. A nível mundial, a humanidade já se encontra quase que condenada por suas próprias ações, apontam os cientistas. Precisamos correr contra o tempo”, completa.


“Não se resolvem do dia para a noite”, diz secretária do Meio Ambiente de Balneário

Live do prefeito Fabrício com a secretária Maria Heloísa abriu a Semana do Meio Ambiente

A secretária do Meio Ambiente de Balneário Camboriú, Maria Heloísa Furtado Lenzi, disse que não sabe de onde vieram as informações relatadas na pesquisa que indica o Rio Camboriú como um dos mais poluídos do mundo, pontuando que é complicado opinar sem saber se os pesquisadores estiveram em Balneário para conhecer a realidade.

“Já conheci rios que não se vê a água, só camada de plástico, e Balneário não tem essa situação. Não vamos dizer que o rio está lindo, temos problemas, mas não consigo confiar em pesquisa que não sei a fonte”, afirma.

Heloísa aponta que Balneário tem feito ‘muito’ pelo meio ambiente, mas que a população precisa contribuir.

“Uma coisa é uma garrafa pet que vai parar no rio por conta da chuva, outra coisa é sofá, geladeira… a população ainda insiste em achar que pode jogar lixo no rio e isso é absurdo. O rio não é lixeira, e isso demanda educação ambiental. “É a mesma linha do esgotamento de Camboriú, que precisa ser feito. E ainda que a cidade não tenha, a população precisa fazer a manutenção de sua fossa. É uma questão de que todos precisam estar cientes nesse processo. Temos muito a fazer ainda, mas já temos muitos resultados positivos, um exemplo é o Rio Marambaia, assim como o Rio das Ostras que está sendo desassoreado, com a Emasa fazendo um excelente serviço. São problemas crônicos que o município tinha, como a balneabilidade e falta de plano de manejo das unidades de conservação, e que não se resolvem do dia para a noite, mas estamos tendo resultados bem positivos”, opina.

A secretária conta que o Rio Ariribá também receberá atenção por parte do município, através de um convênio com Itajaí, já que ele fica na divisa com a cidade vizinha.

“Estamos trabalhando junto com a AMFRI para fazer um consórcio, já está sendo encaminhado. Vamos contratar uma empresa para fazer o projeto de recuperação dele”, completa.

Novidades

Na noite de terça-feira (1º) a secretária e o prefeito Fabrício Oliveira apresentaram algumas novidades da área ambiental em Balneário. Confira algumas delas.

Aplicativo Recicla BC: através dele a comunidade saberá a hora que o caminhão passará em frente de casa, sem colocar o lixo antes da hora, protegendo também os rios, já que quando chove o resíduo é levado. O app também conterá informações como locais de Ecopontos, a comunidade poderá tirar dúvidas e saber como descartar os resíduos da forma correta.

Plano de Recuperação da Mata Atlântica: Balneário tem 48% de cobertura de Mata Atlântica, principalmente na região das praias e morrarias, sendo ‘abraçada’ por ela. O Plano tem como objetivo traçar diretrizes, fazendo um diagnóstico da situação para recuperação da mata, sendo o grande problema as árvores exóticas ‘invasoras’.

Diagnóstico de escape de resíduos: Balneário terá um diagnóstico de resíduos em costões, que são deixados nas praias, principalmente após a pesca (pilhas, latas, iscas, plástico, etc.). A prefeitura irá fazer um estudo dos pontos e também a limpeza, em terra e também com mergulhadores. A Univali foi a vencedora do chamamento público e irá coordenar a ação.

Monitoramento da praia central: A enseada será monitorada por 36 meses para saber qual será a alteração que a praia vai sofrer com o alargamento da faixa de areia, assim como a revitalização da Avenida Atlântica, junto com o plantio de restinga nativa.

Dog parks: Balneário terá mais um dog park no elevado da Quarta Avenida.

Plano de ações contra invasões: Por Balneário ter morrarias, há a preocupação com as invasões, que tendem a aumentar se não haver controle. Segundo a prefeitura, hoje há 36 pontos que são monitorados diariamente por uma força-tarefa. Os que foram possíveis, serão adequados, e os outros serão demolidos.


AMFRI tem dois projetos para Balneário

Parque Inundável e recuperação do Rio Ariribá 

João Luiz Demantova, consultor de gestão da AMFRI esteve na Câmara de Vereadores no último dia 19. (Foto Câmara de Vereadores)

O diretor executivo do Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Região da AMFRI, João Luiz Demantova, explica que a Associação está trabalhando para ajudar Balneário e Camboriú a conseguirem tornar realidade o Parque Inundável, que é uma constante preocupação por conta da segurança hídrica – um problema de todo o país. 

“A ideia desse Parque Inundável é construir uma barragem para reter a água das enxurradas, esse é o primeiro objetivo; o segundo é criar um reservatório de água potável, capaz de suprir as necessidades dos dois municípios e, quem sabe futuramente, de outras cidades da região”, diz. 

Esse projeto está, segundo João, bastante avançado – com o projeto de engenharia já desenvolvido pela Emasa e o ambiental em aprovação pelo IMA. A Amfri vê que a iniciativa privada precisa auxiliar no processo, já que envolve um grande montante – principalmente nas desapropriações que precisam ser feitas. Para ‘chamar’ investidores, o diretor aponta que há algumas formas, como a criação de parques temáticos, resort, áreas de entretenimento e lazer, etc. e outros atrativos que podem ser construídos ao redor do Parque Inundável – assim como há no Parque Barigui, em Curitiba.

“Teríamos um novo equipamento turístico para a região, para movimentar a economia da região, vemos com muitos bons olhos esse projeto. Nós assinamos um acordo de cooperação técnica com a Caixa Econômica Federal para que nos auxiliem, em um consórcio, a fazer a estruturação do projeto. Esses projetos de PPP são processos de médio e longo prazo, mas estamos evoluindo bem. Esperamos ter, no próximo ano, novidades muito significativas quanto a esse projeto”, diz. 

Sobre a recuperação do Rio Ariribá, que está na divisa entre Balneário e Itajaí. Está sendo feito um consórcio para que os dois municípios consigam atuar juntos. Contratos de rateio já foram assinados e agora está sendo elaborado o edital para contratar a empresa que fará o projeto – a licitação deve ser lançada até o final deste mês. Após isso, há um prazo de seis meses para o desenvolvimento do estudo que irá analisar o que precisa ser feito em relação ao ribeirão. A segunda etapa é a contratação de empresa para tocar a obra – o que deve acontecer em 2022.


Estuário do Rio Camboriú 2030

Programa desenvolvido por pesquisadores da Univali para salvar o Rio Camboriú e garantir água para a população em um futuro próximo

Programa foi apresentado aos vereadores de Camboriú (Divulgação)

O Programa Estuário do Rio Camboriú 2030 é uma proposta de monitoramento ambiental, um Sistema de Indicadores para tomada de decisão e um Programa de Educação e Comunicação Ambiental com 10 anos de acompanhamento de dados, com o objetivo principal de recuperar, revitalizar, restaurar e proteger o Rio Camboriú e sobretudo: garantir água em futuro muito mais próximo do que se imagina.

Quem diz é o professor Marcus Polette, que coordena o programa apresentado recentemente ao prefeito Fabrício Oliveira, à Emasa e aos vereadores de Balneário Camboriú e de Camboriú.

Na Semana do Meio Ambiente, o professor Polette  – a pedido da reportagem – detalhou o programa no seu passo-a-passo. Acompanhe: 

O diagnóstico: O estado do rio é dramático

“Iniciamos em 2020 o trabalho para fazer um diagnóstico do rio Camboriú. Ele tinha como base avaliar o impacto, principalmente das grandes estruturas ao longo do estuário. Ficou demonstrado que realmente as estruturas portuárias ou outras, tendem a causar um dano irreversível e ao longo de 19 projetos, o que ficou evidente, mas não era surpresa nenhuma, foi o estado do rio Camboriú, que é dramático”. 

A realidade: o rio está praticamente morto

“Dentro da área da oceanografia química, foi avaliado que a qualidade do rio hoje, na área estuarina, é muito séria. O rio praticamente está morto”. 

O mangue, o lixo e a biodiversidade

“Também vimos o impacto no mangue, que é muito importante, principalmente pelo lixo ali deixado, mas por outro lado vimos a biodiversidade do lugar, tem mais de 90 espécies de aves que frequentam a região”.

Costões e a paisagem

“Avaliamos os costões, a fauna dos costões, que recebem um impacto muito grande, principalmente despoluentes que vem do rio. Fizemos uma análise da qualidade da paisagem ao longo do estuário, de 0 a 10, o estuário recebeu nota 6 em termos de qualidade ambiental da paisagem, pelos usuários da região. Demonstrando que temos uma área muito importante para ser recuperada”.

Poluição do rio chega a Ilha das Cabras

“O projeto demonstrou que mais do que nunca precisamos de um programa maior que possa entender o que está acontecendo dentro do rio. Dentro do modelo matemático que foi feito, constatou-se que hoje a poluição do rio chega a atingir a Ilha das Cabras, o que afeta a qualidade da água de toda a enseada”. 

Passo-a-passo

“De posse de todos estes dados, levamos o assunto ao Comitê do Rio Camboriú, que nos deu apoio, levamos ao Rotary Club, ao prefeito Fabrício Oliveira, e à Emasa, que se interessou e solicitou que pudéssemos pensar em um programa conjunto, integrado, para pensarmos o rio a longo prazo. Uma estratégia importante feita pelo diretor da Emasa foi de incluir um programa de longo prazo de gestão ambiental para o Rio Camboriú por meio de um plano plurianual da Emasa, inclusive com recursos para o desenvolvimento de programas de recuperação ambiental”.

Camboriú cresceu mais que Balneário Camboriú 

“Iniciamos um trabalho, em abril e maio, de montar um programa de longo prazo para o estuário e para o rio Camboriú, porque grande parte dos problemas que o estuário recebe vem de Camboriú e esses problemas vem da área urbana e agrícola. É uma região que está crescendo de forma muito rápida. Nos últimos 10 anos Camboriú teve um crescimento muito maior na sua população residente do que Balneário Camboriú e Camboriú não tem uma rede de esgoto. Então os problemas se avolumam, porque o rio recebe não só a poluição dos agroquímicos, mas toda essa carga de matéria orgânica, que vem de quase 90 mil pessoas que vivem em Camboriú”.

Monitoramento a longo prazo

“Pensando nisso desenvolvemos um programa que vai ser inédito no Brasil, que vai se basear em um programa de monitoramento de longo prazo, onde iremos avaliar a qualidade do rio de forma permanente, iniciando pelo estuário: coletas de água frequentes em todas as estações do ano, água superficial, de fundo, junto com dados de oceanografia fisica e isso vai para uma segunda etapa do trabalho, um grande portal em forma de banco de dados”

Educação e Comunicação

“Junto disso será desenvolvido um programa de educação e comunicação formal e não formal. A educação formal vai atingir as escolas municipais, privadas e estaduais, através de jogos, atividades lúdicas, capacitação de professores, saídas a campo. A educação não formal ligada à comunicação, vai trabalhar com os condomínios, síndicos, são quase 2400 condomínios e fazer um grande diagnóstico de como eles uitilizam a água e então capacitar os condôminos a rever sua forma de uso da água. Porque o problema do rio está tanto na poluição como na disponibilidade de água”.

Bacia Hidrográfica curta

“A Bacia Hidrográfica do rio Camboriú é muito curta. Quando chove, a água que vem lá da nascente, da cabeceira, leva só 10 horas para chegar na enseada de Balneário Camboriú. O tempo de retenção da água é muito curto, porque tem muita gente em Balneário e não há tempo de retenção. Uma grande piscina por exemplo, poderia reter, existem projetos desta natureza. Mas não adianta nada reter a água e as pessoas continuarem gastando achando que a água nunca acaba. A ideia é um trabalho de conscientização muito intenso nesse sentido nos condomínios. Todos precisam entender que nossa bacia é muito limitada”.

Inspiração vem de longe

“Uma das inspirações do programa está no Estuário de ChesaPeak Bay – o maior estuário dos Estados Unidos, que na década de 1980 estava ameaçado e com um Programa de Monitoramento contínuo, conseguiu total recuperação. O programa americano é provavelmente um dos mais bem-sucedidos da atualidade graças à parceria entre a academia, o poder público, a iniciativa privada e a comunidade local”.


Contratação do programa que custará R$ 1,5mi ainda não foi decidida

(Divulgação/Emasa)

O diretor geral da Emasa, Douglas Beber disse ao Página3 que o programa Estuário do Rio Camboriú 2030, que tem custo de R$ 1,5 milhão, valor que representa quase 2% do orçamento da empresa, que é R$ 800mi, exige avaliação criteriosa.

“Tem resistências da Emasa pelo valor e também pelo objeto da proposta, mas provavelmente semana que vem, após o feriado, reuniremos todos os técnicos para analisar e tomar uma decisão”, disse.

Douglas reforçou que o prefeito Fabrício quer fazer o programa, a Emasa também quer, mas enfatizou que não adianta fazer tudo isso sem a participação de Camboriú, que não tem um metro de esgoto instalado. 


Moradores realizam neste sábado evento em prol do Rio Marambaia 

Rio Marambaia (foto Carol Siciliano)
Rio Marambaia (foto Divulgação)

Neste sábado (5), às 16h, acontecerá um encontro virtual sobre o Rio Marambaia, através do aplicativo Zoom ( Link, ID da reunião: 942 3551 7729 e senha de acesso: 123729), com o objetivo de discutir o Rio Marambaia, compartilhando memórias dele, que já foi chamado de ‘Lagoa do Canto da Praia’, visando valorizá-lo. 

Um dos idealizadores é o advogado Anderson Beluzzo, ele conta que a iniciativa por meio da memória oral é ‘bem rica’, já que incentiva o debate e troca de experiências, cultivando ‘vivências sustentáveis’. 

“Muitas vezes ignoramos a importância desse rio, que é muito importante para a drenagem de nossa cidade, tendo essa função urbanística. O desafio é aprendermos um pouco mais sobre ele, não ficando de costas para ele, valorizando-o, por meio da memória lembrando o quanto ele já foi importante, seja por meio do alimento, como também para vivências com pais, amigos… tudo isso nos faz perceber que somos uma comunidade viva”, diz.  

A arquiteta Raquel Pena apresentou como TCC de sua faculdade, na Univali, em 2015, uma análise do Rio Marambaia. O que a motivou foi tentar descobrir o território que seu bisavô descobriu quando chegou na cidade nos tempos antigos. 

“Queria retomar o território original da cidade, sem os edifícios, e então tive acesso a uma publicação que falava sobre as cidades e as águas, e comecei a conhecer melhor os problemas de saneamento, falta de conexão da natureza, como urbanizamos Balneário de maneira exacerbada”, explica, citando que passou a valorizar ainda mais a cultura de Balneário e Camboriú, ainda mais quando conheceu o passado dos dois municípios. 

“Imaginar que tinham lagoas em nossa cidade… onde elas estão? Comecei a descobrir e tentar entender onde elas estariam, e descobri que elas formavam parte de uma rede hídrica e desembocariam no Rio Marambaia, onde eu sempre vi, morava no Pontal Norte (na Rua 1.101), e achava que era o esgoto e na verdade era um rio”, conta. 

Raquel também participará do evento, o qual ela diz que serve para a comunidade conhecer mais sobre o rio, conectando-se mais com a história dele, e vê que Balneário está se preocupando com a situação ambiental, mas que a população precisa se envolver mais.

 “Precisamos tomar conta de nosso espaço e fazer alguma coisa, só cuidamos e fazemos algo pelo que conhecemos, e é por isso que o público precisa conhecer mais sobre o Rio Marambaia”, finaliza.

Textos: Renata Rutes e Marlise Schneider Cezar


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