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Balneário Camboriú

Ouro olímpico reflete em aumento na prática de surfe em Balneário Camboriú

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A explosão do surfe em 2014, quando Gabriel Medina tornou-se o primeiro brasileiro a vencer um circuito mundial, vai se repetir com mais intensidade, depois da medalha de ouro que Ítalo Ferreira conquistou em Tóquio, tornando-se o primeiro campeão olímpico da história. Nestes últimos sete anos, o surfe brasileiro está vivendo seus melhores momentos. Continua liderando o circuito mundial e agora mantém também o domínio olímpico. 

O reflexo destes momentos vai causar uma ‘explosão’ de adeptos à modalidade que durante anos e anos foi considerada ‘marginal’ neste país.

Navegando nesta nova onda olímpica, Balneário Camboriú que já foi considerado o principal celeiro de surfe do sul do país, está se preparando para uma ‘volta ao passado célebre’, investindo na base com suas várias escolinhas, iniciando a preparação de campeões, através do Instituto Cultural e Desportivo Teco Padaratz e programando competições que faz tempo não acontecem mais por aqui.

“Agora não precisamos provar mais nada”

(Arquivo Pessoal)

Teco Padaratz, um dos maiores nomes da antiga geração do surfe brasileiro, bi campeão da World Surf League (WSL) Qualifying Series (WQS), fez parte dos bons tempos do surfe de Balneário Camboriú. Na Olimpíada de Tóquio foi comentarista do surfe na transmissão da Globo e disse ao Página 3 que esta experiência junto com a vitória de Ítalo Ferreira são emoções que nunca mais vai esquecer.

“Foram muitos anos tentando mostrar os verdadeiros valores do surfe para a sociedade e agora acho que não precisamos provar mais nada. O surfe brasileiro é inquestionável, mostramos um grande exemplo de campeões, de atletas que representam nossa bandeira de forma exemplar, mostrando a garra do brasileiro. O Ítalo personalizou uma garra que ficou notória, porque simboliza muito a garra que o brasileiro em geral tem e acho que é hora de resgatar isso. Não dá mais pra questionar, nós temos a primeira medalha de ouro do Brasil nessa Olimpíada e o Ítalo é primeiro campeão olímpico da história do surfe, não tem mais o que dizer, o próprio título fala tudo”, disse Teco Padaratz.

“Formar campeões dentro e fora da água”

Buldogue e Teco Padaratz em BC (Junior Jucoski)

Esta é a proposta do Instituto Cultural e Desportivo Teco Padaratz que desde o último dia 12 está patrocinando seis surfistas em Balneário Camboriú. 

Formar campeões e resgatar Balneário Camboriú como uma ‘fonte’ de bons atletas, especialmente neste momento oportuno em que a modalidade será das mais procuradas.

“Temos grandes exemplos no surfe de Balneário Camboriú, não só eu, tem meu irmão Neco, o James Santos, e muitos outros, não vou citar, para não esquecer ninguém”, disse. 

Sobre o programa que iniciou em Balneário, coordenado por ele à distância (ele mora em Florianópolis), Teco disse que o princípio é o ‘crescimento geral’ dos primeiros surfistas que fazem parte do programa.

“É com muita satisfação que comecei esse trabalho agora com o Buldogue, treinando esses garotos com minha coordenação e  orientação. A cada duas semanas tenho uma aula com eles, onde surfamos juntos, converso muito com eles sobre o mundo da competição, as táticas de competir, também como lidar com o esporte em relação à sociedade, para transformá-los em cidadãos exemplares, para defender a imagem do esporte através da atitude deles e a responsabilidade que precisamos ter com o ‘ser’ atleta”.

O ‘ser’ atleta é muito mais amplo do que surfar ondas. Teco inclui vários fatores, como ir bem na escola, ser bom em matemática, por causa do surfe tem que fazer muita conta, ler bastante para adquirir conhecimento geral. 

“É importante que saibam dar entrevistas, representar o  esporte num portugues claro e o apoio que recebi da FMEBC foi excelente, criamos um boletim de notas onde vamos avaliar a conduta, caráter, disciplina, cumplicidade deles com os outros, dedicação deles  na competição, o espírito de equipe”, segue Teco, argumentando que a preocupação é com o crescimento geral dos garotos.

“Para serem campeões dentro e fora da água. Acho que esse é o melhor exemplo que podemos apresentar à sociedade em nome do surfe”, afirmou Teco que já trabalha para aumentar a estrutura deste programa.

“Estou indo atrás de patrocinadores, porque acredito que Balneário Camboriú pode voltar a ser uma cidade de campeões, aliás essa foi a frase que ouvi do prefeito Fabrício, em um ncontro que tive com ele para saber o que achava do projeto. Ele disse, ‘você pode ajudar Balneário Camboriú a voltar a ser uma cidade de campeões, a gente deveria se dedicar a isso’. Não pensei duas vezes. A Fundação de forma independente avaliou e fui contemplado e sinto a maior responsabilidade de fazer isso dar certo, transformar a vida desses garotos de verdade”, concluiu o multicampeão e hoje empresário Teco Padaratz. 


Procura nas escolinhas já cresceu bastante

Os primeiros selecionados do Instituto (Junior Jucoski)

Junior Malucelli (Buldogue), presidente da Associação das Escolinhas de Surfe de Balneário Camboriú, disse que a procura pela modalidade já aumentou bastante, tanto de crianças como dos pais destas crianças também.

“O surfe acabou de confirmar sua força, sua potência, energia com a vitória do Ítalo Ferreira. Temos o Medina liderando o ranking mundial, o Ítalo em segundo e o Toledo em terceiro no circuito mundial…o surfe do Brasil é o melhor do mundo e por conta disso, já aumentou a procura nas escolinhas de surfe, como era esperado”, afirmou.

Buldogue disse que a Associação vai fazer o possível para contribuir com esse momento, organizando etapas de surfe treinos, ações de limpeza ecológica, educação ambiental e agora trabalhando com o Instituto do Teco Padaratz que apadrinhou seis crianças, com apoio da FME. 

“Estou trabalhando para o Teco, ele me contratou para ser o coach de seis atletas, estou treinando eles, é o Artur Zanela, Antonio Vitorino, Luca Martins, Pedro Henrique, Noah Modrick e Nicolas…..de 10 a 14 anos, categorias sub-14 e sub-16. São três treinos por semana em dois horários. 

A era dos ‘coach’

Aprendendo com o ‘coach’ (Junior Jucoski)

“Estamos na era dos coach. O Medina e o Ítalo não chegaram a esses resultados sozinhos, eles têm os coach trabalhando com eles, dando todo suporte, fazendo as vídeo análises, é muito treino. Estou fazendo esse trabalho de coach com os meninos do Instituto, trabalho de vídeo, preparação física, vamos começar com ioga. Tudo o que fazemos aqui vai para o Teco que faz as video análises lá em Floripa, e dá o feed back com o suporte de conhecimento que tem como bicampeão mundial, como surfista e hoje empresário em transmissão de eventos de surfe”, destacou o coach Buldogue. 

O melhor e o pior momento

Futuros campeões em formação (Junior Jucoski)

Segundo o surfista e instrutor das escolinhas, a luta é diária, as escolinhas precisam de apoio da prefeitura, dos empresários porque a crise afetou muito o esporte.

“Estamos no melhor momento do surfe como atletas mas vivendo o pior momento do surfe em campeonatos, devido a pandemia. Nossa associação (ASBC) já estava inativa há um bom tempo, então não temos mais campeonatos, e nós da escolinhas de surf fazemos o que podemos com os surfe treinos. Aos poucos vamos unindo forças, a Associação vai fazer grandes eventos e o momento é oportuno, tenho certeza que os empresários, nossos governantes vão olhar com outros olhos para o surfe agora”, enfatizou Buldogue.

Surfe é pensar no coletivo

Surfe coletivo traz melhores resultados (Junior Jucoski)

No último dia 12, os seis surfistas selecionados foram apresentados a Teco Padaratz, na presença do diretor da Fundação (FMEBC) Mário Tetto e do fotógrafo Junior Jucoski. 

Buldogue disse que já treina Artur Zanela há 5 anos, é candidato para ser um futuro profissional e Antonio Vitorino já treina um tempo também e os outros quatro entraram para o Instituto agora. 

“Nesta parceria vamos evoluir para treinar um campeão e tornar eles cidadãos do bem, com os estudos em dia, falar outro idioma, ajudar a formar um ser humano, ser profissional vai depender dele, vamos ajudar, moldar, lapidar, mas depende muito da vontade individual de cada um, porque não é fácil ser surfista profissional e sozinho às vezes desanima, então em grupo é mais motivante, esta é a proposta, e como não tem custo, acredito que o empenho será tão grande quanto os resultados do esforço de cada um, porque surfe é pensar no  coletivo e não podemos perder o foco, porque é nosso esporte raiz, o primeiro esporte de Balneário Cambori, vamos continuar esse legado”, declarou Buldogue.


“Batalhar para garantir o legado do surfe em Balneário”

O diretor Mário Tetto, da FMEBC (Junior Jucoski)

O diretor técnico da Fundação Municipal de Esportes (FMEBC), Mário Tetto também acredita que o momento é positivo e o surfe vai ganhar cada vez mais adeptos e espaço.

“O surfe é um patrimônio da nossa cidade e faz parte da nossa cultura e vamos batalhar para garantir este legado com novos projetos e com leis que garantam o espaço conquistado pela ASBC e todas as pessoas que contribuíram com a construção da história do surfe de Balneário Camboriú”, disse. 

Ele destacou o apoio da Fundação ao projeto social do Teco Padaratz, que está oferecendo a estes  jovens ferramentas para seu desenvolvimento pessoal e as habilidades necessárias para  se tornar um campeão no surfe e na escola. 

“Também continuamos muito próximos da Associação de Escolas de Surfe, através do presidente Buldogue, buscando alternativas para promover um calendário de eventos e festivais, além de garantir o trabalho destes profissionais durante a execução das obras de alargamento da faixa de areia”, disse. 

O diretor informou que a pedido do prefeito Fabrício Oliveira a construção do Surfe Clube continua como umas das prioridades dos novos equipamentos previstos no projeto da reurbanização da orla, em andamento.

“Vale ressaltar que a qualidade da água melhorou muito nos últimos anos e a construção do molhe do Marambaia proporcionou um condição especial, oferecendo ondas de excelente qualidade para todos os níveis de surfe várias vezes ao ano”, continua Mário Tetto.

Com relação ao surfe competitivo que está paralisado porque a ASBC está inativa, o diretor disse que a FMEBC tem se aproximado da Federação Catarinense de Surf (Fecasurf), para garantir a retomada das competições de base em Balneário Camboriú.

“Ainda neste ano pretendemos realizar um campeonato Catarinense nas nossas praias e em 2022 a Fundação pretende ampliar seus atendimentos na Escola Municipal de Surfe, oferecendo novos horários e novos equipamentos”, acrescentou.


“O surfe já mudou a vida de muita gente”

Mulheres tem boa frequência na escola (Divulgação/FMEBC) (Foto Renata Rutes)

O perfil dos alunos é bem variado (Divulgação/FMEBC)

(Divulgação/FMEBC)

O educador físico Juliano  Pagnoncelli, responsável pela Escola Municipal de Surfe, disse que ‘choveu’ interessados em participar depois do feito olímpico de Ítalo Ferreira na Olimpíada de Tóquio. O reflexo é imediato, embora a escola tenha grande procura o ano todo.

Só este ano já passaram pela escola cerca de 200 pessoas com mais de 17 anos.

“O projeto da Escola Municipal de Surf faz parte do Esporte Comunitário da FMEBC e atende a partir dos 17 anos, porque tem o projeto Oficinas, da Secretaria da Educação, que vai até os 16 anos. Alguns alunos saem do Oficinas e continuam na escola municipal, mas a maioria são iniciantes adultos. Tenho alunos desde os 18 anos até 70 anos. A procura sempre é grande, mas agora com esse título, aumentou muito”, contou Juliano.

Frequentam a Escola Municipal de Surfe ex-atletas que não puderam continuar carreira; pessoas que tinham vontade de surfar mas não tinham acesso; pessoas que não sabiam nadar, aprenderam e hoje estão surfando e outros que praticam para se exercitar.

“O perfil é bem variado, a média de idade é dos 30 para cima, maior procura é de mulheres, uns eram atletas, outros nunca fizeram esporte, tem cabeleireiro, advogados, dentistas, pessoal da construção civil, tem uns que tinham medo do mar, alguns com fobia de água mesmo e hoje estão surfando. Posso afirmar que o surfe mudou a vida de muita gente”, enfatizou Juliano. 

  • A Fundação oferece todo material, prancha, roupa, leach, parafina.
  • Basta se cadastrar na Fundação e começar a prática.

Surfe do projeto Oficinas atende 100 alunos, mas este número deverá aumentar

Walquiria e os colegas do Oficinas/Surfe (Divulgação/Projeto Oficinas)

O reconhecimento do surfe após a Olimpíada de Tóquio deverá se refletir também na procura das aulas oferecidas pelo projeto Oficinas, da Secretaria da Educação.

Atualmente uma centena de alunos frequentam as aulas, administradas por quatro educadores físicos, no contraturno escolar.

Walquiria Raimondi, uma das professoras (os outros três são  (Valdeci, Marcelo e Luis Alessandro), disse que após as conquistas do surfe nos Jogos Olímpicos, tem expectativa de que mais alunos irão se interessar pela modalidade.

“O surfe é uma ferramenta educacional que ajuda as crianças a estar em movimento, melhorando seu condicionamento, tirando elas um pouco do comodismo. Esperamos que com a Olimpíada e a divulgação destas conquistas, o surfe seja ainda mais reconhecido do que já é. Hoje atendemos mais de 100 crianças e gostaríamos de atender muito mais”, disse Walquiria.

  • O projeto oferece todo material necessário, de roupas e equipamentos.
  • O estudante precisa apenas se cadastrar e particular das aulas.

Texto: Marlise Schneider Cezar

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