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Balneário Camboriú

Janeiro Branco em Balneário debate a saúde mental com programação virtual

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Por Marlise Schneider Cezar e Renata Rutes

A campanha Janeiro Branco, que neste ano segue a temática #TodoCuidadoConta, está em sua terceira edição em Balneário Camboriú, acontecendo neste ano de forma virtual com lives praticamente diárias até o final do mês via Instagram (@janeirobrancobc).

De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo (9,3%) e o segundo maior das Américas em depressão (5,8%). 

Balneário é uma cidade diferenciada quando o assunto é apoio emocional e psicológico, já que o município conta com um programa específico, com plantão 24h, o Abraço à Vida – que em 2020 contabilizou mais de nove mil atendimentos, demonstrando o quanto a pandemia de Covid-19 afetou o psicológico do público.

Com o objetivo de incentivar as pessoas a refletirem sobre a saúde mental e emocional, principalmente neste ano tão difícil, o Página 3 conversou com pacientes que dividem suas vivências e profissionais da área, que debatem a importância do público olhar para si e se conscientizar sobre a importância da prevenção ao adoecimento emocional, tratado por muitos ainda como um tabu.

Por que Janeiro Branco? 

A campanha foi criada em 2014 por um grupo de psicólogos de Uberlândia (MG) – em Balneário ela acontece desde 2019 –, em alusão às tradicionais comemorações das festas de fim de ano, quando as pessoas costumam realizar balanços das ações individuais e planejar, para o próximo ciclo de 12 meses, novas resoluções e metas.  

De acordo com os idealizadores, de maneira simbólica, o primeiro mês do ano é reservado como uma ‘página em branco’ para que novas práticas sejam reescritas, objetivando o bem estar da saúde mental. 

Quando se fala em saúde mental, muitos relacionam à ausência de doenças, como ansiedade e depressão, por exemplo. Entretanto, a OMS conceitua saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou demais enfermidades. 

JANEIRO BRANCO EM BALNEÁRIO

30 voluntários atuam na campanha, que está em sua terceira edição

A coordenadora do Janeiro Branco em Balneário Camboriú é a psicóloga Miriam Pereira. Ela conta que teve a ideia em 2019, junto de três amigas – hoje o grupo é formado por 30 voluntários, entre psicólogos e profissionais de outras áreas, inclusive de outras cidades, já que como a programação está sendo virtual é possível contemplar mais pessoas.

 “A campanha acaba tendo uma adesão nacional, já que por estarmos fazendo lives pessoas de qualquer lugar podem assistir, e esse era o nosso objetivo: atender uma demanda cada vez maior, por isso que estamos fazendo o Janeiro, mesmo com a pandemia”, explica.

Segundo Miriam, o principal objetivo é desmistificar o acesso ao psicólogo, já que muitas pessoas ainda seguem a linha de que ‘fazer terapia é coisa de louco’. 

“E não é! Há pessoas que precisam de ajuda e quem pode ajudar é o psicólogo. Assim como quando você está com uma doença física deve procurar um médico; o emocional também precisa de atenção e tratamento”, salienta.

A psicóloga aponta que por conta da pandemia já se sabe que muitas pessoas que não tinham depressão ou ansiedade desenvolveram sintomas, além de quem estava em tratamento acentuou o problema.

 “Vamos ver muita coisa daqui para frente, infelizmente. Há muitos casos em crianças, devido ao distanciamento social e falta de contato com seus pares, como colegas de escola. Eles estão desenvolvendo até mesmo sintomas físicos, por conta do estresse, tédio e até depressão acumulados, junto da ansiedade”, diz, comentando que os idosos também foram uma das faixas etárias mais afetadas, já que integram o principal grupo de risco do vírus. 

“O medo e o isolamento social obviamente impactaram, assim como a solidão. Nós do Janeiro Branco fizemos trabalhos com a Secretaria da Pessoa Idosa, focando na importância do resgate da espiritualidade, como também a meditação, exercícios de respiração”, comenta.

Miriam lembra que uma boa dica para que as pessoas tenham uma melhor qualidade de vida – incluindo a saúde mental – são caminhadas, que agora são permitidas através de decreto.

“Exercício físico três vezes por semana pelo menos para todas as faixas etárias, assim como a respiração diafragmática é essencial para ansiedade, junto da meditação. Porém, nos casos mais graves de depressão e/ou ansiedade é necessário medicação também, já que os sintomas podem ser mais complexos, sendo imprescindível o acompanhamento psiquiátrico. O tratamento pode ser longo, mas é preciso”, acrescenta.

As lives da campanha Janeiro Branco podem ser conferidas até o próximo dia 22, através do Instagram @janeirobrancobc. Profissionais estão abordando os mais diversos temas aliados à saúde mental, como compulsões, ansiedade, estresse, expectativas e frustrações, insegurança, depressão, autocuidado, emoções e autoconhecimento.

HISTÓRIAS REAIS

A importância de procurar por ajuda


Uma leitora, moradora de Camboriú, que preferiu não se identificar

“Acredito que o Janeiro Branco é muito importante, porque as pessoas passam a ouvir falar mais sobre saúde mental, assim acabamos derrubando barreiras e preconceitos que infelizmente ainda existem acerca da saúde mental, como a necessidade de procurar por ajuda. Quanto mais se fala, mais se normaliza.

Eu fui paciente da Miriam (a coordenadora do Janeiro Branco em Balneário) por cerca de cinco anos. Eu tive bursite no ombro e durante o tratamento de acupuntura me indicaram terapia. No começo eu tive receio, achava que não seria positivo, mas mesmo assim obedecia tudo o que a psicóloga me falava para fazer. Eu não cheguei a ter depressão, nunca fiz uso de medicação, mas tive uma espécie de ansiedade, devido ao acúmulo de traumas e não-aceitação. Eu me colocava em uma posição muito ruim, me machucava muito. Hoje, depois de muitos anos, vejo que eu fazia aquilo comigo mesma, eu tinha uma dor interna, na alma, e me martirizava muito com isso. Vinham crises de ansiedade e autossabotagem, eu me achava o pior ser humano do planeta – inclusive falava isso para a Miriam.

Fui trabalhando tudo isso na terapia e hoje consigo enxergar tudo diferente. Minha história daria um livro. Hoje tenho meu próprio negócio, tenho estabilidade emocional, mesmo ainda não estando no ideal, mas percebo muita evolução.

Falo para todo mundo a necessidade da terapia, passo o contato da minha psicóloga. Assim como você vai no dentista, faz check-up no médico, vai na academia, tudo isso para cuidar da saúde, também deveria fazer terapia.

Há muita gente machucada por não saber lidar com os próprios problemas, é um absurdo a terapia e o psiquiatra serem vistos como ‘coisa de louco’, é um preconceito ridículo. Acredito que, daqui alguns anos, essa barreira será derrubada. A escuta profissional é diferente, é muito importante e essencial procurar ajuda. Eu tenho amigas que gostam de desabafar, mas aprendi na terapia que não adianta eu ser um ombro amigo porque me sinto sobrecarregada. Já me afastei de pessoas porque não conseguia lidar com isso. É essencial você procurar a ajuda certa. Quando você está com dor de dente não procura ajuda com um amigo e sim com um dentista. Não entendo porque há tanta resistência com a terapia. Exatamente por eu ter acompanhamento psicológico que vejo que passei a pandemia bem, o que me afeta é ver notícias, a questão da crise, a vacina que não sai, mas talvez se eu não tivesse o apoio profissional eu sentiria mais. A terapia me ensinou os meus limites e eu os respeito.

Meu recado é: procure ajude profissional, não desista do tratamento, continue, faça tudo o que precisa ser feito, pode ser demorado, mas vale a pena”.


Karina, 41 anos, moradora de Balneário Camboriú, atendida pelo programa Abraço à Vida

“Há um ano aproximadamente, a minha filha, que é adolescente, começou a apresentar sintomas de transtorno psiquiátrico, que levaram a duas tentativas de suicídio. Eu sou viúva há 10 anos. Eu tinha um comércio e por diversas razões, entre elas a pandemia, ele não teve condições de continuar e eu fechei as portas. Com uma filha doente, sem uma fonte de renda, eu me vi em uma situação muito precária. A minha vida virou um pesadelo. Eu precisei contar com a ajuda de parentes próximos e eu me sentia cada vez mais desamparada.

Foi uma longa caminhada de muita dor, sofrimento e desespero. Acima de tudo, eu me sentia muito sozinha, tendo que tomar decisões novas e muito difíceis. Depois de vários processos e internações, inclusive de passar por um constrangimento, um assédio moral por parte do Conselho Tutelar, que a princípio seria um órgão que nos daria suporte.

Eu me vi desesperada, desamparada, como se estivesse caindo de um precipício, e então nos ofereceram o serviço do Abraço. A maneira que nos ofereceram o serviço foi horrível, foi coercitiva, ofensiva, mas nós buscamos o serviço e fomos surpreendidas por um trabalho de excelência, humanizado, tecnicamente muito preparado. As psicólogas que nos ofereceram suporte no Abraço eram muito mais do que boas profissionais, elas foram bons seres humanos, pessoas que têm uma total adesão ao processo civilizatório, que entendem a importância de cada vida, que contribuem com o mundo, para que todos nós possamos estar em segurança. Nos sentimos amparadas. É uma rede.

O serviço que o Abraço oferece é de evitar males muito maiores, doenças físicas, incapacitações permanentes ou até morte. Cada vida tem valor. O Abraço foi o nosso amparo, nosso lugar de segurança, de reconstrução, reinvenção. Pelo caminho do repensar a própria vida, de encontrar em si mesmo as ferramentas para se reconstruir porque é isso que uma reflexão possibilita, de maneira técnica e bem orientada, e é isso que o Abraço oferece.

Ao Abraço, o meu muito obrigada, a minha eterna gratidão, e a promessa de que o investimento que vocês fizeram em nós vai se reverter em benefício para todo o social”.

Artigo

Sobrevivendo à quarentena

POR CÉRES FELSKI

“Fazem exatamente 10 meses que estou em isolamento domiciliar. Diabética e hipertensa, sou grupo de risco para a Covid 19.

Quem olha de fora, até parece bom: são dez meses em casa! Isso, naturalmente, pra quem não me conhece. Voluntária de carteirinha do corpo de bombeiros, trabalhei nas enchentes e em todos os momentos em que minha presença podia ajudar.

É a primeira vez que estou de fora, assistindo meus companheiros de profissão darem o sangue. Mentira. Darem a vida.

Já perdi as contas de quantos amigos se contaminaram e quantos perderam a batalha e partiram. Vivo num estado de terror: um luto permanente, porque as mortes não param.

Resultado disso? 

Meu diabetes descompensou e vivo agora sob rígido controle. Meu risco aumentou, e meu isolamento também. Praticamente só tenho contato com minha filha e meu genro, que fazem quase tudo por mim (mercado, etc). 

Como esta situação também me gerou stress, cheguei à conclusão que eu precisava fazer algo por mim, pela minha saúde mental (e, consequentemente, pela minha saúde geral). Foi quando começou a corrente de oração no Facebook. Era uma forma de ajudar, orar pelos doentes, orar pelas equipes de saúde, orar pelas famílias… e unimos gente do país inteiro nesta corrente, com os pedidos de oração vindo de vários lugares. Mais que isso, criou-se um espaço inclusive de informação sobre o estado de saúde dos enfermos, aliviando o stress de equipes e familiares. 

Se tem uma lição que aprendi nesta pandemia, foi que a gente sempre pode fazer algo. Mesmo de casa, isolado. E, em tempos atuais, a gente nunca está sozinho, tem sempre alguem na mesma situação só esperando um sinal pra entrar e fazer parte!

Céres Felski é médica nefrologista, escritora, apaixonada por assuntos de saúde e literatura.


Helena Beatriz Ribeiro Ferreira

professora, bancária, personal organizer, coaching e responsável pelo projeto Cuide-se

“Conheci a Miriam [coordenadora do Janeiro Branco] em função de estar como pedagoga na Escola Supera, onde a filha dela estudava. A vida foi nos aproximando, e ela me convidou para ser voluntária no Janeiro Branco. Eu já tinha a visão da importância do autocuidado e da necessidade de enxergarmos que há coisas invisíveis que norteiam a nossa vida e que precisamos conscientizar as pessoas quanto a isso, de que se não nos cuidarmos podemos machucar até o outro.

Venho de uma família simples e humilde, de pessoas que cuidavam e respeitavam, focando sempre na ajuda e no acolhimento. Há 40 anos eu me casei e 10 anos depois meu marido foi diagnosticado com Parkinson, e eu precisei aprender a lidar com isso. Na época não existia Google, o caminho era ir ao médico, na biblioteca. Foram 25 anos nesse caminho com as minhas duas filhas e aprendemos muito com essa vivência, sempre digo que “problema é aquilo que eu não sei ainda”, e eu ia atrás de aprender para deixar de ser um problema.

Em 2015 o meu marido faleceu. Tivemos uma jornada de aprendizado incrível. Eu queria compartilhar essa visão diferente que eu tenho, até que fui convidada para uma aula de um coaching, mas inicialmente era tudo muito formal, muito diferente da minha realidade. Eu gosto da leveza. Hoje atendo mulheres, famílias e empresas. O coaching é de hoje para frente, sempre indico terapia para quem precisa porque não sou profissional para atuar no segmento psicológico. Eu mesma faço terapia há 30 anos, desde que meu marido adoeceu.

Sou do Rio Grande do Sul, e quando fui transferida para Balneário assim que cheguei pedi indicação de psicólogo, e sempre digo que não é coisa de louco, como muitos infelizmente ainda falam. Na verdade, eu faço terapia para não ficar louca (risos). Penso que com a pandemia as pessoas começaram a ouvir falar mais sobre saúde mental, o que é positivo, pois assim fomos trazidos a questionar se estamos bem ou não.

Eu gostaria de deixar uma dica: comece por você mesmo, se abraçando todos os dias. Você é a sua ferramenta. Talvez você precise de uma ajuda profissional, e tudo bem! Você precisa se olhar. A mudança é espetacular. Tem gente que tem receio e medo, e realmente começar é difícil, mas comece. Protelar não é remédio”.


Vera Lucia Furlanetto Barichello

Voluntária do Janeiro Branco em Balneário, pós-graduada em Gestão Empresarial, formação em PNL, Neurociências, Consultoria Sistêmica, franqueada e educadora Supera

“Vejo como sendo prioritário para nossa vida, o Janeiro Branco. Estamos adoecendo e negligenciando a importância de cuidar do corpo. A metodologia que desenvolvemos no Supera é preventiva para as demências do cérebro, e potencializa o jovem em seu aprendizado, bem como o profissional em sua vida pessoal e profissional.

Não podemos esquecer que tudo o que fazemos no dia a dia é um cérebro saudável que comanda. Defendo a importância da terapia ou ginástica para o cérebro. Nós não temos todos os recursos para seguir evoluindo e tem profissionais que estudaram para nos dar a mão neste caminhar.

Janeiro Branco é uma campanha que merece todo nosso apoio para divulgar tamanha importância do cuidado cerebral.

A pandemia de forma alguma pode impedir que algo tão grandioso siga seu curso. Acredito que online ou não, todos temos a responsabilidade de divulgar e apoiar porque hoje está longe da minha casa e amanhã eu não sei, pode acontecer algo com quem amo”.

ABRAÇO À VIDA

Programa municipal fez 9.736 atendimentos em 2020 – número maior do que 2019

Balneário Camboriú conta com o programa de apoio emocional e psicológico Abraço à Vida (e os específicos Abraço ao Idoso, Abraço à Mulher, Abraço ao Jovem e Abraço ao Servidor). Em 2020, os profissionais fizeram 9.736 atendimentos – 50 a mais do que em 2019, considerando que não houve atendimento em grupos por conta da pandemia. Destes, 75% foram mulheres, sendo principalmente jovens (64,74%) entre 15 e 39 anos. O serviço, que funciona com plantão 24h todos os dias (incluindo domingos e feriados) é referência nacional, sendo elogiado pelo suporte que dá aos moradores da cidade que precisam desse suporte. 

A atual coordenadora do programa Abraço à Vida e psicóloga, Raquel Silveira Correa, opina que, levando em consideração o crescente índice de depressão, ansiedade, ideação suicida e outras questões de ordem subjetiva, ‘o Janeiro Branco vem a ser uma campanha com o objetivo de conscientizar a população para as necessidades relacionadas a saúde mental e emocional das pessoas’. 

“A escolha do primeiro mês do ano, é devido as pessoas ficarem mais reflexivas e propensas a pensarem em suas condições de existência. Sendo assim, é importante que as pessoas busquem apoio nos momentos em que não estão conseguindo lidar com determinadas situações em suas vidas. Para um município como Balneário Camboriú, ter um programa de Atenção à Saúde Mental, como o Abraço à Vida, todos os dias da semana 24h por dia, é um ganho e avanço para a cidade que prioriza e valoriza a vida dos seus munícipes”, diz.

Raquel lembra que o Abraço conta com telefone de plantão 24h ((47) 99982-2322), onde a pessoa pode acionar; então é marcado o ‘acolhimento’, para uma escuta inicial e assim os psicólogos conhecerem o paciente e a situação que ele está vivenciando. 

“Após essa escuta, agendamos o atendimento psicológico semanal. O programa oferece o atendimento semanal e o plantão fica à disposição para caso ocorra alguma emergência. Em 2020 identificamos um aumento de sintomas, como ansiedade e depressão, por conta da pandemia”, comenta.

O programa integra a Secretaria de Inclusão Social, comandada pela psicóloga Christina Barichello, que acompanhou o Abraço desde a sua criação. Ela cita que com a pandemia perceberam que muitas pessoas ficaram desesperadas, principalmente no início, entre março e junho.

“No início o desespero era individual, agora estamos conhecendo os reflexos das questões familiares. Nunca atendemos tantos adolescentes como agora, idosos e mulheres também. Está tudo interligado porque todos fazem parte do núcleo familiar. Os idosos foram afetados pela solidão, já os pais pelo estresse, as crianças e os adolescentes pela ansiedade e falta da escola. As famílias nunca ficaram tanto tempo juntas, e a dificuldade de convivência surge”, analisa.

A secretária lembra que o prefeito Fabrício Oliveira defende muito esse ‘olhar prioritário para a vida’ – que é citado com frequência por ele

“É a diretriz que ele dá e estamos ampliando os nossos serviços. Hoje contamos com uma equipe técnica, junto também do CRAS e CREAS, de quase 30 profissionais que cuidam da saúde mental. É ouro investir nas pessoas nesse sentido em plena pandemia, Balneário está muito bem amparada nesse sentido. Temos uma escuta qualificada imediata, a pessoa entra em contato e já é atendida, considerando que às vezes esperar 20 dias por atendimento pode ser caso de vida ou morte. A maior parte do país ainda não é assistida nesse sentido, e inclusive cidades da região pedem para nós atendermos moradores de outros municípios, mas não temos como fazer isso atualmente”, pontua. 

Christina cita ainda o programa que está em fase de projeto, que será focado exatamente nas famílias, investindo na saúde emocional de cada membro familiar, discutindo educação financeira, planejamentos, criação de filhos. 

“Iremos discutir a importância da família se planejar, ofertando um leque de cursos, por exemplo”, acrescenta.

Sobre o Janeiro Branco, Christina salienta que é um movimento para alertar sobre a importância da saúde mental e que, assim como o Setembro Amarelo [que visa discutir sobre a preservação da vida e evitar o suicídio] surge para quebrar tabus. “Às vezes a pessoa precisa até mesmo de um psiquiatra. O psicólogo se preparou para o trabalho, não é como desabafar com um amigo, é uma escuta profissional. Ele estudou pelo menos cinco anos, e os nossos profissionais possuem pós, mestrado”, diz, citando que a depressão, por exemplo, pode ser uma disfunção química no organismo, é um processo biológico, e que por isso precisa ser atendida e tratada de forma responsável. 

“Muita gente fala que depressão é falta de Deus, que é fraqueza, frescura. E não é! A pandemia intensificou isso, mais pessoas foram afetadas e precisam desse suporte emocional. Quem teve Covid foi afetado pela tensão de saber se ficará bem ou não, quem ainda não teve passa pelo medo de ser contaminado. Não temos como não investir em saúde mental, nem sempre a comunidade precisa somente de Bolsa Família. É preciso um suporte de fortalecimento emocional. Ninguém imaginava que iria vir uma pandemia, que empresas iam fechar, que muitas pessoas perderiam seus empregos. Tem sido um período de interrogações. Mais campanhas como essa deveriam acontecer, porque a importância da saúde mental precisa ser lembrada o ano todo”, explica

PROFISSIONAIS OPINAM

A importância da saúde mental e do Janeiro Branco

César Augusto Carús Goulart

Médico psiquiatra titulado pela ABP/AMB (CRM/SC 11.230, RQE 11.136), pós-graduado em Psicoterapias Dinâmicas pelo Instituto José de Barros Falcão, especialista em Dependência Química pela UNIFESP, pós-graduado em Perícias Médicas pelo IPOG, exerce o cargo de diretor técnico da Clínica Bem Viver Psiquiatria, de Camboriú

“Certamente os casos de depressão e ansiedade aumentaram significativamente por conta da pandemia. Porém, vejo que o isolamento nos leva a momentos de encontro conosco mesmos, o problema então passa a ser ‘o que vamos fazer com estes sentimentos?’. Olhar para dentro de si e tomar decisão de mudar requer muita coragem.

O isolamento impactou a todos, tenho visto que os jovens, em especial, estão mais deprimidos e ansiosos, o que os leva a se automutilarem com maior frequência. Também observo o aumento expressivo do consumo de álcool e drogas no ambiente doméstico. Pessoas de todas as idades foram afetadas, o confinamento afetou as crianças, que foram privadas do brincar e de socializar com seus amigos, os adolescentes tiveram sua rotina escolar alterada, foram privados da prática de esportes e de socialização.

O medo do desemprego ou a perda da capacidade de sustentar a família foi de grande impacto emocional para os adultos. O adiamento de projetos de vida causou um grande estresse à população jovem e a proximidade com o sofrimento e a morte agravaram os quadros ansiosos e fóbicos. Muitas pessoas desenvolveram obsessão por limpeza face o medo de contaminação.

A depressão é a expressão clínica de uma característica genética de um indivíduo que é ativada por um estressor ambiental. A prática de atividades relaxantes como yoga e pilates auxiliam no controle da ansiedade. Dieta equilibrada e o contato com a natureza também tem impacto positivo no controle do estresse. Cabe lembrar que depressão é doença e assim sendo, é tratada com remédios e psicoterapia. Quanto mais precoce o início do tratamento, menor o sofrimento e maior a probabilidade de cura com a remissão dos sintomas. Ao adiar o início do tratamento corre-se o risco de cronificar a doença prolongando e agravando o sofrimento, o que pode até mesmo levar à morte.

O Janeiro Branco ajuda a romper com o preconceito e estimular ações que possam amenizar o sofrimento e reduzir a mortalidade. A depressão tem impactado uma população cada vez mais jovem, onde se observa um aumento significativo do número de suicídios. Estamos passando por um momento difícil em que nossas vidas e as de quem amamos estão em perigo. Somos todos bombardeados 24h por dia com notícias de mortes e tragédias, mas as coisas boas que sempre existiram permanecem aí, próximas a nós. Este é o momento de curtirmos nossa família, ficarmos unidos e cuidarmos uns dos outros.

Aproveitemos este período para ver o que há de melhor naqueles que estão perto de nós. Pequenos gestos como lavar nossa louça, ajudar a manter a casa limpa e organizada e até mesmo um simples sorriso fazem a diferença para demonstrar nosso amor e o quanto as pessoas são importantes. Neste momento em que aguardamos a chegada da vacina, não nos esqueçamos que o melhor remédio para um ser humano ainda é outro ser humano”.


Rozineide Natalia de P. Jorge

Psicóloga CRP 12/14816, especialista na Abordagem Sistêmica, professora no Curso de Psicologia do Centro Universitário Avantis – Uniavan desde 2019, psicóloga no Núcleo de Práticas em Psicologia – NPP desde 2016 e psicóloga clínica desde 2016

“Percebe-se um aumento na procura por acompanhamento psicológico em decorrência da pandemia, seja pela doença/vírus em si: de ser infectado e/ou contaminar entes queridos e outras pessoas; pelas restrições de convívio; isolamento; medo da morte, sua ou de outrem e a procura por já ter sido infectado e estar com medo de possíveis sequelas.

Essa procura está acontecendo por pessoas que não faziam acompanhamento psicológico, e também há a procura por parte de pacientes que já fizeram atendimento e decidiram retornar, pacientes com ou sem diagnóstico de algum tipo de Transtorno. Devemos ter cautela em dizer que desencadeou algum transtorno, isso deverá ser analisado em pesquisa longitudinal, pois é uma situação recente, não se pode afirmar sem uma ampla pesquisa e estudo clínico.

Ressaltando que o acompanhamento psicológico/psicoterapia, não acontecem somente para pacientes com diagnóstico, a psicologia trabalha diversas demandas. Nenhuma faixa etária ficou fora dos efeitos emocionais causados pela pandemia, tanto no consultório quanto no Núcleo de Práticas em Psicologia da UniAvan, chegaram pedidos de atendimento para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.

A questão social é uma questão imprescindível ao ser humano, o isolamento prejudica a saúde emocional e psicológica, o contato físico (que deve ser evitado, a priori) é necessário para o bem estar das pessoas: abraçar, aperto de mão, desde simples cumprimentos até as comemorações mais efusivas. O convívio escolar é muito importante para o desenvolvimento infantil, mas como a pandemia é uma situação inusitada, todos tivemos e temos que aprender a melhor maneira de conduzir a situação, no sentido macro (OMS, Governos) e micro (cada indivíduo).

A situação dos idosos também é preocupante, demanda cuidados, muitas vezes eles são ouvidos somente por pessoas externas (profissionais da saúde, do comércio, vizinhos) por morarem sozinhos ou serem “invisíveis” dentro de casa. A Psicologia vem auxiliar nessas necessidades também, com a restrição do convívio em grupo, a escuta qualificada e intervenção dos Psicólogos visa promover a qualidade de vida nesse tempo difícil de pandemia.

Devemos praticar hábitos saudáveis e buscar alternativas para desenvolver qualidade de vida, esse conjunto pode prevenir e/ou tratar esses transtornos, mas a depressão e ansiedade podem ter predisposição genética, hereditária, geralmente desencadeada por fator ambiental, sendo fundamental o acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Alguns hábitos como boa alimentação, atividade física, lazer, organização (com seus pertences, com seus compromissos), relacionamentos que proporcionem estabilidade emocional (sejam eles amorosos, familiares, profissionais), yoga, meditação, todos podem auxiliar no equilíbrio da ansiedade, mas se mesmo assim, a ansiedade for demasiada, é necessário procurar ajuda profissional.

As pessoas não devem considerar essa busca por ajuda como um sinal de fraqueza, o(a) Psicólogo(a) vai auxiliar o paciente na sua busca pela origem da ansiedade para que tenha qualidade de vida e amenize o sofrimento.

Considerando tudo isso, campanhas como Janeiro Branco e Setembro Amarelo são de extrema importância, devemos enfatizar e divulgar ao máximo a importância da Saúde Mental! Ela não é somente para pacientes com diagnóstico de transtorno, é para todas as pessoas, pois nem sempre é possível trabalhar as questões emocionais ou psicológicas sozinhos, os psicólogos trabalham com sigilo e ética para que o paciente perceba suas dificuldades e construa caminhos de saída do sofrimento, para o autoconhecimento e percepção das causas da dor emocional, sempre ressaltando que tudo acontece no tempo do paciente e que não existe varinha de condão, mas trabalho conjunto: psicólogo(a) e paciente.

A vida nos é muito preciosa, quem pensa na morte como saída pode descobrir outros caminhos, procurar um psicólogo para juntos descobrirem formas de quebrar ou desatar as amarras que o fazem perceber somente o ruim da vida. Cada ser humano é muito importante e, mesmo quem está desacreditado de si, pode descobrir a sua importância”.

A UniAvan oferece atendimento psicológico gratuito à comunidade com renda mínima e que não tem plano de saúde, por conta da alta demanda há lista de espera. Saiba mais em: www.uniavan.edu.br.


Felipe Martins Travain

Psicólogo clínico no Consultório Médico Popular da Barra (CRP 12/18962), atua com a Terapia Cognitivo Comportamental e é palestrante sobre a saúde mental

“A pandemia ocasionou o isolamento social, insegurança profissional, medo do desconhecido, o nosso jeito normal de se viver foi alterado, gerou mais contato com a família, o que foi bom em muitos casos, porém em alguns outros aconteceram conflitos.

Com toda essa mistura de emoções, o adoecimento emocional foi acontecendo dentro de muitos lares, pessoas que faziam tratamento de depressão/ansiedade há anos atrás voltaram a procurar ajuda profissional, com psicólogos e psiquiatras. Atendi novos pacientes que nunca foram à terapia, mas optaram por estarem em pânico, sem esperança, e desmotivados até mesmo de viver.

Desde o início da pandemia fomos atacados por um inimigo invisível, e o ato de nos cuidar, sendo no âmbito da saúde física e mental se tornou uma proteção para esse período. Vejo que as pessoas passaram a olhar mais para si mesmas e ver pontos que precisavam mudar para ter equilíbrio emocional e muitos procuraram ajuda para saber lidar com seus conflitos internos, buscando na psicoterapia estratégias de enfrentamentos das situações que são subjetivas de cada um.

Acredito que afetou todo o contexto familiar independente da fase da vida, tanto crianças como idosos perderam no lado social, pois foram mantidos longe do convívio. Com o auxílio de psicólogos e psiquiatras sempre é possível amenizar sofrimentos emocionais. Claro que dependerá também de fatores externos, como genética, núcleo familiar, ambiente que vive, mas com apoio profissional e técnicas terapêuticas o paciente terá uma melhor qualidade de vida.

Essas campanhas, como Janeiro Branco e Setembro Amarelo, são importantes porque é necessário falarmos sobre saúde mental para que diminua o preconceito contra doenças e transtornos psicológicos, para que essas pessoas saibam que podem buscar ajuda e apoio dos profissionais da saúde.

É necessário compreender que ao tomar alguns cuidados e cuidar com atenção de nossos comportamentos fazem a diferença para uma boa saúde mental. Para ter mais saúde mental é bom dormir bem, fazer exercícios físicos regulares, comemore suas conquistas sempre, tenha controle do uso das redes sociais, cuide da sua religiosidade e se notar algo que não está bom, não tenha vergonha e procure ajuda profissional”.


Dyego Davet

Artesão responsável por produzir Orgonites, é morador de Balneário e uma das principais referências do segmento em nível nacional

“A saúde mental é tão importante quanto a saúde física, é necessário atitudes como esta do Janeiro Branco para que mais pessoas tenham conhecimento sobre isso, e possam estar buscando cuidar mais da sua saúde mental.

Acredito que a pandemia acelerou muitos processos em todos nós, porque tivemos tempo de estarmos mais presentes. Muitas pessoas não sabem lidar com a sua própria companhia, o fato de estar mais perto de você e mais longe dos outros, desperta muitas coisas, boas e ruins, sem dúvidas foi um gatilho para muitos transtornos, mas também para muitas curas e evoluções.

As terapias alternativas vêm crescendo muito, eu mesmo tive uma mudança de vida radical após iniciar a prática de yoga, há quase quatro anos, onde também descobri os Orgonites, os quais trabalho hoje. Eles são ferramentas transmutadoras de energias. A energia entra desajustada, desequilibrada e é desconstruída e reorganizada de forma equilibrada. Em termos de poluição eletromagnética os íons positivos (que são nocivos para nós) se tornam negativos, não nos prejudicando mais. Os Orgonites auxiliam na alteração dos padrões vibracionais, logo aumentando nossa vibração e do nosso ambiente conseguimos ter mais clareza e saúde mental, e com isso mais qualidade de vida.

As pessoas estão buscando cada vez mais ferramentas alternativas para auxiliar na saúde mental, física e energética. Os Orgonites são ferramentas fabricadas de três materiais básicos: resina orgânica, metais condutores e cristais geradores, além da composição física e da proporção correta de cada material, temos também toda carga energética depositada na peça. Depois também adicionamos outros benefícios energéticos seguindo a cristaloterapia.

São fantásticos os depoimentos que recebo dos clientes, mas o Orgonite não cura ninguém, a própria pessoa se cura. O Orgonite é uma ferramenta para auxiliar neste processo. Os relatos vão dos mais simples, como dormir melhor, até curas graves de saúde física e transtornos psicológicos. É muito gratificante saber que consigo levar esta positividade e este amor para meus clientes.

O número de pessoas interessadas nos Orgonites me fez criar um curso online onde ensino o passo a passo desta arte linda, e tem sido maravilhoso ver pessoas de todas as idades fabricando estas ferramentas incríveis. Assim, sei que além de estar fabricando as minhas peças, também estou ensinando mais gente a produzir e levar um pouco desta luz para o próximo. Me sinto realizado com isso!”

  • Para conhecer mais sobre os Orgonites e o trabalho de Dyego: Instagram @dyegodavet ou pelo site www.dyegodavet.com.br.

Ludmila Lima
Psicoterapeuta

“Relatos e estatísticas mostram que houve aumento e agravamento de casos de depressão e ansiedade, mas acredito que a pandemia incentivou as pessoas a procurarem ajuda, muitos foram ‘intimados’ a olharem para dentro de si e viram o quanto precisavam cuidar da saúde mental. Afinal, se você não está bem mentalmente seu físico também pode ser afetado.

Quem passou pelo Covid também acabou sendo testado emocionalmente, por isso acaba sendo importante também o cultivo da espiritualidade e as práticas positivas.

O Janeiro Branco, com o tema #TodoCuidadoConta, visa apontar que o cuidado com a sua saúde mental pode começar com ações simples. Vejo que há muita gente sedenta por informações, e por isso a campanha se mostra tão importante.

A pandemia afetou o mundo todo e todas as faixas etárias, desde crianças e adolescentes que passam pela falta do lado social, os pais que estão precisando se reinventar, um exemplo é o home office, e o isolamento para os idosos. Vai haver um resultado nesse pós-pandemia que exigirá adaptações e um reforço ainda maior no aspecto da saúde mental.

A depressão e a ansiedade podem acontecer por multifatores, bioquímicos, fisiológicos. O ser humano não é só um corpo físico, por isso é tão importante a qualidade da alimentação, o sono, exercício físico, hidratação. As relações podem favorecer ou não, assim como a qualidade de pensamentos, a espiritualidade, a conexão com o seu interior, e isso aliado com a yoga, meditação, respiração também são positivos, um olhar ampliado que traz qualidade de vida, plenitude e felicidade. Quando você busca um nutricionista é porque quer ter uma boa alimentação, e se você está se sentindo ansioso ou com problemas emocionais deve buscar ajuda psicológica.

O nosso grande objetivo é desmistificar a Psicologia, já que muita gente ainda não sabe como procurar, e que está tudo bem ter ajuda profissional. Você pode e deve buscar ajuda para sair de ambientes que não estão sendo saudáveis para você”.


Rô Pacheco

Professora de yoga e proprietária da Yoga Spanda, de Balneário

“Todo período que nós dedicamos uma atenção a algo, isso realmente vai incentivar as pessoas a uma tomada de consciência porque nós geralmente damos uma atenção maior a tudo aquilo que aparece.

Como as patologias de ordem mental e psicológica são sutis e ‘não aparecem’, parece que a pessoa não tem nada, por isso campanhas como Janeiro Branco são importantes. De forma muito particular, vejo que a vida é uma sucessão de fatos, de episódios, se a pessoa não dedica um tempo de sua vida para um processo de autocuidado, quando estoura uma ‘crise’, a tendência é manifestar tudo o que fez ou não fez.

Por que aumentam os transtornos psicológicos e emocionais no período de isolamento social? Porque as pessoas geralmente não têm um bom relacionamento consigo. Ou seja, estar consigo mesmo é um exercício, uma construção de vida que a gente faz.

Estar com as pessoas é parte da natureza, a vida em sociedade é uma lei natural, e quando ficamos longe disso pode ocorrer um desequilíbrio, de maior ou menor ordem. Quando nos vemos destituídos de algo, vemos a importância que tinha.

A prática de yoga é um processo relacional, não é algo individualista, mas fortalece quanto indivíduo, para que a convivência seja melhor. Eu sempre digo que não posso ser um problema na vida de ninguém, eu tenho que ser bálsamo, levar bem ao outro, nunca o contrário disso.

Há inúmeros trabalhos científicos comprovando a eficácia da meditação. Quando alteramos o estado mental, deixando a mente num nível mais tranquilo, há uma produção muito maior de substâncias químicas curadoras, como as dopaminas, noradrenalinas, serotoninas. Senti um aumento na procura pela meditação e yoga, em 2020. Há muitos mitos em torno da questão de ‘não consigo meditar e me concentrar’, e na verdade isso é um desafio para todas as pessoas.

A natureza da mente é pensar, então a gente pensa, o tempo todo, mas a questão é: o quanto desses pensamentos são úteis? Com a meditação você começa a ter um senso interno mais seletivo, preservando na mente pensamentos que geram mais equilíbrio, positivos, fugindo da onda dos pensamentos negativos. É chamado de Pratipaksha bhavana, trocar o pensamento negativo pelo positivo.

Por conta da pandemia, as aulas passaram a ser online, e foi um processo de adaptação para todos, mas foi super tranquilo, fizemos um tutorial, auxiliamos quem precisava. Deu super certo, continuamos no modo online, somos profissionais que trabalhamos com a saúde e achamos por bem não nos expormos e expor os alunos a um possível contágio. Temos atendimentos personalizados individuais ou para no máximo para cinco pessoas (antes era de 10 a 15).

Qualquer crise vai mexer com todos nós, eu particularmente me defrontei com o medo, alguns questionamentos, mas depois que a gente põe tudo na balança, a gente confia. Na visão do yoga, você não se resume ao corpo físico, você é mais que isso”.


Elen Piccinini

Psicóloga CRP 08/ 23188, coach e treinadora de inteligência emocional sistêmica, criadora do método ‘Faxina da Alma’, co-autora do livro Mulheres Extraordinárias e autora do livro Poemas Terapêuticos

“No começo foi ok, as pessoas gostaram de estar em casa, se distraíam vendo filmes, cozinhando, mas muitos meses se passaram. As crianças não estavam acostumadas, os pais também não. Muitos fatores sociais contribuíram para esse estado de melancolia, sem ter como externalizar sentimentos, o toque faz falta, o aconchego, o social, surge também a insegurança com o futuro, deixando a ansiedade acentuada.

Muitas pessoas passaram a usar medicação, outras fizeram o preocupante autodiagnóstico através do Google, e já começaram a dizer que tinham transtorno x, sem ter procurado um profissional. Houve quem buscou ajuda, quem passou a tentar manter uma rotina saudável em casa, e isso foi positivo.

Eu sou treinadora emocional sistêmica, e percebi que muitas pessoas passaram a valorizar mais a saúde mental, houve a valorização também do profissional da psicologia, com os próprios médicos nos indicando.

Acredito que cada pessoa precisa de um tipo específico de ajuda, para um pode ser positivo exercício de respiração, para outro a meditação pode ajudar. É preciso ver o que está gerando a ansiedade e depressão. A depressão revisita o passado, acumulando mágoa, culpa e raiva, já a ansiedade a pessoa quer ser reconhecida, notada, há a insegurança pelo futuro. É preciso reconhecermos emoções, sentimentos.

Em meu método foco em trabalhar nas questões sistêmicas, em olhar para a família, trabalho, saber o que não está funcionando na vida de cada paciente e incentivar que eles deixem ir embora. É preciso encarar de frente e mudar, vendo que o que não te diz respeito você precisa soltar, a vida do outro é responsabilidade dele, tendo maturidade emocional e ocupando o seu lugar no mundo.

Janeiro Branco deveria acontecer o ano todo, pois o sofrimento psicológico faz parte do cotidiano, a psicologia deveria ser vista como o melhor recurso, mas ainda é um tabu, principalmente entre os homens, e precisamos acabar com isso, pois quando a pessoa cuida de si, ela está cuidando de todos ao seu redor”.


Marione Borges

Psicóloga (CRP12/18475), especializada em Psicologia Clínica

“Considero que a pandemia atuou como um gatilho para as patologias já vigentes nas pessoas. Porém, a evolução de um transtorno não acontece em poucos dias, é necessária uma avaliação durante o acompanhamento terapêutico e, também, que tenham ocorrido no mínimo cinco episódios, dos critérios patológicos, que podem caracterizar um Transtorno Mental.

Contudo, conviver com as incertezas desta pandemia que nos envolve diariamente, também agregou para que as pessoas se sentissem mais ansiosas, preocupadas, tristes, e até mesmo inseguras. Isto podemos tratar como Stress Pós Traumático, com uma escuta qualificada, recursos terapêuticos e desenvolvimento de técnicas para amenizar e orientar a pessoa a se conhecer e saber manter-se equilibrada emocionalmente.

Todas as faixas etárias foram afetadas emocionalmente. As crianças e os jovens por estarem sem o convívio de seus grupos de identificação, e ao mesmo tempo, precisaram se adaptar a uma rotina diferente com os pais em casa. Da mesma forma os adultos, que deixaram de ir trabalhar para encarar um novo desafio, a reinvenção. E com isso, surgiram descobertas, segundo relatos que recebi, a percepção e o olhar diferenciado para as pessoas de suas convivências foram muito importantes.

E com relação aos idosos, eu percebi através da experiência com lives, as quais realizei junto a Secretaria da Pessoa Idosa, que estes tiveram novas oportunidades. Embora estivessem num primeiro momento apreensivos, mas também obtiveram a oportunidade de se reinventar e descobrir suas habilidades. Mas claro que, emocionalmente houve um grande sentimento de perda, insegurança e abandono. E neste sentido o uso da tecnologia foi de imenso aprendizado.

Tenho como pensamento de rotina que a prevenção sempre é melhor forma de amenizar possíveis patologias crônicas, pois quando surgem os sintomas é muito mais brando de tratar do que a doença já instalada na pessoa. Porém, existem fatores genéticos, por exemplo, que precisam de uma maior atenção, mesmo assim se ao primeiro sintoma procurarmos ajuda e tratamento, todo o recurso usado será de grande eficácia.

A depressão é a consequência de muitos episódios vivenciados pelas pessoas. É muito importante que, se a pessoa não consegue solucionar sozinha suas angústias e ansiedades, não pensar que é sinal de fraqueza procurar ajuda de um profissional na área da saúde. Outras formas de terapias, como yoga e meditação, também considero como um ótimo recurso para complementar a prevenção e o exercício do autoconhecimento.

Dentro do projeto Janeiro Branco trabalhamos com alguns objetivos para conscientizar as pessoas e a sociedade em geral da importância de se falar e praticar saúde mental. Um deles é: “Inspirar indivíduos e instituições sociais a entenderem que qualquer pessoa pode ser agente de Saúde Mental na vida de qualquer pessoa”. Praticar esta ideia é bem simples, basta você olhar para quem está ao seu lado com mais afeto, compreensão, respeito pelo funcionamento de cada indivíduo e principalmente entendimento pelo comportamento de cada pessoa. Isto fará com que cada pessoa descubra como lidar com suas emoções e sentimentos. Para isso, também costumo usar a frase: “gentileza gera gentileza”.”


Sergio Stepan Kahvedjian

Psicólogo e psicoterapeuta clínico (CRP – 06/37062 ), Coordenador de Projetos da ASSBRAS – Associação Brasileira de Ações Sociais, certificado FIOCRUZ ‘Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Covid-19’ e coautor da cartilha ‘O Bê-a-bá da psicologia: como o psicólogo pode ajudar de A à Z

“Neste momento de pandemia em que vivemos, diariamente enfrentamos situações inéditas que nos trazem incertezas. Quando o sentimento de insegurança vira insegurança emocional?

Durante as últimas três décadas, não me lembro de ter passado por período semelhante a este, onde a palavra morte é onipresente, falada e escrita. Diariamente somos levados a viver nossas limitações e percepções de finitude, que todas as tecnologias tanto escondem.

A insegurança está relacionada ao sentimento de confiança básica que vivenciamos durante nossa história familiar e social. Desde muito cedo, vivenciamos em nosso meio familiar relações emocionais, que são as bases para o nosso desenvolvimento psíquico e emocional, o que chamamos de rede de proteção psicossocial. O sentimento de segurança básica está relacionado diretamente de como a rede dá suporte e nos acolhe em momentos de conflitos e crises. É quando ela não se apresenta, ou se apresenta de forma negativa que transformamos os sentimentos de incertezas, dúvidas e indecisões em insegurança emocional, que contaminam e dominam nossas ações, pensamentos e emoções.

A pandemia com certeza criou um cenário de extremo estresse físico, mental e emocional, potencializando os transtornos psicológicos e emocionais em pacientes que apresentam quadros de ansiedade e depressão, na população em geral, o isolamento social acompanhado da desordem de sua rotina – que envolve trabalho, família, situação econômica – percebeu-se uma maior procura por ajuda no que diz respeito a saúde emocional.

Nunca se falou tanto em autocuidado como neste período da pandemia. O autocuidado deixou de ser uma ação individual e se transformou em uma ação social, coletiva. Todos foram afetados, as crianças privadas das relações psicossociais nas escolas, os adultos na vida profissional e os idosos da convivência de entes queridos.

O estresse emocional e a duração do isolamento social, transformou o modo de viver e se comportar. Muito se aprendeu sobre o comportamento humano neste período de pandemia. A necessidade de se viver o presente de forma tão intensa, trouxe de volta o questionamento do que é essencial para uma vida saudável. Nos períodos de estresse elevado (crises), uma maneira de se diminuir a ansiedade e encontrar o equilíbrio é através da psicoeducação.

Projetos como Janeiro Branco e Setembro Amarelo são muito eficazes e de extrema importância social, desempenhando o papel de orientação, prevenção e muitas vezes o primeiro canal de pedido de ajuda de quem mais está sofrendo e não sabe o que fazer. Com muita informação e orientação, estas campanhas abrem o caminho para o diálogo e exercem um papel ativo na desmistificação do tema da saúde mental. Pedir ajuda é o primeiro passo, vem com a gente nesse caminho por uma vida saudável!”


Gleice Sathie Koshikene

Psicóloga graduada pela Faculdade de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialista em Psicologia Clínica pela PUC-SP (CRP06/64963)

“Sem sombra de dúvidas com a pandemia houve aumento no número de pessoas acometidas por algum transtorno psicológico. Pessoas que nunca haviam apresentado sintomas começaram a apresentar e algumas que já sofriam de ansiedade/depressão tiveram seu quadro agravado.

Pude observar isto em meu consultório, tanto com pacientes que já estavam em atendimento, quanto antigos que voltaram a me procurar, como também novos com queixas ligadas ao impacto que a covid-19 provocou em suas vidas.

Os idosos com o perigo do contágio, porém, apenas isolá-los não garante o seu bem estar, o isolamento e a falta de atividades podem desencadear problemas físicos e gerar sentimentos de tristeza, solidão, estresse e ansiedade.

Os familiares precisam estar atentos também as suas necessidades emocionais. As crianças e adolescentes também sofrem os efeitos do estresse, estando em casa sem contato social, as dificuldades com o ensino remoto, o medo de ser ou ter um familiar infectado. Neste momento a família tem um papel fundamental, é importante conversar, acolher, confortar, transmitir segurança. É um momento para estarem mais próximos!

Campanhas que levam informação a população em geral e chamam a atenção para o cuidado com a saúde, são sempre bem-vindas. O aumento dos casos de transtornos mentais reforça a necessidade de darmos a devida atenção à saúde mental, e este é o objetivo do Janeiro Branco, levar informações a população, buscar a conscientização. Nem sempre é possível evitar o surgimento de um transtorno psicológico. Porém, é possível prevenir o surgimento dos sintomas através de algumas medidas, como o autocuidado e a busca do autoconhecimento.

É importante reservar um tempo para olhar para si, adotar hábitos saudáveis, cultivar boas relações, manter-se ativo mentalmente, praticar atividade física, ter uma boa alimentação e reservar momentos para lazer e descanso. Apresentar uma reação diante do estresse provocado pela pandemia, é esperado, as pessoas estão com a saúde mental mais vulnerável, porém quando a capacidade de executar as atividades cotidianas estão prejudicadas e de acordo com a intensidade e duração do sofrimento, é hora de procurar ajuda especializada com um com um profissional de saúde mental.

O psicólogo e o psiquiatra são os profissionais indicados para avaliar e propor o tratamento mais adequado para casa pessoa. Os transtornos psicológicos têm tratamento e em geral com bons resultados através de psicoterapia, e se for o caso, uso de medicação”.


Margarida Limias Pereira

Psicóloga clínica com abordagem em psicanálise, psicopedagoga, pós-graduanda em Psicossomática pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

“O ser humano é um modelo biopsicossocial, ou seja, o funcionamento do corpo pode afetar a mente e o funcionamento da mente pode afetar o corpo. E, com a nova realidade de uma doença de contágio e letalidade os procedimentos para evitar a disseminação são profundamente necessários. Por causa dos danos iminentes, as mudanças no comportamento das pessoas tiveram consequências drásticas e abalaram a saúde mental.

Tivemos no primeiro momento o medo exacerbado que imperou mais do que a esperança. As famílias sem os seus empregos, as crianças e adolescentes que precisaram deixar as atividades as quais estavam acostumados. As informações desencontradas sobre o vírus e os protocolos de prevenção diante da pandemia também foram fatores estressantes. Muitos casos de violência doméstica, abusos contra crianças e adolescentes, instalou-se e agravou os transtornos de todos os tipos. A depressão e a ansiedade foram os mais graves além dos problemas multifatoriais e comorbidades.

Em 2020, o número de atendimentos que fiz foi enorme. Costumo deixar disponível alguns dias e horários para atendimento gratuito, esse foi um ano bem desafiador. Muitas pessoas me procuraram para que eu pudesse atendê-las gratuitamente, alinhei a minha agenda e agradeço por ajudá-las. A ansiedade e a depressão foram os maiores desafios na orientação da necessidade do acompanhamento com o médico psiquiatra, tomar a medicação corretamente e de que poderiam ter esperança de que ficariam bem.

Na minha experiência observei que as crianças e os idosos sentiram muito mais. Para uma saúde mental é necessário que a pessoa tenha um propósito de vida. O profissional deve avaliar em que contexto o indivíduo está, mas a principal é praticar atividade física, ter alimentação saudável, passar momentos recreativos com a família, aprender coisas novas, etc.

Nessa pandemia tive uma paciente que tem TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e aprendeu a tocar violão, uma grata surpresa. É possível mudar o cenário cinza para colorido desde que a pessoa tenha o devido suporte e se comprometa. Mas, dependendo do caso, é necessário um acompanhamento com psiquiatra que vai receitar um medicamento ou ter o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Quanto a ansiedade, há a técnica do mindfullness (atenção plena), que tem resultados excelentes, pois a maioria das pessoas fazem as coisas de forma automática. A yoga trabalha a mente e o corpo e ensina a meditar, que é o olhar para si mesmo e reconhecer suas emoções.

O projeto Janeiro Branco tem sido um divisor de águas quanto chamar a atenção da necessidade urgente das políticas públicas sair do papel. A campanha faz com que todas as classes sociais reflitam sobre a importância da saúde mental. Deve ser uma campanha “De Janeiro a Janeiro”, são necessárias muitas ações, psicoeducação em todos os órgãos sejam públicos ou privados. Unir profissionais de todas as classes e deixar bem claro e fixo sobre a importância da saúde mental”.

ARTIGO 

A ansiedade pode causar sintomas que se assemelham aos do Infarto

ROBERTO YANO

Apesar das semelhanças nos sintomas, o tratamento de ambas as doenças se difere totalmente. Tratar um quadro de angina ou infarto, como se fosse uma crise de ansiedade, por exemplo, pode ser fatal. 

“Dor no peito, palpitação, falta de ar, tontura. Os sintomas comuns às crises de ansiedade também podem ser um aviso de que a saúde do coração não está bem. O Brasil é o país mais ansioso do mundo segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). São cerca de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) que convivem com o transtorno.

Da mesma forma, as doenças cardiovasculares também são muito comuns no país, causaro de mortes que aquelas relacionadas a todos os tipos de câncer juntos, conforme aponta a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Com incidências tão altas, não é incomum que pacientes cheguem ao pronto-socorro acreditando que estão sofrendo um infarto mesmo sem nenhum problema do coração. “É importante lembrar que a ansiedade deve ser um diagnóstico de exclusão. Por isso, apenas um cardiologista, por meio da anamnese, exame físico e exames complementares, poderá descartar que o paciente realmente não está infartando”, alerta o médico.

Geralmente a dor causada pelo infarto começa no meio do peito e pode irradiar para outros locais como braço esquerdo e mandíbula, gerando sensação de aperto ou queimação. Enquanto nas crises de ansiedade, a dor tende a se concentrar no centro do peito, geralmente se iniciando após estresse ou nervosismo. Lembrando novamente que cada caso é um caso e existem situações em que o paciente está infartando e a dor no peito pode não estar presente. Por isso a avaliação rápida e precisa do cardiologista se faz necessária.

Além da ansiedade, outros quadros como a esofagite, por exemplo, podem gerar dores no peito. Por isso, em caso de dúvida, o ideal é procurar um cardiologista e realizar toda a triagem e exames para descartar doenças cardiovasculares, aconselha o Dr. Roberto Yano”

Roberto Yano é cardiologista, possui graduação em Medicina pela Universidade de Ribeirão Preto (2008), Especialização em Cardiologia Clínica pela Sociedade Beneficente e Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto – SP (2010), Especialização em Estimulação Cardíaca Artificial pela Sociedade Beneficente e Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto – SP (2012). Possui título de Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação Médica Brasileira (AMB). É membro habilitado em Estimulação Cardíaca Artificial pelo Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial (DECA). Possui título em Estimulação Cardíaca Artificial pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) e Associação Médica Brasileira (AMB). Atualmente é responsável pelo setor de Marca-passo, Arritmias Cardíacas, Teste Ergométrico e Métodos Gráficos do Hospital Nossa Senhora D`Abadia de Ituiutaba – MG. 

FONTE: MF Press Global

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Créditos das fotos: PMBC, Divulgação e arquivos pessoais.

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